A foto retratava três crianças de braços enlaçados, aproveitando o sol de uma das várias tardes quentes do verão de 1937. O único menino do trio, de cabelos e olhos escuros, à esquerda, segurava frouxamente um bastão de beisebol em uma das mãos. Ambas as meninas tinham cabelos escuros, embora as cores não tivessem sido captadas pela máquina preto-e-branco, e os da menina do meio fossem visivelmente mais claros, e presos em um rabo-de-cavalo. Ela era a mais baixinha, com sardas no nariz e nas maçãs do rosto, com brilhantes olhos amendoados. A última menina à estrema direita, tinha cabelos longos e segurava uma bola de beisebol na mão livre. Difícil dizer qual ostentava o sorriso mais largo.

Janeiro de ’42, e tendo feito 14 anos meses antes, a menina sardenta e sorridente da fotografia havia mudado. Como é natural, as memórias de sua infância estavam confusas e enevoadas, mas certas lembranças, certos detalhes, seriam levados para sempre.

Sete meses depois de terem “acidentalmente” rebatido uma bola e quebrado a janela do quarto de Danny Campbell, evento que tomou lugar minutos depois da batida da foto, Evelyn foi adotada por um homem assustadoramente paciente mesmo depois de ela ter lhe queimado a barba (mais tarde, descobriu que ele era um bruxo), e arrastada para fora do orfanato esperneando e gritando insultos que o bêbado de seu pai deve ter ouvido lá de Moscou. Lâmpadas e janelas, e basicamente tudo feito de vidro, estouraram, como sempre acontecia quando Evelyn ficava particularmente irritada; fator que contribuiu enormemente para sua reputação de “esquisita” entre os outros indivíduos que constituíam a renomada espécie do Homo sapiens. Como se a nacionalidade, os ataques de pânico e as cicatrizes – cujas origens eram conhecidas por um total de três pessoas naquela época, duas das quais estavam na foto – não fossem o suficiente.

As cores não capturadas pela lente da câmera eram o castanho-avermelhado do cabelo de Evelyn, o cinza de seus olhos e o azul mutável dos de Syb. Aqueles olhos, embora um tanto fascinantes para quem gostasse de ocultismo e outros temas “condenáveis”, já foram fonte de muito problema e zoação para Sybil – e consequentemente/por extensão, para Evelyn – e estavam particularmente claros naquele dia. Evey poderia ter usado um feitiço para colorir o preto-e-branco com base nas suas memórias, mas por algum motivo, a adulteração lhe incomodava mais do que as cores originais.

Evelyn suspirou. Momentos antes, o diretor de sua escola, Vassili Savinkov, comunicara aos alunos as “medidas tomadas e pensadas em conjunto pelos Ministros da Magia, visando a garantia da segurança dos jovens bruxos e bruxas” envolviam a “transferência dos alunos que desejarem não tomar parte ativa na guerra para uma localização mais segura”. A tal localização, aparentemente, era Hogwarts.

Evelyn não era estúpida – longe disso, era a primeira da série, mesmo tendo a desvantagem de ser uma nascida-trouxa em meio à puros-sangues – e juntara as peças anos antes. “Coisas estranhas” (como os objetos de vidro, em especial as lâmpadas, estourando por aparente vontade própria quando Evelyn se irritava) aconteciam ao redor de seus amigos de infância, Tom e Sybil, o tempo todo, para não mencionar a “afinidade” de Tom com as cobras. Evey costumava dizer que Tom tinha muitas habilidades, que incluíam falar com cobras, embora-porém-todavia, rebater uma bola de beisebol não estava entre elas. Os olhos de Sybil, extremamente azuis, escureciam quando ela se zangava e clareavam quando estava feliz, eram também notáveis.

Até uma nascida-trouxa sabia que um bruxo não poderia ficar à solta. Portanto, se as suspeitas de Evelyn de que Sybil Crawley e Tom Riddle fossem bruxos estivessem corretas, eles teriam de frequentar a escola de feitiços mais próxima.

Convenientemente, dita escola era a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

Convenientemente ao quadrado, a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts era um lugar agradabilíssimo quando um alemão nazista megalomaníaco ensandecido subia ao poder, e recebia alunos de outras escolas, incluindo Durmstrang e Beauxbatons.

Convenientemente ao quadrado multiplicado por vinte e cinco, de todas as escolas em todos os países em todos os continentes, a que Evelyn frequentava era Durmstrang.