POV Danielle onn

No dia seguinte, eu ainda estava completamente atordoada, então eu não fui para a minha mesa de costume do refeitório na hora do intervalo, e sim, para a quadra. Lá tinha uma arquibancada onde, se você sentasse bem to topo, poderia escolher entre ver os garotos jogando futebol ou as garotas jogando vôlei. Fiquei por um tempo observando os garotos e nada me parecia atrativo de fato. Eram garotos bonitos, sim, de fato, mas nada que me fosse realmente atrativo.

Depois me virei para observar as meninas jogando vôlei. Eram meninas lindas. Eu olhei pros garotos mais uma vez e analisei os bonitos. Perguntei a mim mesma “será que eu beijaria esse? Será que eu beijaria aquele?”. Todas as vezes a resposta foi igual “não”, já com as garotas era sempre “Sim, talvez, sim, talvez”.

Eu ainda estava confusa, até que então vi uma garota que eu conhecia. Eu reconheceria aquele cabelo castanho comprido em qualquer lugar, era o cabelo mais bonito que já havia visto fora do espelho (modéstia à parte). Eram cachos que iam até a cintura e mesmo eu não os vendo com frequência desde a morte do meu pai, ainda podia distingui-los em um multidão. Embora eu nem tivesse prestado atenção nela se ela não tivesse passado do vôlei pro futebol, mas era a pessoa perfeita com quem eu deveria falar numa situação assim.

Esperei o intervalo acabar, sabia que ela não era lá muito interessa e acabava sendo sempre a ultima a sair da quadra, era assim desde a segunda série.

Danielle: _Hey, Lopez. Podemos conversar? –disse isso e chutei a bola pra ela.

Maressa: _Ainda somos primas, Danielle. Acho que pode me chamar de Maressa. –ela disse chutando a bola de volta pra mim. –Que quer conversar comigo?

Danielle: _Eu quero fazer uma pergunta, na verdade. –chuto a bola de volta e a conversa continua assim.

Maressa: _Manda.

Danielle: _Primeiramente, você gosta de garotas, né?

Maressa: _Positivo.

Danielle: _Como eu posso saber se eu também gosto de garotas?

Maressa: _Como é que é? –dessa vez ela ficou tão surpresa que acabou chutando a bola com muita força. Foi direto na minha cara e eu caí. –Ai caramba. –ela correu pra me ajudar. –Você tá bem, Dani?

Danielle: _Eu... Ai... To sim. –eu disse enquanto tirava e recolocava os óculos pra me certificar de que não tinha quebrado. –Mas responde aí a pergunta.

Maressa: _Porque você quer saber?

Danielle: _É que eu nunca tive interesse em garotos e eu achava que era por ser nova, mas de... –eu sei que fui exagerada nessa parte, mas eu não ia dizer que estava confusa por Natasha Zambianchi. Qualquer outra garota tudo bem, mas o que Danielle Damasceno faria perdendo tempo com Natasha Zambianchi. –Uns tempos pra cá eu tenho reparado que eu reparo em meninas.

Maressa: _Acho que isso é normal pra tua idade. Tem quantos anos mesmo? 13? –ela me puxou pra sentar na arquibancada.

Danielle: _Tenho 12.

Maressa: _Ah é. Um ano mais nova que eu. Bom, eu reparo nas garotas desde sempre. E você deve saber disso porque eu tirei o seu b.v. brincando de casinha.

Danielle: _E aquilo valeu? Eu tinha sete e você oito.

Maressa: _Claro que valeu. Eu tava me aproveitando da sua inocência, Danielle.

Danielle: _Idiota. –dei um tapinha no braço dela o que a fez rir.

Maressa: _Você achou legal.

Danielle: _Como eu podia saber se achei legal ou não? Eu tinha sete anos!

Maressa: _Porque você disse “faz de novo, Lêssa”.

Danielle: _O que? Isso aí já é mentira.

Maressa: _Você sabe muito bem que “tlocava” o “r” até os oito anos.

Danielle: _Tá, disso eu sei, mas eu não disse pra você fazer de novo.

Maressa: _Disse sim.

Danielle: _Eu não lembro disso. –era verdade, alias, até hoje eu não lembro direito daquele dia. –Mas se, e eu disse SE, for verdade, isso significa que eu gosto mesmo de garotas?

Maressa: _Não é assim que funciona. Você gosta de garotas de olhos abertos e gosta de beijar garotas de olhos fechados. Uma garota pode ti beijar de um jeito que você gosta, mas você não sentir atração por ela de olhos abertos.

Danielle: _Não entendi, Rêssa.

Maressa: _To me sentindo a tal, sabia? Primeira vez na vida que eu, Maressa Lopez, vou explicar alguma coisa pra Danielle Damasceno.

Danielle: _Pode explicar de uma vez?

Maressa: _Ok. Beijo é uma coisa física. Se um garoto e uma garota beijarem você de um jeito parecido, você vai gostar dos dois beijos. Gostar ou não de garota já é uma coisa mais, como eu posso dizer? Tipo, psicológica. Mais ou menos assim, c pode ficar a fim de uma garota só de olhar pra ela ou de conversar com ela ou tu pode beijar uma e pensar que gosta. Tipo isso, entendeu?

Danielle: _Mais ou menos. Mas como que eu sei que eu não to confundindo atração com outra coisa?

Maressa: _Dani, pra mim, é quinem comida. Se você gosta da aparência ou do cheiro, você prova. Se gostar gostou, se não gostar não come mais.

Danielle: _ (risos). Você é bem direta, né Maressa?

Maressa: _ (risos). Sempre.

Danielle: _Obrigada pela conversa.

Maressa: _De nada. E, se decidir entrar pro time, me avisa que quem sabe a gente possa brincar de casinha. -ela ainda tinha aquele mesmo jeito safado de piscar nos dois anos que eu tinha ficado com praticamente contato zero com ela.

Danielle: _Vai se catar, Lopez.

Maressa: _ (risos). Não me lembrava de você ser tão boquinha suja, Damasceno.

Danielle: _Eu não era, mas com primas como você a gente acaba ficando, né?

Maressa: _ (risos). Idiota.

Danielle: _É melhor a gente ir pra não perder a aula.

Maressa: _Já perdemos os 5min de tolerância.

Danielle: _Faz como eu, diz que levou uma bolada no rosto e precisou se atrasar um pouco.

Maressa: _ (riso sem graça). Desculpa por isso.

Danielle: _Tudo bem. Vamos logo.

Eu fui pra minha sala, a Maressa foi para a dela.

Fiquei um bom tempo martelando com as palavras da Maressa na minha cabeça, por fim, decidi que deixaria as coisas fluírem e pararia de ficar tão preocupada com isso. Afinal, se fosse pra acontecer, aconteceria. E eu não podia ficar nervosa com aquilo.