A reação da Katniss não foi as das melhores, eu entendo ela sabe, eu também não estaria nada bem, no lugar dela. O distrito 13... A descrição de Suzanne Collins foi bem precisa. Um distrito no subsolo, em um lugar onde você nunca imaginaria que existe algo por baixo, uma civilização desse tamanho. Super protegido, com seguranças altamente armados, fico surpresa por Snow ficar tão tranquilo em relação a eles, ele o subestima e vai morrer, mas não posso falar isso pra ninguém aqui, afinal eu sou a intrusa aqui, não eles, não posso ficar dando uma de vidente. Enfim, a única coisa que realmente me incomodou foi a comida, por que tão controlada? Eu amo encher meu prato de comida, comer até estourar, mas aqui isso não é possível. Até gostei desse lance de rotina, gosto de ter horário para fazer as coisas. Coin é uma mulher muito sábia, é possível ver isso em seu olhar, ela transmite ser muito mais velha do que aparente, como se tivesse passado por muitas coisas. Infelizmente, eles me deixaram de lado nessas reuniões que tem, por outro lado entenderam a minha situação e desde então ajudo como posso na cozinha, faço os sucos, coloco agua no jarro, lavo os pratos, enfim, faço serviços básicos, só pra compensar minha estadia aqui mesmo. Meu quarto era bem simples, mas bastava, depois do tempo que passei na arena, toda cama é um luxo. Encontrava-me todo final de tarde com o Finn, ele fazia questão de ver se eu estava bem.

–... e você vai vir morar com a gente aqui, nós vamos ter uma casa muito linda. Eu, você e a Annie, você vai ser a filha que a gente sempre quis, e nós seremos muito felizes. Você sabe que eu me sinto responsável por você né Lice? Você é como se fosse minha irmã caçula – disse desarrumando meu cabelo. Eu quase chorei agora. Esse é um dos momentos que eu fico com o coração na mão. Não posso ficar aqui, esse não é o meu lugar e, além do mais, pensar na morte do Finn faz minha cabeça girar e meu estomago embrulhar.

–Claro Finn- disse olhando pra parede branca. Esses últimos dias foram bem tensos, Finn ta ficando louco por causa da Annie, mas na maioria do tempo fica sonhando com o futuro, o que faz meu coração apertar. Meu futuro é incerto, minha vida é incerta, será que isso é real? Nem isso eu sei, como posso dar esperanças pra esse homem que está praticamente me adotando? Nada disso faz sentido pra mim, nada.

–Tenho que ir Lice, mais uma daquelas reuniões chatas- disse levantando me dando um abraço.

–Vai lá, depois me conta tudo- disse mesmo sabendo que depois ele não contaria nada “pra minha própria segurança”, hmpf, como se eu não soubesse o que está passando por lá.

Nessas horas que eu me sinto bem sozinha, eu tenho medo, medo de esquecer tudo isso. Eu não sei o que vai acontecer, mas sei que não tenho muito tempo aqui, tenho que aproveitar ao máximo. Olhei minha programação, vamos voltar a cozinha.

...

Lavei, pelo que pareceu, uns mil copos e pratos, em todos não havia nem um grão de arroz desperdiçado. Eles levam bem a sério esse negócio de não desperdiçar. Sai, na minha programação dizia: banho, mas bem, quebrar um pouco as regras não tem muito problema, não é? Pois bem, fui conhecer o distrito 13, que até agora só conhecia a cozinha, o refeitório, meu quarto e o caminho que liga os três. Aqui é um lugar bem... Sério. Estava rodeada de cores sérias: cinza, branco e preto, essas cores resumiam bem o distrito 13. Mas aqui não é um lugar muito ruim, é legal até, tirando...

–Oh, desculpe... – disse Gale, nos esbarramos sem querer. Pelo menos da minha parte. – Qual é o seu nome miss?

–Alice.

–Lindo nome miss, eu sou o ...

–Gale, sei bem quem você é. E por qual razão você ta me chamando de miss?

–Porque você me lembra aquelas mulheres bonitas, aquelas miss de antigamente. VocÊ é uma moça muito bonita miss.

–Obrigada Gale – disse sorrindo e tentando me esquivar dele – Pra onde você esta indo?

–Eu estava indo para a sala... Esquece, isso não é importante. E você miss, pra onde estava indo?

–Só estava indo conhecer aqui mesmo, estou aqui há dois dias e não conheço nada do lugar.

–A maioria das pessoas do 12 não conhece, essas malditas programações nos prendem, quase não temos livre-arbítrio... – resmungou.

–Mas eles foram muito gentis em nos aceitar aqui – tentei ver o lado positivo da coisa. Já estava falando em “nós”, como se eu fizesse parte daquilo, isso não é bom, nada bom.

–Pois é, mas se não tivesse essa epidemia, ficaríamos sem casa, sem comida, sem nada, não gosto nem de pensar – disse fechando os olhos como se aquele pensamento doesse. Obvio que deve doer, aquela era a sua família.

–Então Gale, pode continuar seu caminho, tenho que ir pro quarto agora- disse me virando pra ir para o meu quarto quando Gale pega a minha mão e beija-a.

–Foi um prazer conhece-la miss, espero que podemos nos encontrar novamente.

Okay, ele era um fofo. Não achei que ele era desse jeito, mas isso me agradou, e muito.

...

Já é meu quarto dia começou aqui e logo uma notícia se espalhou pelo Distrito 13, que eles conseguiram resgatar Peeta e Johanna, ai caralho, coitada da Katniss. Fui tomar café e Gale foi me cumprimentar, normalmente, conversamos muito ontem, horas de conversa a fio. Ele me apresentou a mãe e irmãos deles, todos muito bem educados. Finn não estava muito feliz com Gale, achava engraçado essa implicância que ele tinha com ele. Foi quando entrou uma menina ofegando, creio ser a Madge.

–O... Peeta... Matar... Quase... Katniss... – disse a menina, Gale saiu correndo, Finn franziu o cenho e os burburinhos começaram. Foi assim que ela jogou a merda no ventilador.