Quando eu abro a porta de volta para a casa da mulher, encontro sete pares de olhos olhando pra mim. A casa é pequena, então a mesa de jantar é alinhada com a porta de modo que quando entro, eles são a primeira coisa que vejo.

–Está atrasada. -Bridgitte fala.

–Perdi a hora, depois me perdi em uma das trilhas. -Pode ser verdade, porque pelo que vi, aqui tem milhares e milhares de trilhas e lagos e montanhas, mas a verdade é que eu estava atrás da casa, durante quarenta minutos, me obrigando a parar de chorar e não conseguindo até aquele momento. Pra falar a verdade, só entrei em casa agora porque foi o último fio de coragem que eu tinha e sabia que não iria entrar nunca mais se não entrasse agora. Meus olhos ainda estão vermelhos, minha voz ainda está rouca e parece que estou minha vida toda gripada. Pra completar: os mosquitos estão me matando. Coço a perna e todo mundo olha pra ela, e os olhos da senhora Kowki se suavizam.

–Entre, entre. -Eu entro na casa, apertando meu casaco contra meu corpo e olho para as pessoas da mesa. O guru está lá, uma garotinha de no máximo treze anos está lá, uma mulher acima do peso também, dois gêmeos da minha idade, e um garoto também da mesma idade. Pelos meus cálculos, falta alguém. Mas não pergunto nada.

–Pessoal, essa é a Emerson. -Ninguém diz nada, todo mundo só me olha e continua a tomar sua sopa e eu encolho os ombros. Ótimo. -Agora, sejam educados, por favor.

–Muito prazer, Emerson. -A garotinha diz, e volta a se concentrar na comida. Os outros acenam, e o garoto só balança a cabeça na minha direção. Olho para a senhora Kowki.

–Esses são Rose -Ela aponta pra menina. -Liana -a mulher acima do peso-Danny e Dover -Os gêmeos. -E Perry. -Quase rio do nome, porque me lembro de Perry, o ornitorrinco, mas o garoto iria querer me matar. -Chris você já conhece, que vai ser o seu guru durante sua estadia. Pois bem, agora você vai pro quarto, troca de roupa, deixa esse tênis na porta pra não sujar o chão de terra e vem pra cá jantar. Faço que sim com a cabeça. E vou pro meu quarto em silêncio, mas quando abro a porta quase quero correr pra fora de novo, porque na cama do lado da minha tem uma garota com a cabeça enterrada no travesseiro.

–Uh...

–Não enche. Tem um banheiro ali. Só se troca e me deixa sozinha.

–Esse é meu quarto também. -Mas ela não diz nada e eu me sinto pior então vou pro banheiro, troco de roupa e volto pra mesa, sem nem olhar pra garota ruiva ali.

O único lugar vago é do lado da menina... Rose. Então sento lá, e ela abre um sorriso tímido pra mim. Pego um prato fundo e me sirvo da sopa, e só quando ouço meu estômago roncando que eu percebo que estou faminta. Fiquei umas doze horas sem comer, e a caminhada pra conhecer o lugar me deixou exausta. Assim que boto o prato com a sopa na mesa, a senhora Kowki me estende um spray pra acabar com as picadas de mosquitos. Vou espirrar o produto quando o garoto, Perry, diz de mau humor:

–Ah, faz favor. Dá pra passar isso longe daqui? -Ainda intimidada, eu levanto. E vou até a sala pra espirrar pelo meu corpo e sentir aquela irritação de sempre. De longe, consigo ouvir Chris chamando a atenção de Perry, e vejo ele dar de ombros. Quando eu volto, Rose fala comigo.

–Como é o seu nome mesmo?

–Emerson.

–Ah. -Ela parece querer dizer mais, mas fica quieta, e caímos em um silêncio. Perry está bem na minha frente e começa a me encarar. Não encarar do tipo estou-seduzido, mas encarar daquele tipo você-está-atrapalhando-minha-vista, mas a única coisa atrás de mim é a porta, então isso quer dizer que ele não gosta de mim. O que não me impede de encarar de volta com meu melhor olhar de não-ligo. Limpo a garganta.

–Hm... quem é a ruiva no meu quarto?

–Uma das mais antigas moradoras, apesar de ter apenas quinze anos. -Chris responde. -Vocês vão dividir os quartos. E não se preocupe, ela é inofensiva. Seu nome é Kristin. -Engulo seco.

–O.K.

–Então, o que achou de St. Mara? -Horrível. Odeio tudo. Quero sair daqui. Me matem.

–Legal, paisagens bonitas.

–Até onde você foi? -Chris pergunta.

–Até o riacho que tem uma placa escrito "Nola".

–Você andou pra caramba. -o guru responde, perplexo. Perry se levanta, leva o prato até a cozinha e o lava. Só sei disso porque escuto o barulho da pia, e não porque me virei pra ver. De qualquer forma, ele para quando passa pela mesa e diz para a senhora Kowki.

–Vou pra cama.

–Tudo bem, Perry. Boa noite. -Perry ajeita o moletom, onde está escrito "por que você está encarando meu tanquinho?", e eu reprimo um sorriso enquanto ele sai para o quarto dele. Os gêmeos saem simultaneamente, e Liana, a mulher acima do peso, demora mais um pouco, depois sai. Todos eles lavam seus pratos, e eu só observo cada um ir para seus devidos quartos, em regiões separadas da casa. Os gêmeos dormem junto com Perry, Liana com Rose, e eu com Kristin. Isso vai ser difícil. Termino de tomar a sopa, desconfortável com o silêncio e a situação esquisita e olho pra eles, procurando uma resposta ao que fazer. A senhora Kowki afaga minha mão do outro lado da mesa e Chris pega meu prato.

–Pode dormir querida. Você teve um dia longo. Amanhã, como é sábado, você pode dormir até a hora do almoço se quiser, mas as atividades da tarde ainda estão de pé.

–Que atividades?

–Você vai ver. -Nunca fui boa com atividades. Isso vai ser humilhação, mas que se dane.

–Tudo bem. Vou pra cama.

–Boa noite, Emerson. -Chris grita, da cozinha, e eu escuto uns "eis" vindo do quarto dos meninos, reclamando. -Me desculpem, garotos. -Mas eles não respondem, provavelmente já caíram no sono outra vez. A casa silenciosa faz meu coração apertar no peito e a vontade de chorar volta quando me arrasto para o meu quarto. E apesar de estar, de fato, cansada, na primeira noite não durmo absolutamente nada.