People With Problems escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 2
Verde É O Novo Cinza




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Regras de convivência St. Mara:

1-Não atropele vacas na estrada.

2-Não ande pela estrada sem permissão.

3-Você tem que escolher pelo menos três atividades para fazer na semana.

4-Você tem que acordar antes das oito horas, ou será punido com algum tipo de atividade no qual você não está inscrito.

5-Todo dia, às dez horas, A senhora Kowki pega as roupas sujas do quarto, então deixe as roupas sujas no cesto no chão.

6-É proibido brigar. Agir com violência (e xingar quando a dona da casa, no caso a senhora Kowki estiver perto)

Mais regras adiante.


Então o guru idiota não estava brincando. Atropelar vacas está mesmo no item número um. Se bem que ele mesmo que escreveu esta lista e me entregou, então pode ter trapaceado. Estou no meu quarto. E sentindo terrivelmente uma saudade da minha irmã, o que não faz o menor sentido porque Mack e eu passamos a maior parte do tempo brigando. Mas isso está quieto demais. E eu sinto falta até da música gótica que ela botava pra tocar. Meu celular está carregando, minhas malas em cima da cama e eu quero botar fogo nesse lugar. Dá pra ouvir os grilos lá fora, dá pra sentir o sol penetrando na janela, dá pra quase me imaginar vestindo roupas de fazendeira e cantando músicas com palha na minha boca. Não.

E tudo isso por causa do meu pai. Filho da mãe.

São três da tarde. Três da tarde não é hora pra sentir saudade da minha irmã ou pensar no meu pai. A essa hora, em casa, eu estaria conversando com Hillary ou Nora. Três da tarde aqui e eu estou olhando pro teto. Eu quero minha irmã.

Mack é um ano mais nova, mas é legal. Mesmo que sejamos completamente diferentes, ela é suportável e sempre me apoiou, mesmo que briguemos toda hora. Isso é coisa de irmã. E não é fácil conviver com ela na mesma casa. Foi muito corajoso dela me apoiar quando disse que não queria vir para o fim do mundo, mas meus pais não deram ouvidos a ela. Minha mãe chegou a considerar, hesitante. Afinal, ela ia mandar a filha pra um lugar completamente desconhecido pra se tratar de uma coisa que nem ao menos sabia o que era. E eu só dei um soco no meu pai pelo amor de Deus, quão ruim isso pode ser? Mas depois que ela conversou com o meu pai (porque minha mãe ainda tem a cara de pau de falar com ele) ela deliberou que era mesmo o melhor pra mim. Mack e eu choramos por duas horas na hora de nos despedirmos. E ela prometeu me ligar.

A despedida de Hillary e Nora, minhas amigas, foram menos dramáticas, porque nós não somos exatamente ligadas, mas foi tudo triste.

Meu pai apareceu também, mas não olhei para ele uma única vez.

Alguém bate na porta.

–Emerson Krish? -A voz é aguda e cansada, velha.

–Pode entrar. -Digo, sentando na cama. De lá, uma mulher, parecida com a minha avó, entra no quarto, limpando as mãos no seu avental e olhando em volta em busca de mudanças. Seu rosto é moreno, cheio de rugas e a pele é um pouco enrugada, fazendo com que ela pareça mesmo uma avó.

–Bridgitte Kowki. -Estendo a mão, mas ela só me dá um tapinha nas costas e bota uma mecha do cabelo curto e levemente cinza para trás. -E essa é minha casa. Aqui moram mais seis pessoas da Orientação. Então vocês vão conviver juntos. -A casa é pequena, então me pergunto aonde toda essa gente deve estar escondida. Talvez estejam fazendo uma daquelas... atividades. De repente, eu fico meio nervosa. Conhecer gente nova. Nunca fui boa nisso. Muito menos fazer amigos, e agora vou ter que conviver com toda essa gente. Minha vida mudou mais nessas vinte quatro horas do que mudaram minha vida toda. Me sinto... deslocada. Esquisita. Atordoada. Como se isso fosse um fosse um sonho, e não minha realidade. Como cair de um prédio muito muito alto e esperar ser salva por uma pilha de travesseiros quentinhos e fofinhos. Mas no fundo eu sei que não estou sonhando e que isso nunca ia acontecer. Estou presa aqui por alguns meses.

No que foi que eu me meti?

Me sinto uma prisioneira.

Odeio meu pai.

Odeio minha mãe.

Odeio o mundo.

Odeio humanos. Sol. Ar. Oxigênio.

Quero socar alguém de novo.

–Sem problemas. -Consigo ser educada. Ela olha com o cenho franzido para a janela, vai até lá e abre a cortina, expondo a luz completamente para o quarto. Fecho os olhos, que doem ao contato com a luz.

–Agora sim, estava muito escuro. Escute, o jantar é daqui a duas horas. Todo mundo vai chegar mais ou menos a esse horário, então você tem duas horas pra explorar um pouco o lugar. Qualquer coisa, tem a tevê, mas tem coisas muito melhores pra fazer por aqui. É bem grande e tem bastante trilhas e tudo mais. Quem sabe você não encontra mais gente por aí? -Isso é quase ela me mandando pra fora, não é? -Você não pode entrar nas outras casas, entendeu? -Faço que sim. -Mas o resto é permitido. Só não faça estragos. Chris está aqui também, se precisar de alguma coisa. E o médico só vem as terças pra trazer remédios, então se você toma alguma coisa, diga a Chris que ele encomenda do médico. Alguma pergunta?

–Não. -Tenho algumas, mas não estou com vontade de abrir a boca.

–Foi um prazer conhecê-la. -Bridgitte Kowki diz, mas parece profissional demais para estar mesmo feliz. Assim que ela sai do quarto, eu troco de roupa, botando uma calça de moletom, e tênis velhos (estava com as roupas da cidade ainda), e saio em três segundos da casa, olhando pra vasta variedade de verdes e caminhos que encontro quando piso do lado de trás da casa. Algumas palavras vêm na minha cabeça: mato. Verde. Mosquitos. Árvores demais. Ar puro. Natureza. E principalmente: Roça.


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Notas finais do capítulo

ai mds alguem ta lendo isso me digam o que vcs acharam ou nao precisa só idk