As Crônicas Aladas - Principatus escrita por Mano Vieira, DannyZR


Capítulo 16
Capítulo Quinze.


Notas iniciais do capítulo

Bem, está aí, como prometido *3*
boa leitura!



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Continuo olhando para Loran, sem qualquer reação. Mas eu estou com um pensamento: o que será que vai acontecer agora que um portal foi aberto na cidade?

Algo parece criar forma. Olho para o lado e vejo um ser grande em altura e presunçoso. Kyle está ao seu lado. Meus olhos demoram uma fração de tempo para se acostumar com a nova presença e, logo, eu consigo enxergar perfeitamente o que apareceu ali conosco: É um demônio em repouso.

Recuo dois passos, por segurança própria.

—Não precisa ter medo, Emilly. — Diz Kyle. — Ele não irá lhe fazer mal nenhum enquanto dorme. Ou talvez faça. Tudo é uma questão de o como você reagir.

Continuo onde estou, com o meu olhar inseguro sobre o ser.

—Querida Emi, declaro iniciado o seu treinamento a partir de agora. — Diz Loran sorrindo e num tom alto para que a sua voz não se misture com o som da ventania que está presente no local agora. — Esse é o seu primeiro teste: matar o demônio sonolento. Como Kyle disse, ele está em repouso. Mas mesmo assim ele continua esperto e consegue ser um verdadeiro saco para matar. Ele irá revidar cara Emi. Cuidado é essencial. Só não deixe que ele acorde. Bem, acho que já falei demais! Você pode começar.

Ambos se afastam, devem subir para algum lugar que possam continuar vendo o meu desempenho nesse trabalho, pois não consigo avistá-los com os pés no chão. Continuo parada, sem saber o que fazer.

Ok, calma Emilly. Se concentre. Você ficou vários dias foras para treinar para quando isso realmente for para valer. Você agora sabe lutar, pois te ensinaram a fazer isso e não bolinhos doces com cobertura de chocolate.

Dou um passo para frente e paro para analisar a situação do demônio. Nada. Ele permanece em repouso. Dou mais um. E outro. Chego o que julgo o mais próximo possível dele.

Concentro um pouco de energia em minhas mãos. Uma espada ou uma esfera energética? Acho que, talvez, uma espada seja mais eficiente nesse tipo de luta. Fecho a minha mão, mas não completamente. O espaço restante é preenchido por energia, que logo se materializa numa espada leve.

Seguro-a firmemente e faço a postura correta para atacar. Dou o golpe. Ele é revidado por algo que não sei explicar direito. É como se batesse e voltasse para você, mas não com a intenção de te machucar, somente de se proteger. De avisar que o que for ao encontro, voltará independente do que for.

Olho assustada para o demônio. Ele parece continuar absorto em seu profundo sono. Isso é bom! Dou um segundo e um terceiro golpe. Todos voltam para mim.

—Droga! — Murmuro baixinho, para que ele não se assuste com o tom da minha voz.

Uma pequena elevação pode ser percebida em seu corpo. Ele respira. Nunca parei para pensar — talvez seja pelo motivo de eu nunca ter acreditado muito em demônios ou até mesmo em anjos — que os demônios respirassem. Será que matar um asfixiado pode ser uma boa ideia? Não, ele certamente acordaria.

Continuo analisando-o. O que diachos eu tenho que fazer para que esse demônio morra? Não deve ser tão difícil assim, a maioria dos jovens morrem quando cortam o pulso, mas isso proporcionaria uma dor no corpo dele e, certamente ele acordaria e me mandaria para o lado de alguém maior, antes mesmo de ele voltar para o abismo.

E se eu atacar um ponto vital? É uma boa, mas será que todos os pontos vitais humanos são os mesmos que os dos demônios? Não custa nada tentar. Penso em um bem clichê, que possa ser fácil de ser encontrado.

Os olhos!

Ponho-me de frente para o demônio e, delicadamente, subo a sua pálpebra pesada e peluda. O seu olho continua imóvel e de um jeito débil. Isso significa que ele não pode me ver. É como se a pálpebra continuasse fechada, e tudo o possível para a visão dele fosse o escuro absoluto.

Seguro a espada com cuidado e dou um pequeno empurrão para que ela rasgue a superfície ocular. O demônio não sangra, não morre (obviamente) e também não acorda. A única alteração é que agora a sua boca está aberta. Os pequenos dentes dele me fazem querer rir.

Algo sai de sua boca e se agarra aos meus pés. Algo frio e molhado, mas não parece ser a língua dele. Não grito. Simplesmente fecho os meus olhos e torço para que nada pior aconteça. Abro os olhos e percebo que os pequenos dentes dele não me fazem querer rir quando os vejo de dentro da boca dele. Escorrego e, aparentemente, caio em seu estômago.

É nojento, é estranho. Ele não deveria me comer, já que ele é um espírito e eu sou um corpo físico.

Percebo que continuo com a espada na mão. Movo-a levemente pelo líquido asqueroso e bege que se encontra no local, inundando até a altura dos meus peitos. Por sorte, tenho um estômago forte.

—Ótimo! Preciso fazer algo e voltar para casa logo. — Digo em voz alta, sem ter motivos para falar isso.

Nunca entendi bem o motivo de falar algumas coisas sozinhas, mas eu sempre fiz isso. Nunca parei para pensar, mas as pessoas devem achar que eu tenho algum problema mental ao me verem falando com o ar.

O jeito mais fácil de sair deste lugar é, de fato, destruir as barreiras que me cercam. Concentro um pouco de energia na minha espada, mas não para fazê-la crescer e sim para que o golpe seja mais potente. O líquido começa a borbulhar, fazendo com que a parte submersa do meu corpo comece a queimar.

—Vamos logo, Emilly. — Incentivo-me. — Você não pode demorar se não será desintegrada.

Assim que percebo que uma boa quantidade de energia está disposta ao uso, ergo a espada e giro-me, deixando que a lâmina fique apontada para frente, na altura do peito. A espada deixa um rastro de 360º e, em questão de segundos, ouço um som de explosão semelhante à de uma bexiga. Mas, na verdade, o que estourou foi o demônio. O líquido se esvai rapidamente do local em que estava acumulado, deixando-me sentada no chão — ou ele devia fazer isso.

Não me encontro sentada no chão, como estava há segundos. Desta vez, estou na frente do demônio que continua a dormir. Pisco uma, duas. A terceira vez é o bastante para que eu me com vença de que ele ainda se encontra aqui comigo.

—Droga! — Murmuro.

Mas o inesperado acontece: Ele começa a evaporar.

Não demora mais do que dois minutos para que todo o corpo e a presença dele já não estejam mais perceptíveis aqui entre nós.

Olho para o meu corpo. Não parece que há segundos eu estava dentro do estomago de um demônio, sendo digerida.

Loran e Kyle descem até aqui. Ambos estão sem camiseta e as asas estão abertas ao extremo.

—O que aconteceu com a camiseta de vocês? — Pergunto. Não sei o motivo de estar com um pouco de mau humor. Deve ser o sono.

— As asas precisam de espaço para ficar a mostra. Tirei a camiseta por que eu não queria que ela ficasse em trapos. — Justifica Loran. Posso ouvir Kyle comentando “É isso aí!”.

Dou de ombros.

—Bem, vamos ao que interessa. — Diz o ruivo enquanto encolhe as asas e tampa o peito com a vestimenta. —Você conseguiu concluir a sua primeira tarefa, com um demônio fácil. Não se vanglorie.

—Eu gostaria de saber o motivo de eu ter sido comida, sendo que sou um corpo físico e ele não... — Digo confusa.

—Isso é uma boa pergunta. — Continua o ruivo. — Você não foi comida, não o seu corpo físico. A sua alma foi. É normal essas coisas acontecerem. Muitos demônios comem a alma das pessoas, deixando o corpo para trás, sem batimentos cardíacos e com o cérebro débil, ou sendo mais preciso, morto.

—Isso significa que, se eu fosse digerida, meu corpo ficaria para trás e, quando fosse encontrada iam falar para o meu irmão que eu morri? — Resumo o meu ponto de vista e o torno explícito para os dois.

Loran assente.

—Você está aprendendo rápido, minha cara. — Diz ele sorrindo docilmente. — Amanhã podemos continuar com o treinamento. Durante a noite. Você deve voltar agora, antes que alguém sinta a sua falta lá.

Assinto. Vejo Kyle se aproximar e me abraçar. Não entendo bem o motivo, mas não protesto.

—Vou te levar embora. — Justifica. — Segure firme.

Envolto o seu corpo com os meus braços e seguro bem firme. Suas asas negras ainda estão visíveis e ele as força, criando um tufão de ar e impulsiona-nos para cima com os pés. Decolamos rapidamente. A sensação de estar voando é ótima.

A pele de Kyle é macia e está quente. Ele não está cheirando a suor ou coisa parecida. Mantém o seu cheiro natural — um muito bom, por acaso. Fecho os olhos e inspiro. Caio no sono em seus braços, enquanto pairamos pela cidade.

+++

Maggie está vestida com uma saia comprida e toda florida. Duas sandálias é o que ela está calçando. O seu cabelo continua normal, porém o seu rosto não está nada bonito, comparado aos outros dias.

—O que aconteceu? — Pergunto curiosa e preocupada.

—Uma prima distante. — Responde ela.

A resposta vaga dela não me satisfaz.

— E o que tem a sua prima distante? — Pergunto forçando um pouco mais a barra, para que ela me dê à informação exata e precisa.

—Ela chegou ontem à noite e disse que veio para ficar. A primeira coisa que eu odiei foi o seu jeito de mandona — comenta ela. — A minha vestimenta hoje é fruto do seu jeito. Disse que o jeito que eu me vestia não era o jeito digno de uma guardiã. Não sei o porquê diachos ela leva isso tão a sério.

—Ah... Ela também é uma guardiã? — Pergunto curiosa.

—Digamos que não. —Fala Maggie se sentando na carteira ao meu lado, para poder conversar melhor. — Ela ajuda os guardiões a fugir quando são caçados. Ela tem lá os seus poderes.

—Isso é interessante. — Digo enquanto sorrio verdadeiramente. — O que ela faz?

Maggie pressiona a parte superior do lábio com a inferior, para fazer com que o batom claro continue ali e que umedeça a sua boca.

—É como se ela fosse uma... Bem... Eu não sei a palavra certa para explicar. Sabe aqueles japoneses que usam quimono e escrevem penas folhas que criam barreiras?

—Onmyoji? — Digo.

—Isso! — Maggie bate as palmas levemente, para que não produzam um som muito alto. — Ela é quase isso. A diferença é que ela não escreve em folhas e as joga por aí. Ela tem que estar de corpo presente. Ela consegue criar barreiras e fazer pequenas alterações no meio ambiente com a força mental, é como telecinese, mas ela não consegue desenvolver isso muito bem, como os guardiões conseguem. Então ela usa uma espada para lutar.

—Entendo... — Digo. Não sei o que comentar então eu espero que ela continue desenvolvendo o assunto.

Mas para o meu desgosto o professor entra na sala, fazendo com que todos fiquem quietos. Kyle e Loran não vieram novamente. Por que será?

+++

— E vocês duas não desgrudam. Maggie, essa roupa não é sua. O que aconteceu, exatamente? — É a primeira coisa que Jace fala ao se encontrar com nós.

—Oi para você também, Jace. — Fala Maggie. — Você sabe como são os parentes. Sempre estão insatisfeitos com as minhas vestimentas.

Não sabia que os dois eram amigos. Para falar a verdade, eles até parecem se conhecer a anos. Mas nunca os vi juntos, então nunca cheguei a pensar que pudesse existir um relacionamento entre ambos.

— É visível que o seu parentesco tem roupas muito bonitas. — Diz ele sorrindo e se sentando ao meu lado. Vou para a esquerda (é onde Maggie está) para não ficar muito encostada nele. Nada contra ele, mas é que é estranho para mim me sentar e sentir a minha pele roçar com a pele de outra pessoa, pior ainda se for um menino. — Acho que minha mãe compra as roupas no mesmo brechó. Devem se conhecer...

—E eu quero queimar esse brechó. — Sorri Maggie. Jace se aproxima um pouco mais. Deixo-o se aproximar, pois se eu me distanciar, estarei sentada no colo de Maggie e essa cena não seria nem um pouco bonita. — Não me leve a mal, Jace. Não é que eu queria ver sua mãe pelada ou sempre com as mesmas roupas, mas é que eu não quero vestir elas.

—Está tudo de boa.

—Que tal marcarmos um dia para irmos queimar? — Sugiro. Acho que eles não teriam se lembrado de mim, caso eu não tivesse me intrometido.

—Essa é uma ótima ideia, Emilly. — Jace está animado e olha para mim transbordando em animação.

— Só teria que sair escondida. Estou de castigo. — Digo e bufo logo em seguida.

—É aí que as coisas ficam mais legais. Você estará fazendo duas coisas proibidas. — Maggie pisca um dos olhos.

O sinal bate, anunciando o fim do intervalo. Eu me levanto e Maggie e Jace também. Dou leves tapas na minha calça na parte de trás, para que eu não fique com poeira acumulada ali.

Os professores continuam as suas aulas normais, tudo passa tranquilo. Sinto-me até uma garota normal de novo. A única diferença é que com o tempo a minha mente está se tornando mais ampla, facilitando o entendimento do desconhecido e ampliando os meus pontos de vista.

+++

Conforme os dias passam, vou treinando com os demônios de classe baixa. Algo que me incomodou muito foi que os demônios acordados são realmente demônios, encapetados. Houve um que conseguiu até arrancar um tufo do meu cabelo. E tanto Kyle quanto Loran não me ajudam em nada. Ambos vão agora duas vezes por semana no colégio. Há uma diferença nos atos de Kyle. Ele não está mais tão próximo assim. Parece que as minhas amizades — Jace e Maggie— não o agradam. Loran poderia ser diferente, mas percebi uma mudança em seus atos também.

Thony e Lena tem me levado ao psicólogo agora. Ele é legal, me faz ouvir músicas e me dizer o que achei sobre elas. Também me recomenda filmes e livros, e até mesmo seriados e novelas para ver e dar a minha opinião. Só que ele sempre quer saber até dos menores detalhes da minha vida. Disse-me para vê-lo como se ele fosse a minha melhor amiga.

O castigo diminuiu um pouco também. Agora eu já posso voltar sozinha para casa. Mas nunca volto. Jace sempre me acompanha e Maggie até onde é possível. Durante a noite, eu ainda faço os meus treinos. A notícia boa que recebi ultimamente foi de que Thony e Lena anunciaram o namoro oficial deles e, agora, ela está dormindo no quarto dele. Isso é bom. Posso sair à hora que quiser. Loran me ensinou a criar uma “réplica” minha para que fique no meu quarto, fingindo que sou eu. Ambas estamos conectadas, então eu a deixo estudando. Ela seria de bom uso, caso eu pudesse mandá-la para a escola em meu lugar. A parte ruim é que ela não sabe reagir como eu reajo perto das pessoas e ela também gasta muita energia, física e angelical.

+++

—Você já sabe o que você tem que fazer, certo? — Pergunto pela milionésima vez, para a Emilly “réplica”.

“É claro que ela sabe garota! Ela é uma de nós. Somos totalmente espertas! Bem, eu pelo menos, sou, agora, você...” Diz a Emilly perversa. O senso de humor dela tem se tornado gigantesco ultimamente. Isso é um pouco chato, mas ela me faz rir como uma louca quando estou entediada. Sim, posso dizer que viramos bem amigas. Ela me dá dicas do que fazer para que consiga mais poderes e nem me perturba muito durante a noite — só aparece para me matar.

—Sei. — A réplica me responde, sem qualquer emoção em sua voz. Loran me disse que com o tempo isso desaparece. É simplesmente por que ela é uma das primeiras e eu ainda não adquiri o jeito de fazê-las praticamente perfeitas.

—Ok. Volto assim que o treino terminar. — Digo e aceno. Empurro, com os meus pés, a borda da janela e despenco do meu quarto. Não caio. Uma das minhas novas missões agora é tentar voar. Eu consigo voar por até vinte minutos, o necessário para que eu chegue ao local em que treinamos.

Kyle está com as vestimentas pretas de sempre, uma cruz e uma caveira estão presentes em sua camiseta tecnicamente colada ao corpo. Loran está com uma camiseta, de mangas longas, listrada, possuindo a cor azul clara e branca. Ambos estão com uma calça de cor escura e com coturnos.

—Boa noite. — Digo ao encolher as asas e me aproximar dos dois.

—Boa noite! — Loran responde sorrindo.

Kyle acena com a mão.

—Hoje você vai treinar com um tipo diferente de demônio, Emilly. — Comenta o ruivo. — Um tipo mais forte, de uma casta acima das que você treinava antes.

—Isso é excitante. — Digo sorrindo. Imagino-me matando um demônio desses. Minha mãe ficaria orgulhosa de mim.

Ou não.

—É, pode parecer. Mas eu pedi para que Kyle não invocasse um fraco. — Loran sorri maliciosamente. Kyle tenta sorrir, porém o seu esforço é em vão.

—Um fraco? Pensei que todos os demônios de uma casta tivessem a mesma força.

Loran ri.

—Você errou Emilly. É a mesma coisa que eu chamar um anjo da sua casta aqui. Ele seria muito mais forte e experiente do que você. — Loran passa a língua pelos lábios — e precisamos fazer uma sonda em sua mente, para ver a sua casta, afinal.

Assinto. Respiro fundo e peço para que eles iniciem logo.

Kyle, sem demoras, coloca a sua mão direita para frente e estala os dedos. Uma pequena esfera fluorescente surge e, conforme os segundos passam, ela vai sugando o espaço em volta e dilatando-se. Um portal.

Uma tênue neve sai em grande escala do portal. Sua cor é verde neon e parece ser inofensiva.

—Este é o demônio do dia (talvez da noite) Emilly. — Sorri Loran. Ambos desaparecem como fazem em todas as vezes que invocam um demônio.

A névoa começa a se tornar mais densa e se acumular num ponto. Dois pontos pretos surgem e um risco na horizontal também. Um rosto.

Rio perante o demônio.

—Eu não acredito que isso pode ser considerado mais forte! — Digo para mim mesma.

Pequenos tufões de névoas esverdeadas saem de seu corpo e vagam pelo local em que estamos.

Abano os tufos com a mão e começo a andar pelo local. Esse demônio é tão bizarro e ridículo que não faço a mínima de como eliminá-lo. Ou de como mandá-lo para o Hades, já que é isso o que eu estou fazendo, segundo Loran. Conforme dou meus passos, a névoa abre uma trilha para que não se misture com a minha presença. Invoco a minha espada e, por via das duvidas, o meu par de asas.

Olho para os lados. Não há nada, além da névoa e do ser estranho com um rosto. O chão já não está mais visível. E a fumaça começa a subir, como água sendo despejada num pote.

+++

A névoa se condensou. Alguns pontos estão se erguendo e criando esferas nas pontas, como se fossem pequenas colunas. Movimento a minha espada perto de uma delas, para ver a reação. É como se a névoa não estivesse ali. Minha espada passa direto por ela.

Um pequeno barulho de bexiga estourando me faz virar rapidamente para o outro lado. Uma das esferas se soltou do que a prendia no chão — ou na névoa que sobrevoa o mesmo. A esfera continua vagando sobre o lugar, como se fizesse parte dele.

Bato as minhas asas, criando um vácuo na névoa, e desprendendo-me do chão, para ver até onde ela chegou. Uma grande área já está coberta por ela e, em certos lugares, existem até pessoas, porém elas parecem não perceber a presença da fumaça cor limão brilhante.

Observo que as esferas que estavam flutuando, sendo seguradas por tendões de névoa, estão começando a se soltar e ir para lugares onde a névoa ainda não alcançou.

Escondo a espada e pouso levemente numa praça, sem que ninguém perceba.

Uma das esferas acaba de aparecer aqui. Quero ver o que ela irá fazer. Fico parada em pé, analisando-a. Em questão de segundos, dois pequenos buracos negros e uma linha horizontal aparecem na esfera, criando um rostinho. Exatamente igual o que aconteceu com a primeira. Não demora a que ela comece a expelir o mesmo gás. E também não tarda para que esse preencha todo o local.

As pessoas que estão aqui presentes começam a inalar o gás, mas ele parece ser totalmente fútil. Todas continuam normais.

Ando pelas pessoas, para ver de perto as reações possíveis. Todas, exatamente todas Etão normal. Esbarro, sem querer, no ombro de uma pessoa. Viro-me rapidamente para ver quem é e pedir desculpas, mas a pessoa este vindo rapidamente em minha direção. Em Estão de segundos, ela acerta um soco em meu rosto e me lança com força para o chão.

—O que você está pensando? — Pergunta o menino. Ele não tem jeito de mal-encarado, mas não entendo o motivo dele ter feito isso.

—Me desculpe. — Digo com um pouco de dor no local onde ele me acertou. — Não foi de propósito eu prometo!

Minhas frases foram em vão. Um chute no ventre é tudo o que recebo em troca dos Edidos de desculpas. Cuspo um pouco de sangue e tento por me em pé, porém o garoto não deixa. Sou jogada contra o chão novamente.

Arrasto-me para longe dele e consigo colocar-me sobre os dois pés novamente, ele ao ver isso corre em minha direção, mas preparo-me para acertar-lhe um soco na face. Com a sua aproximação, eu alcanço o meu objetivo, mandando o garoto para o chão.

Corro para longe do local enquanto posso. Saio de perto dos locais empesteados pela fumaça esverdeada. E, sem querer novamente, esbarro em outra pessoa. Já me preparo para a briga, porém, antes de tudo, viro-me e peço desculpas. A pessoa simplesmente aceita-as e vai-se embora.

É isso! A névoa está fazendo com que as pessoas fiquem agressivas! Finalmente posso entender o que Loran quis dizer.

Os demônios que eu lutei até agora atacavam diretamente, isso tornava alguns fracos e outros fortes, dependendo da qualidade “física” deles. Esse de agora não. Ele usa os outros para me atacar. Isso significa que ele pode ser tanto forte, como fraco. Preciso detê-lo antes que ele cause algo maior, um problema complexo... Mas, infelizmente, ele já criou. Ele pode influenciar qualquer pessoa a fazer qualquer coisa, e eu não sei como eliminá-lo.

+++

A noite já está no seu ápice. Daqui algumas horas eu deveria estar acordando para ir estudar, mas ainda estou aqui, tentando manter-me acordada para descobrir uma maneira de derrotar esse demônio.

Ando pelas ruas e vejo a fumaça verde abrir caminho para não se contaminar com a minha presença. Já não tenho mais esperanças de descobrir o resultado hoje. Tento tomar o rumo de casa.

Deparo-me com Maggie e mais uma mulher ao seu lado. Ambas com uma máscara de gás ridícula. Sinto vontade de rir, mas não o faço, por não conhecer quem está ao seu lado.

—Emilly! — Grita Maggie e corre em minha direção, afundando-me em seus braços e fazendo com que seus seios encostem-se ao meu rosto. — Vim para cá para ver como você estava! E a propósito, é essa a minha prima.

Olho para a mulher com curiosidade. Não aparenta ter mais de vinte e cinco anos. Os cabelos tingidos pelas sombras vão até a coxa, mas estão presos para que aparente um tamanho menor. Os olhos são claros, ao extremo, tornando a face bem mais bela. O corpo alto e malhado, porém nada exagerado. A não ser o volume do busto. E as suas vestimentas são bem fechadas.

Ao lado do corpo, uma espada.

— Você está sem máscara, garota? — A mulher diz. A sua voz é rígida. — Esse gás pode te influenciar a fazer coisas maléficas.

—Eu sei. Descobri isso entrando numa briga por ter esbarrado com alguém. — Revelo e dou de ombros.

— Precisamos parar isso. Logo poderá ter problemas maiores. — Comenta Maggie.

—Eu não sei como derrotar o demônio. — Digo. — A minha espada não funciona.

—Você tentou usar a esfera de energia? — Pergunta a mulher.

—Não... — Por que eu não pensei nisso antes?

“Eu não gostei dessa mulher!” Fala a Emilly perversa.

Ela é boa, Emilly. Sinto isso. De coração.

“O coração gosta de enganar, Emilly. Tome cuidado”.

—Você poderia me levar até onde está o corpo principal do demônio? Podemos derrotá-lo, aí o gás não será mais expelido por toda a extremidade da cidade, porém as suas réplicas continuarão vagando por aí. — Explica ela. — Afinal, meu nome é Clare. Prazer.

—Prazer, Clare. Sou Emilly! — Digo estendendo a mão. Ela aperta-a rapidamente e logo a solta.

—Precisamos ir. Vocês duas tem aula daqui a duas horas. —Diz ela.

+++

Estamos nós três, paradas no pátio em que eu iniciei o meu treinamento de hoje, todas confusas e irritadas. O tempo que gastamos foi o necessário para que o corpo principal lotasse o local de gás e de réplicas, deixando assim impossível de perceber qual é o corpo principal e onde ele está devido à camuflagem.

— Vamos atacar. Emilly lembre-se de usar as esferas de energia, se quiser causar algum efeito neles. — Avisa a mulher.

Assentimos e começamos o ataque.

Maggie faz as suas mãos ficarem envoltas pelo poder e começa a atirar chama em todas as esferas que vê. Várias esferas são queimadas e produzem um som estranho ao explodirem, expelindo uma quantidade inacreditável de gás no ar.

Crio esferas de energia e percebo que, assim que elas surgem a fumaça é atraída pela esfera, preenchendo o seu interior, o seu núcleo. As esferas convertem a fumaça em energia e desprendem-se das minhas mãos e percorrem o local descontroladamente, acertando algumas esferas verdes, que liberam mais gás.

Clare joga “cortes invisíveis” nas esferas, que as fazem explodir. A cada morte, mais complicado torna-se de ver algo nitidamente neste local.

Continuo criando esferas para ver se consigo amenizar a situação, mas de nada adianta. Começo a tossir.

Passei muito tempo ingerindo essa fumaça, não sei quais as consequências elas podem me trazer agora, mas terei que arcar com elas, certamente.

As esferas reúnem-se numa fileira, criando uma enorme centopeia, ou até mesmo uma cobra, e começam a atacar, percorrer todo o local. A que se transformou na cabeça do corpo abre a boca e tenta nos mordiscar. Desvio para baixo, para cima e para os lados sempre que sou o alvo do ataque.

Maggie consegue acertar a cabeça com suas chamas, porém o alvo parecia não ser o corpo original das esferas, pois a próxima se torna a mais nova cabeça.

—Mas que saco! — Murmuro. — Nunca vamos dormir deste jeito!

“Tente mandar uma esfera ou uma chama, e até mesmo um desses cortes de energia, dentro da boca do demônio.”

Ok! Respondo para a Emilly e exponho a sua dica.

O corpo começa a descer em espiral. Maggie lança uma grande esfera em chamas na sua direção, mas ela não entra no interior do demônio. Sua pele fica queimada e ele é lançado levemente para o lado.

Clare lança um de seus ataques, mas ele só corta metade do corpo do demônio. A parte com a cabeça permanece “viva” a outra evapora.

—Droga! — Comenta, enquanto desce levemente para o chão. O seu pousar também é sereno.

Invoco as minhas asas e fico na altura dele. Crio duas grandes esferas de energia e jogo-as contra o seu corpo. Faço isso repetidas vezes, mas tudo o que consigo é lançá-lo para o lado.

É na sétima vez que Maggie consegue acertar uma grande rajada de chamas no interior do demônio. Fazendo com que todos, um por um, explodam. O melhor, não foi ver que estava acabado a maior parte da missão. E sim ver toda a fumaça paralisada e contraindo-se no ar quando o corpo mestre foi destruído.

Abraço-a e agradeço por seu ato milagroso.

—Garotas! — Fala Clare. — Vocês foram demais. Estou muito orgulhosa de você, Maggie. E de você também, Emilly. — Ela nos abraça. Seu cheio é bom. — Vocês devem voltar para a casa de vocês urgentemente e aproveitar essa uma hora e meia, restante, ao máximo, ok? Deixem que eu cuido dos corpos que são réplicas! Agora vão — Ela nos dá um pequeno empurro.

Saio em disparada em direção ao meu lar.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Dúvidas? Sugestões? Opiniões? Mandem reviews para que possamos melhorar a qualidade para vocês!
Até o próximo capítulo!
E isso é tudo, pessoal!



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