- O que? – Pulei em direção ao telefone – Não. Alô?

- Emma – meu nome na boca de Dylan parecia uma melodia – É o Dylan. Não sei se você lembra de mim...

- Não seja bobo – eu sorri – Claro que eu lembro.

Passei meus olhos pelo quarto e encontrei Aaron na batente da porta me encarando de cara feia. Tampei o microfone do celular com a mão e soei rude:

- Você não ia dar uma volta para pensar?

Aaron saiu batendo a porta quando peguei o celular novamente.

- Então, Emma. Eu não quero ser abusivo. Por favor não pense que eu sou abusivo...

- Dylan, pare. O que está acontecendo?

- Ok, a verdade. Sua avó conversou com seu pai essa semana e ele me ofereceu uma oportunidade de emprego incrível. Você sabe que o negócio dele está crescendo e que eu sempre gostei de...

- Arrumar coisas – eu ri – Sim, eu sei.

- Então, na verdade eu estou pedindo sua permissão.

- Minha... O que está acontecendo Dylan?

- Emma, eu posso me mudar para sua casa?

Engasguei por alguns segundos. Isso era maior que qualquer outro problema que eu podia lidar naquele momento. Quer dizer, meu namorado indo para longe e o único outro cara no universo que já tinha se interessado por mim indo morar comigo?

- Como assim? – Perguntei com a boca seca.

- Eu não tenho para onde ir. Então seu pai me ofereceu a garagem. Ele vai guardar os carros em sua oficina e eu posso fazer um quartinho e ficar por lá até ir para a faculdade. Mas eu não vou se isso for incomodar você.

- Dylan, isso é uma coisa incrível para você. Você precisa se dedicar ao final desse ano e a estudar para a faculdade... Eu nunca ia tirar essa chance de você.

- Mas Emma, você sabe... Onde está seu namorado agora? Você precisa conversar com ele.

- É a casa dos meus pais Dylan, e se eles querem você lá, quem sou eu para ter algo contra isso?

- Você não me quer lá, não é? – a voz do Dylan parecia... Triste.

- É claro que eu quero. Nós somos amigos. Eu preciso de um amigo.

- Ok então – ele riu – Então nós nos vemos logo, certo? Você volta logo.

- Eu volto logo – eu ri do entusiasmo do Dylan.

- Emma?

- Sim?

- Eu acho que isso é o começo de uma parceria linda.

Eu sorri tímida e agradeci por Dylan não poder me ver naquele momento. Então desliguei o telefone.

***

Passei a tarde andando por Nova York. Conheci cada ponto turístico do meu mapa ao som das minhas músicas favoritas e gastei todos os salários que já tinha guardado da creche. Quando voltei para o hotel, cheia de sacolas, Aaron já estava sentado na poltrona, lendo Stephen King,

- Nós precisamos conversar – disse colocando as sacolas em um canto.

- Isso vai me irritar? – ele disse secamente.

- Sim – respondi.

- Então não quero conversar.

- Ótimo.

Coloquei meus saltos altos e sai do quarto enquanto Aaron me olhava abismado.

***

Eu não pensei que voltaria tão cedo para aquela casa tão chique. Toquei a campainha e Marcos me atendeu com um sorriso.

Andamos até a sala de jantar, onde Louis me recebeu com um abraço apertado e me ofereceu bolachas crocantes.

- É sempre tão frio lá fora? – eu disse entregando meu casaco a uma das empregadas.

- Não, em algumas épocas é agradável. – Louis disse com seu tom um pouco afeminado.

- E então – Marcos colocou sua mão sobre a minha – Como ele está se sentindo?

- Estressado. Mas eu entendo. Na verdade, eu vim pedir um conselho para vocês.

- Adoro dar conselhos – Louis disse dando pulinhos e eu sorri.

- Um amigo meu vai se mudar lá para casa.

- Um amigo homem? – Louis estava sério agora.

- Sim – eu disse fazendo careta.

- E ele é só um amigo mesmo? – Marcos ficava muito mais descontraído perto de Louis e eu admirava aquilo. Quando o amor facilitava as coisas. Era assim comigo e Aaron.

- Então, esse é o problema. Nós passamos as férias juntos. Não como um casal. Porque eu e Aaron estávamos meio que... Nos entendendo. Mas se não fosse por Aaron...

- Ele provavelmente seria seu namorado agora – Louis disse me analisando.

- Sim, exatamente. Eu tentei contar para Aaron, mas ele foi tão grosso que a única coisa que consegui fazer foi correr pra cá. Quer dizer, nós já temos esse problema da faculdade e agora isso sobre a mãe, o avô e me desculpe – eu olhei para Marcos – você e tudo que eu menos precisava agora era um novo motivo.

- Emma, não é sua culpa – Marcos disse calmamente – E Aaron não pode jogar isso em você. Não o deixe jogar isso em você

- Mas eu não posso brigar com ele agora... Nessa fase difícil.

-E você vai o deixar ser grosso com você porque ele está passando por uma fase difícil? – Louis disse, segurando minha mão desocupada.

- Sabe, eu tenho uma irmã de 14 anos grávida em casa. E nesse momento eu só quero abraça-la.

- Então, vá para casa – Marcos disse hesitante – Talvez Aaron mereça levar um susto.

- Só tem um problema – eu sorri timidamente – Minhas passagens são para daqui três dias.

Marcos e Louis se olharam e riram.

- Acho que você esqueceu que todo milionário tem um jatinho e olha só... – Marcos sorriu – Eu sou um milionário.

***

Entrei no quarto do hotel tarde da noite. Estava segurando meus saltos para não fazer barulho. Comecei a esvaziar minhas sacolas na mala enquanto Aaron dormia. Peguei minha escova de dentes e escrevi um bilhete.

- Pra onde você vai essa hora? – Aaron estendeu a mão até o abajur e me secou – Com uma mala?

- Pra casa – eu sussurrei.

- O que?

- É Aaron. Minha irmã precisa de mim e eu preciso arrumar algumas coisas.

Aaron se levantou e veio na minha direção.

- E por acaso você vai andando?

- Seu pai... Ele vai me emprestar o jatinho dele. Uau é legal falar isso – eu sorri.

- Não é hora para brincadeiras. Emma, eu preciso de você.

- Não, você precisa de espaço. Você me disse isso. E eu entendo. Aproveite esses dois dias e nós nos vemos antes de você ir para a faculdade, ok?

Aaron me prendeu na porta e me beijou. O beijei de volta tempo suficiente para ele saber que eu não estava brava com ele. Então me soltei e passei por baixo do seu braço.

- Nos vemos logo ok? Eu amo você.

E sai andando pelo corredor sem tempo de ouvir ele dizer de volta. Ou talvez ele apenas não tenha dito.