Soltei um resmungo aborrecido quando escutei alguém bater na porta. Robert riu roucamente antes de afastar meu cabelo e beijar minha têmpora carinhosamente.

– Pode deixar que eu vou. – falou colocando os papeis que estavam em sua mão em cima do criado ao lado do sofá.

Fiz o sacrifício de me afastar dele – estávamos muito bem confortáveis sentados em meu sofá, ele sentado um pouco de lado com seus pés em cima de um puf e minha pessoa encostada contra seu peito com os pés em cima do sofá e Robert mantinha um braço em volta do meu ombro, vez ou outra eu segurava em sua mão.

Enquanto eu estava lendo um livro, Robert estava trabalhando. Ele estava lendo algumas redações que seus alunos haviam feito referente às suas férias de verão. Redações sobre como foi o verão nunca podem faltar, segundo suas palavras.

Acompanhei com o olhar Robert indo até a porta e soltei um suspiro desanimado quando me lembrei do que havia acontecido ontem. Eu não precisei explicar para ele quem era Eos, assim que eu havia falado o nome dela e perguntado se ele se lembrava quem era ela, ele imediatamente entendeu a situação.

E isso o deixou apavorado.

Robert foi sincero comigo. Disse-me que achou Eos linda, como qualquer outra Deusa, até foi simpática enquanto eles estavam conversando, mas ele era como Céfalo. Isso me deixou extremamente feliz.

Contudo, minha mente logo começou a trabalhar, pensando quais seriam os planos da Deusa para tentar nós separar e ter Robert para si.

Havia outra coisa que nós preocupava, mas graças a Afrodite – que como resposta por sua ajuda simplesmente nós disse que “deu vontade de nós ajudar”, obviamente eu fiquei desconfiada, mas não reclamei – descartamos ela.

Até o momento tudo estava indo bem, eu sei, nosso encontro com Eos só aconteceu a menos de 24 horas, mas segundo o que sabemos sobre a Deusa do amanhecer, já se passaram muito tempo sem ela ter feito nada, o que de certa forma deixa as coisas mais tensas.

Os risos descontraídos de Robert e Jake – Jake era o único que bateria a minha porta, Nico tem a chave e se for outra pessoa do prédio, como já aconteceu, tocam a campainha – me tiraram de meus pensamentos.

– Você não devia dizer isso. – Robert alertou Jake, sua voz soou seria apesar de ele ter um sorriso em seus lábios. – Mas isso é com você. – Robert voltou sua atenção para mim. – Vou fazer uma vitamina de frutas para mim, quer também?

– Com muito gosto. – disse depois de olhar no relógio, ainda demoraria até a hora que combinamos com Nico de ir no restaurante que combinamos para o almoço com um amigo dele e os pais desse amigo junto com mais um amigo da família dele e sua irmã.

Sim, Nico havia feito um amigo na escola – tudo bem que Nico está meio que obrigado a ficar junto desse garoto já que na escola que ele frequenta desde o começo do ano eles tem um parceiro de trabalho em todas as matérias obrigatórias até o final do ano, mesmo assim Robert já tinha me dito que o garoto já considera Nico um amigo, juntando tudo, Nico tem um amigo – e hoje, mais ou menos daqui uma hora vamos encontra-los.

Nico saiu cedo hoje para ir na casa desse amigo, amigo este que se chama Josh, eles iam começar uma pesquisa sobre um trabalho de história, adiantar algumas coisas já que o trabalho era para daqui a duas semanas.

E isso me lembra que eu também já tenho um tralhado de escola para fazer.

Um estralar de dedos me tirou de meus pensamentos e me dei conta de que Jake estava com uma mão na frente do meu rosto, balançando ela de um lado para outro.

– Tem alguma alma dentro desse corpo? – ele tocou com a ponta do dedo a minha testa.

– Às vezes. – marquei a página do livro que estava lendo e com ele bati na mão de Jake tirando ela de frente do meu rosto. Franzi o cenho ao ver melhor o rosto de Jake, apesar da careta dramática que ele estava fazendo pelo que eu fiz, tinha algo estranho com ele. – Você está bem?

– Quem me dera. Desde de ontem estou com uma dor de cabeça do inferno. – reclamou Jake deitando no outro sofá sem cerimônia.

Abri um sorriso ao ver que ele estava com um livro em suas mãos, que pela capa, era um livro que eu indiquei e indico a todos. Prince of Thorns é um livro incrível, forte, com uma história bem envolvente.

– Então está no lugar errado então. – abri um sorriso malicioso quando algo me lembrei de um artigo que tinha lido um tempo atrás. – Deveria ir para a sua cama...

– Seu sofá é bem confortável e como você está lendo, aqui é bem silencioso. – disse ele antes que eu pudesse continuar com outra frase que ele provavelmente adoraria. – E sem falar que eu quero ficar na sua companhia, sei lá, isso faz eu me sentir bem.

– Oh, me sinto lisonjeada. – encarei Jake falsamente emocionada. – Mas eu não falei disso. Eu tinha mais algo para contar, Jake.

– E o que seria? – perguntou massageando as têmporas.

– Deveria estar na sua cama acompanhado seja lá com quem que você está saindo essa semana fazendo sexo sem parar. – o sorriso malicioso voltou ao meu rosto.

Jake imediatamente ficou com o corpo ereto sentado no sofá me encarando descrente.

– Sexo é vida meu amigo e você sabe bem disso. – disse eu despretensiosamente. – Pesquisas apontam que fazer sexo quando está com dor de cabeça é bom. Sexo alivia, ou acaba com a dor.

– Isso é sério? – ele ainda não acreditava em mim.

– Seríssimo. – assenti seria.

– Argh! – ele deixou seu corpo cair no sofá novamente e cobriu os olhos com um braço. – Então vou ficar com dor por mais algum tempo até os remédios resolverem fazer efeito. Não estou saindo com ninguém ultimamente.

– Não tinha uma loira que saiu do seu apartamento dois dias atrás vestindo uma camisa sua enquanto ia embora me dizendo um oi e tchau super sorridente? – perguntei confusa.

– Ontem eu percebi que não temos a mesma definição para o rumo que devemos seguir para, se tudo desse certo, um futuro juntos. – ele tirou o braço do rosto, ajeitou uma almofada e abriu o livro.

– Palavras profundas. – me levantei do sofá.

– Às vezes me supero. Mas deixando isso de lado, não tem nem uma magia, ou sei lá de semideus que possa ajudar a aliviar a minha dor de cabeça? – perguntou ao me ver aproximar dele e apontou para o livro. – Estou muito viciado nesse livro, estou curioso, mas essa dor de cabeça que não passa está atrapalhando minha concentração nele.

– Nesse quesito, um filho de Apolo teria mais chances de sucesso do que eu, mas levando em conta que você está viciado em um livro que eu indiquei... – coloquei uma mão sobre a testa dele. Ele não estava com febre. – Tomou algum remédio na última hora?

– Sim, aliviou um pouco, mas foi muito pouco. – Jake fechou os olhos deixando o livro aberto sobre a sua barriga. – Vou ter que esperar algumas horas para poder tomar de novo.

– Ainda bem que eu conheço outras formas de se aliviar uma dor de cabeça. – Jake abriu um sorriso malicioso. – Além daquela que te sugeri mais cedo, pervertido. – apertei o nariz dele de brincadeira e ele riu. – Espere um pouco aqui, já volto.

Subi as escadas e fui para o meu quarto, não demorei a achar o que procurava e voltei, indo até a cozinha. Robert estava virando o conteúdo da jarra do liquidificador em dois copos grandes.

– Sobrou alguma maçã? – perguntei enquanto ia na pia e lavava minhas mãos ao seu lado.

– Pensa rápido. – sorri estendendo minha mão. Peguei a maçã com facilidade. – Vai dar maçã para ele? – Robert estendeu a faca para mim.

– Sim, ele já tomou remédio, hora de partir para as coisas orgânicas. – lavei a maçã e a piquei. Coloquei os pedaços da dela em um prato que Robert me estendeu. – Além disso... – tirei o recipiente que peguei em meu quarto do bolso de trás da minha calça.

– Ah!. – Robert assentiu e depois abriu um sorriso pouco malicioso. – Posso requisitar esse tratamento depois? – ele estendeu um dos copos com vitamina para mim.

– Se valer para mim também. – pisquei para ele pagando o copo que me oferecia fazendo ele rir enquanto assentia.

– Trato feito. – Robert se aproximou de mim e inclinou um pouco a cabeça ficando bem próximo do meu rosto. – Só é uma pena que temos compromisso em menos de uma hora.

– Uma grande pena. – concordei antes de tomar seus lábios com os meus.

Claro que Robert e eu não ficaríamos no maior amasso na cozinha com Jake no sofá, mas demoramos alguns minutos para voltarmos pra sala.

Jake ficou surpreso quando sua dor de cabeça foi melhorando gradativamente depois de comer a maçã e da massagem com óleo de lavanda, o conteúdo do recipiente que eu tinha pego em meu quarto.

– As maçãs possuem atributos que podem equilibrar os níveis alcalinos e ácidos do corpo, fornecendo assim um alivio das dores de cabeça. E aroma terapia, com Óleos Essenciais é uma maneira natural e sem contraindicações que alivia a dor de cabeça. – expliquei a ele enquanto lhe fazia uma massagem em suas têmporas enquanto ele respirava profundamente. – Tudo isso é cientificamente comprovado.

Jake acabou dormindo 3 minutos depois de eu ter começado a lhe fazer massagem. O que era muito bom pois um cochilo também ajuda com a dor de cabeça.

Como ainda tínhamos algum tempo até o horário marcado para o almoço deixamos Jake no sofá e fomos para a cozinha. Robert voltou sua atenção para a redação de seus alunos e eu resolvi preparar a sobremesa para o jantar, ela precisava estar bem gelada quando servida.

Quando chegou perto da hora do almoço, eu acordei Jake avisando que iriamos sair.

Resultado, poucos minutos depois, Jake, Robert e eu estávamos rumando para o restaurante escolhido pelos pais de Josh para o almoço.

Jake não queria ficar mais em casa já que não estava com dor de cabeça mais. E como ele iria mesmo almoçar fora resolveu vir junto com a gente. Robert e eu fomos de moto e Jake com seu carro.

Quando estacionamos no estacionamento interno do restaurante, Robert e eu deixamos nossos capacetes no carro de Jake e rumamos para o restaurante.

– Reserva para Maguire. – anunciou Robert para a mulher na recepção.

Franzi a sobrancelha ao olhar para a mulher. Apesar de sua aparência simples, cabelos e olhos castanhos, não daria mais do que 40 anos a ela, ela parecia ter uma “aura” de poder emanando dela.

– Ah. – a mulher abriu um sorriso caloroso que me fez perder a linha de pensamento e a sensação que eu tinha sobre ela, a aura sumiu. – São os amigos dos Maguire’s, mas... – ela franziu o cenho ao voltar seus olhos para algo que estava em cima da mesa da recepção.

– Alto-convidado de última hora. – disse Jake chamando a atenção da mulher que, estranhamente, suspirou aliviada.

– Teria como arrumar mais um lugar na mesa? – perguntei e ela assentiu voltando a sorrir.

– Só um momento. – a mulher pegou um tablete e fez alguma coisa com ele e então saiu de trás da mesinha de recepção com algumas pastas em mãos. – Venham, por aqui.

Seguimos a mulher até o segundo andar do restaurante. Quando chegamos até a mesa que os Maguire havia reservado me surpreendi com quem estava na mesa depois que um garçom, que provavelmente estava acrescentando mais um lugar a mesa, saiu.

– Isso é uma bela surpresa, senhorita Annabeth Chase. – disse ele sorrindo fazendo todos na mesa redonda olharem para a gente.

Nico estava lá, tímido e calado como sempre perto de estranhos, sentado ao lado de um garoto de cabelos castanhos escuros e olhos verdes. Do lado do garoto estava uma bela mulher de cabelos pretos, olhos verdes e um sorriso gentil no rosto.

Do lado da mulher havia uma homem de cabelos e olhos castanhos escuros de barba rala. Do lado desse homem estava ele e ao lado dele tinha uma mulher de cabelos castanhos claros e olhos castanhos esverdeados.

Ele se levantou e veio em minha direção.

– David Coleman... Coloque surpresa nisso. – abracei David quando ele chegou perto de mim. – Não esperava que você fosse um dos amigos que os Maguire mencionaram.

– E eu não esperava que você fosse a responsável pelo amigo de Josh. – David se afastou de mim e cumprimentou Robert. – Só me dei conta quando vi Nico.

Depois disso todos nós apresentamos uns aos outros.

O garoto era o Josh, a mulher ao lado dele era sua mãe Raisa, o homem ao lado de Raisa era o pai de Josh, Allister. A mulher ao lado de David era a irmã dele, Cobin. Sim, David tem uma irmã e ela é uma detetive da homicídios.

– Bom, sentem-se, por favor. – pediu Allister enquanto ele puxava a cadeira ao lado da de Nico para mim.

– Obrigada, Allister. – ele me proibiu de lhe chamar de senhor, assim como sua mulher.

Robert se sentou ao meu lado e para a alegria de Jake, que não escondeu nem um pouco isso, o único lugar vago na mesa redonda era ao lado da irmã de David, que também não parecia nem um pouco triste com esse fato.

– Façam seus pedidos assim que desejarem. – a mulher da recepção estendeu a mim, Robert e Jake o cardápio do restaurante. – Espero que gostem do que temos no menu de hoje. – ela estalou os dedos e em pouco tempo o mesmo garçom que eu havia visto mais cedo apareceu ao seu lado. – Matt ficara responsável por vocês.

A mulher sorriu para nós e se virou, mas antes de ir ela olhou para mim. A sensação que eu tive quando vi ela pela primeira vez voltou.

Os olhos da mulher ganharam um tom de cinza, como a lua, e seus lábios se moveram. Uma voz soou em minha mente.

“Cuidado com minha irmã, filha de Atena. Paciência e tolerância nunca foram coisas que ela dominou.” e assim a mulher saiu, desaparecendo em um piscar de olhos.

– Tudo bem, Annabeth? – a voz de Nico me fez olhar para ele.

– Sim. – forcei um sorriso ao ver que todos estavam olhando para mim. – Somente estava pensando em algo, nada demais.

– O mundo da lua é o paraíso dos pensadores. – disse Allister.

– É. – concordei distraidamente.

Lua. Selene, a deusa conhecida como a personificação da lua, irmã de Eos, havia acabado de me dar um aviso e ele não foi nem um pouco um dos mais animadores.