Na Linha Da Vida escrita por Humphrey


Capítulo 25
Caro amor




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Por um minuto, ou uma hora, fiquei encarando o para-brisa, pois tinha me esquecido do que ia fazer em seguida. Na verdade, eu tinha esquecido até do meu nome. Mesmo com aquele cheiro de álcool impregnado nas minhas narinas, mesmo com vodca derramada pelo banco do carro, aquele era o segundo melhor momento da minha vida.

Finalmente dei a partida. Embora estivesse dirigindo, de segundo em segundo eu olhava para trás, me certificando de que tudo estava bem com ela; eu tinha certeza de que estava sorrindo.

Parando em frente ao portão da casa da Anne, desci do carro, abri a porta traseira, tirei o cinto em volta e vesti meu casaco nela, sequentemente a pegando no colo. Hesitante, toquei o interfone. Mas talvez eu devesse deixá-la dormir na minha casa. Mas os tios ficariam preocupados ao acordar. Mas talvez eles não percebessem. Mas Anne ficaria ainda mais irritada comigo. No entanto, quando atenderam, eu disse:

– Estou com a Anne aqui fora.

Felizmente, era a tia dela que havia atendido.

– Ai, meu Deus. Brandon!

Segundos depois, o imenso portão se abriu. A ajeitei no colo e fui até a porta já aberta; a tia da Anne usava um roupão, e me achei estranho por ter reparado nisso. Quando adentrei a sala de estar, fiquei admirado com tudo o que vi, até pelos porta-retratos que estavam sobre as estantes. Contudo, a deitei no sofá.

– Onde ela estava? – ela perguntou para mim, mas olhando para a Anne, que estava em um estado desagradável. Não que eu me importasse com isso. Ela ficava sexy daquele jeito.

– Sentada em um banco aqui por perto – menti. – Obviamente, ela bebeu e não soube lidar com isso – não menti.

A mulher à minha frente estava com um olhar preocupado, provavelmente pensando em algo que responderia as minhas diversas perguntas, naquela hora.

– Obrigada, obrigada. Eu... não sei mais o que fazer com ela. Anne não está tomando os remédios, ela não quer se alimentar e, agora... – Fechou os olhos e suspirou novamente. – Enfim, muito obrigada.

Assenti incertamente e segui em direção à porta, antes de me virar novamente.

– Ah, e se ela perguntar quem a trouxe, ou algo do tipo, a senhora poderia dizer que foi qualquer outra pessoa, menos eu? – indaguei.

– Sim, pode deixar. – Ela forçara um sorriso.

Ao sair daquela casa, fiquei pensando sobre a vida injusta da Anne: ela não merecia o tio que tinha. Não merecia os pais mortos. Não merecia a doença. E, afinal, não me merecia. Tudo o que eu podia fazer era ficar observando o quanto tudo isso era uma grande merda.

Já dentro do carro, o liguei e dei meia volta. E, naquilo tudo, eu me perguntava por que a Anne estava bebendo, e o que aconteceria caso eu não tivesse aparecido. Mesmo assim, eu não conseguia esconder a felicidade que sentira.

Ao estacionar o carro na garagem, vi a luz da sala acesa, mas não me importei com isso. Peguei um pano um tanto úmido que estava sobre uma mesa e limpei o banco traseiro, jogando a garrafa de vodca num lixeiro. Após tudo feito, entrei em casa e vi minha mãe sentada no sofá.

– Oi – cumprimentei, sem gestos e expressões.

– Martin, onde estava? – perguntou minha mãe, levantando-se. – Eu achei que você tinha fugido ou algo do tipo! Você bebeu, não é? Quantas vezes eu já disse para você parar com isso?

– Bar. Sim. Umas quinhentas.

Eu já estava subindo a escada quando ela disse algo que me chamou atenção.

– Você tem escola amanhã, então trate de ir dormir.

– Escola?

– Te matriculei em uma temporariamente, até você ir para Vermont.

Rolei os olhos e continuei subindo, chegando ao meu quarto, tirando os tênis e me jogando na cama, dormindo imediatamente.

Acordei com o celular despertando às 07h00 e cogitei em continuar dormindo, mas não queria trazer mais decepções à minha mãe.

Nem a ninguém mais.

Antes de fazer qualquer outra coisa, liguei o computador e mandei uma mensagem à Bailey. Eu queria acabar com aquilo de uma vez.

“Domingo, às 08h00, na frente da lanchonete Bill’s Burger?”

~~~~ ♣ ~~~~

Eu estava sentada sozinha numa mesa, no intervalo das aulas. Ninguém mais acreditava em mim, pois Natalie já havia espalhado para todos que eu havia roubado o seu namorado e era uma vagabunda. E, também, a única coisa com a qual eu me importava era dormir; ter fugido de casa não foi fácil, muito menos ter conseguido uma garrafa de vodca.

No início daquele dia, acordei no sofá. Minha tia dissera que tio Philip havia me levado para casa, só não me contou como e por quê. No entanto, eu vi um casaco familiar em cima da poltrona. O casaco do Brandon.

Todavia, eu estava quase dormindo no refeitório, quando o sinal para a aula seguinte tocou. Um pingo de pessoas saiu do local, dirigindo-se cada um às suas respectivas salas de aula.

As horas se passaram como se fossem dias, e então a professora de geografia nos liberou, antes mesmo de o sinal ter tocado.

– Oi! – David me cutucou, enquanto eu caminhava pelo corredor principal até chegar à saída. – Eu vim aqui... saber se você pode sair hoje.

– Ah, eu... não sei. Estou um pouco cansada. – Contudo, vi um fio de decepção em seus olhos. – Mas eu posso, sim.

– Ótimo. – E sorriu. – Eu vou passar na sua casa, tá bom?

Assenti, tentando esconder um possível arrependimento. Eu estava quase chegando ao ponto de sentar no chão e dormir ali mesmo.

À tarde, perto das 03h00, David tocou o interfone, e então eu desci, sem avisar a ninguém que estava saindo. Somente cobri os ombros da minha avó, que estava deitada no sofá, com um cobertor de lã fina; eu me perguntava se ela se sentia vazia, assim como eu havia começado a me sentir.

– Aonde quer ir? Há filmes muito legais no cinema, e tal. Também, podemos comer alguma coisa, você que sabe. Para mim, tá ótimo o que você prefe...

– Sorveteria – sorrindo, interrompi, antes que ele perdesse a respiração por conta do falatório sem pausa.

Por todo o caminho, trocamos no máximo trinta palavras. David não era bom em puxar assunto, e eu também não ligava para isso – eu queria estar dormindo, na minha grande e confortável cama.

Adentramos a pequena sorveteria. Não estava tão quente nem tão frio, ou seja, um dia excelente. Então tentei deixar o sono de lado para aproveitar ao máximo o tempo com David, pois ele estava se esforçando para me agradar.

Nos sentamos em uma mesa próxima à entrada, após escolhermos os sabores de sorvete.

– Sinto em perguntar, mas... o Brandon está bem? – perguntei, observando David devorar quase o sorvete todo em apenas uma colherada.

– Ótimo. Ele até foi para uma nova escola – respondeu, sem olhar para mim.

– Ah, sim, sim.

Pausando a comilança, ele finalmente me encarou, preocupado e indeciso.

– E ele vai embora daqui a algumas semanas – disse, tão baixo que era quase impossível tentar imitar o seu tom de voz.

Abaixei a cabeça, desapontada, mas eu o entendia. Brandon havia me dito que iria embora, há um tempo. Entretanto, eu não sabia que aquilo estava prestes a acontecer.

– Não fica assim, tá bom? Eu também estou bem triste, mas um dia isso teria de acontecer – afirmou, sorrindo de lábios selados. – Não se preocupe, eu gosto muito de você, e vou fazer com que você nem se lembre de que Brandon irá embora.

Aquilo foi um tanto insensato, mas o perdoei. David realmente gostava de mim, e acredito que aquela frase teria dois sentidos.

Ingênuo. Era impossível eu não me lembrar da partida do Brandon.


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Notas finais do capítulo

Me desculpem pelo capítulo um tanto parado e o atraso :v Tenho motivos esclarecedores, ok? u-u Aliás, esse capítulo é muito necessário, então... :3
Reviews? *u*
Kissu!



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