Raphaella Harmon: A Volta De Um Velho Inimigo escrita por SupremeMasterOfTheUniverse


Capítulo 1
Bem Vindo de Volta dos Mortos!


Notas iniciais do capítulo

I'M BACK, BITCHES!!! Pensaram que iam se livrar de mim, não foi? Raphaella Harmon nunca vai desgrudar de vocês.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/404924/chapter/1

New York; Upper Manhattan; Domingo; 18:44 da tarde;

Droga. Droga. Droga! Ainda não tinha terminado de arrumar o meu cabelo. Estava sem maquiagem nenhuma. Já tinha vestido seis roupas diferentes e nenhuma havia dado certo. Sem contar o fato de que Percy chegaria em dezesseis minutos. DEZESSEIS! Não dá para me arrumar em tão pouco tempo. Cara, o que raios esse Jackson fez comigo? Eu nunca liguei para arrumar meu cabelo, ou usar roupas bonitas, ou passar alguma maquiagem. Sempre me achei bonita o suficiente. Por que estava me sentindo daquele jeito? Ok. Eu não estava bem. Mas aquele dia era especial para mim. Eu tinha que ficar linda. Tinha de ficar perfeita para Percy. Para mim, se meu cabelo estiver perfeito, eu estava perfeita. E como era o que estava mais perto de estar pronto, foi no que eu me foquei. Com muito, MUITO, trabalho duro, eu consegui deixar meu cabelo absolutamente perfeito. Legal. Faltavam cinco minutos e eu ainda estava usando apenas sutiã e calcinha. Peguei um vestido que julguei bonito e um par de botinhas que achei que combinariam com o vestido. Vesti o vestido. Coloquei também os brincos da sorte que minha meio-irmã mais velha, Jenna Alexander, me dera há alguns meses, quando Percy e eu começamos a namorar. Ela me disse que o amor e o ódio andam de mãos dadas, mas em orelhas separadas. Peguei também uma bolsinha com o essencial, e, claro, meu colar/arco: Ópera. Imagino que você me conheça o suficiente para saber duas coisas. Um: eu não era uma menina glamourosa, estilosa, fashion, nem nada dessas coisas. Dois: não passei maquiagem porque, para mim, eu era bonita sem maquiagem e porque estava sem tempo. Quando estava colocando as botinhas, a campainha de nosso apartamento tocou.

Eu: MÃE, É PERCY! DEIXE-O ENTRAR! DIGA A ELE QUE EU JÁ ESTOU INDO!

Ouvi o ranger das velhas dobradiças da porta, ou seja, Percy havia entrado. Como minha mãe fala baixinho, eu ouvi ela dizendo que eu já estaria lá. Terminei de colocar a bota e guardei as coisas necessárias na bolsa: cantil de néctar dos deuses, pacote de ambrosia, uma garrafa de água (água sempre fazia Percy se sentir melhor), algumas flechas pontiagudas, duas dracmas e U$170 em dinheiro de mortais. Saí de um quarto e fui para a sala. Não havia ninguém lá. Minha mãe estava na cozinha, preparando massa para pão.

Eu: Mãe, onde está Percy?

Mãe: Na porta.

Eu: Você não chamou ele para entrar?

Mãe: Chamei! Ele quis ficar lá fora.

Abri a porta e, apoiando um dos braços no batente com a outra mão no bolso, havia um menino de cabelos pretos despenteados, levantados com gel, formando um topete, vestindo uma camiseta cinza, uma jaqueta de couro, jeans e coturnos nos pés. Aquele era meu namorado, Percy Jackson. Aquelas roupas não eram. Eu ri daquilo.

Eu: E essas roupas?

Percy: Oi para você também, Rapha.

Revirei os olhos.

Eu: Oi, meu amor. – Dei um beijinho rápido nele. – E essas roupas?

Percy: Você disse que seria um sonho me ver usando roupas assim com o cabelo levantado. Eu quis te agradar.

Eu: Awn, você é um fofo. Estou encantada, mas eu quero que você seja apenas quem você quiser ser. Vista apenas as roupas que você quiser vestir e arrume o seu cabelo do jeito que você quiser, eu vou continuar te amando. Claro, você ficou lindo assim.

Mordi o lábio e mexi no colarinho dele. Ele sorriu, satisfeito.

Percy: Se você gostou, é o que importa.

Eu: Você é o melhor namorado do mundo.

Ele estendeu o braço para mim.

Percy: Pronta para uma noite romântica com o melhor namorado do mundo?

Assenti, mexendo a cabeça freneticamente, como uma criança de cinco anos que aceita uma bala. Enrosquei meu braço no dele.

Eu: Tchau, mãe!

Mãe: Voltem antes da meia noite!

Eu: Mãe!

Mãe: Me desculpe! Me preocupo com a minha filha e o melhor namorado do mundo dela.

Eu: Ok, mãe. Chega. Não precisa exagerar. Aliás, o seu melhor namorado deus do mundo disse que vem hoje. Se eu fosse você, me arrumaria. Tchau!

Fechei a porta antes que eu começasse a falar mais, ou minha mãe começasse a fazer o check-in das coisas que eu coloquei na bolsa.

Percy: Vamos, melhor namorada do mundo?

Eu: Vamos!

Descemos as escadas e quando saímos do edifício, entramos em um taxi. O combinado da noite foi o seguinte: Percy planejaria para onde deveríamos ir e tomaria todas as providências. O que ele não pudesse pagar, eu pagaria. Geralmente, nosso relacionamento também funcionava assim. Percy fazia tudo acontecer, e se algo não ficasse perfeito, eu deixava. Por isso ele é o melhor namorado do mundo: porque ele não se importa com o quanto eu sou folgada. Ele continua gostando de mim, mesmo assim. Aliás, me amando, como ele diz. Bem, o taxi foi seguindo para o endereço que Percy cochichou para ele. Eu não tinha ideia do nosso destino.

Eu: Para onde estamos indo?

Percy: Surpresa.

Eu: Do mesmo jeito que você, provavelmente esqueceu a razão de nós estarmos saindo.

Ele coçou o couro cabeludo e deu um sorriso torto.

Percy: Eu me esqueci, mas eu não me esqueci de que nós iríamos sair. Já é um progresso, não é?

Sorri.

Eu: Já é um progresso.

Percy: Já que você tocou no assunto, qual é?

Revirei os olhos.

Eu: Hoje, 31/05, faz um ano que nós nos beijamos pela primeira vez. E foi desse dia em diante, que começamos a nos beijar sem parar, porque eu não me cansava dos seus lábios, nem você dos meus, e nos declaramos namorados.

Percy: Ah, é. Então, hoje é nosso aniversário de beijo, e você nem me beijou direito?

Mostrei a língua para ele.

Eu: Você também não me agarrou nem nada...

Percy: Deixe-me corrigir esse erro agora mesmo!

Ele passou os braços dele por entre os meus e abraçou as minhas costas, selando os nossos lábios. Sinceramente, eu acho que nunca me cansaria dos lábios salgados de Percy. Não sei... era um salgado bom. Eu gostava de sal. Você têm de ver quantos quilos de sal eu coloco nas batatas. Me surpreendo com o fato de que eu não tenho pressão alta. Voltando à gente, eu abracei os ombros de Percy e nós ficamos lá, nos beijando, por uns três minutos.

Eu: Pronto. Já está feliz?

Percy: Estou.

Ele se encostou, sorriu e passou o braço direito por cima de meus ombros.

Eu: Gosto de que você esteja feliz.

Entrelacei meus dedos com os dele.

Eu: Sei lá. Me deixa feliz.

Percy: Eu já disse que amo você hoje?

Franzi o lábio e fiz que não com a cabeça.

Percy: Eu amo você.

Ele deu um beijo na minha bochecha.

Percy: Então, teve alguma visão?

Eu: Entre ontem e hoje?

Ele fez que sim com a cabeça.

Eu: Só uma. Eu tenho visto tanta coisa... queria um descanso disso.

Percy: Tipo o quê?

Eu: Não sei. Meu futuro.... tem aparecido demais. É assustador. A minha última visão...

Percy: O que você viu?

Minha expressão ficou sombria.

Eu: Eu vi a morte da minha mãe.

Ok. No caso de você não ter entendido o que eu quis dizer com essas visões, permita-me explicar: meu pai é Apolo, o deus da profecia, da música, arqueiro, da medicina e de um monte de coisas. Pelo Wikipedia, eu contei 11. Há dezessete anos, ele veio para Nova York e conheceu uma estudante de jornalismo, no caso, minha mãe. Eles começaram a namorar, e desse amor intenso que eles viveram, eu nasci. Meu pai foi embora e reapareceu na vida da minha mãe quando eu tinha dezesseis anos. Meu pai dizia que nunca amou uma mulher como à minha mãe. Às vezes, meu pai vinha para a nossa casa e ficava lá, namorando a minha mãe por algumas horas. Pelo menos até a hora do sol nascer. Depois disso, ele entrava naquele Maserati e ia para o oeste, iluminando o dia. A noite, ele vinha e ficava com a minha mãe, o que era perfeito para mim sair com Percy e não ter de ficar olhando aqueles dois se agarrarem, o que era nojento. Adorava que os dois estivessem namorando, mas, ainda assim, não existe ser humano, ou meio ser humano, no meu caso, que goste de ver os pais se agarrando no sofá, tentando engolir um à língua do outro. Na verdade, não queria ver nenhum cara tentando engolir a língua da minha mãe. Mas se algum homem fosse fazer isso, eu preferia que fosse o meu pai. Como Apolo era o deus de um monte de coisas, eu nasci com um monte de poderes. Mas eu fui uma mega premiada. Geralmente, os filhos de Apolo são arqueiros, instrumentistas, poetas, alguns são curandeiros, poucos nascem com o dom da profecia, mas eu vim com todos esses e com um monte de poderes inéditos. Eu podia brilhar; se tocasse um livro de poesias, saberia quantas poesias haviam lá e poderia “senti-las”, ou seja, eu as leria, só que sem ler; se tocasse uma pessoa doente, saberia qual era a doença dela; controlava a potência dos raios do Sol e podia desenhar no ar com raios de Sol que saiam dos meus dedos. Sem contar a maldição que havia aprendido com meus irmãos que fazia as pessoas falarem em rimas, como uma poesia até eu decidir que estava bom. Esses são só os que eu descobri. Meu pai havia me dito que eu tinha muito mais poderes do que poderia imaginar. Eu sei, são muitos e eu definitivamente não gostava de ser tão poderosa. Por que meu pai fez isso comigo? Bem, já que estou contando minha história, vou contar minha história com Percy. No dia em que eu descobri que era uma semideusa, eu fui para um acampamento para semideuses em Long Island chamado Acampamento Meio-Sangue. Lá, eu conheci um filho de Poseidon, chamado Percy Jackson. Ele é o único que eu conheci. Filho de Poseidon, eu quero dizer. Enfim, eu descobri que era filha de Apolo e fui acusada de roubar o Elmo das Trevas de Hades e nós três, Percy, eu e minha amiga filha de Atena, Annabeth, saímos em uma missão para recuperar o Elmo em Victoria, Canadá, pois eu havia tido uma visão de onde estava o Elmo. Durante a missão, telquines nos atacaram e Percy se jogou no mar com um desses, para evitar que ele me devorasse. Eu e Annabeth achamos que ele havia morrido, mas ele saiu do mar e enquanto Annabeth foi pegar uma toalha para ele, o tumor da preocupação me possuiu e eu o beijei. Daquele dia em diante, meus lábios se viciaram nos dele, e passamos a nos beijar sem parar e declaramos namoro. Depois, quando voltamos para nossas casas, nos tocamos que não havíamos passado nenhuma informação sobre nossas vidas para o outro, até que o gênio se lembrou de que eu falei que estudava no bairro onde ele morava, e me encontrou lá, tomando chocolate quente. Daquele dia em diante, não nos separamos nunca mais, pela única e suficiente razão de que nos amávamos. Minha mãe aprovava o relacionamento e a mãe dele gostava de mim, então, tudo estava perfeito. Provavelmente, em algumas horas, estaríamos voltando ao Acampamento Meio-Sangue, viver nosso amor de verão ao lado de nossos amigos Annabeth, Grover, Lee, Will, Charlie e outros. Voltando ao carro...

Percy: Quer falar sobre essa visão?

Fiz que não com a cabeça e passei meus braços por entre os deles, abraçando-o.  A lembrança me abateu. Ele abraçou minhas costas e beijou minha cabeça. Ele me reconfortava. Ele também sabia que quando eu não queria falar sobre uma visão, porque eu disse que era sombria, era melhor não falar mesmo. Ele aprendeu isso do pior jeito: quando me fez contar sobre uma visão que tive em que lutávamos e eu recebia a ordem de mata-lo. Seguimos o resto do caminho em silêncio. A minha surpresa foi quando o taxi parou. Percy pagou o taxista, saiu do carro do lado dele e abriu a porta para mim. Ele estendeu a mão e me puxou para fora. Meu queixo caiu.

Eu: Ah. Meus. Deuses.

Aquele era... ? Era sim. Era o Ambassador Theatre, da Broadway. O teatro onde, atualmente, o musical Chicago, estava sendo apresentado. Minha amiga Kayla Lake havia me mostrado um pedaço do musical na Internet, da última vez que eu fui na casa dela. Eu havia me apaixonado. Claro que eu não poderia ir, porque minha mãe era apenas uma padeira e estava para arrumar emprego. Contei para Percy, e... cara!

Eu: Ah, meus deuses. Ah, meus deuses. Ah, meus deuses.

Percy sorriu, mordeu o lábio e ajeitou o colarinho da jaqueta.

Percy: Gostou?

Eu: Ah, meus deuses, Percy!

Percy: Pode por favor parar de falar isso?

Eu: Você não deveria ter gastado tanto dinheiro comigo, Cabeça de Alga.

Percy: Ouvi falar do musical há alguns meses. Achei que minha mãe gostaria de vir ver, então juntei um dinheiro. Quando você falou que queria vir, eu achei que poderia comprar uns ingressos, então, vi a oportunidade perfeita!

Eu: Você deveria ter trazido a sua mãe, não eu.

Percy: Eu achei que você merecia.

Eu: Você gastou muito dinheiro.

Passei meus braços ao redor da cintura dele por dentro da jaqueta de couro. Ele acariciou meus braços e sorriu.

Percy: Eu gosto de ver você feliz por minha causa.

Eu: Só de você estar comigo eu já fico feliz.

Percy: Então... você não gostou?

Eu: Eu diria mais que... – Balancei a cabeça para os dois lados. – Você é o melhor namorado do mundo!

Puxei ele na minha direção, beijando-o rapidamente.

Percy: Vamos?

Eu: Sim!

Soltei a cintura dele e peguei sua mão direita. Entramos no teatro. Os lugares não eram muito bons, mas eu não ligava. Percy havia pagado uma fortuna para estarmos lá. Então, eu estava muito feliz. Assistimos ao musical e foi o máximo. Eu estava amando. Percy também parecia ter gostado. No meio do solo da Roxie em Funny Honey, Percy me disse algo que não me alegrou, mas aquela noite estava perfeita. Nada poderia estraga-la.

Percy: Rapha, não estou me sentindo muito bem.

Me encostei na cadeira, deixando meu rosto frente à frente com o dele.

Eu: O que foi?

Percy: Ah, sei lá. Uma sensação de queimação. No estômago.

Olhei para os lados, garantindo que ninguém ouviria.

Eu: Quer um pouco de néctar? Eu tenho...

Percy: Não, não! Eu aguento. Não quero te preocupar. Assista o show.

Eu: Percy, eu sou médica.

Percy: Médica não. Curandeira.

Eu: É a mesma coisa. Eu sei o que fazer. A dose certa de néctar pode te fazer sentir até melhor do que você estava antes.

Percy: Não sei não.

Eu: Percy...

Percy: Rapha...

Nós dois ficamos lá, nos olhando com aquela cara de cachorrinho que caiu da mudança, um esperando o outro ceder às suas vontades, e não resistimos. Acabamos nos beijando. Eu disse que meus lábios se viciaram nos dele. Nos separei por um pouco de falta de ar um pouco de dúvida.

Eu: Melhor? – perguntei, ofegante.

Percy: Com um beijo, sempre. – ele respondeu, também ofegante e me puxou pelo pescoço de volta para o beijo.

Sim, eu sei, Percy e eu éramos um caso perdido. Éramos mais Beijadores Oficiais de Perseu Jackson e Raphaella Elizabeth Harmon do que namorados. Por um instante, me passou pela cabeça que Percy poderia não estar se sentindo melhor, então decidi interromper o beijo.

Eu: Melhor você tomar só uma água. – falei com aquele sorriso de esposa médica preocupada com o marido doente.

Percy: Ah não... o beijo estava tão bom...

Peguei a garrafa de água na minha bolsa e balancei na frente do rosto de Percy, ainda com aquele sorrisinho.

Percy: Ah...

Eu: B....

Percy: Só mais um beijinho.

Ele olhou para mim com aqueles olhos verde mar e aquela cara de bebê foca que ele faz que apertou o meu coração e quase me fez ceder.

Eu: Só um pouco. Vai te fazer bem, garoto que fez de Poseidon meu sogro.

Ele olhou para mim com aquela cara de Sério mesmo?, e eu fiz que sim com a cabeça. Ele bufou, pegou a garrafa e tomou água. Eu sorri e bati palminhas.

Eu: Muito bem! Foi um gesto muito agradável, Garoto-Sereia!

Percy: Agora, a minha recompensa...

Ele levou o rosto na direção do meu, que me virei, impedindo e coloquei a mão no peito dele, parando-o.

Eu: Não sei, vou pensar.

Percy: Ah, não... não foi esse o combinado.

Eu: A vida é injusta, amado. O mundo é traiçoeiro. Não devemos nos iludir com os prazeres mundanos. Devemos sempre nos lembrar de que tudo pode dar errado, e que tudo que está errado, pode ficar pior. Sempre que o mundo acha um pedaço de felicidade, ele a destrói.

Percy: Nossa, que legal. Sentiu isso em um livro?

Eu: Na verdade, não. Acabei de criar. Gostou?

Percy: Profundo. Bem bonito.

Eu: Você é profundo e bonito.

Percy: Não o suficiente para um beijo?

Franzi o lábio e balancei a cabeça, negativamente. Meu namorado fez aquela cara de É, amigo, não está fácil para ninguém. Eu ri e abracei ele e voltei meus olhos para o espetáculo.

Eu: Se ficar ruim de novo, me avise.

Ele fez que sim com a cabeça.

Como tinha meus poderes dos Arqueiros Curandeiros Solares de Apolo, eu senti o que Percy tinha. Ah, senti. Muito hambúrguer e doce azul no estômago, isso sim. Eu sabia que Percy tinha uma pequena enorme paixão por hambúrguer e que ele adorava comida azul, já que sua mãe fazia de tudo para ele comer em azul e era a cor preferida dele, mas já era hora de maneirar.

Eu: Você precisa comer menos balas azuis.

Ele fez uma cara de envergonhado e eu ri.

Eu: Mas eu ainda amo você. Só me importo com a sua saúde. Sou uma curandeira de Apolo. Preciso me importar com a saúde.

Ficamos assistindo o resto do espetáculo. Quando terminou, decidimos passar no Burger King, já que eu ainda tinha dinheiro e nós estávamos com fome. Eu não achei que seria adequado dar a Percy um hambúrguer e refrigerante, já que ele não estava bem, então, eu o fiz pegar o menor lanche sem ser o de criança e água para beber. Para ser malvada, peguei um Whopper Furioso e suco de maracujá. Saí de lá sorrindo, triunfante.

Percy: Não acredito que vou comer esse minilanche e beber água.

Eu: Percy, você está entupido de hambúrguer e corante azul. Eu vou decidir o que você vai comer até o seu ácido estomacal conseguir derreter tudo isso. Algum dia, você vai engordar muito, se continuar assim.

Percy: E onde vamos comer tudo isso?

Eu: Na minha casa. Ou na sua. Pode escolher.

Percy: Deixe-me ver. Vamos analisar as estatísticas: se formos para a minha casa, você e minha mãe vão ficar na cozinha discutindo sobre a minha alimentação ruim, enquanto cozinham algo saudável para a sobremesa e eu vou acabar na sala, provavelmente assistindo a algum dos programas de Paul, com ele, enquanto nós dois debatemos sobre como você e minha mãe são as melhores namoradas do mundo, já que se preocupam com a saudade dos parceiros e eu vou acabar comendo salada pro resto da vida.

Eu: Mas, se formos para a minha casa, vamos ficar vendo a minha mãe e um garoto loiro de uns cinco mil anos tentando engolir um a língua do outro, enquanto eu vomito no banheiro por causa dessa cena nojenta, e você fica na sala assistindo a essa cena agradável enquanto a cada cinco minutos, Apolo vai interromper o beijo e olhar para você com os olhos estreitos, como normalmente faz, e depois vai te oferecer uma volta no Maserati dele.

Arqueei as sobrancelhas como se dissesse Pode escolher. Ele fez uma careta de nojo. Acho que imaginou a cena de minha mãe.

Percy: Vamos para a minha casa.

Assenti com a cabeça.

Fiz sinal para o primeiro taxi que apareceu. Entramos lá dentro e seguimos sem comer até chegar na casa de Percy. A minha fome estava grande. Subimos as escadas do edifício de Percy em direção ao seu apartamento. Quando chegamos lá, abrimos a porta e entramos.

Percy: MÃE! PAUL! VOLTAMOS!

Eu: Oi, Sally! Oi Paul!

Paul Blofis, o padrasto de Percy, colocou a cabeça para fora da cozinha, onde eu podia vê-lo.

Paul: Olá, Rapha. Bem vindo de volta ao lar, Percy.

Sorri e acenei, freneticamente, como gostava de fazer.

Sally: Oi Rapha! – ela gritou da cozinha. – Como foi o show?

Eu: Ah, foi ótimo, perfeito, mas seu filho está entupido de hambúrguer e corante azul. Ele precisa mudar a dieta dele.

Sally apareceu na porta. Ela tinha uma expressão preocupada no rosto. Seus cabelos castanhos compridos estavam presos em um coque e ela ainda usava o uniforme da doceria onde trabalhava, a Sweet On America.

Sally: Como assim?

Eu: Vocês estavam cozinhando?

Sally: Sim.

Eu: Paul, Percy quer falar com você, na sala. Sally e eu cozinhamos.

Olhei para Percy que estava distraído, olhando para o chão, mas quando ouviu seu nome, levantou a cabeça e a balançou, assentindo. Eu revirei os olhos e ri.

Paul saiu da cozinha e eu entrei lá.

Eu: O que estavam cozinhando?

Sally: Espaguete. Será que você poderia fazer o molho? Eu não gosto muito de comprar esses molhos de mercado. Aliás, você está com fome?

Eu: Sim, mas não se preocupe. Percy e eu paramos para comprar comida no caminho de volta.

Sally: Então, gostou do show?

Eu: Amei. Foi maravilhoso, mas vocês não deviam ter gastado tanto dinheiro comigo.

Sally: Ah, quê isso. Percy já estava juntando o dinheiro. E você queria ir.

Eu: Eu sei, mas era pra você ter ido com ele. Olhe, não fique brava, mas eu amo tanto o seu filho, que simplesmente indo com ele até a esquina eu teria ficado feliz.

Ela riu.

Sally: Ele também gosta muito de você.

Eu: Ele me diz isso todos os dias, e eu adoro isso.

Sally: Mas, então, me conte essa história de Percy estar se alimentando mal.

Eu: Então, foi no meio do show. Ele me disse que não estava se sentindo bem. Que estava com uma queimação no estômago. Eu o ofereci um pouco de néctar, que eu sempre levo na bolsa, mas ele não quis. Então, eu o fiz tomar um pouco de água, que sempre o faz se sentir melhor. Ai, como ele é rebelde, estava totalmente relutante. Enfim, depois de tomar, ele se encostou na cadeira e eu fiquei abraçada com ele. Você sabe que sou curandeira e daquele meu poder se sentir a doença da pessoa.

Ela assentiu.

Eu: Então, eu senti o corante azul e os hambúrgueres no estômago dele.

Ela respirou fundo.

Sally: Ele têm passado bastante tempo fora de casa. Estava tentando juntar o dinheiro para ter o que faltava dos ingressos. Deve ter comido muito hambúrguer e doce azul na rua.

Eu: Então, ele está mal assim por culpa minha?

Levei a mão ao peito e fiz um gesto como se apertasse meu coração.

Sally: Não, não. Ele está assim por culpa dele. Não se culpe pela irresponsabilidade do meu filho.

Respirei fundo e voltei a preparar as coisas para fazer o molho.

Eu: Então, eu disse pra ele que eu deveria decidir o que ele come, até essa situação passar. Você se importa de eu fazer um cardápio nutricional para ele ou...

Sally: Não tem problema. Seu pai é o deus da medicina. Acho que você seria a pessoa mais apropriada para isso.

Sorri.

Eu: Obrigada por me deixar cuidar de seu filho.

Sally: Obrigada por cuidar de meu filho.

Eu: Eu amo seu filho. Só existe uma pessoa que o ama mais que eu: você. Pretendo cuidar dele até...

Comprimi os lábios. Eu iria dizer até a morte, mas lembra-se daquela visão que mencionei em que Percy e eu lutávamos e eu recebia a ordem do mediador de mata-lo? Então, Sally sabia dela.

Eu: ... Até não poder mais. Até ele aprender a cuidar de si mesmo. Ou seja, para sempre.

Ela riu. Tentávamos falar o menos possível sobre aquela visão desagradável que eu tive.

Sally: Então, quantos tomates você acha que são necessários para fazer o molho?

Eu: Deixe-me ver... Dois quilos rendem quatro porções, então eu acho que um quilo, porque eu e Percy já temos o quê comer.

Sally: Tá... ok.

Separamos os tomates e eu comecei a fazer o molho. Ficamos lá terminando de fazer o espaguete e o molho, falando sobre assuntos de mulher. É, eu sei, eu nunca manjei de assuntos de mulher, mas agora eu sabia mais ou menos. Não deixei de ser a soldadinha egocêntrica que eu era, mas agora eu era mais feminina. Veja só, eu sabia me maquiar. Quando terminamos, Percy e Paul vieram para a cozinha. Paul e Sally fizeram seus pratos e foram para a sala, comer lá, e Percy e eu ficamos sozinhos na cozinha, comendo nossos lanches.

Eu: E então? Sobre o que você e Paul estavam conversando?

Percy: Bom, já que “tinha uma coisa que eu queria falar com ele”, eu tive que inventar um assunto besta aí.

Eu: E o que você inventou?

Percy: Eu disse que seu aniversário estava chegando e que eu queria dar uma flecha mágica nova legal para você e que queria a sugestão dele para o tipo de flecha.

Eu: Meu aniversário é no Natal.

Percy: Eu sei, mas ele não.

Eu ri.

Eu: E agora?

Percy: Agora, nada. Amanhã vamos para o Acampamento e eu vou dizer que Beckendorf e eu fizemos uma flecha especial de sei lá o quê, mas eu vou inventar alguma coisa até voltarmos.

Sorri e mordi o lábio.

Eu: Você me daria uma flecha nova?

Percy: Você quer uma?

Eu: Claro. Mas não compre. Você já gastou dinheiro demais comigo.

Percy: Sério que você vai ficar me repreendendo por isso?

Eu: Sério! Não devia. E sua mãe disse que você ficou um tempão fora, trabalhando e comendo hambúrgueres e doce azul para arrumar esse dinheiro. Ou seja, a culpa disso é minha!

Percy: Não é nada! É minha. Eu quis ser da Trupe dos Não Saudáveis. Não se culpe.

Ele abraçou minha cintura, nos aproximando e eu entrelacei meus dedos ao redor do pescoço dele e sorri.

Eu: Fico imaginando que daqui a algumas horas vamos estar voltando para o Acampamento Meio-Sangue. Você tem certeza de que aquilo tudo foi real? Todas aquelas aulas de grego, e Will, Lee e Jenna, Annabeth e sua chatice inteligente, e todas aquelas pessoas legais que eu conheci e aquelas coisas malucas que eu fiz... Tem certeza de que aquilo foi real? Realmente, não foi um sonho meu ou fruto da minha imaginação? Eu sou mesmo uma semideusa, filha de Apolo?

Percy: Tenho. Cem por cento de certeza.

Eu: Olhe bem, vou confiar na sua palavra. Não sei porquê, mas eu vou com a sua cara, então vou acreditar no que você diz.

Percy: Ah, você vai com a minha cara, é?

Ele aproximou seu rosto do meu. A cada palavra que falávamos, estávamos mais próximos.

Eu: Ah, vou sim.

Percy: Vai, é?

Eu: Sim...

E nossas palavras foram interrompidas por um beijo. Como alguma coisa poderia ser salgada e macia? Os lábios de Percy eram. Será que os meus lábios eram quentes? Porque, tipo, meu pai é o deus-sol e tal...

Eu: Acho melhor eu ir pra casa. – falei, ofegante.

Percy: Está cedo.

Eu: Não, não está não. E eu ainda não fiz as minhas malas para os próximos meses que eu vou passar fora.

Percy: Tá de brincadeira?

Eu: Não. Eu comecei, mas tirei tudo de lá. Eu preciso mesmo ir.

Percy: Só termine o seu lanche. Por favor. Gosto da sua companhia.

Eu: Se eu não levar roupas o suficiente, vou usar as suas, entendeu?

Ele balançou a cabeça freneticamente, assentindo, parecendo um cachorrinho tentando se secar, só que de cima para baixo ao invés de indo de um lado para o outro. Como alguém poderia dizer não àquele bebê foca? Eu ri dele.

Eu: Você é tão fofinho...

Terminamos de comer e ficamos uns minutos namorando lá na cozinha. É, eu definitivamente acho que nós éramos mais Beijadores Oficiais de Perseu Jackson e Raphaella Elizabeth Harmon do que namorados. Mas eu gostava daquilo. Enfim, me despedi deles, desci as escadas e pensei em ir andando para casa. Era pertinho. Mas eu era uma semideusa. Monstros pelo caminho. Quer dizer, os monstros estavam pelo caminho o tempo todo. Quer saber?, pensei, eu vou de taxi mesmo. Fiz sinal para o primeiro taxi que apareceu e entrei nele. Dei o endereço de minha casa e o motorista foi seguindo para lá. Estava tarde, então eu estava no modo “alerta”. É claro que tudo iria dar errado. Quando estávamos a umas duas quadras da minha casa o motorista parou o taxi.

Eu: O que foi?

Motorista: Vou ter que dar uma olhada no motor.

Eu: O que tem nele?

Motorista: Acho que está quente.

Ele saiu do carro e levantou o capô. Eu saí também e fui olhar.

Olhe, eu não entendo absolutamente nada sobre o motor dos carros nem sobre o que se localiza de baixo do capô. Eu sei uma coisinha ou outra sobre debaixo do carro. Não, mentira, não sei nada mesmo. Eu não sabia o que se passava no carro, então tive de tirar minhas próprias conclusões. Tinha uma água borbulhando e eu deduzi que aquilo não era bom. Pronto.

Eu: O que exatamente isso significa?

Motorista: Que vamos ter de esperar.

Eu: Ah, que legal. Olhe, minha casa não é tão longe daqui, eu vou andando.

Foi naquele momento que um outro cara, altão, fortão, moreno, chegou.

Xx: Algum problema?

Eu: A água está borbulhando. Eu não sei o que isso significa.

Xx: Já entendi. Olhem, eu sou mecânico. Posso ajudar.

Ele tirou uma chave inglesa do bolso e foi andando na direção do carro.

Quando estava lá, seu braço enorme e monstruoso que estava com a chave na mão, se virou com tudo na direção da minha cabeça. Graças aos meus reflexos de semideusa eu consegui desviar a tempo.

Eu: Ei! Você quase arrancou a minha cabeça!

Xx: Ah, claro. A cabeça é sempre a minha parte preferida.

Eu: Preferida pra quê? Pro café da manhã?

Xx: Pode-se dizer que sim, filha de Apolo.

Opa, aquilo não ia dar certo. As únicas pessoas que sabiam que eu era filha de Apolo eram minha mãe, o pessoal do Acampamento Meio-Sangue, Sally e Paul... e monstros.

Eu: Deixe ele ir.

Monstro: Ah, mas de jeito nenhum. Mortais são um bom petisco. Mas você é o prato principal.

Eu: Ele não está ciente do que está acontecendo. Ele é totalmente inocente. Deixe-o ir.

Quem dera naquele momento eu fosse filha de Hefesto, então eu apenas tocaria no carro e ele se consertaria. Ah, aquilo seria legal.

O motorista do taxi parecia confuso. Ele não entendia nada.

Motorista: Espere, eu é que devo ir?

Eu: A água não está mais borbulhando. Vá.

Ele entrou no carro e ligou. Bom, deu certo. Já poderia ir. O monstro tentou impedir, mas eu dei uma rasteira nele e fechei o capô do carro.

Eu: Vá! Vá! Vá!

E ele saiu dirigindo feito um louco na direção da lua. O monstro já se levantava.

Monstro: Eu estava pensando em te poupar e ficar apenas com aquele, Raphaella Harmon, mas agora que ele foi embora, eu terei apenas você.

O monstro foi crescendo até virar uma... coisa. Um monstro de dois metros e meio de altura todo peludo e tatuado.

Eu: Lestrigão.

Ele riu, como um louco, tão alto que tremeu os prédios ao nosso redor.

Eu arranquei meu colar de meu pescoço e o joguei para cima, fazendo-o assumir sua verdadeira forma: um arco grego de 1,35m e uma flecha de madeira acácia com uma ponta de bronze celestial. O bom de ser arqueiro é que é só soltar a flecha que você já mata o monstro e ganha a luta. Eu armei meu arco e quando soltei a flecha, ele apenas bateu nela com a parte de trás da mão, mandando-a para longe.

Eu: Assim não vale. Eu só sei fazer isso.

Ele riu.

Lestrigão: Que pena.

Ele me deu um chute que me lançou para trás, a uma longa distância e eu bati com a cabeça. Fiquei vendo borrado por um segundo, mas isso não me atrapalharia para acertar a flecha. Eu, literalmente, acertava com os olhos fechados. O grande problema foi que ele pegou o meu arco e o jogou para trás.

Eu: Ei!

Bom, o arco reapareceria como colar de volta em meu pescoço em alguns segundos, mas até lá, eu estava indefesa. O lestrigão se ajoelhou ao meu lado, provavelmente para me comer, mas eu dei um chute em seu nariz e saí correndo para a direção onde ele havia lançado Ópera, meu arco. Durante o caminho, eu abri a minha mochila e tirei uma flecha de lá. Mas aquela era especial: era um presente de aniversário de meu pai, Apolo, e, ao ser lançada, fazia um barulho ensurdecedor, que poderia matar. Quando cheguei ao meu arco, peguei-o e dei uma limpadinha bem básica e armei. Quando estava prestes a lançar a flecha, o gigante parou. Algo havia atravessado seu umbigo. Como... parecia uma faca, ou uma espada. Logo, ele virou pó, e ali atrás dele, com a arma em punho, estava o melhor namorado do mundo.

Eu: Já ia acertar a flecha nele.

Percy: Arrã.

Eu: Você não confia nas minhas habilidades de arqueira?

Percy: “Obrigada, Percy, por ser um bom namorado e ter me seguido para garantir que eu chegaria bem em casa e por matar esse gigante horroroso”.

Revirei meus olhos e andei na direção dele.

Eu: Obrigada, Percy, por ser um bom namorado e ter me seguido para garantir que eu chegaria bem em casa e por matar esse gigante horroroso.

Dei um beijo rápido nele.

Eu: Agora, se você não se importa, eu vou para a minha casa. Se você quiser ir comigo, não há problema, mas eu não recomendo isso. Meus pais estão lá.

Percy: Só vou te acompanhar até lá.

Eu: Você é o melhor namorado do mundo. Já te disse isso hoje?

Percy: Umas seis vezes.

Eu: Sete: você é o melhor namorado do mundo.

Peguei a mão dele e nós fomos andando na direção da minha casa. No caminho, fomos discutindo o que era absolutamente necessário de ser colocado na mala para o Acampamento. Quando chegamos lá, subimos as escadas até ficar na frente do meu apartamento.

Eu: Me ligue quando chegar em casa.

Percy: Ok.

Eu: Pegue um taxi.

Percy: Ok.

Eu: E não se esqueça de mim.

Percy: Ok.

Eu: Ah, meus deuses, pare de flertar comigo!

Ele riu e me puxou pela cintura para um beijo. E, claro, para variar, nós nos esquecemos da vida e ficamos lá, nos beijando, até que a porta de meu apartamento foi aberta. Meus olhos estavam fechados, então eu não tinha como saber quem era. O ser que estava lá pigarreou, fazendo a gente se separar. Era minha mãe.

Eu: Até amanhã, colega íntimo.

Percy: Até amanhã, colega íntima.

Eu: Lembre-se de me ligar para avisar que chegou bem em casa.

Ele assentiu.

Batemos continência, como minha mãe gosta que façamos para nos despedir. Quando estava quase terminando o primeiro lance de escada, Percy se virou para mim, e eu mandei um beijo no ar para ele, que “pegou” e guardou no bolso. Eu ri e ele se foi. Me virei para minha mãe que estava de braços cruzados e uma das sobrancelhas arqueadas.

Eu: O que foi?

Mãe: Vocês não namoram. Vocês se beijam.

Encolhi os ombros.

Eu: Essa é a graça.

Mãe: Entre logo.

Eu ri e entrei dentro de casa.

Eu: Papai ainda está aqui?

Apolo: Na cozinha!

Eu: Pai, um lestrigão me atacou no caminho pra cá.

Fui até a cozinha, onde meu pai estava mexendo na massa para pão. Ele estava com aquela forma de um garoto louro de dezessete anos.

Apolo: Sério? E aí?

Eu: Ah, ele jogou o meu arco pra longe, rolou uns chutes, eu fiquei semiconsciente por uns segundos...

Apolo: E aquele... como eu faço isso, meu amor?... Jackson não fez nada?

Eu: Ele chegou depois, pai. Ele foi me seguindo pelo caminho para garantir que eu chegaria bem em casa, mas só me achou depois de um tempo. Ele matou o gigante. Eu não gosto desse ódio que vocês desenvolveram pelo meu namorado.

Apolo: Mas eu gosto do seu namorado. Ele é superbacana. Lembre-o que se um dia ele quiser dar uma volta na Carruagem do Sol, estará disponível.

Mãe: Eu não odeio seu namorado. Pelo contrário, eu gosto dele. É um ótimo garoto. Eu só não gosto que ele fique tentando engolir a sua língua na minha frente.

Eu: Ele não... tá bem, nós podemos fazer um pouquinho disso, mas nunca é na sua frente, e vocês dois ficam fazendo a mesma coisa. Por que acham que eu sempre vou pra casa de Percy? Porque os pais dele trabalham.

Mãe: A mãe dele trabalha.

Apolo: O pai dele é meu tio. Essa massa está grudando nos meus dedos.

Mãe: Eu também trabalho. Seu pai trabalha tanto quanto o dele.

Eu: Eu quis dizer a mãe e o padrasto dele. E você trabalha em casa... ai, vocês estão me confundindo. Eu vou... – levantei o dedo, para repreende-los, quando me lembrei que odiava dormir. – Eu só não vou dormir porque eu odeio sonhar. Vou fazer a minha mala.

Fui para o meu quarto pisando forte. Sim, eu sou assim, quando eu perco o argumento, eu saio. Me lembrei que teria de esperar Percy me ligar para avisar que chegou bem, então gritei.

Eu: MÃE, PERCY VAI LIGAR DAQUI A POUCO, ME AVISANDO SE ELE CHEGOU EM CASA! QUANDO ELE LIGAR, ME AVISE!

Bem, entrei no meu quarto e fiz as malas como normalmente faço: pego uma mochila. Pego todas as minhas camisetas. As analiso uma por uma. As que acho que ainda estão bonitas, vão pra mala. As que eu acho que estão muito “Katherine Barton”, eu guardo de novo. Katherine Barton é a patricinha da minha escola, no caso de você não ter entendido.

Mãe: RAPHA, PERCY ESTÁ EM CASA, E ESTÁ BEM!

Eu: OK! DIGA QUE EU O AMO!

Do jeito já mencionado que ela fala baixinho, ouvi-a dizer “Sally, Rapha mandou dizer que ama Percy”.

Mãe: RAPHA, PERCY DISSE QUE TE AMA TAMBÉM!

Bom, acabei colocando bastante roupas. Acho que o suficiente para o tempo que passaria lá, contando o fato de que eu teria que lavá-las. Também deixei minha roupa separada para vestir amanhã. Era bem a minha cara: uma camiseta longa, calça camuflada e coturnos. Coloquei o meu pijama, tirei Ópera do pescoço e guardei no bolso da calça (é, eu sei, é estranho a minha calça de pijama ter bolso, mas é assim mesmo). Me deitei na minha cama e dormi. Eu só queria não sonhar. Felizmente, querer deu certo!!!! Aí, sim, hein? Bom, pelo menos, eu não me lembro. Enfim, acordei assim que o dia amanheceu, como normalmente fazia. Olhei para fora e vi o Sol no céu, ou seja, meu pai não estava mais na minha casa. Estava trabalhando. Naquele trabalho que o obrigou a me abandonar com a minha mãe. Bem, quando acordei, saí da cama e fui tomar um banho, que não foi muito rápido. Eu tinha combinado com Percy de estar na casa dele às 08:00, para nós irmos ao Acampamento Meio-Sangue. A mãe dele nos levaria. Saí do banho, vesti minha roupa, passei o mousse que minha mãe me obrigava a passar no cabelo, comi um pedaço de bolo que minha mãe havia deixado pronto para mim, dei uma voltinha no apartamento, comi outro pedaço de bolo, fiz um sanduíche, comi, (cara, TDAH é uma chatice) fiz um sanduíche para minha mãe, assei um cupcake para adiantar o trabalho dela, escrevi algumas poesias, minha mãe acordou e nós fizemos uns pães e quando conferi meu relógio, eram 7:49. Decidi que já estava bom, já poderia ir para a casa de Percy.

Eu: Mãe, acho que eu já vou indo.

Ela parou de fazer o pão e suspirou.

Mãe: Minha filha está crescendo. Ela vai me deixar sozinha neste verão.

Eu: Mãe, duas coisas. Um: ano passado eu fiquei lá. Esse é o meu segundo verão fora. Dois: dessa vez você está menos solitária do que no verão passado. Papai está aqui. Pronto. E algum dia eu ia crescer.

Dei um abraço apertado nela, que devolveu um pouco mais apertado, ou seja, ela estava me sufocando.

Eu: Mãe – engasguei. –, eu não estou respirando.

Ela me soltou. Deu um beijo na minha testa.

Eu: Tchau mãe.

Saí de lá, desci as escadas e peguei um taxi para a casa de Percy. Felizmente, durante o caminho, nenhum monstro me atacou. Eu já estava criando um pequeno trauma de taxis. Quando eu cheguei lá, Paul abriu a porta.

Paul: Oi, Rapha. Percy já está quase...

Percy: ESTOU PRONTO!

Eu ri. Paul também.

Paul: Ele estava muito ansioso.

Eu: É, eu também estava.

Paul: Ele gosta muito mesmo de você, sabia?

Sorri, tímida, e fiz que sim com a cabeça.

Eu: Eu o amo ainda mais.

Paul: Que falta de educação... Entre, Rapha. Por favor.

Eu ri da desatenção dele e entrei.

Paul: Você quer um suco ou...

Eu: Não, de jeito nenhum. Eu já comi. Acordo todos os dias no amanhecer. Preciso fazer alguma coisa.

Paul: Saquei. Sally!

Sally: QUASE PRONTA!

Foi quando um Percy de cabelos despenteados, jeans e camiseta de algodão apareceu na sala. Aquele sim era o meu Percy. Ele estava arrastando a mala gigante pelo chão

Percy: Bom dia, Princesa Solar.

Eu: Bom dia, Príncipe Marítimo.

Andei até onde ele estava e dei um beijinho de bom dia. Esse foi rápido.

Percy: Acho que esse é o primeiro verão no qual eu vou parar no Acampamento sem nenhum monstro tendo tentado me matar.

Eu: É, porque o monstro tentou me matar. Mas meu cavaleiro corajoso matou o monstro.

Paul franziu o cenho.

Paul: Que monstro?

Eu: Ah, nada de mais, só um monstrinho básico... ele estava sozinho... morreu numa boa... não há nada com que se preocupar.

Ele revirou os olhos.

Paul: Semideuses...

Percy e eu rimos.

Sally apareceu na sala usando o uniforme da Sweet On America.

Sally: Oi, Rapha.

Acenei pra ela ao estilo Raphaella Harmon.

Sally: Então, estão prontos?

Fiz que sim com a cabeça.

Percy: Estamos.

Sally: Então, vamos.

E fomos saindo do apartamento.

Paul: Tchau, Percy. Tchau, Rapha.

Eu: Tchau, Paul.

Percy: Tchau!

Descemos as escadas e entramos no Toyota Prius de Paul, no qual Sally nos levaria para o Acampamento Meio-Sangue. Sally foi dirigindo, Percy foi na frente e eu fui atrás. Durante o caminho para lá, Sally foi nos revistando oralmente.

Sally: Colocaram néctar?

Percy e eu: Sim.

Sally: E ambrosia?

Percy e eu: Sim.

Sally: Tem roupas suficientes para todos os dias da semana?

Percy e eu: Sim.

Sally: Incluindo para os dias de lavar as roupas?

Percy e eu: Sim.
Percy: Mãe, você não confia em nós?

Sally: Confio, é só... – ela suspirou. – Você cresceu tão rápido, Percy...

Ele bufou.

Percy: Mãe, não na frente da minha namorada!

Sally: Desculpe, é só...

Eu: Percy! Não repreenda sua mãe!

Percy: Mas...

Ele encostou violentamente no banco do carro e ficou quieto. Eu ri um pouco da situação. Era engraçada. Claro que a risada foi em silêncio, mas eu ri. Seguimos em silêncio até chegar ao Acampamento. Mais ou menos. Com o tempo, a minha risada foi ficando descontrolada e alta, e eu não consegui falar. Nenhum dos dois disse nada. Devem ter achado que eu sou louca. Quando chegamos ao Acampamento, eu respirei o ar de lá. Ah, que saudades daquele lugar. Sally saiu do carro e fez a mesma cena com Percy que a minha mãe fez comigo, hoje cedo. Na verdade, ela também estava meio hesitante em me deixar ir. Será que ela já me considerava uma filha? Que sonho. Enfim, Percy e eu subimos a Colina Meio-Sangue de mãos dadas, onde avistamos Grover, o sátiro, nos campos de morango.

Eu: GROVER!

Ele olhou para mim e acenou freneticamente, como eu. Acenei igualzinho para ele. Um ciclope de camisa xadrez de flanela e jeans esfarrapado veio correndo na nossa direção. Ele abraçou Percy com todas as forças, e eu achei que veria os olhos de meu namorado saindo para fora.

Ciclope: Irmão! Que saudade!

Percy: Eu também estava com saudade, Tyson. – ele falou, engasgando.

Eu: Então você é o famoso Tyson?

Tyson: Sim, sou eu! E você, milady?

Eu: Eu sou Raphaella Harmon, prazer.

Estendi a mãe e Tyson a apertou. Ele a balançou para cima e para baixo com tamanha força que eu tive que penetrar a sola dos meus coturnos no chão para não sair voando.

Percy: Tyson, Rapha, na verdade é...

Tyson: É....

Percy: Ela é...

Eu: Eu sou.... fale logo, deuses!

Percy: Minha namorada.

Tyson alternou o olhar entre mim e Percy algumas vezes.

Tyson: E o que aconteceu com Anna...

Percy: Não tem necessidade de falarmos sobre isso. É passado.

Eu ri e revirei os olhos.

Eu: Percy, eu já sabia. Não adianta tentar esconder. Annabeth já havia me falado sobre essa relação de vocês.

Ele abriu a boca para falar, mas provavelmente se arrependeu e fechou a boca.

Tyson: Então... você é namorada do meu irmão?

Fiz que sim com a cabeça.

Ele me abraçou tão forte que me levantou. Por um segundo, não consegui respirar. Achei até que meu cérebro sairia pelos meus ouvidos, esmagado. Ele me colocou no chão e me soltou. Eu tentei normalizar a respiração.

Eu: Também gostei de você. – falei, seguida por um engasgo.

Percy: Tyson, Rapha e eu vamos nos acomodar nos chalés. Aliás, ela é filha de Apolo. Te vejo mais tarde.

Eu: Até mais tarde, Tyson!

Tyson: Tchau, Rapha!

Percy e eu descemos a Colina, indo em direção aos chalés. Como eu senti falta daquele lugar.

Eu: Gostei de Tyson. Ele é legal.

Percy fez que sim com a cabeça.

Eu: Vou conferir uma coisa antes de ir para o chalé. Te vejo mais tarde?

Percy: Claro!

Dei um beijinho rápido nele e fui andando em direção à arena. Lá dentro, eu encontrei a pessoa que eu procurava.

Eu: Annabeth Chase.

Ela parou de lutar contra o boneco e tirou o elmo da cabeça. Quando confirmou que eu era eu, veio correndo na minha direção, rindo. Eu dei um abraço nela.

Annabeth: Onde você andou esse tempo todo?

Eu: Hã, na minha casa. E na escola. E em alguns shoppings de Manhattan.

Ela riu.

Nos separamos do abraço. Só então eu reparei que havia um menino lá, também. Por um segundo achei que se tratasse de meu pai, Apolo, mas não era ele. Era só um adolescente louro muito parecido com ele.

Eu: Annabeth, quem é...

Annabeth: Ah, perdão. Amor?

Ele olhou para nós.

Annabeth: Essa é minha amiga, Raphaella Harmon. Rapha, esse é meu namorado, Luke Castellan.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Lembrem-se de comentar. ;D



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Raphaella Harmon: A Volta De Um Velho Inimigo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.