Who Will Be Hurt? escrita por Emilly Vic


Capítulo 4
Recomeçar


Notas iniciais do capítulo

Chegou mais um novo capítulo!!! Finalmente. Queria aproveitar a oportunidade para agradecer a todos as leitoras que estão acompanhando essa fic, bjs!!



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Existem sonhos em nossas vidas que são diferentes daqueles sonhos que temos frequentemente enquanto dormimos, ao contrário destes sonhos que são em sua maioria desconexos e involuntários, os outros sonhos são aqueles que produzimos conscientemente, representantes dos nossos desejos, sendo capazes de nos distrair durante o dia, neles criamos e recriamos aquilo que queremos que aconteça ou se for impossível, pelo menos o que gostaríamos que acontecesse. E Jane havia acabado de realizar esse sonho que ela idealizava há tanto tempo, mas, em sua visão era improvável de acontecer. Certamente essa era só uma pequena parte do que ela ainda sonhava, mas só de ter Maura em seus braços por um instante, mesmo naquela circunstância e parte da sua consciência dizendo que aquilo foi um erro ela não podia concordar com essa parte, não suportava mais mentir para si mesma.

Em boa parte na noite Jane não havia conseguido dormir só imaginando em constantes replays a cena em que elas selaram o primeiro beijo e os carinhos que o envolviam. Quando finalmente despontava os primeiros sinais de sono, o relógio já anunciava a hora de acordar marcando 6:30h e já não dava mais pra tentar dormir, primeiro por que não havia mais tempo e segundo por que Jo Friday tinha pulado em cima de sua cama.

Em um surto de coragem Jane levantou da cama para um banho rápido, em seguida se arrumou, pegou a sacola com o vestido de Maura que ela usou na noite anterior e partiu rumo ao Departamento de Homicídios. Logo quando chegou Jane foi direto para a cantina tomar o seu café e falar com a Ângela.

— Bom dia Mãe! Pode me passar aquele café de sempre?

— Oi Jane! Mas que cara é essa? Parece que não pregou os olhos durante a noite.

— Por isso mesmo que eu preciso de um café.

— Por acaso isso tem haver com ontem a noite? O que ouve entre você e Maura? Estavam tão estranhas, quase não se falaram durante o jantar.

Jane respondeu com uma certa impaciência. – Mãe, desde quando duas amigas precisam ficar conversando todo o tempo só pra provar que ainda são amigas? Não precisa responder. – Jane parou por um segundo. – Não aconteceu nada, ok. Se tivéssemos brigadas ela não me emprestaria esse vestido aqui.

Olha que vem vindo pra cá. – quando Jane virou para observar quem era a pessoa que Ângela estava se referindo, avistou Maura que estranhamente ao vê-la pausou os seus passos e mudou de caminho em direção ao elevador. – Tem certeza que não aconteceu nada Jane?

— Depois agente se vê mãe. Jane pegou a sacola e saiu apressada até o escritório da Drª. Isles.

Ao entrar na sala Jane viu Maura enfiada em meio a um monte de papeis.

— Mal chegou e já está trabalhando Maura?

Não, essa foi a única desculpa que eu encontrei pra não ter que te encarar hoje Jane. – Como eu saí cedo ontem, deixei um monte de relatórios do laboratório sem preencher. – Maura respondia com o olhar envolto nos relatórios mesmo sabendo que não podia enganar uma pessoa dotada de uma percepção tão afiada.

— Trabalho não é o melhor jeito de se esconder dos seus problemas, Maura.

— O quê, não preciso me esconder de nenhum problema.

— Olha Maura, além de vir aqui pra entregar o seu vestido eu vim ter uma conversa com você. – Jane fez uma pausa e se sentou em uma cadeira de frente a mesa de Maura. – Há muito tempo em venho vestindo um personagem só pra agradar os outros, tentava ser uma pessoa orgulhosa pra não demonstrar fraqueza não aceitando a ajuda de ninguém. Todos os dias vestia a minha armadura, tentava ser forte sem cometer erros e tudo isso para quê? Para mostrar que a única mulher que trabalhava aqui poderia ser melhor do que todos aqueles homens juntos e agradar aqueles que me viam como frágil. Mas hoje vejo que isso não faz muito sentido Maura, sabe? Viver só pra agradar aqueles que nem se importam se eu estou feliz ou não, agindo assim. E foi agindo assim que eu deixei o meu orgulho tomar conta e não disse tudo o que queria dizer pra você.

Maura então a interrompeu. — E o que você tanto queria me dizer que não teve coragem Jane?

— Que durante muito tempo eu adquiri uma admiração muito grande por você Maura, mas aos poucos eu percebi que isso não era tão simples como parecia, era muito maior que isso. Eu amo você Maura. E eu não cheguei a essa conclusão por uma fórmula simples, tive que entender o significado de cada sorriso seu pra mim, de cada frase que você lançava ao ar com um duplo sentido pra que eu não percebesse a sua verdadeira intenção, sem contar os seus olhares pra mim. Juntando isso tudo Maura eu percebi que sente o mesmo que eu sinto por você.

Estranhamente Maura continuou calada, o que deixava Jane mais apreensiva do que já estava, havia algum tempo que Jane planejava dizer aquilo e o silêncio de Maura começou a provocar uma duvida em Rizzoli.

— Então Maura, o que me diz?

— Isso não está certo, Jane, eu sou casada com o seu irmão. Entende a gravidade disto e do que nos fizemos?

— Então eu estava engana? Você não sente isso por mim, não é mesmo? – Rizzoli levantou da cadeira levando a mão sobre o rosto como num ato de arrependimento. – Eu sabia que eu não devia ter me expressado e dito tudo isso a você, foi um erro, o maior que eu já cometi em toda a minha vida.

— Não Jane, esse não foi o seu maior erro.

— E qual foi? Ter me apaixonado por você?

— O seu maior erro foi não ter falado tudo isso a quatro anos atrás, foi ter me deixado casar com o seu irmão, confesso que enquanto colocava o vestido, tinha a esperança de que você me puxasse pela mão e me levasse pra bem longe daquilo tudo, mas que bobagem minha! O seu maior erro foi ter que provar a todo o momento, para o resto do mundo o que você não era e me deixar com dúvidas se o que crescia entre agente era maior que uma simples amizade, esse sem dúvida foi o seu maior erro.

— Então se você me amou Maura e ainda me ama, pense sobre isso tudo que eu disse e sobre os seus sentimentos por mim, pense em quanto tempo de nossas vidas que estamos jogando fora com escolhas erradas, que não nos fazem felizes. Pense nessa nova oportunidade que a vida está concedendo a gente de finalmente fazermos as escolhas certas e sermos felizes. Pense Maura.

Quando Rizzoli se virava preparando-se para sair e proporcionar o tempo que Maura precisava para pensar, foi quebrado o silêncio.

— Eu não preciso de um tempo para pensar. Depois de tanto tempo você acha que pode simplesmente vir aqui e dizer tudo e achar que uma decisão pode ser tomada de uma forma tão simples assim. Jane, você tem ideia que a pessoa que vai sair mais machucada dessa história é o seu irmão, sem contar a sua mãe e toda a sua família caso eu decida o que você quer. – Maura agora adotou um tom mais calmo de voz e uma tristeza em seu olhar pode ser percebida. – Não... a minha resposta e não! Minha vida está tão completa com o Frankie, tudo tão certo e ocorrendo tão bem que eu não posso estragar isso tudo agora. Esqueça Jane, finja que nada aconteceu, continuemos a ser apenas amigas. Eu não posso magoar o seu irmão e pense nas consequências, no bem da sua família e o que as pessoas vão dizer. Já aguentamos piadinhas mesmo nos tratando como amigas na frente dos outros, imagina se nos tornamos namoradas de verdade, só daríamos mais motivos para eles. – Maura fez uma pausa, tentando encontrar a ultima porção de ar que ainda restava naquela sala e continuou. – Esqueça Jane, não vou mudar minha vida agora.

Se naquela sala existe um buraco que desse acesso a um lugar totalmente silencioso e escuro, seria nesse lugar que Rizzoli arriscaria um salto. Ela queria apenas sumir, desaparecer e não deixar rastros. Gotas de lágrimas queriam fugir dos seus olhos naquele momento. No lugar onde estava sentia levemente que o chão estava começando a desabar. Mesmo experimentando todas essas sensações o seu olhar permanecia fixo em Maura e o silêncio as rondava, mas brevemente foi cortado com a entrada de Susie.

— Com licença Dra. Isles, já saíram os resultados das amostras de sangue da vitima. – o clima estava tão pesado naquela sala que até Susie percebeu que estava atrapalhando. – Desculpe-me, eu não queria interromper...

Enquanto Susie terminava de falar Rizzoli passou como um furacão por ela a deixando curiosa com o que havia acontecido para tal ação, mas nada perguntou.

Sem dizer nenhuma palavra Maura pegou a pasta de resultados e sentou novamente à mesa onde se encontravam os relatórios e continuou com o que estava fazendo anteriormente, Susie percebendo que a Dra. Queria ficar sozinha se retirou da sala.

Talvez Jane tenha razão. Pensou ela. Me afundo no trabalho para me esconder dos meus problemas, para me esconder dela.

Jane era uma pessoa forte, disso todos sabiam, não havia nada que pudesse derrubá-la. E até a única fraqueza que as pessoas sabiam que existia em Rizzoli, Hoyt, ela conseguiu vencer. Mas o que ninguém sabia é que a sua maior fraqueza era o medo que essa capa que carregava, de uma mulher corajosa, intensa e segura cai-se. E era essa capa que ela vestia nesse momento, sentada em sua mesa, com o olhar focado no computador evitando olhar para os colegas, ou melhor, evitando desabar em lágrimas na frente dos colegas. Apesar de naquele momento investir nessa personagem durona, que não deveria de forma alguma demonstrar qualquer tipo de sofrimento, algo diferente podia ser facilmente notado nela e isso não passou despercebido por Korsak.

— Pensei que você já havia superado o Casey, Jane!

— O que? Como? Não é nada disso Korsak, só estou concentrada.

— É, deu pra perceber, já faz meia hora que você está na mesma pagina sem mudá-la.

— Korsak, cuida da sua vida e vê se me deixa em paz.

A expressão facial de korsak de alegre por ter tentado dizer uma frase humorada passou a ficar séria e Jane percebeu isso e logo se arrependeu.

— Korsak me desculpe eu não quis ser rude com você..

— Tudo bem Jane, você está tendo um dia ruim e eu entendo isso.

Nesse momento o telefone toca.

— Rizzoli. Ok, já estou indo.

O alerta de mais um novo homicídio e ela já sabia que o seu dia ruim só estava começando, além de estar cercada por toda aquela cena criminal com o a sensação funesta que a morte deixava no ar ainda teria que estar no mesmo local que Maura, compartilhando da mesma cena criminal.

Rizzoli não sentia raiva de Maura, muito menos ódio por suas palavras, ela sabia que havia razão em sua decisão, mas o que a deixava mais apreensiva era não saber como deveria agir agora que o grande segredo que era ocultado devido a relação de amizade das duas fora revelado. Como elas iria conviver sabendo do verdadeiro sentimento que existia na outra e agora com tudo isso exposto como elas iriam reconstituir a amizade delas, se é que poderia ainda existir a possibilidade de serem amigas. Iriam se tratar apenas como cunhadas?

Jane chegara à cena do crime juntamente com o Frost e Korsak. O lugar era uma antigo casarão de estilo vitoriano. Rizzoli logo ao ver a casa sentiu um leve calafrio em seu corpo, percepção que era proveniente da visão de uma casa evidentemente abandonada. Ao entrar na casa o único som que ouviu foi de madeira velha rangendo e a primeira visão foi dos restos mortais da vítima estirada na sala.

— Como descobriram que o corpo estava aqui? – perguntou Rizzoli

— Os vizinhos começaram a sentir o cheiro da carne em decomposição.

— Ela não foi morta aqui, o seu corpo está todo queimado e aqui não há indícios de incêndio.

— A melhor pessoa que pode afirmar isso acaba de chegar.

Outro arrepio foi sentido por Jane, mas dessa vez não foi causado pela casa ou pelas circunstancias do crime, o seu efeito era Maura.

Maura se aproximou do local saudando a todos, com exceção de Jane. Evitavam se olhar. As perguntas e conclusões sobre o caso eram feitas de forma direta e totalmente fria. Com certa distancia entre as duas Korsak e Frost aproveitaram para averiguarem o que havia acontecido entre elas.

— Notou que as duas desde ontem no jantar não se falam? – Observou Korsak.

— Sim, mas hoje o clima parece muito mais tenso. O que será que deve ter acontecido?

Korsak deu de ombros.

— Então Dra. Isles alguma estimativa do tempo de sua morte?

— Diria que aproximadamente dois meses, detetive Rizzoli.

— E a causa da morte?

— Não posso informar, terei que fazer testes.

A conversa entre elas era exatamente assim, totalmente profissional sem nenhum contato visual.

— Frost!

— Sim, Jane?

— Percorra a vizinhança e veja se alguém notou a entrada de alguém aqui ou se conhecem o dono da casa.

— Deixa comigo!

Nesse momento uma policial se aproxima da cena do crime, apesar de vestir a farda da polícia, percebe-se embaixo dessa vestimenta uma mulher aparentemente jovem, típica de uma patricinha que contrariou os pais e decidiu correr atrás dos vilões. O quepe não escondia a sua beleza e a leveza do que parecia uma maquiagem bem leve, claro que para o seu trabalho a descrição era necessária.

— Com licença detetive Rizzoli, eu sou a policial Alisson Bianchini e tenho algumas informações que poderiam ajudar no caso.

— Que tipo de informações?

— Cerca de quinze dias atrás eu e outros policiais viemos atender um chamado nessa casa. Os vizinhos entraram em contato com a polícia requisitando a retirada de vândalos do local.

— Chegaram a prendê-los?

— Sim, mas não passou de jovens usuários de drogas. Os pais pagaram a fiança e eles já estão livres. Eu tenho o relatório do caso e conheço bem essa área, se quiser a minha ajuda, pode me ligar a qualquer hora. – A policial retirou um pequeno cartão do bolso da sua farda e entregou para Jane sem disfarçar o seu sorriso. – Me liga!

— É sempre bem vinda uma ajuda, qualquer coisa eu te ligo.

A jovem se afastou do local deixando os detetives terminarem o serviço e Maura que observou toda a situação de perto não parava de pensar o quanto a atitude daquela policial pareceu estranha, as intenções pareciam ser maiores do que simplesmente colaborar no caso. Será que ela estava interessada em Jane. Pensou. Ah, mais também não importa saber disso, Jane é uma mulher solteira e ela sabe o que faz. E eu não estou com ciúmes, além do mais eu já tomei minha decisão, tenho que ser fiel ao Frankie.

— Bom, já terminei com a vítima, vou pedir que levem o corpo para o necrotério. Nos vemos no departamento, até mais detetives!

Maura se afastou da cena criminal, entrou no seu carro e seguiu para o departamento, enquanto isso Jane e Korsak aproveitavam para sondar os últimos detalhes do local onde a vítima fora encontrada.

Depois de um dia estressante de trabalho, Jane já estava em seu apartamento, ao seu lado havia uma garrafa de cerveja, companhia perfeita para acompanhar o resumo do dos últimos jogos do Red Sox que passava na tv. Qualquer coisa seria uma distração para esquecer todos os acontecimentos desagradáveis do dia. Pena que sempre existia uma campainha para atrapalhar seu momento de sossego.

Assim que Jane abriu a porta levou uma pequena surpresa.

— Maura? O que faz aqui?

— Por acaso estamos brigadas?

— Não! Só não esperava a sua visita.

— Se não estamos brigadas não há motivos para eu não vir aqui, além do mais, tivemos apenas uma conversa. Então? Posso ou não entrar?

— Claro Maura, Fique a vontade! – Mas eu não estou tão à vontade!

— Eu estive pensando Jane, sobre tudo o que conversamos hoje cedo...

— Não Maura,– Jane a interrompeu.– esqueça tudo o que eu disse e o que aconteceu.

— Coisas assim não são esquecidas de uma hora pra outra, o que devemos fazer e não deixar que isso atrapalhe a nossa amizade que construímos em todos esses anos. Vamos apenas recomeçar Jane.

— Como assim recomeçar?

— Seria voltar ao ponto inicial da nossa amizade. Pra começar vamos ao Dirty Robber? Eu pago a bebida.

— Sendo assim, vamos recomeçar!


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Notas finais do capítulo

Será que acabou mesmo a chance de serem mais que amigas?
E essa nova policial arrancando ciúmes de Maura? Ela tem razão?