Laços Impossíveis escrita por mandycarol


Capítulo 7
Capítulo 7 - Consequências


Notas iniciais do capítulo

As palavras com "*" possui notas no final.
Este é o Penúltimo capítulo, depois será o último D: Mas não me abandonem pois tera uma capítulo extra com a POV do Kaname como sugerido pela Gaara_do_deserto ;D Thanks!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/40486/chapter/7

Quanto tempo já havia passado? Um mês e meio? Não, havia passado exatamente um mês e 20 dias, talvez até soubesse as horas se fosse uma matemática assídua.

- Quase dois meses. – sussurrava para mim mesma apoiada na sacada da Academia Cross.

Kaname havia partido e deixado comigo seu coração, mas em troca teria levado o meu. Ri abafado dessa conjectura. Levei minhas mãos aos lábios e corei com a lembrança, eu me lembrava de cada local que ele havia me tocado, de cada beijo dado e cada promessa proferida. As lembranças faziam meu coração bater mais forte e me senti arrepiar acompanhada por um vento que soprava em rosto.

- Yuuki? – me virei ao ouvir a voz da Yori. – Então você está ai? – ela sorriu francamente.

Eu retribui seu sorriso. Ela andava preocupada comigo e eu sabia, seus olhos preocupados não me enganavam, mas Yori tinha sido a única a notar minha mudança. Após ficar a cena na festa de inauguração e ter faltado durante uma semana na escola, ela foi a primeira a vir até mim, me pediu perdão de maneira humilhante, ela era de mentir e sentiria caso mentisse, então simplesmente a abracei e a perdoei. Não havia sido o bastante, ela continuava a melhor com dúvidas nos olhos, e sorrir quando a encarava, ela tinha perguntas a me fazer, perguntas quais não queria responder, meu alívio era seu respeito.

Zero também me tratava com desconfiança, ou melhor, não tratará, eu e eles éramos estranhos nos ignorando, fingindo não notar a presença do outro. Eu queria me desculpar, mas a coragem me faltava. Ele queria me questionar, mas seu orgulho não permitirá. Eu sumo retornamos a ser como éramos antes, estranhos.

Eu diria que minha vida havia retornado a ser como era, antes de Kaname nos visitar, antes de tudo. Mas era mentira, apenas uma fachada. Eu sorria, fingia me divertir, mas sofria por dentro e então deixava que as doces lembranças me reconfortassem.
- Você anda bastante distraída Yuuki, está tudo bem? – Yori perguntava tentando manter o sorriso casual, enquanto caminhávamos em direção ao refeitório.

- Eu sou distraída. – me livrei da real pergunta.

- Você não irá me dizer mesmo. – disse em voz baixa, tão baixa que quase não pude ouvi-la. Ela suspirou pesadamente derrotada.

- Disse algo? – sem interesse.

- Nada. – ela balança as mãos e sorria sem graça. – Vai participar do festival esportivo? – mudou de assunto.

- Creio que sim. – fiz uma expressão pensativa. – São obrigatórios, não?

- Sim, tem razão. – ela riu enquanto me via fazer uma careta. – Pelo menos você não é uma negação como eu. – Rimos juntas dessa vez, ela tinha razão. – Do que irá participar?

- Corrida de bastão meninos e meninas.

- Que bom, também irei participar deste, então se acabar prejudicando o grupo você tira meu atrasado. – brincou. – Pensando bem, acho que o Zero-kun também irá participar.

- Kun? – perguntei espantada com a intimidade.

- Desculpe! Mania de chamar todos de modo indiscreto. – ficou cabisbaixa.

Isso me fez lembrar que ela também havia chamado Kaname de tal modo, quando nos encontramos pela primeira vez. Senti meu estômago embrulhar, era incrível como simples palavras poderiam abrir uma ferida, a dor da saudade me corroia freqüentemente e sempre lutava para não deixá-la transparecer. Tinha me tornado uma atriz, coberta por uma máscara de fingimentos, mas era o melhor, ao menos os outros não sofreriam. Fingir não era minha especialidade e às vezes falhava, minha sorte era que poucos percebiam, mas Yori ela sempre notará. Senti-me tonta e minhas pernas vacilaram, pendi para um lado e para o outro, levei a mão a cabeça e fechei bem os olhos tentando encontrar o equilíbrio, Yori me pegou em suas mãos.

- Tontura novamente? – seu tom preocupado.

- Me parece que sim. – não consegui mentir na circunstância que me encontrava.

- Quer uma água?

- Não, deve se fome, vamos continuar nosso caminho ao refeitório? – sorri amarga.

- Sim! – ela deixou que me apoiasse em seus ombros mesmo que sob contestação. – Já procurou um médico? Não é a primeira vez.

Yori tinha razão, não era a primeira vez, mas não queria médicos, após uma semana inteira na cama com a presença constante do meu recém conhecido tio havia criado certa aversão a médicos. E as tonturas não haviam começado há muito tempo.

- Eu estou esfomeada, é apenas isso.

Yori me encarou e eu sorri.

- Precisa tomar conta de sua saúde, quem ficou uma semana de cama? – falou rudemente.

- Está bem, está bem. – não queria prolongar o assunto.

Chegamos ao refeitório, pegamos nossa refeição e fomos a uma mesa só nós duas, não tínhamos uma boa relação com as demais garotas e elas facilmente nos ignoravam.

- Calma! A comida não irá fugir. – Yori me repreendeu a me ver atacar os pratos.

- Desculpe! – estava envergonhada. – Disse estar com forme e está muito bom. – falei como uma criança.

- Está bem, mas não precisa engoli-la de uma só vez. – Ela riu enquanto corava. – Mas desde quando você gosta da comida daqui? Antes sempre reclamava. – perguntou seriamente intrigada.

- Não sei. – fui verdadeira.

Os dias e semanas se arrastavam, havia sido assim desde que Kaname tinha ido embora. As vezes ele ligava e meu coração pulava no peito, controlava meu nervos para não tremer enquanto segurava o telefone, falávamos um pouco um como outro sob a supervisão dos meus pais que também queriam falar com ele. E passava o dia inteiro decorando suas palavras em minha memória. “Eu te amo”, ele dizia e eu torcia para não ter ficado vermelha naquele momento, “eu também” respondia simplesmente. Para meus pais, esta seria a resposta para diversas perguntas que formavam em sua mente, mas por que pensariam logo nesta? Talvez minha mãe apenas, com seus olhares desconfiados, mas nem ela ousava me questionar, Kaname estava longe agora e isso bastava a ela.

Dois meses. E assim passaram dois longos meses. As tonturas continuaram, porém com menos freqüência e foram substituídas por pequenos enjôos. Eu engordei um pouco, o que me fez começar com uma pequena dieta em que cortei quase todos os carboidratos.

O festival de esportes estava para começar e meu animo continuava a diminuir e meu sorriso soava cada vez mais falso. Coloquei-me em posição para pegar o bastão logo após Yori, tentei me concentrar na prova e ouvi o tiro que significava o início da competição. Olhei para trás e vi Ruka sair de sua posição, ela era veloz e elegante, suas pernas longas lhe permitiam passadas largas. Logo após ela veio Yori, que foi mais rápida do que esperava, ela estava se esforçando. Ela passou o bastão para minha mãe de modo ágil e comecei a correr de maneira compulsiva, Zero era o próximo.

- Agora não. – Senti-me fraca e minha cabeça parecia girar e meus olhos saíram de foco.

O sol parecia fritar em minha cabeça, me sentindo cada vez mais lenta, outra tontura dessa vez seguida de um forte enjôo não me deixavam prosseguir.

- Droga! – tropecei em meus próprios pés e cai.

Meu corpo se arrastou no piso coberto de poeira e o contato áspero fez minhas pernas e ombros ralarem. As pessoas se acumularam em minha volta, pude vê-las por meus olhos pesados antes de desmaiar.
Acordei com uma luz forte em meu rosto, uma mulher vestida de branco estava ao meu lado me examinava.

- Acordou Kuran Yuuki? – ela falou enquanto lia meu nome numa prancheta.

- Sim. – disse atordoada. – Onde estou? – tentei me levantar, a moça me forçou a voltar a deitar.

- Na enfermaria. Lembra-se do que aconteceu? – era séria.

- Desmaiei? – vasculhei minhas lembranças.

- Exato. Kuran Yuuki, - seu tom extremamente formal - tem comido ultimamente? Feito dieta?

- Bem, achei que tinha engordado um pouco. – não queria mentir. – Como cheguei aqui?

Ele anotou algo na minha ficha e voltou a me encarar, seu olhar severo me dava medo.

- Kiryuu Zero a trouxe. Sua amiga Wacaba Sayori me disse que tem tido tonturas e enjôos.

- Sim. – respondi, mesmo que não tivesse perguntado.

- Sua menstruação está atrasada? – o tom um pouco mais ameno.

Não acreditava no que me perguntava. O que ela pensava que eu tinha afinal?

- Minha menstruação é irregular, o tempo varia constantemente. – expliquei.

- Entendo. Neste caso teremos que fazer uns exames. – ela fez mais algumas anotações.

- Você já teve relações Yuuki? – seu olhar faiscou no meu.

- Sim. Uma vez. – não consegui mentir.

- Há quanto tempo?

- Dois meses. – eu jamais esqueceria esta data, nem se pudesse.

- Então é quase certo. – engoli seco.

- Q-qua-quase c-certo o que? – senti um arrepio na espinha, gaguejei ao perguntar e não queria ouvir a resposta.

- Grávida. Kuran Yuuki, você está grávida.

Senti um baque. Não era possível, tinha que ser mentira. Havia um ser dentro de mim? Algo que não podia ignorar, não podia deixar passar. Isso arruinaria tudo, isso me arruinaria e a todos a minha volta. Logo ficaria evidente minha atual condição, era algo que não podia esconder. O que faria? Lutei contra minhas forças para não chorar, o ar me faltava e senti que estava à beira de um colapso.

- Agora deve ir, sua amiga a está esperando no lado de fora. – ela se levantou.

- Espere. M-meus pais... – recuperei o fôlego para terminar – irá dizer a eles? – tremi de horror ao pensar na situação.

- O papel da escola é informá-los. – disse confusa.

- Não pode. Por favor, deixe-me contar a eles, me dê um tempo. E-eles não... Eles sequer imaginam que dormi com um garoto. Se souberem dessa forma. – tentava encontrar os argumentos certos.

- Como terei certeza se irá contar. – levantou a sobrancelha direita em desconfiança.

Procurei uma saída em minha mente, tudo estava tão confuso, como se andasse por um labirinto perdida e cansada demais para encontrar a saída. O certo era que não podia permitir que contassem aos meus pais dessa maneira.

- Me dê algumas semanas. – soltei sem freio.

Seu rosto passou a me analisar, olhou para a ficha investigando, sabia que avaliava a possibilidade e isso me deu um fio de esperança.

- Certo. – disse após um período. - Vejo na sua ficha que é uma boa aluna, mas se depois de três semanas nada for feito, comunicarei a direção. – era séria nesta última parte.

- Sim. Obrigada. – falei sem alívio algum.

Levantei-me e me recompus, fui em direção a porta, querendo sair daquele lugar o mais depressa possível, quando a voz da enfermeira me fez parar.

- Não devia se preocupar muito, o seu caso é comum. – me virei para escutá-la. – Os pais decidem por um aborto e a “criança” pode quase sempre continuar sua vida normalmente.

Meus olhos saíram de orbita, sai da sala antes que visse o choque. Me parede do corredor e me abracei fortemente tentando inutilmente acalmar meu coração acelerado que batia em desespero.

- Aborto? – repeti a mim mesma em voz baixa.

- O que disse? – uma voz de homem me desconcertou.

- Zero? O que faz aqui? – perguntei confusa.

O jovem de olhos lilases me encarava de maneira peculiar, seus olhos transpareciam preocupação, mas também analise. Ele ficou meio sem jeito após minha pergunta e começou a coçar a cabeça, bagunçado levemente seus cabelos surpreendentemente claros.

- Bem, você desmaiou e eu...

- Me trouxe. – lembrei subitamente.

- Bem, eu ia dizer que estava preocupado, mas isso também é verdade. – ele ainda mexia nos próprios cabelos e faziam um belo movimento. – Está tudo bem? – voltou a me fitar.

- Sim! – não havia convicção em minha voz e minha cabeça estava baixa. – Obrigada por me trazer até a enfermaria. – me curvei excessivamente em agradecimento.

- Isso não foi nada. – estava sem graça.
- Foi sim! – rebati de manei exaltada – Principalmente depois daquilo. – abaixei meu tom de voz, após lembrar o ocorrido.
 
- Tsc! – sibilou com desdém. Não havia sido uma boa idéia recordar o assunto, ele fechou as mãos em punho e a raiva o fez tremer.

- YUUKI! – Yori apareceu gritando e correndo no corredor. – Que bom! Você está de pé. – seu olhar carinhoso e terno. – Aqui, trouxe um suco para você. – colocou o suco na minha mão.

- Obrigada Yori-chan! – agradeci a gentileza, ela realmente estava se esforçando para me ver bem.

- Pelo visto já esta em boas mãos. Estou indo. – Zero se virou simplesmente e começou a caminhar.

- Espere Zero! – disse tentando alcançá-lo com as mãos. – Desculpe! – me curvei novamente de modo excessivo.

- Por que você... – parou de andar.

- Por aquela noite, por Kaname. – insisti em tocar na ferida.

- NÃO PEÇA DESCULPAS! – alterou a voz. – Aquele cara deveria fazer isso. – a raiva o domava e o fazia tremer e meu corpo estremeceu assim como o dele.

- Foi minha culpa! – insisti. – Eu fiz algo inesperado, e-ele só queria me proteger. – o defendi.

- Certo. – Engoliu seco, entendendo que não mudaria minha opinião e voltou a andar.

Eu olhava Zero se afastar, contemplava suas costas e sentia o gosto amargo por ter magoado alguém, por tê-lo magoado. Quantas pessoas mais eu magoaria pelos meus erros? Algo passou em minha cabeça num centésimo de segundo, algo que poderia nos salvar. Senti-me a pior pessoa do mundo, uma mentirosa, uma enganadora. Havia outra solução?

- Será que poderia compensá-lo? – mudei meu tom de voz.

- Como? – Zero se virou subitamente interessado, ainda não estava longe o bastante para não me ouvir.

- Saia comigo, por favor... – tentei expelir uma voz envergonhada. – Ze-ro-kun! – ditei.

Era domingo e me arrumava frente ao espelho, havia escolhido uma blusinha de mangas fofas e uma saia de pregas, arrumava meu cabelo prendendo num rabo de cavalo alto e escolhi sandálias baixas. Parecia estranho eu estar me arrumando para um encontro com outra pessoa após o pouco tempo que Kaname havia ido embora. Agora a lembrança de seu rosto era constante em minha mente, pensava no que resultaria a união de sua face com a minha. Coloquei a mão sobre minha barriga e a acariciei gentilmente.

- É confortável ai dentro? – perguntei a criança que ainda estava em formação em meu ventre.

“Positivo” foi o que dissera o teste que fiz num hospital público sem conhecimento de meus pais. Tive que inventar mentiras, burlar o regimento e me aproveitar do sentimentalismo das enfermeiras. “Que bela atriz estava me transformando”, pensei, “se não fosse isso tudo poderia tentar uma carreira”, ri sem humor de minha piada infame.

- Estou pronta. – disse a mim mesma.

Peguei minha bolsa e sai deixando um aviso em cima do aparador, meus pais haviam saído para algum momento romântico e eu ia em direção do que poderia selar meu destino de modo diferente, a única saída, seria mesmo? O domingo estava radiante e quente, chamei um taxi e segui para Shibuya* onde havia combinado de me encontrar com Zero. Yori que estava presente no momento do meu pedido estava mais ansiosa que eu e tinha me ligado logo cedo me enchendo de conselhos, o qual não seguiria metade deles. Desci próxima a Estação Harajuku**, que se encontrava lotados de jovens. Artistas, lolitas, decoras, cosplays, gyarus, fãs de visual kei e tantas outras diversas modas e misturas.

Encontrei Zero no Templo Meiji como havíamos combinado, ele estava com roupas pretas e uma bota de fivelas que lhe deixava com um diferente ar underground, lhe caindo super bem. Passeamos no Parque Yoyogi, que tinha um grande número de artistas de rua e fomos à área Ura-Hara***, visitar algumas das grifes independentes. Apesar de entrarmos em algumas lojas não fizemos compras, porém Zero não pareceu se importar nesse programa tipicamente feminino.

- Já são cinco horas. – me espantei com o horário já tardio. – Como passa rápido.

- Precisa ir embora? – tentava esconder o desapontamento.

- Não. – ele pareceu aliviado. – Zero, tem um lugar que eu queria ir. Acompanha-me? – perguntei timidamente.

Zero não fez qualquer questionamento, simplesmente me seguindo enquanto o guiava pelas ruas de Shibuya, as ruas estavam apertadas devido o grande número de pessoas e segurei sua mão para que não nos perdêssemos um do outro, o notei ruborizar e continuei a puxá-lo. Logo as ruas se tornaram mais estreitas e o fluxo de pessoas diminuiu, “está próximo”, pensei. Chegamos à ladeira uma ladeira escondida de Shibuya chamada Dogenzaka**** e parei em frente a um letreiro piscando, minha respiração era ofegante, havia andado muito para minha condição. Senti as mãos de Zero escorregarem das minhas, me virei para fitá-lo, seus olhos estavam arregalados.

- Aqui? – perguntou. – Quer entrar neste lugar?

Balancei minha cabeça afirmativamente, eu o olhava nos olhos com ardor. Os letreiros piscavam a palavra: MOTEL. Próximos a nós haviam casais se agarrando, alguns bares, sexys shops e alguns bêbados. Nunca havia me sentido mais miserável, preferiria abrir um buraco no chão e me esconder dentro dele, me rosto fervia e estava vermelho de tanta vergonha. Não há outra maneira? Fiz-me essa pergunta novamente.

- Vai entrar comigo? – tentei esconder meu desespero.

- É isso que quer? – ele estava sério.

- Sim. – o encarei querendo ganhar sua confiança.

Nós entramos no estabelecimento e Zero, o lado de dentro mais bonito que a aparência exterior, era bem iluminada e parecia reconfortante, a recepcionista tinha um sorriso largo, haviam feito um bom marketing, mas aquilo não fazia diferença. Zero pegou as chaves e subimos ao quarto 309. Eu apertava as mãos de Zero como se ele pudesse fugir a qualquer momento, mas meu maior medo era que eu acabasse fugindo.

Eu respirei fundo quando Zero rodou a maçaneta, ele apertou minha mão mais forte percebendo meu nervosismo.

- Está mesmo tudo bem? – seus olhos lilases me fitavam preocupado.

- Não seja tolo. – falei de modo cínico e o beijei puxando-o para dentro pelo colarinho.

Com um pontapé fechei a porta e coloquei meu plano em ação. Não lhe dei tempo para respirar. Eu o beijava com intensidade e ardor, cravava minhas unhas em suas costas forçando seu corpo ao contato. Aquilo era reflexo do meu desespero, podia ser qualquer um, eu não me privaria da humilhação, mas se pudesse evitar um sofrimento maior. Zero me amava e eu sabia o quanto, queria preencher seu coração com o pouco de felicidade que podia lhe dar, mesmo que fosse uma felicidade falsa e vazia.

- Yuuki, espere! – ele agarrou em meus pulsos e me forçou a afastar. – Não acha que está indo rápido demais?

- Não consegue acompanhar. – disse ironicamente, aquele não era o momento ideal para um questionário.

- Eu só acho que... – seus olhos baixos.

- Certo, então podemos ir embora se quiser. – me virei em direção à porta, Zero segurou minha mão impedindo que desse mais um passo. – Pensei que estava prestes a desistir. – havia malicia em minha voz.

- Quem falou em desistir? – Zero falou com o mesmo tom malicioso e selou seus lábios nos meus.

Ele me agarrou com intensidade, e sua mão direita estava em minha cintura, enquanto a esquerda estava prendida em minha nuca, as minhas mãos brincavam em suas costas por baixo da camisa antes de retirá-la. Seus músculos eram perfeitos e sem exageros, beijei seu peito nu, lhe despertando excitação. Ele me pegou no colo e me colocou gentilmente sobre a cama, ficou em cima de mim e retirou minha blusa, revelando meu sutiã rosa de rendas delicadas.

Na hora não pude evitar, me lembrei da noite que eu e Kaname passamos juntos, em que cada um descobriu o corpo do outro, a noite que ele plantou uma semente em mim. Mas eu sabia que não poderia deixar tais pensamentos virem à tona, tinha que evitá-los, tive que sufocá-los. Zero tinhas as mãos gentis e hesitantes, aquilo me incomodava, pois queria que terminasse logo, mas não podia ser rude com ele, só estava preocupado. Então o joguei para o lado da cama e fiquei sobre ele, tentando tomar as rédeas, ele me encarou com o rosto assustado por minha atitude nada comum, por que ele tinha que fazer aquele olhar, só me fazia lembrar... dele.

- Yuuki? – ele passou a mão em meu rosto. – Está chorando.

Eu levei a palma da minha mão em minha face e percebi que tinha razão, meu rosto estava úmido e pude sentir mais lágrimas se formarem, que bela chorona eu estava me saindo. Não pude evitar que todos aqueles sentimentos ruins transbordassem.

- Não posso, não posso. – eu sussurrava.

“Não devo envolver mais ninguém”, pensei. Sentei na cama e pus as mãos em meu rosto, Zero não deveria me ver assim, tentei conter meus soluços, porém chorava cada vez mais alto. Estava desnorteada, sem saber o que fazer como reagir, eu tremia de nervosismo e não conseguia controlar minhas reações. Zero colocou o lençol sobre meus ombros desnudos, cobrindo-me.

- Está claro que você não está em condições para algo como isso. – olhou ao nosso entorno.

- Não é certo. – gesticulei. – Me perdoe Zero! Não posso enganá-lo, não devo acabar com sua vida por um erro meu.

- Poderia me dizer o que está acontecendo? – ele disse com olhos suplicantes.
 
Eu pensei e analisei minhas possibilidades, tentei avaliar as conseqüências da minha próxima fala, porém acabei optando pela verdade.

- Eu estou grávida. – disse séria.

- Eu sabia. – me choquei com sua resposta. – Ou desconfiava. – ele sorriu.

- Entendi. – respondi. – Foi um descuido meu, porém se meus pais souberem. – me lamentei.

- Então, por que me procurou? Por que não foi direto ao pai da criança? Não seria a mesma coisa? – ele tocou no meu ponto fraco.

- Bem, é que... – procurei um modo de me esquivar. – é complicado. – não obtive sucesso.

- É o Kaname não é? – Senti uma pontada me atingir, meu corpo ferveu e mordi meus lábios me denunciando. – Kaname é o pai da criança. – afirmou. Engoli seco.

- Vai me julgar? – o fitei.

- Faz alguma diferença? Vocês deveriam ser mais discretos, aquela cena na inauguração chamou bastante atenção. – ele expressava hostilidade.

- Você tem bastantes motivos para me odiar. – eu disse.

- Por quê?

- Eu ia usá-lo. – disse quase gritando, jogando a verdade em sua cara.

- Eu sei e não me importava. – agora seu rosto era inexpressivo, a dor me atingiu.

- Por quê? Não vê o quanto má estava sendo. – o sofrimento carregava minha voz.

- Eu te amo Yuuki, eu não queria, mas eu gosto de você. Mesmo que inconscientemente eu soubesse que você não queria realmente um relacionamento comigo, me deixei levar. – sentia sua tristeza.

- Lamento Zero. - eu falhará, fora estúpida e agora Zero sabia meu segredo, pior, agora ele também sofria. – Não me entenda mal Zero, eu gosto de você, mas é como um ir... – parei ao notar a idiotice que falaria.

- Irmão? Ora, que irônico! – disse sem humor.

Ficamos em silêncio, não sabíamos o que dizer um ao outro. A corda havia arrebentado e não havia nada que pudéssemos fazer para parar esse carro desgovernado, tudo pioraria. Minha única saída havia se tornado mais um problema. Eu queria simplesmente fugir, correr, me esconder. O que eu faria agora?

- O que você fará? – quebrou o silêncio e fez a mesma pergunta que rondava meus pensamentos.

- Honestamente? Eu não sei. – respondi perdendo o ar de meus pulmões.

- Contou para ele? – não ousou pronunciar o seu nome.

- Não. Ele viria correndo, isso só pioraria tudo. – falei com pesar.

- Irá abortar? – perguntou inexpressivo novamente.

- NUNCA. – gritei e dei um salto, ficando em pé sobre a cama. Aquela não era uma opção.

- Eu entendi, entendi. – repetiu. – Sente-se!

- Quando foi que aconteceu? – falou casualmente.

- Há dois meses, um dia antes de ir embora. – respondi simplesmente.

- Eca! – gemeu. – Não posso imaginar isso, vocês são irmãos. – dizia com desprezo.

Encolhi-me, não ousei dizer qualquer coisa, sabia o quanto seria difícil para os outros compreenderem, sabia sobre o preconceito, sobre o tabu, até para mim foi difícil aceitar.

- Eu farei o que me pedir. – Zero me surpreendeu, ele estaria mesmo disposto a se sacrificar por mim.

Afaguei seu rosto e o olhei com carinho.

- Obrigada. Lamento, não conseguiria viver ao seu lado, você saberia a verdade e por mais que me ame não suportaria. – tirei a conclusão enquanto me expressava. - Achei que ficaria chateado comigo se soubesse, pensei que sentiria horror por mim.

- Isso é caráter. Se bem que gostaria que tivesse se arrependido depois de... – parou. - você sabe. – fez uma cara pervertida.

Nós rimos juntos, mesmo que não houvesse um motivo concreto para rir. Seu riso era expressivo e reconfortante. Vestimos-nos com as poucas peças tiradas e saímos do motel, voltando a estação Harajuku, esperávamos o metro na plataforma.

- Se eu sumir, bem, meus pais descobriram. – disse com tristeza.

Ele me beijou na testa e percebi que aquela talvez fosse a ultima vez que possuímos um contato mais próximo. Suas mãos estavam quentes sobre a minha, “Por que não podia ser ele?”, me perguntei inutilmente. O metro chegou e nos despedimos, ele apenas tinha me acompanhado, o metro estava cheio e aproveitei para chorar baixinho enquanto via sua sombra sumir rapidamente.

Passaram três dias e eu me arrumava para ir para a aula, vestia minha saia de pregas xadrez e ajeitava a gravata. Eu e Zero evitamos o contato como de costume, ele ocasionalmente me lançava olhares de alerta e se virava quando notava que percebia. Eu ainda não sabia o que faria e tinha medo que meu tempo se esgotasse antes que arranjasse uma solução. Os professores chamavam periodicamente minha atenção quando não respondia suas perguntas, Yori ficava cada vez mais preocupada, porém resolverá não contar nada a ela. “Talvez não me entendesse”, pensei, ou em pior caso, também sofreria. Não precisava que mais pessoas soubessem, não precisava de mais um problema para resolver. Meus pais já haviam saído e quando notei já era a hora de ir para escola, escutei o carro do motorista na porta. Desci as escadas e ao abrir a porta senti um arrepio me percorrer a espinha, não era o carro do motorista que havia escutado, meu coração acelerou e minhas pernas fraquejaram, cai de joelhos deixando minha bolsa cair no chão.

- Kaname!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Shibuya = é um dos 23 bairros de Tóquio, no Japão. //
**Harajuku = nome popular para a área ao redor da Estação Harajuku, na Linha Yamanote. As ruas ficam lotadas nos fins-de-semana, quando jovens se reúnem para fazer compras e sair com os amigos. Harajuku se tornou famosa nos anos 90 devido ao grande número de artistas de rua e jovens com roupas extravagantes que se reuniam lá aos domingos quando Omotesando ficava fechada ao trânsito. //
***Ura-Hara = a área conhecida como "Ura-Hara" (travessas de Harajuku) ficou conhecida pelas grifes independentes de moda casual. //
****Dogenzaka = Night clubs, sex clubs, sex shops e motéis: nada é proibido, nem estranho nessa pequena e pervertida ladeira escondida em Shibuya.