Laços Impossíveis escrita por mandycarol


Capítulo 6
Capítulo 6 - O Ato




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O gosto da comida ainda era ácido na minha boca e me fazia ter ânsias, rejeitava quase tudo que me traziam e comia quando não agüentava mais dizer que não queria. Comia pequenas porções de comidas principalmente líquidas e poucas vezes ao dia. Já fazia quase uma semana que não saía da cama, minha febre tinha cedido, mas meu estado de saúde não era animador. Há cada melhora eu piorava em outro aspecto. A sensação de vazio e as pontadas aumentaram e vomitava a pouca comida que ingeria.

Todos da casa me cobriam de atenções e aquilo só me deixava mais irritadiça. Meu humor era péssimo e não ajudava em nada. Eu não queria melhorar, será que não percebiam? Kaname havia sido o único a não aparecer no quarto, apesar de que sempre me sobressaltava quando um empregado vinha me ver a noite. Não devia esperar por ele, saberia que não viria, não depois de tudo. Ele tentaria me preservar e não saberia como reagir se ele viesse até mim.

Eu era tão horrível, todos estavam infelizes por minha culpa, perguntava-me o porquê dessa dor não terminar de uma vez. Eu definhava a cada dia e me afundava na minha dor. Por vezes fechava os olhos fingindo dormir para que me deixassem sozinha, mas não conseguia dormir, ao menos lutava para que isso não ocorresse. Meus sonos eram perturbadores, cheios de pesadelos que me faziam acordar aos gritos.

Meu tio vinha me ver todos os dias e no fim do dia sempre havia um diagnóstico diferente, porém o motivo era o mesmo, psicológico. Não gostava do modo como Rido me olhava, com desconfiança e desaprovação, parecia uma menina pega em flagrante após derrubar o vaso valioso da avó.

- Algum problema? – perguntei ruidosamente.

- Yuuki. – minha mãe me chamou em desaprovação.

- Rá – bufei.

“Podia ser discreto ao menos” pensei. Ele continuou a me examinar sem mudar de expressão um momento sequer, nem quando me dirigi a ele. Como um homem poderia ser tão frio? Perguntava-me se agia assim com os outros.

- Terminei. – disse Rido finalmente.

- E então? – perguntou Juuri ansiosa.

Ele balançou a cabeça em desacordo, tradução: “na mesma”. Era terrível ver os olhos aflitos e esperançosos de minha mãe todos os dias após os exames e logo voltarem a serem tristes e vazios. Entristecia-me vê-la naquele estado, não queria fazê-la sofrer, nem ela e nem aquela pessoa...

- Ai! – senti uma pontada.

- O que aconteceu querida? – minha mãe veio me socorrer.

- Merda... – eu segurava a mão em meu estômago o apertando fortemente – n-não é nada. – menti inutilmente.

- Precisamos levá-la num hospital. – a voz de minha mãe era urgente.

- NÃO IREI A HOSTITAL NENHUM! – gritei.

- Não é hora para teimosia mocinha.

- Terão que me levar à força. – objetei.

- E certamente o faremos. – trincou os dentes.

- AH! – gritei e peguei o abajur do lado da minha cama o atirando contra a parede.

O estrondo foi alto e diria que ensurdecedor. Não imaginei que pudesse ter tanta força em meu estado, me arrependi profundamente quando vi os pedaços do meu abajur espalhados por todos os lados. Os empregados se aglomeravam na porta, curiosos por saber o que era aquele estardalhaço. Novamente estava chorando freneticamente, minhas mãos tremiam e percebi que havia me cortado, o sangue escorria pelo meu braço e pingou no lençol branco. Dei um grito agudo de horror, eu estava fora de controle, não media minhas próprias ações.

Senti uma leve picada em meu braço esquerdo, ao me virar percebi que meu tio tinha acabado de aplicar uma injeção.

- Você irá dormir agora Yuuki. – falou me fitando.

- O que v... – senti minha voz falhar.

Minha boca estava pastosa e minha voz parecia grogue. Meu corpo estava incrivelmente relaxado e senti minhas pálpebras pesadas, estava sonolenta e rapidamente adormeci.

Meu sonho era... feliz, inacreditavelmente. Eu e Kaname éramos um casal, definitivamente parecíamos um casal. Passeávamos de mãos dadas enquanto tomávamos sorvete e sentados no banco da pracinha dávamos selinhos como tolos apaixonado. Aquilo era tão utópico.  Acordei aos poucos e me vi em meu quarto, já era noite e meu rosto estava molhado, eu chorava.

- Você entende o que está acontecendo não é Juuri? – reconheci a voz do meu tio.

- Do que está falando? – minha mãe e ele discutiam no corredor, podia ouvi-los por detrás da porta.

- Não se faça de desentendida. – ele se alterou, era a primeira vez que me pareceu irritado.

- Não devemos falar sobre isso e ela pode nos ouvir. – tentou fugir do assunto.

- Ela está dormindo. Juuri – seu tom era sério, imaginava seu rosto rígido – Você viu como ele a olhou? Vejo em Kaname o mesmo olhar que mirava em você e em Yuuki o seu mesmo olhar assustado.

Será que minha mãe e meu tio, poderiam? Sacudi a cabeça tentando me livrar de tais pensamentos, era insanidade pensar em algo assim, não havia tais coincidências, certo? Minha mãe jamais... Choquei-me com meu próprio preconceito.  Sentei-me na cama me aproximando mais da porta para escutar melhor.

- Eles não podem... – sua voz falhou. – Além de que Kaname está indo embora depois de amanhã, logo pela manhã.

- Embora? – repetiu.

- Disse que teve uma oportunidade, um caso novo. Sabemos que é desculpa, ele acredita que ficando longe dela, ela pode melhorar.

- E você concorda, é claro. – havia rancor em sua voz.

Não pude escutar mais nada, a notícia me corroia, minha cabeça girava e me segurei na cabeceira da cama achando que poderia cair. Chorei em silêncio para que não me escutassem, pensavam que dormia e era melhor assim. O que eu estava fazendo? Eu apenas chorava e reclamava de minha condição. E o sofrimento dele? Que ser egoísta eu sou, mas ele é pior. Muito pior. Indo embora sem se despedir novamente, ele não entendia que ferida abriria mais uma vez. Que insensível.

O ódio e a tristeza eram meus aliados e mais uma vez senti meu corpo relaxar e dormi o efeito do remédio não havia passado totalmente. Foi uma noite sem sonhos, totalmente vazio e escuro, este último como meu coração.

Acordei no dia seguinte, o relógio marcava seis horas, olhei para a janela e estava escuro, havia dormido por quase um dia inteiro. Ouvi três batidas na porta e meu pai entrou em seguida, como se as batidas fossem apenas parte praxe.

- Como está? – perguntou delicadamente.

- Melhor. – tentei um sorriso.

- Que bom. – baixou os olhos – Vim para te dizer que os funcionários foram dispensados esta noite, eu e sua mãe precisaremos sair. Algum problema?

- Nenhum. – era mais fácil conversar com alguém que claramente não estava a par da situação.

- Além do mais Kaname estará aqui embaixo, grite quando precisar. – me deu uma piscadela.

Não respondi, o ar não corria em meu pulmões. Minha mãe não havia se oposto? Talvez, porém provavelmente meu pai havia a contornado e ela para não levantar suspeitas tinha aceitado. Afinal eu não sairia do quarto, ou sairia?

- Kami-sama a proteja. – disse docemente e saiu.

Estávamos sozinhos e era sua última noite em Tóquio, a última ao meu lado. Que destino injusto era este? Ouvi o carro sair da garagem e fui levada por um impulso súbito. Levantei-me, abri a porta e me dirigi ao quarto do Kaname, ele não estava lá. Desci as escadas com certa dificuldade e fui à cozinha, ele fechava a geladeira após deixar a jarra de água dentro dela. Ao me ver seus olhos se arregalaram e ele ficou imóvel, perplexo. Pus-me a sua frente, fechei os olhos e respirei fundo. Serrei o punho e os abri novamente em indecisão. Levantei a mão e lhe atingi o rosto, tirando forças de onde não havia. Dei-lhe um tapa em sua face, ele levou a mão sobre o rosto agora vermelho e pude notar seus confusos, mas não os encarei.

- Idiota. – xinguei.

Meus olhos cintilavam de ódio e medo, tristeza e aflição.

- Invencível, egoísta, taidor... – eu praticamente cuspia as palavras da minha boca – como pode pensar nisso somente por um instante? – o acusei.

- E-eu – titubeou.

- Como pode? Ia embora novamente sem me dizer nada. – esbravejei.

- Era necessário. – disse cético.

- NECESSÁRIO O DIABO! – gritei. – Você ia fugir, simplesmente. Como acha que ficaria? Eu, eu... – as palavras não saiam, engoli seco apertando os olhos úmidos inutilmente, eles estavam transbordando.

- MELHOR. – jogou em minha cara.

- Melhor? – perguntei num riso abafado. – Eu definharia. – minha voz saiu abafada.

Meus olhos saíram de órbita e senti minhas pernas fraquejarem, cambaleei para o lado e Kaname me segurou. Seus olhos estavam voltados para o lado, evitando meu olhar, me evitando, apesar do contato dos corpos, ele me ergueu sem dificuldades e me pôs na bancada da cozinha.
 
- Acho que não faria diferença, olhe seu estado... – refletiu por um tempo. – Olhe o estado em que a deixei.

- Não se culpe. – coloquei as mãos em sua face obrigando a olhar para mim. – Não é como se quiséssemos essa situação. – falei carinhosamente.

Eu estava o manipulando, o levando a minha vontade. Deixei meus sentimentos saírem sem freio e sem hesitação. Mas o que estava fazendo? Nem eu sabia ao certo.

- Mas não a muito que pudéssemos fazer também. – ele retirou minhas mãos do seu rosto. – Se não sou o culpado, então me diga como ficou por uma semana inteira na cama doente.

- Tem razão. Não faz diferença afinal, estarmos perto ou longe. Quem sabe o tempo e a distância ajude. – disse rudemente. – Afinal eles curam tudo não é, veja como o curou. – fui irônica.

- Tsc. Não é bem assim. – se esquivou.

- Acha que comigo vai ser diferente? – perguntei cautelosa.

- Tem que ser. – disse automaticamente.

- Mas não será. – revidei. - Não vê Kaname? Não fuja! Não sem me dar uma explicação. Não de novo. – Senti meus olhos encherem de água novamente.

- Você também fugiu. – me acusou.

- Fugi – confessei. - Não podia suportar a idéia de não poder dizer que te amo, de não poder abraçá-lo e beijá-lo como um homem, jamais seriamos um casal ao olho dos outros. E também fiz coisas que não deveria. Não é o único culpado.

- Eu não posso envolvê-la nisso Yuuki. – subitamente sua voz era terna. – Não podia tê-la beijado, não conscientemente. Desencadeei isso tudo. – disse culpando-se.

- Não, não. – repeti. – Eu o havia o beijado antes. – deixei escapar.

Fui assolada pela minha própria surpresa, eu falará demais. Tudo saía do meu controle... novamente. Senti meu coração acelerar.

- O que disse? – disse Kaname baixo no som de silvo.

Optei pela confissão. Se isso o fizesse se sentir melhor, o faria.

- Naquele dia, eu não estava bêbada, não completamente, eu sabia o que fazia. E o fiz, mesmo sendo errado, mesmo sendo pecaminoso eu o beijei, e senti prazer. Fiquei atormentada, não podia dizer que sabia, nunca. Este seria meu segredo, meu maior segredo, aquele que não diria nem a mim mesma, que eu te amava. Mas agora que sei que você sente o mesmo, não tem porque esconder, não de você. – Eu simplesmente jogava as palavras para fora, meus olhos estavam completamente embaçados pelas lágrimas. – Não posso conviver com isso, não suportarei, sinto que vou explodir.

Kaname me abraçou gentilmente e sussurrou em meus ouvidos:
 
- Está tudo bem Yuuki, está tudo bem. – repetia. Dizendo o mesmo que eu naquela noite, nossos papeis se invertendo.

- Não está. Como pode estar tudo bem quando estou apaixonada pelo meu próprio irmão? Não vê Kaname? É errado, é errado sentir isso. E nem ao menos sei o porquê, nem ao menos sei como arrancar isso de mim e nem porque devo fazê-lo. Por que tivemos que nascer com o mesmo sangue? – disse cheia de remorso.

- Eu também não sei. – disse ao meu ouvido, seu corpo ainda grudado ao meu. – Eu queria, mas não sei, apenas não sei.

O abracei mais forte, temendo que ele me escapasse, como se tudo posse virar pó e ser levado pelo vento. Ficamos em silêncio, havia apenas o som de meus soluços devido ao choro. Continuamos ali, entrelaçados um no outro, nossos corpos quentes em contado. Então, quebrei o silêncio.

- K-Kaname. – o chamei hesitante.

Ele se desvencilhou de mim e me encarou, seu rosto duvidoso, mas não irritado. Segurei a mãe contra o peito, refleti, procurando as palavras. Ele esperou pacientemente, fechei os olhos e quando abri o fitei.

- Permita-me ao menos esta noite, eu ser sua, mesmo que seja errado, mesmo que isso nos condene, ao menos uma vez... – minha voz falhava. – não... - reuni forças para terminar – nós não seremos como irmãos.

Levei meus lábios em seu pescoço e o beijei antes que tocasse seus lábios. O beijo era tão terno e tão intenso quanto minhas forças permitiam. Meus lábios tremiam e minha boca era urgente, eu não sabia como ele reagiria. Porém ele correspondeu, envolveu-me em seus braços e me puxou para si. Eu tremia de excitação e medo, notando Kaname se separou de mim, se esquivando.

- Tem certeza disso Yuuki? – seus olhos baixos.

- Sim. – toquei a face de sua mão o encorajando.

- Mas seria sua primeira vez, certo? – ainda não olhava em meus olhos.

Não havia parado para pensar nisto, mas não era uma condição que me incomodava. Eu havia tomado minha decisão.

- Sim.

- E mesmo assim...

- Sim. – não mudaria minha opinião. – Acho que todas as meninas sonham que seja com a pessoa que ama e jamais pensaria em outra pessoa a não ser você.

Deixei meu coração falar por mim, não medi as palavras, nem pensei nelas, mas sabia que eram verdadeiras e válidas. Ele refletiu por um momento. Deu um passo em falso para trás recuando, senti meu coração vacilar, ele parou por um momento e veio em minha direção em passos lentos, aquilo era uma resposta. Com a afirmação meu coração voltou a acelerar, podíamos estar cavando nossa própria cova, reservando nosso lugar no inferno. Ansiávamos por aquilo, desejávamos pelo toque, por este momento que seria apenas nosso, independente de tudo, nada mais importava.

Ele encostou-se à bancada, logo a minha frente, envolvi minhas pernas em sua cintura, o puxando para mim. Ele deslizou a mão por meu corpo, passou-as em minha cintura, tocou levemente meus seios e por fim chegou a minha nuca, agarrou meus cabelos e forçou meu rosto para trás. Nossos beijos não eram mais infantis, sua língua explorava avidamente dentro de minha boca e o correspondia na mesma intensidade.

Nossas carícias evoluíam conforme descobríamos o corpo alheio. Ele passou a mão por minhas coxas fazendo minha camisola subir, eu desabotoava sua camisa botão por botão, retirei-a sem muito esforço. Neste momento Kaname sorriu maliciosamente e olhou para o entorno, obrigando-me a seguir seu olhar. Compreendi que ainda estávamos na cozinha, eu sobre a bancada. Sem aviso Kaname me pegou no colo e senti meu rosto ferver, provavelmente estava corando. Não sabia meu peso ao certo, mas ele não parecia ter dificuldade em me carregar, recostei-me em seu peito nu e beijei seu pescoço novamente o provocando, o senti arrepiar e depois ele ficar rígido, percebi o quanto isso mexia com ele.

Chegamos ao seu quarto, ele abriu a porta e me deitou sobre a sua cama, a cama não era espaçosa, porém era suficiente para dois. Ele deitou-se sobre mim e me senti arrepiar, perdi o fôlego ao sentir seu corpo tão perto do meu, por mais que tentasse respirar eu não lembrava como.

- Yuuki? – Kaname sussurrou.

- Hum? – recuperei o fôlego.

- Eu te amo. – disse docemente.

Beijei levemente seus lábios e sorri verdadeiramente, um sorriso largo.

- Eu também te amo.

Abraçamos-nos e nos beijamos, um beijo doce e profundo. Meu corpo aquecia cada vez mais e parecia à beira da ebulição, minha respiração era descompassada. Ele retirou minha camisola e tocava seus lábios em cada parte do meu corpo. Minhas mãos estavam em suas costas e enterrava minhas unhas nelas, sem me importar com a dor que o causava, mas ele não parecia notar ou também não se importava. Suas carícias eram delicadas e ele tomava cuidado para que não me sentisse desconfortável. Eu era sensível e correspondia a cada toque seu. Eu ansiava por mais, por ele, apenas para mim, por completo. Eu o tive, Na noite mais maravilhosa e romântica de minha vida, onde a leve dor não foi nada perto do prazer e amor compartilhados.

Seu rosto era sereno dormindo ao meu lado, afaguei seu rosto e lhe deu um beijinho de esquimó, ele se remexeu um pouco, mas não acordou. Parecia uma criança, um sorriso em seu rosto e respiração regular. Seus cabelos estavam bagunçados e ri de como bem lhe caía. Afastei-me e levantei com dificuldade, andei na ponta dos pés pegando minhas roupas tentando não acordá-lo, nossos pais logo chegaria e precisava sair dali o quanto antes. Vesti-me e sai do quarto, não sem antes olhar para ele ali deitado, tão inocente. Poderia aquilo ser pecado? Deixei uma lágrima escapar e escorrer pelo meu rosto a sequei antes que caísse.

- Está feito. – disse. “Não mudará agora”, completei em pensamento.

Ouvi o som do carro não muito tempo depois, já era madrugada e fingi estar dormindo quando minha mãe veio ao meu quarto. Ele colocou a mãe em minha testa e mediu minha temperatura.

- Pelo menos não tem mais febre. – sussurrou.

Fiquei feliz ao pensar que minha mãe se sentiria bem com minha melhora súbita na manhã seguinte.

Dormi pouco e acordava constantemente durante a noite, não queria perder o horário. Pulei da cama às seis da manhã, tomei banho e vesti uma roupa casual. Todos na cozinha fizeram uma cara de pasmados quando me viram entrar pela porta, inclusive os empregados. Mirei um sorriso afetado para eles.

- Está se sentindo melhor Yuuki? – meu pai perguntou. Minha mãe ainda estava de boca aberta.

- Sim. – disse sorrindo falsamente.

- Isso é maravilhoso. – meu pai sorriu, e seu sorriso ao contrário do meu expressava verdadeira felicidade.

Retornei-lhe o sorriso, agora de modo mais espontâneo. Era bom não importuná-lo mais.

- Querida. – minha mãe falará finalmente. – Acho melhor voltar para sua cama, chamei o médico e veremos se pode se levantar, okay? – parecia seriamente preocupada.

- Não arranje desculpas para chamá-lo novamente. – meu pai era ríspido.

- Eu não... – Juuri estava chorosa.

- Mãe eu estou bem.  – disse sinceramente. – Acredite! E pai – me virei para ele. – não precisa falar assim com ela, só está preocupada. – fui ríspida.

- Tem razão. – falou percebendo o erro. – Desculpe meu amor. – tocou a face da mãe de Juuri que estava sobre a mesa. Ela assentiu afirmativamente.

- Onde está Kaname? – tentei aparentar despreocupação.

Os olhos de mamãe flamejarão até Haruka em alerta.

- Yuuki – começou cauteloso – tem algo que precisa saber.

- Sim?

- Kaname, seu irmão, - enrolou – ele parte hoje para Londres. Daqui uma hora. Está no quarto dele se arrumando.

- Planejávamos te contar – minha mãe interveio – mas no seu estado, talvez não fosse bom, mais esse baque.

- Tudo bem. – disse surpreendendo-os. A verdade era que tentava ser forte. – Acho que posso superar isso novamente. – baixei meus olhos.

- Disse que ela saberia lhe dar com isso. – sussurrou Haruka afagando o rosto de Juuri.

Tomei meu café da manhã com eles, os empregados ainda me olhavam perplexos e apenas os ignorava. Meus pais já haviam terminado de comer, mas ficaram ao meu lado para me fazer companhia.

- Estou pronto.

Kaname entrou no recinto e pude sentir o cheiro de seu perfume adentrar minhas narinas, era suave e bom. Sua calça caqui e camisa preta lhe davam um ar sensual e elegante. Ele pareceu surpreso em me ver, seus olhos se arregalaram e rapidamente voltaram ao normal aparecendo um sorriso torto em sua face. Dei um riso discreto sem nossos pais perceberem em retribuição. Nunca imaginariam o que teria ocorrido à noite passada e nem gostaria de pensar no que ocorreria se descobrissem.

O caminho para o aeroporto foi estranhamente silencioso, eu e Kaname estávamos no banco traseiro e deixei que minha mão deslizasse até a sua e apertei com força, estava nervosa. Ele ficou brincando com meus dedos até chegarmos ao local. O avião estava atrasado e agradeci mentalmente por este momento a mais que passaríamos juntos. Ficamos sentados no saguão um do lado do outro numa proximidade perigosa, Haruka e Juuri saíram para ter mais informações sobre o avião.

- Não se esqueça esta bem. – havia um toque de desespero em minha voz – Eu te amo.

- Não me esquecerei. Sinto o mesmo. – apertou minha mão na sua.

- E não se engrace com nenhuma garota na Inglaterra.

- Está bem. – ele riu.

Nossos pais não demoraram a retornar, meu pai encheu Kaname de recomendações e minha mãe ficou ao meu lado, balançando a cabeça afirmativamente a cada palavra de meu pai. Mais quinze minutos e houve uma chamada, avisando que o avião para a Inglaterra estava disponível e o portão de embarque. Meu coração deu um salto.

- Acho que chegou minha hora. – disse tristemente.

- Volte assim que puder. – falou Haruka.

- Melhor, não vá. – eu brinquei.

- Seria bom. – riu inexpressivo. – Prometa que me mandará cartas.

- Em pleno século XXI. – todos rirão.

- Gosto do cheiro de tinta e papel misturados.

- Então prometa irá telefonar. – sorri maliciosamente. - E deixará que fale com você. – pensei na última vez que fora embora.

- Palavra de escoteiro.

- Não o monopolize Yuuki. – disse minha mãe num riso abafado.

- Não irei. – falei simplesmente.

- Ande logo ou perderá o avião. – disse meu pai por fim e o abraçou.

Minha mãe fez o mesmo e eu logo após ela, um abraço estranhamente demorado. Não dissemos mais palavras, tudo havia sido dito e meu coração apertou ao vê-lo entrar no portão, minhas pernas fraquejaram e teria caído se não houvesse uma platéia tão grande. O que seria de nós agora?

 


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