Laços Impossíveis escrita por mandycarol


Capítulo 2
Capítulo 2 - Como antes?




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Eu me espreguiçava na cama e rolava sem querer acordar, tinha dormido tarde e meus olhos não aceitavam que deveriam abrir, mesmo com uma luz muito forte entrando no quarto. Eu queria passar mais tempo embaixo das cobertas, mas o sol me venceu e consegui (com muito esforço) abrir os olhos. O dia estava radiante e lindo. Aliás, o dia estava radiante demais, olhei para o relógio na cabeceira da minha cama e já era quase horário de almoço.

Entrei no banheiro, escovei meus dentes e lavei meu rosto. Dentro do closet escolhi a roupa que usaria durante o dia, peguei um short jeans e um blusa branca florida. Desci as escadas, de dois em dois degraus, parecendo uma criança. Na cozinha, minha mãe retirava o café da manhã de cima da mesa.

- Pensei que não ia acordar mais mocinha. – disse ela.

- Me desculpe! – disse acanhada.

- Cansei de te esperar e retirei a mesa, se quiser comer algo se vire. Ou espere o almoço que não deve demorar. – Senti o tom de sermão em sua voz.

- Esperarei o almoço. – disse distraída enquanto olhava para os lados. – Onde estão papai e o Kaname?

- Acho que estão dando um passeio na vizinhança, – ela estava pegando o arroz na prateleira. – não devem demorar – concluiu.

Nos finais de semana, as empregadas eram dispensadas e nos fazíamos o almoço. Tecnicamente, eu e minha mãe o fazemos, mas ela sempre se irrita comigo e me expulsa da cozinha.

- Filha poderia fazer o onigiri para mim? – Droga, porque ela sempre pede para mim se vai reclamar mais tarde. Confesso, não são boa com bolinhos de arroz.

- Ham!? Tá. – disse – Mas não reclame depois – completei baixinho.

- Disse algo querida? – disse amavelmente.

- Eu, imagine! Nada mesmo. – minha voz era rouca.

Comecei a preparar os bolinhos de arroz. Em pouco tempo já estava terminando de dar forma a eles, que mais pareciam bolas de futebol que um onigiri. Neste momento pude sentir o rosto de alguém sobre meus ombros.

- É uma nova forma de se fazer onigiri? – Ele falando ao pé do ouvido me fez arrepiar todinha.

- ... – não respondi.

Ele se afastou e continuei, inutilmente, tentar dar forma a aquele monte de arroz papado. Minha mãe ia colocando a mesa, com seus pratos super bem preparados. Porque diabos ela precisava de mim? E coloquei os bolinhos de arroz do lado, até eles se sentiam humilhados.

- Belos bolinhos. – meu pai fez questão de comentar.

- Obrigado pai. – fui irônica.

- Acordou tarde Yuuki? – perguntou Kaname despreocupado, enquanto pegava um dos meus bolinhos e o enfiava completamente em sua boa.

- Um pouco. – menti. – Não sei se seria uma boa idéia você...

Tarde demais. Ele já estava completamente roxo. Acho que era a única pessoa no Japão que conseguia fazer um bolinho de arroz ser ruim e Kaname era o único imbecil a comê-lo daquela forma, tão negligentemente.

Foi armada uma confusão. Meu pai batia em suas costas desesperadamente, enquanto minha mãe o abanava com uma forma de carne. E eu estava prestes a ter um colapso nervoso, teria intoxicado meu próprio irmão? Com muita dificuldade, vi a enorme bolota de arroz atravessar sua garganta de uma só vez, chegou a doer em mim. Minha mãe e meu pai deixaram-se jogar na cadeira aliviados.

- Yuuki – começou meu pai ofegante – se um dia quiser matar alguém já sabe como fazê-lo!

Todos riram, menos eu que corei de tanta vergonha pelos meus bolinhos de arroz assassinos. Conseguimos terminar o almoço tranquilamente, depois de o Kaname ter engolido uns dez litros de água.

Minha mãe retirou a mesa e eu estava lavando a louça, quando Kaname apareceu na cozinha, pegou uma maça e ficou brincando com ela.

- Precisa de ajuda?

- Não, estou bem, terminarei logo. – respondi rapidamente.

- Então dará tempo para sairmos. – disse enquanto jogava a maça para cima.

- Sairmos? – repeti. – Onde?

- Ao parque. – seu tom de voz era tranqüilo. – Afinal, você precisa me compensar pelo desastre agora a pouco.

Joguei água nele, arfando de raiva, enquanto ele sumia do meu campo de visão.

O dia estava realmente radiante, o sol brilhava alto e fazia um pouco de calor, o clima era ideal para um piquenique no parque. Eu usava um vestido branco de alcinha com rendas e uma sandália baixa. Kaname estava lindo com sua habitual camisa branca, hoje um pouco aberta devido o calor, e calça jeans. Era estranho estarmos indo sozinhos para um piquenique, mas nossos pais preferiram ficar em casa, namorando. Meus pais gostavam de aproveitar esses preciosos momentos juntos e quando Kaname haviam se mudado gostavam de me despachar para a casa da Yori.

Fomos ao parque caminhando, Kaname levava a cesta com as guloseimas, que minha mãe havia gentilmente preparado para nós. Afinal, não queríamos passar outro susto? Durante o curto percurso até o belo parque que havia no nosso bairro tive que suportar as piadinhas sobre meus “simpáticos” bolinhos que quase me fizeram ir a um enterro.

Avistar o parque um sorriso apareceu em meu rosto, ele ficou a me observar e eu apenas percebi que a sessão “maltrate a Yuuki” havia se encerrado. Ele virou para mim e disse amorosamente apertando minha mão.

- Vamos?

- Hum! – assenti com um gesto de cabeça.
Eu estendia a toalha no chão, ela era toda fofa e cheia de morangos, enquanto Kaname tirava os quitutes da cesta. Havia doces de todas as espécies, inclusive doce de feijão, que eu adorava.

Nós passamos a tarde rindo, Kaname fazia as caretas e contava piadas tocas, como quando éramos pequenos e ele não queria que eu chorasse. Ele até me empurrou no balanço, como se fosse uma menina, acredita? Era como se eu tivesse voltado a ter quatro anos de idade e nos voltássemos a ser como crianças. Comemos calmamente, andamos de pedalinho e nem vimos a tarde passar. Era tudo tão agradável. Tudo seria como antes e agora eu via, ainda me deixava imaginar que ele não teria de voltar para Londres daqui umas semanas, que não iria me deixar novamente.

Nos caminhávamos no parque, andando bem devagar, estávamos no jardim onde possuía as mais belas flores, eu me debruçava sobre elas e as cheirava e Kaname apenas me observava, ele parecia ansioso.

- O que foi? – perguntei sorrindo.

- Nada. – ele disse tentando aparentar despreocupação.

- São lindas não. – apontei para as flores.

- Sim! Belas. – ele fez uma pausa. – Como você.

Eu corei. Ele riu de minha expressão. Peguei um punhado de flores e como era habilidoso, estava espantada. Em poucos minutos ele havia feito uma coroa com elas e pôs em minha cabeça. Fiquei ainda mais vermelha, me levantei num pulo tentando disfarçar. Ele também se levantou sem pressa. E ficou próximo a mim.

- Gostou? – ele perguntava enquanto enrolava meus cabelos na ponta dos dedos, ele parecia atordoado, olhando fixos para ele. Eu não compreendia.

Ele estava próximo demais. Droga, meu coração parecia que ia pular pela boca, sentir isso era errado, não era? Mas porque diabos ele fazia isso? Próximo demais, próximo demais. Ele se inclinou, só pensava em algo, “beijo”, fechei meus olhos de nervosismo. E então tudo aconteceu rápido demais.
 

Kaname se aproximou ainda mais de mim, nervosa eu fechei meus olhos ferozmente e dei um passo em falso para traz. O jardim acabava num talude, muito alto por sinal. Eu cai e pude e sentir alguém me agarrar pela cintura. Kaname havia me segurado e puxado para cima dele, desde modo o impacto com a terra foi totalmente amortecido por ele. Nos rolamos até pararmos muito próximo ao lago que se situava no centro do parque. Eu estava sobre Kaname, ele me segurando fortemente. Meio atordoado Kaname se pôs de joelhos e eu o mesmo. De súbito ele me agarrou.

- Yuuki você está bem? – seu tom era de preucupação.

- Estou, só uns arranhões. – ele me apertava cada vez mais.

- Você se arranhou. – seus olhos se arregalaram e ele começava a me examinar, me apalpando toda.

- Kaname, Kaname, pare com isso – tentava me desvencilhar dos seus braços fortes. – Já disse que estou bem. – gritei e acabei o empurrando.

Kaname quase caiu no lago. Eu o empurrei muito forte. Me culpei. Ele não possui nenhuma culpa, eu que estava vendo coisas onde não existiam, mas a sua preocupação excessiva me deixou aflita.

- Me perdoe, Kaname-oni...

Ele levantou uma das mãos fazendo sinal para que me calasse. A sua outra mão cobria seu rosto.

- Por favor, não me chame assim, me irrita! – disse ríspido.

Não consegui conter as lágrimas, elas escorriam pelo meu rosto enquanto eu apertava meu lábios inferiores ferozmente.

- Não chore Yuuki! Eu que deveria pedir desculpas, acho que foi por minha atitude que você caiu. – ele passava a mão sobre minha cabeça como se fosse uma criança, mas tentava manter certa distância. – Eu só queria saber se seu cabelo ainda cheirava a flores.

Desatei-me a chorar, eu o julgara mal e ainda o ofendia. Era a pior.

- Vamos Yuuki! – ele me estendeu o braço, eu peguei em sua mão e levante, então ele me soltou. – Não podemos voltar tarde.

Eu andei atrás dele, tentando segurar meus soluços, nos caminhávamos em silêncio. Era insuportável.

- Ande logo Yuuki ou ficará para trás. – era indiferente.

- Hum!

Eu me apressei e fiquei ao seu lado, jogando meu cabelos frente ao rosto para ele não ver as lágrimas que insistiam em correr. Chegamos em casa e Kaname seguiu para a cozinha para deixar a cesta. Eu subi as escadas calmamente, meus olhos estavam embaçados e cheios d’água e tive medo de cair. Por sorte nosso pais não estavam e não viram o estado de nossas roupas, sujas por causa da desastrosa queda. Eu só queria tomar um banho quente e tentar parar de chorar.

Eu tirei minhas roupas, sem me dar ao trabalho de pô-las no cesto e liguei o chuveiro, deixei que a água caísse no meu corpo e em minha mente só vinha as palavras de Kaname: [i]”...me irrita!”. Eu o irritava, pior a forma mais carinhosa de chamá-lo o irritava, isso só me fazia pensar que eu o irritava de qualquer modo. Agachei-me e segurei meu joelho contra o peito. Fiquei embaixo d’água durante meia hora ou mais. Sai do banho sem pressa, coloquei uma roupa qualquer, e comecei a secar meus cabelos com o secador, tentando me concentrar do zumbido que ele gerava. “Então eu sou irritante”, um buraco parecia se formar em meu estômago. “Puf! Dane-se! Se o irrito ou não.” Desci para jantar, e ele não estava lá.

- Onde está o Kaname? – perguntei tentando não parecer preocupada.

- Ele disse que não está se sentindo bem. – respondeu minha mãe antes pegar um sushi.

- E o que ele tem? – estava curiosa para saber sua desculpa.

- Uma dor de barriga qualquer. – meu pai respondeu. – Agora chega de perguntar do seu irmão e venha logo comer.

Meus pais passaram o jantar animados, como era de costume, falando de coisas que sequer ouvia. Eu permanecia em silêncio tentando comer algo para não me incomodarem perguntando se estava doente ou qualquer outra coisa, foi inútil.

- Querida – minha mãe sempre tão amável – está muito quieta. Aconteceu alguma coisa? Parece abatida.

- Não, nada. Deve ser insolação. – que raios de resposta era aquela.

- Se está preocupada com seu irmão, apenas vá vê-lo. – minha mãe sempre me entendia, melhor do eu, isso era perigoso.

- Eu não estou preocupada. – menti – É só uma dor de barriga, ele não vai morrer por isso. – tentei ser irônica e era péssima nisso. – Eu já terminei, vou para meu quarto e dormir um pouco. – me apressei e corri escada acima.

Trancada no meu quarto, eu pensava no que fazer, Kaname ainda passaria três semanas aqui, não suportaria um clima pesado. Se eu o irritava, isso não importava mais. Teria que aliviar as tensões.

Todos já dormiam, eu já estava de camisola, quando sai sorrateiramente do meu quarto, dando para macios para não ser escutada. Eu parei na frente da porta do quarto do meu irmão mais velho e dei três batidas leves.

- ... – nenhum ruído.

Abri a porta aos poucos, esperando que o mínimo de luminosidade entrasse no quarto. Kaname parecia dormir, entrei sorrateiramente e me postei ao lado de sua cama. Ele dormia tão bem, suas respiração era profunda e ele quase não mexia. Desiste de qualquer pedido de desculpas que pudesse interromper o belo modo como estava dormindo. Abri novamente a porta, sem me preocupar com os ruídos, uma voz me fez parar.

- Yuuki? – estava sonolento.

- Desculpe por te acordar. Volte a dormir! – falei baixo.

- O que faz aqui?

- Nada. – mordi os lábios, sabia que começaria um interrogatório. Ele fez uma cara de que não se convencerá, decidi falar a verdade. – Vim pedir desculpas. – Minhas mãos apertavam a barra da minha camisola e olhava baixo.

- Nessa hora da noite?

- Sim, oras!

- Por quê? – insistia.

Ótimo, ele também não quer saber o porquê tirei um D em matemática?

- Era como fazia quando criança. – disse corando.

- E você sempre acabava dormindo aqui. – quando ele terminou de proferir as palavras, já estava aninhada ao seu lado em sua cama. – Você não pensa em dormir aqui?

- Por que não? – fiz beicinho.

- Yuuki, não tem mais seis anos. – falava como se fosse o papai.

- Não pretendo dormir aqui. Apenas me deixe ficar aqui um pouco. – disse já fechando meus olhos.

Ele ajeitou-se na cama e ficou de frente para mim, colou uma das mãos em meu pescoço e assim o vi antes de tudo escurecer.

Meu sonho foi confuso, estava numa campina, a olhar o vasto céu azul, mas havia alguém lá comigo. Um homem, não podia ver ser rosto, pois o sol forte o cobria. Ele me pareceu alto e de cabelos medianos, mas não sabia ao certo. Ele me levantou e me segurou em seus braços, que eram incrivelmente fortes e confortáveis. Não lutei e me aninhei em seus braços, algo me fazia confiar nele. Ele me deitou entre as flores e me deu um beijo delicado, consegui sentir o doce toque de seus lábios com os meus, um beijo cálido e amoroso. Tudo parecia tão real, eu sentia, podia sentir cada gesto. Mas não estávamos sozinhos, uma voz de mulher e muito familiar interrompeu a cena.

- Podemos conversar K...?

Não ouvi o nome, tudo ficou negro e não me lembro de mais nada. Infelizmente, nem de quem era aquela voz, muito menos aquele rosto.

 


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Notas finais do capítulo

- Um [u]talude[/u] para quem boiou na maionese (Hellmann's please ;D) é um plano inclinado normalmente coberto de grama > http://www.gramasnobre.com.br/images/plantio-1.jpg < Mal de arquiteta, sorry! *mesmo não sendo formada
—-------- Quem comentar ganha um doce =D *suborno* hauahauahuahaua! /BRINKS!