O corredor tinha aparentemente nove metros de distância até uma porta que havia ao fundo. Quadros com diversas pinturas cercavam todo o corredor e todos pareciam demonstrar acontecimentos importantes, exceto o quadro em que mostrava a minha imagem, eu acho.

–O Livro! –Disse Lorenna, com o olhar assustado.

Lorenna pareceu analisar todo o local, como se tivesse procurando por algo que não havia percebido anteriormente. Ela colocou as mãos sob a pintura e sussurrou algumas coisas em que eu não consegui entender. Cheguei próximo à ela e encostei em seu combro, tentando entender o porquê de sua preocupação.

–O que está acontecendo? –Perguntei. –Por que eu estou aqui?

–Se for verdade, você está em sérios problemas. –Disse Lorenna.

Abaixo de cada imagem tinha uma pequena legenda explicando o quadro. No quadro do guerreiro muito parecido comigo tinha a seguinte legenda:

“Rick Melghart, terceiro príncipe do reino de Melghart, filho de Hoke Melghart e Annie Melstorn”.

Era eu. O nome da minha mãe era exatamente esse. Encarei aquela legenda por bastante tempo até sentir as mãos de Lorenna em meus ombros. Virei e olhei para ela, aqueles olhos me causaram um pequeno conforto.

–Como é possível? –Eu disse.

–Me acompanhe. –Disse Lorenna.

Segui Lorenna até o quadro ao lado. Nele estava um guerreiro robusto, acima do peso com uma enorme lança presa nas costas, olhos verdes, e os cabelos negros como o meu. O guerreiro parecia ter uns vinte anos e na legenda estava escrito:

“Hoke Melghart, segundo príncipe e terceiro rei do reino de Melghart, filho de Robert Melghart e Amanda Melghart”.

Era realmente o meu pai ali, mais novo. Foram mencionados os nomes dos meus avós paternos, que eu não conheci, pois eles morreram antes do meu pai se casar com minha mãe. A imagem era bem engraçada, meu pai parecia um nerd gordo fazendo cosplay.

No quadro mais ao lado tinha a imagem de uma mulher muito bonita, aparentemente vinte anos e usava um vestido verde enfeitado com brilhantes e um arco prateado na cabeça, branca e com cabelos negros. A legenda mexeu muito com meus sentimentos:

“Annie Melstorn, segunda princesa de Melstorn e terceira rainha de Melghart, filha de Maria Melstorn e Antônio Melstorn”.

Minha mãe. Até ela era mencionada nos quadros, aquele rosto fazia minhas memórias voltarem, me senti aquela criancinha de cinco anos novamente. Lágrimas surgiram em meus olhos. Lorenna olhou para mim e apontou para um quadro que tinha do outro lado do corredor. Aproximei-me do quadro e não entendi o que representava de início.

–O nome desse lugar é o Corredor da História. –Ela disse. –O povo de meu continente soube bastante sobre essas pinturas e eu estava bastante ansiosa para conhecê-lo.

Na pintura em que ela estava apontando se via quatro criaturas humanoides em volta de uma esfera prateada. Cada criatura tinha uma textura diferente, uma me lembrava magma em um vulcão, outra me lembrava um mar vasto, outra me lembrava uma porção de terra seca e a quarta criatura era meio transparente, mas em coloração azul.

–Esses são os nossos deuses. –Disse Lorenna. –Cada um representa um elemento da natureza. Diversos templos para eles são espalhados por toda Zancor.

–Onde é Zancor? –Perguntei.

–Você está me assustando, como você não sabe? Zancor é a união de todos os continentes, é o nosso espaço no universo, nossa dimensão. –Lorenna me encarou, após dizer isso.

–Lorenna... –Me senti meio idiota, mas eu precisava saber o que estava acontecendo. –Você poderia me contar... Tudo?

Ela me encarou, abaixou os olhos e começou a me explicar algo que eu nunca havia ouvido antes, a história era tão louca que eu tive quase certeza que eu estava maluco.

Vou tentar contar o que ela me explicou, tá, vamos lá:

No início não tinha nada. O universo era apenas um espaço vazio, mas os quatro deuses da criação formaram uma porção de terra que no futuro iria abrigar todas as criaturas vivas. Essa porção colossal de terra ficou chamada de Zancor.

Zancor é dividida em quatro continentes. Moonye, Silversk, Melstorn e… Melghart. Nessa parte senti minha cabeça rodar. Cada continente tem um rei e sua família real, cada reino tem o próprio nome do continente e o reinado é passado de pai para filho.

Alguns continentes foram descobertos recentemente, como Moonye e Silversk, criando a linguagem de numeração para a família, como foi mostrado nas legendas dos quadros próximos. De acordo com a história daquele lugar, eu estava em outra dimensão, longe da Terra e pior: Eu era conhecido por todos ali.

Todos me conhecem pelo meu nome real, mas também me conhecem como o príncipe de Melghart. Lorenna é princesa de Moonye e estava em Melghart para conseguir uma aliança com meu pai por que ataques constantes faziam os continentes perderem muito dinheiro com as batalhas no exército. Aparentemente eu estraguei tudo, Lorenna brigou com meu pai e tudo deu errado.

–Basicamente é isso. –Disse Lorenna, após me explicar isso tudo.

–Então... Eu estraguei tudo. –Perguntei, com um sorriso.

–Você já tem essa fama. –Ela disse, rindo.

Não entendi muito o que ela quis dizer, mas tudo que eu queria naquele momento era entender o que acontecia à minha volta. Agora eu precisava de uma prova em que tudo que estava acontecendo era mesmo real. Será que eu não estava mesmo no Brooklin ou nos EUA? Afastei-me do quadro dos deuses e passei de todos os outros sem olhar para eles. Eu não queria mais mistérios.

–Ei! –Lorenna me chamou às minhas costas. –Você não quer saber sobre os ataques?

Quando eu estava prestes a dizer “não”, um dos guerreiros da sala surgiu da saída do corredor, ofegante e desesperado:

–Senhor Melghart! Senhorita Moonye! O ataque recomeçou! Precisamos de ordens!

Os olhos de Lorenna ficaram tensos e devo admitir que os meus também.

–Faça que eles se preparem e ataquem à frente. Chegaremos logo atrás. –Disse Lorenna.

O guerreiro afastou-se e correu para a porta de onde havia aparecido.

–E agora? –Perguntei.

–Lutaremos. –Disse Lorenna, rindo. –Vamos?

Lorenna segurou meu braço e correu, me guiando para fora do corredor.