Liguei a TV, era melhor não dormir agora, sabia que logo logo a Carly viria aqui, era como fazíamos uma com a outra. Pra variar, quando a gente precisa se distrair, não passa nada interessante. Desliguei a TV e Carly entrou em seguida. Pela cara dela já esperava encontrar um desastre emocional, mas dessa vez minha crise foi mais contida. Já não tinha nenhum trabalho para ela. Ainda assim ela veio até mim e me abraçou, o que me fez desmoronar novamente e eu me perguntava “quando isso vai acabar? Por que esses fantasmas do passado continuam a me perseguir?”

                Há tanto tempo que eu não tinha uma crise dessas, mas Bryan conseguiu me desestruturar, mais um em quem eu confiei e no final, mostrou-se indigno de confiança. Mais um que eu deixei se aproximar e me abandonou.

- Cada vez que eu te vejo assim me vem um instinto assassino, uma vontade louca de destruir quem te magoou – Carly falou já entregue as lagrimas também. Limpou as lágrimas, respirou fundo algumas vezes se recompondo, ela sabia que agora precisava ser mais forte que eu – Eu sei o que pode nos animar agora.

- Desde que não envolva sair de casa – falei já me sentindo melhor.

- Envolve um pote de sorvete, Doritos, chocolate e Peeta Mellark.

- Jogos vorazes, own amiga, você sabe que o Peeta sempre me alegra.

                Peguei meu DVD de jogos vorazes, assistiríamos pelo duo décima vez. Carly foi pegar todas as besteiras disponíveis na cozinha, voltou com um pacote de Doritos e outro de Cheetos, duas cocas, um pote de sorvete e um bolo de chocolate.

                Assistimos em um silencio acolhedor, até Carly me olhar e perguntar.

- Então, você já conhecia o Freddie? – Ela sorria maliciosamente.

- Pois é, mas eu não sabia que seu primo era o Benson, ele me reconheceu na capela, mas ficou esperando que eu o reconhecesse, éramos muito amigos muito tempo antes de eu te conhecer, e ele foi estudar fora e aí nunca mais nos vimos. Eu já te falei dele – voltei minha atenção para o filme.

- Eu sei, mas eu nunca ia imaginar que o Freddie, por quem você era obcecada fosse Freddie Benson, meu primo.

- Ei – Falei lhe jogando uma almofada – Eu não era obcecada por ele não viu.

- Ah, não? Fala sério Sam, você só falava dele quando nos conhecemos.

- É claro sua tonta, ele era meu melhor amigo. Normal que eu sentisse falta dele.

- Sei... Mas e agora que ele voltou, eu vou perder meu posto de melhor amiga substituta?

- Você não é substituta. E eu apenas o re-vi, não sei se depois de tantos anos ainda vamos nos reaproximar – Ela Fez uma cara de culpada – o que você aprontou Carly Shay?

- Vou logo dizendo que não foi culpa minha ta. É que ele veio falar comigo para dar o recado que você tinha ido embora e ele me contou que vocês já se conheciam e tal, então eu não vi o problema em fazer o que fiz.

- Fala logo Shay você está me assustando.

- Calma, Sam, nem é nada demais, é que ele me pediu seu número de celular, pois ele não teve tempo de pegar com você, já que saiu correndo feito uma louca. E eu meio que dei seu número pra ele.

- Agora você acabou com a minha opção de não reencontrá-lo. Ele foi embora uma vez, sei que ele não teve culpa porque não tinha escolha, mas você sabe, sempre que alguém se aproxima de mim acaba me ferindo. Não quero sofrer por ele outra vez.

- Infelizmente Sam, no decorrer das nossas vidas, algumas pessoas acabam tendo que nos deixar, mas isso não significa que tem algum problema conosco, elas simplesmente tomam outros caminhos, fazem outras escolhas e a gente tem que aceitar.

- Eu sei, mas é diferente quando a pessoa escolhe nos deixar. Principalmente quando essa pessoa é sua própria mãe que te deixa com um estranho qualquer, isso depois de seu pai ter se recusado a ficar com você. Eu nunca vou perdoá-los! Nem em mil anos! Se não fosse isso por você e o Spencer... Nem sei.

- Certo, eu entendo, mas você não pode achar que o mundo está contra você por isso. Você afasta quem quer estar perto por gostar de você, mas permite que a pessoa errada se aproxime.

- Você ta falando do Bryan?

- Isso mesmo. Desde o começo você sabia que ele não era boa peça, mas deixou ele se aproximar de você.

- Eu sei e me arrependo tremendamente por isso, é que tínhamos histórias tão parecidas, ele parecia me entender.

- Ta legal. Vamos assistir ao filme – Eu estava pensativa, certamente ela tinha razão, eu me fechei para aqueles que me queriam bem e de tão cega, de tanto tentar bloquear a todos, acabei abrindo espaço para quem não devia. Quão tola eu fui. Já não adianta pensar no que já foi, mas daqui para frente tentarei mudar. Por que não? Além disso, meu reencontro com Freddie não saía da minha mente. O que foi aquela sensação que eu senti ao revê-lo? Algo tão reconfortante.

- Ei,o que foi hein? Por que essa cara, Sam?

- Pra falar a verdade, nem eu sei, to confusa e não sei o que pensar, mas alguma coisa mudou com a volta de Freddie.

- Você era apaixonada por ele né? Isso deve ter mexido com você.

- Ta louca é? Quem disse que eu era apaixonada apor ele?

- Até fazermos quinze anos você dizia que ele ia voltar e vocês iam ficar juntos e ser felizes para sempre – Bati nela com a almofada.

- Eu era uma criança, você não pode usar isso contra mim.

- com quinze anos? Poupe-me Sam.

- Eu falava isso no sentido de amizade, você sabe muito bem que eu sempre senti a falta dele. Deixe de ser maliciosa.

- Anram, sei, mas deve ter sido uma surpresa pra você né? Quando o conheceu era só um garotinho e dez anos depois encontra aquele deus grego.

- Shay, você não presta. O Brad sabe você o considera um deus grego?

- Nem brinca com isso, você sabe que o Brad tem ciúme até da própria sombra – Ri da cara de assustada que ela fez.

- Ta vendo Carly, você deveria ter ficado calada. Agora eu tenho uma arma contra você.

- Você tem milhares e eu sei que não as usaria contra mim.

-Mas eu devia você está me atrapalhando minha concentração no Peeta.

- O filme já está no fim e está tarde, será que eu posso dormir aqui?

- Aqui? Ta louca? – Ela fez uma cara triste – Tô brincando, Claro que pode né. Precisa nem perguntar.

- Claro que eu devia perguntar, não sabia qual seu nível de raiva por eu ter dado seu número ao Freddie.

- Relaxa Carly, eu não fiquei chateada não.

-Que bom, e me desculpa ta, Por eu ter feito isso sem te perguntar antes, agora eu vou me deitar que eu estou muito cansada – Ela se levantou, mas eu a puxei de volta.

- Não senhora. Antes me conta como foi com o Brad.

- O de sempre, ele me pediu desculpas e tentou se explicar, agora nós estamos bem, mas eu odeio essas crises de ciúmes dele.

- Odeio nada, eu sei que você ama isso.

- Ta, eu gosto de saber que ele se importa, mas precisa mesmo sair esbofeteando quem ele vê pela frente por besteira?

- O cara tentou te agarrar.

- Eu sei, mas você sabe que eu odeio violência. Agora tá tudo bem, mas não é a primeira vez que ele age assim. Isso vai acabar nos separando de verdade.

- É complicado mesmo – ela levantou novamente bocejando.

- Vou dormir agora ta? Boa noite.

-Boa noite. Eu também já estou indo.

Ela entrou no quarto de hóspedes que era dela já que pelo menos duas vezes na semana ela dormia aqui, eu continuei na sala ainda imersa em pensamento. Esse dia que prometia ser longo e tedioso foi cheio de surpresas. Limpei a bagunça que fizemos na sala, desliguei a TV e fui me deitar. Dormi bastante, me senti renovada dos acontecimentos do dia, meus sonhos foram invadidos por um par de olhos que a um tempo atrás eu achei que não veria mais.