Brighter. escrita por tanwss


Capítulo 6
Seis.


Notas iniciais do capítulo

Ok, se vocês estão fazendo alguma macumba pra minha inspiração vir, 'tá funcionando (amém). Mais um capítulo e que eu permaneça escrevendo assim.



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Entreguei para Annie uma toalha e uma roupa para ela trocar, ainda me perguntando o que tinha acontecido. Parte de mim queria enchê-la de perguntas, porém eu ainda tinha o bom senso dentro de mim e estava esperando ela se sentir confortável o suficiente para dividir comigo o ocorrido.
Depois de cerca de vinte minutos, ela saiu do banheiro com a toalha embolada no braço direito, um sorriso torto no rosto e com a minha blusa do Lennon amassada, que coube perfeitamente nela – e ficava gigante em mim, por sinal. Mesmo com seu cabelo bagunçado, a calça folgada de pijama e o jeito desleixado dela de ficar parada olhando pra mim, ela conseguia estar extremamente... sexy. Pisquei os olhos para afugentar os pensamentos de certa forma pervertidos que tomavam conta da minha mente.
– Coube. – disse ela, apontando pra camisa.
– Você tem sorte de eu vestir roupas de uns dois tamanhos acima do meu.
– Dois? Achei que fossem cinco. Você é pequena demais.
Revirei os olhos mas não pude evitar de soltar uma risadinha.
– Ahn... Você quer alguma coisa?
– Não, eu tô bem. – ela sorriu. Alguma coisa palpitou forte dentro do meu peito.
– ‘Ta bem mesmo? – eu podia ver que não.
– Uhum.
Suspirei e puxei a parte de baixo de minha bicama, que era onde eu geralmente dormia quando Sam e Lúcio tomavam posse de minha cama de casal.
– Gatinha, você não precisa se preocupar em arrumar a cama de baixo pra mim...
– Não é pra você. – bufei. – Eu vou dormir aqui. Você vai dormir na cama de casal.
– Não preci...
– Annie, você nunca daria nessa caminha. – apontei pra cama reserva. – E eu me mexo muito quando durmo.
– Eu babo. – ela riu.
– Eu sei. E ronca. – ela jogou a toalha úmida em mim, rindo comigo.
Minha mãe entrou no quarto deixando três filmes – que ela mesma tinha ido locar – para nós vermos, junto com dois sanduíches e dois copos enormes de Coca-cola.
– Se divirtam sem mim. Preciso dar plantão no hospital hoje, então se cuidem e qualquer coisa é só me ligar. Chego amanhã às sete. – ela abraçou Annie de leve e me deu um beijo na testa.
Deixei-a escolher o primeiro filme que viríamos. Minha mãe sabia que eu era uma amante de filmes de terror – pena que não os sabia escolher. Annie decidiu começar pelo terror barato, sentando-se ao meu lado e prestando atenção na tevê. Rimos juntas de todo aquele sangue artificial demais e Annie tinha que ficar me mandando calar a boca toda vez que eu começava a gritar com os personagens burros demais. No fim, o filme foi mais uma comédia do que terror, deixando-me com uma leve dor (boa) no abdômen devido as risadas exageradas que eu dera.
Ao verificar as caixinhas dos filmes novamente, percebi que um dos que haviam restado era um de meus filmes prediletos. Soltei um gritinho, fazendo Annie rir, e coloquei o filme pra rodar. Ao andar até a cama, tropecei três vezes em minha calça de vaquinha, que era bem maior do que o tamanho necessário para minhas pernas.
– Você se incomoda se eu for trocar isso? – eu disse, apoiada na cama depois de quase cair, fazendo um beicinho de birra.
Annie balançou negativamente a cabeça em resposta e saltitei para o banheiro para substituir a calça folgada pelo primeiro short que achei em minha gaveta de pijamas.
Ao me ver, percebi as sobrancelhas de Annie se arqueando e sua boca abrindo em um pequeno “o” durante três segundos. Pensei em ouví-la murmurar “por que diabos ela faz isso comigo”, mas ignorei e sentei-me ao seu lado para acompanhar o filme. Depois de passarmos meia hora em silêncio e eu não aguentar mais as perguntas martelando em minha cabeça, eu disse:
– Você não vai me dizer quem fez isso, não é?
– Isso o quê?- Passei a mão cuidadosamente por sua bochecha direita que estava inchada. Ela fez uma caretinha. – Não.
– Teimosa. – murmurei. Ela riu.
Continuamos em silêncio até o fim do filme, com exceção das partes em que eu repetia a fala junto com o personagem principal e Annie ria. Dessa vez ela não me mandou calar a boca.
Quando me levantei para trocar o filme, Annie soltou:
– Minha mãe.
De início não entendi. Achei que ela quisesse ligar pra mãe ou algo do tipo, pra avisar onde estava e que estava bem. Minha mão até se direcionou inconscientemente para o telefone que ficava em minha mesinha de cabeceira, mas os pontos se interligaram em meu cérebro. Apontei para os ferimentos em seus braços, boquiaberta. Ela abaixou a cabeça, envergonhada.
– Ela surtou. – Annie continuou falando, de cabeça baixa, quando sentei-me ao seu lado. – Alguém mostrou alguma coisa pra ela e ela simplesmente surtou. Cheguei em casa e ela começou a gritar comigo, perguntando por que diabos eu era uma aberração. – ela sorriu com o olhar vazio. – Ela tinha uma foto. Uma maldita foto. Quem levou isso pra ela? Não sei. – Annie suspirou e continuou, agora me olhando nos olhos. – Quer dizer, qual o problema se eu gostar de alguém que seja uma menina? Por que tanto problema nisso? Não só dela, mas de todo mundo? Qual o problema? Eu só queria entender...
– Shhh. Não tem problema nenhum, nós sabemos disso. – de repente me vi quase em cima de Annie, abraçando-a novamente. E vi, naquele instante que realmente não tinha problema nenhum.
Quem eu queria enganar? Eu gostava de Annie. Gostava muito mais do que eu queria ou deveria, mas gostava. Ninguém tinha nada com isso. Ela me fazia bem e algo me dizia que eu também a fazia. Não tinha maldade nisso. Não havia motivo nenhum para ter medo ou negar algo por um padrão estabelecido por alguém que deveria ter problemas mentais. Toda forma de carinho é válida.
Então, eu a beijei. O fiz porque cada pedaço mínimo de meu corpo queria isso, o fiz porque eu precisava, ela estava ali e parecia que cada vez que eu a tinha perto, precisava mais. Ela retribuiu gentilmente, depositando sua mão em minha cintura e apertando-a de leve. Prendi-a entre minhas pernas, subindo em seu corpo agitado e aproximando nossos quadris. Eu tentava lembrar que ela estava machucada e que eu precisava tomar cuidado, mas minha mente insistia em ficar tomada pela vontade de tê-la. Ela deixava suas mãos percorrerem por partes do meu corpo onde ninguém havia tocado, apertando minha cintura, apertando minhas coxas. Nossas respirações estavam aceleradas, enquanto ambos os corpos em cima de minha cama ficavam despidos.
Não precisamos da cama reserva aquela noite.

Despertei com sua mão em minha cabeça fazendo cafuné de leve. Eu podia sentir seu corpo se movimentar no ritmo de sua respiração. Pra cima, pra baixo, num ritmo constante. Isso me lembrava de coisas da noite anterior...
Suspirei, sorrindo de leve com as lembranças.
– Você rosna quando dorme. – ela disse, quebrando o silêncio.
– Hã?
– Rosna. Grrr. – ela simulou um rosnado de uma forma meio tosca, fazendo-me gargalhar. – Tipo cachorro.
– Você ronca, é pior do que rosnar.
– Você geme também.
– Acho que isso foi antes de eu dormir. – murmurei, corando e fazendo-a ficar sem graça. Depois de cinco minutos em silêncio, soltei “acho que preciso de um banho”, beijando sua clavícula e sentando-me com os pés pra fora da cama, até perceber que meu corpo estava completamente desprovido de qualquer peça de roupa.
– Acho que preciso de roupas também. – eu disse, tapando com as mãos o que estava a mostra e pegando o blusão que ela havia usado na noite anterior para me vestir.
– Você fala como se eu já não tivesse visto tudo. – ela disse, rindo. Como resposta, mostrei-lhe meu dedo do meio e fui tomar meu precioso banho.
Enquanto estava debaixo do chuveiro, lembrei-me do que Annie havia me dito na noite anterior – mais especificamente quando ela me falou de sua mãe. Lembrei de ela ter citado uma foto...
“Eu estou de olho em cada passo que você dá.”
Joey.
JOEY!
Ele jamais iria falar algo para minha mãe porque não ia querer me atingir diretamente, mas faria de tudo para me deixar afastada de Annie. Claro. Era tão óbvio!
No mesmo instante que percebi esse fato, saí correndo do banho com a toalha enrolada ao redor de meu corpo. Annie estava sentada em minha cama com meu violão no colo, tocando alguma canção que não distingui. Ela vestia apenas um sutiã e minha calça de vaquinha, o que seria engraçado se eu não estivesse tão tensa. Peguei no guarda-roupa a primeira roupa que vi – um vestido florido que ironicamente era minha peça de roupa mais querida por Joey – e saí correndo, logo depois de depositar um beijo em Annie que perguntava “onde você vai?”.
– Mãe, eu preciso do carro. – eu praticamente gritei para minha mãe, que estava sentada na sala lendo um livro qualquer.
– Bom dia pra você também, Marie.
– Mãe, o carro.
– Já falei que não adianta você saber dirigir que não toca no meu carro, mocinha. Só depois dos 18, quando tirar carteira. Diga aonde quer ir que eu te levo.
– Mãe, é rápido. Por favor. Além do mais, você não vai deixar Annie sozinha.
– Já disse que não.
Mãe... – eu estava chorando. Ela jogou a chave pra mim. Um a zero pra gatinha.
– Posso saber aonde você vai?
– Joey. – respondi, sentindo náuseas ao pronunciar o nome dele.
– Vocês vão voltar? – ela fez uma careta.
– Na verdade, espero que ele morra hoje.
Preciso confessar que eu não sabia dirigir bem. Não tinha tempo e muito menos paciência de praticar, além do que minha mãe não me deixava pegar em seu carro. Meu celular piscava, indicando que haviam mensagens não lidas. Eu apostava meus rins que era Annie.
Adentrei a casa de Joey sem me incomodar em tocar a campainha ou algo do tipo. Seu pai estava na sala, deitado no sofá vendo algum programa no SporTV e lendo jornal enquanto minha (graças a Deus) ex-sogra cozinhava algo que tinha um cheiro bom. Que lindo. A família feliz.
– Bom dia, Marie! O que nos dá a honra de sua presença singular? – o pai dele sorriu pra mim.
– Onde está Joey?
– Ah, que linda. – a mãe de Joey veio até mim. – Uma jovem tão apaixonada que nem se da o trabalho de tocar a campainha da casa dos outros de tão ansiosa que está para ver seu amado.
– Carmen, poupe-me da sua ironia que é tão nojenta quanto o seu filho. – cuspi. – Onde está o Joey?
Carmen permaneceu estática na minha frente, olhando-me boquiaberta. Suspirei impaciente e corri até o quarto de Joey, onde ele devia estar. Fui tão sutil ao entrar em seu quarto quanto fui ao entrar em sua casa. Seu quarto estava escuro, fedendo a maconha e ele ouvia alguma música com uma batida irritante.
– Finalmente você veio me ver. – ele se levantou de sua cama e veio em minha direção. Não me contive, enfiando meu punho no meio de seu rosto e sentindo seu nariz quebrar sob minha mão. Joey caiu no chão, gemendo baixinho.
– Tirar uma foto e mostrar para a mãe de Annie? Sério? Você é nojento, Joey. Baixo. Tudo o que eu precisava agora era de você dando ataques homofóbicos e querendo se meter na minha vida quando eu tenho a merda de um câncer pra cuidar.
– Você o quê?
– Nada que te interesse. Agora, por favor, para de tentar se meter na minha vida e me manter longe de Annie ou de qualquer pessoa que seja. Não estou dizendo isso por mim, estou falando por você, Joe. Você consegue ser melhor que isso e nós dois o sabemos. Só vim aqui pra dizer que você pode fazer o que quiser que não vai me tirar de perto dela.
– Veremos. – ele sussurrou. Bufei e virei-me de costas para ele, sentindo ele agarrar minha panturrilha. – Marie, eu só faço isso porque amo voc...
– Joey, por favor. Fazendo isso parece que você me odeia.
– Vou ter você pra mim de qualquer jeito. Eu não queria te machucar, mas pelo visto vou ter que fazê-lo. Desculpe. – ele disse em tom de ameaça.
– Veremos. Eu não tenho medo de você.
– Veremos. – ele repetiu, enquanto eu saia de seu quarto.


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Notas finais do capítulo

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