Brighter. escrita por tanwss


Capítulo 4
Quatro.


Notas iniciais do capítulo

FINALMENTE CONSEGUI ESCREVER ESSA BUDEGA! Eu só espero que gostem do que escrevi, que se divirtam e que sintam o mesmo sentimento que depositei - que Marie depositou - em cada palavra.
Boa leitura!



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Que merda eu fiz?
Foi a primeira coisa que eu consegui pensar logo depois de sorrir para Annie e vê-la fechar a porta da frente da minha casa. Lúcio e Sam me fitavam com uma expressão acusatória, sentados em meu sofá. Enterrei meu rosto em minhas mãos, suspirando pesadamente enquanto uma sensação de culpa me corroía por dentro, como se fosse um dinossauro comendo meus órgãos.
– É normal sentir toda essa... culpa? – choraminguei, deitando-me no sofá e encostando minha cabeça na coxa de Sam.
– É... – Sam riu, afagando o topo de minha cabeça, enquanto eu gemia fingindo chorar e fazendo um biquinho.
– É normal, meu amor. – Lu apertou minha panturrilha, que estava apoiada em suas pernas. – Tanto se sentir culpada quanto você gostar dela.
– Eu não gosto dela. – dei um pulo do sofá. – Eu não gosto de ninguém. E se eu gostar de alguém, vai ser de um menino. – bufei.
– Marie, eu vi o jeito que você olhava pra ela. A última vez que eu vi esses olhinhos brilharem assim, foi quando sua mãe te deu aquele disco fedido dos Beatles. – Lu me olhava com suas sobrancelhas grossas arqueadas e seus olhos grandes me fuzilando.
– Ou semana retrasada, quando ela comeu o x bacon da pracinha. – Sammuel completou.
Olhei para os dois com uma expressão entediada e só consegui pronunciar um “vão a merda” antes de subir as escadas correndo em direção ao meu quarto.
Enquanto eu observava a água que escorria pelo meu corpo descer pelo ralo, eu esperava que toda confusão que passava pela minha cabeça descesse junto com a sujeira que saia de meu corpo. Ao sair do banho, fitei meu rosto no espelho, com meus cabelos molhados colando em meus ombros e meu olhar que parecia mais o de uma criança de dez anos.
Uma criança não beijava meninas. Só fazia suas Barbies se beijarem. Pelo menos eu.
Depois de me vestir, abri meu armário de remédios e tomei três comprimidos de analgésico. Esperava que isso me fizesse dormir.
Desci as escadas com minha cara de pinto molhado e ao chegar na cozinha, avistei minha mãe cozinhando algo que tinha um cheiro agradável enquanto tagarelava algo sobre seriados com meus melhores amigos.
– Vocês vão dormir aqui? - perguntei, recebendo dois sorrisos maliciosos em resposta. – Ok, mas quem convidou?
Eu convidei, Marie. Inclusive, boa noite pra você também. – minha mãe sorriu pra mim, que respondi apenas com um sorriso forçado.
Eu podia começar a sentir os remédios fazendo efeito; meus olhos pesavam e eu me sentia meio molengas. Cruzei os braços e depositei minha cabeça sob eles, dormindo ali mesmo.

A risada alta e nada discreta de Lúcio me despertou, fazendo com que minha cabeça que já estava dolorida latejasse ainda mais. Peguei a almofada que estava ao meu lado e a joguei em seu rosto com toda força do mundo (que era transformada em nada devido ao fato de eu ter acabado de acordar e ainda estar me sentindo molengas), fazendo-o rir ainda mais.
– Bom dia, gatinha! – Lúcio gritou ainda mais alto.
– Vai se foder, tô com dor.
– Pois essa dor tem que passar porque você tem um encontro marcado pra mais tarde.
Eu tinha um encontro e nem sabia. Ótimo. Isso estava me cheirando a... tretas.
– Quem tem um encontro? – Sam saiu do banheiro só de toalha com o cabelo molhado, sorrindo pra mim. Em resposta, o olhei com cara de nojo. – Espero que não seja com um menino, porque disso ela não gosta.
As lembranças do dia anterior me atingiram como socos no estômago. Enterrei minha cara no travesseiro e tudo o que eu queria fazer era sumir. Desaparecer. Olhei para Lúcio e ele estava com um sorrisinho pervertido no rosto, o que me provocou calafrios.
– Quero que você esteja linda e gostosa às 18h30. Annie vai estar te esperando lá pr’umas 19h. Eu e Sammy vamos com você.
– Eu não quero sair com ela. – cuspi.
– Mas eu quero que você saia. E eu, como seu irmão mais velho de mentirinha, tô mandando você ir. – Sam soltou.
Ahhhh merda. Odeio vocês. Sério. Eu vou cancelar isso agora mesmo. – depositei a mão debaixo do meu travesseiro, onde eu sempre colocava meu celular antes de dormir. Tão vazio quanto... o meu estômago. Merda. Fui dormir sem comer.
Eu tinha dormido na mesa de jantar e meu celular...
– Você. Não. Fez. Isso.
– Se eu peguei seu celular enquanto você dormia e marquei um encontro com a Annie? Sim, eu fiz. Mas ela que convidou, ta bom? Só fiz aceitar por você, porque eu te amo e sei que você quer ir.
– Não quero nada! – gritei, socando minha coxa direita.
– Cara, você é demais. – Sam falou, piscando pra Lúcio.
– Eu sei. – eles depositaram um selinho um no outro.
– Vocês são nojentos. Eu odeio vocês mais que tudo nessa MERDA de vida.
Saí marchando do meu quarto e a última coisa que ouvi Sammuel pronunciar foi “mais tarde ela irá nos agradecer.”
Veríamos.

Depois de os meninos se despedirem de mim e eu ignorá-los como resposta, eu só conseguia andar de um lado para outro dentro de meu quarto. Eu sabia que queria ver Annie mais que tudo naquele momento, mas eu insistia em dizer a mim mesma que eu não queria vê-la, que o que eu havia feito tinha sido errado e que aquilo iria acabar ali. Então, eu tinha três alternativas:
A) Dar o bolo nela e fingir que nada tinha acontecido, evitando-a do jeito mais frio possível (o que estava fora de cogitação; eu nunca conseguiria fazer tal coisa);
B) Ligar para ela e cancelar tudo, inventando uma dor de cabeça insuportável e uma náusea sem fim, destacando como eu odiava passar mal (era uma boa, tirando o fato de que eu, definitivamente, não sabia mentir);
C) Parar de mentir pra mim mesma e ir para a tal pub onde Annie ia tocar com sua banda, vê-la e parar com essa culpa sem nexo nenhum.
Preferi a segunda alternativa.
Peguei meu telefone de cima da mesinha de cabeceira, onde Lu havia deixado antes de se despedir de mim com um sorrisinho e sair de nariz empinado do meu quarto. Disquei o número de Annie, que depois de dois toques atendeu.
– Oi, gatinha. – ela falou. Eu podia visualizá-la com uma blusa larga, de calça jeans e suas meias coloridinhas, jogada em sua cama com seus cabelos bagunçados enquanto falava comigo.
– Oi. – respondi secamente. Senti um aperto no peito, mas ignorei. – Então, sobre mais tarde...
– Ah, esqueci de perguntar se você quer que eu te leve. É um pouco longe da sua casa, então eu podia passar aí e te buscar com os meninos da banda e...
– Annie, acho que não vou. Eu to... com muita dor de cabeça. – Droga, pensei. Dor de cabeça era uma desculpa muito esfarrapada. – E eu tô com enjoo e tontura, não to me sentindo muito bem e...
– Mas por que? – sua voz sempre grave havia ficado fininha no exato momento em que ela pronunciou essas palavras, fazendo meu coração já apertado despedaçar-se. – Toma alguma coisa, um remédio, sei lá.
– Se eu melhorar até mais tarde eu prometo ir. – eu disse, cruzando os dedos.
– Tudo bem. Me avisa se quiser carona. – ela desligou.
Suspirei pesadamente, jogando-me em minha cama e enterrando minha cabeça em meu travesseiro e ficando assim durante as duas horas seguintes, com minha dúvida idiota entre ir para o pub e ficar em casa arrependida de não ter ido.
– Marie, por que você não me avisou que ia sair? – minha mãe perguntou, de braços cruzados na porta do meu quarto.
– Mas eu não vou...? – minha entonação fez a frase virar uma pergunta.
– Por que Lúcio ligou pedindo pra você se arrumar porque ele e Sammuel irão passar aqui em 1h?
Que merda! ­­­– eu gritei, sentando-me e atirando minha almofada no chão. Senti minha visão escurecer devido movimento brusco que eu acabara de fazer. – Eu já falei pra eles que eu não quero ir. Eu só quero ficar em casa.
- Se for por minha causa, pode ir. Acho que você ta precisando. E não joga a almofada no chão porque não é você que lava. – minha mãe jogou um beijo pra mim, que respondi mostrando-lhe a língua e me sentindo com cinco anos novamente.
Eu sabia que se eu não fosse pra esse show idiota eu ia ficar me lamentando em casa. Sabia também que se eu não me arrumasse, Lúcio e Sammuel iriam insistir para eu ir até a minha morte. Foda-se, pensei, tirando minhas pantufas e jogando-as longe. Eu ia, eu queria ver Annie. Quem mais eu queria enganar além de mim mesma?
Depois de um banho rápido, abri meu guarda roupa e peguei o primeiro short jeans que vi na minha frente, combinando com uma blusa cinza surrada que caía em meu ombro e meu tênis preto (de cor e de sujeira). Depois de olhar-me mil vezes no espelho, fitando cada traço de minha maquiagem pesada em meus olhos e de minhas roupas, decidi que estava razoável.
Ouvi as risadas de meus amigos e instantaneamente sorri, ficando feliz por minha decisão. Minha mãe estava certa: eu precisava sair um pouco.
Lorena abriu a porta de meu quarto e sorriu para mim, correndo para me abraçar. Retribui seu abraço e observei a cara fechada – mas ainda perfeita – de Juliana no outro lado de meu quarto. Levantei uma sobrancelha para ela, que revirou os olhos para mim. Ela e Lorena haviam brigado. De novo. Normal.
Lucy estava com seu braço apoiado no ombro de Juliana, provavelmente consolando-a pelo estresse ocorrido. Ela sorriu pra mim, com seus olhos sempre brilhantes.
– Estamos felizes por você ir. – ela falou para mim, que suspirei em resposta.
– Se a gente chegasse aqui e você ainda estivesse de pijama, todo mundo ia te matar. – Lorena puxou uma mecha de meu cabelo.
– Esquartejaríamos você. Um pedaço pra cada. – Juliana completou a fala de sua (secretamente) amada.
– Agora vamos! Aproveitem a oportunidade de que peguei o carro de minha mãe emprestado hoje. – Sam brincou com as chaves em sua mão, fazendo Lúcio rir ao seu lado.
Era incrível como eu amava cada um deles.
Depois de despedirmo-nos de minha mãe, apertamo-nos dentro do carro minúsculo da mãe de Sam e partimos até a pub.

– Acho que a cidade inteira teve a mesma ideia que a gente. – Juliana falou com uma expressão entediada que me fez rir. Realmente a frente da minúscula casa de festas de nossa cidade estava abarrotada de adolescentes alegres e alguns até bêbados. Compramos nossos ingressos de cinco reais cada um (RÁ!) e entramos espremidos dentro daquela coisa que mais parecia um buraco.
O som do baixo na música estava pesado, o que fazia meus ouvidos doerem um pouco. Apesar dos aparelhos de climatização e ventiladores, o ambiente permanecia abafado devido a quantidade de pessoas contidas nele. As luzes do “palco” me cegaram de início, mas logo me acostumei. Vi a silhueta de um cara meio gordo no palco, que parecia afinar a guitarra e lembrei do motivo pelo qual eu estava ali.
– Preciso encontrar Annie. – eu disse no ouvido de alguém que não vi quem era, apertando a mão que segurava a minha.
– Eu vou com você. – Lucy respondeu, apertando minha mão de volta. Então, entramos no mar de gente que estava na nossa frente. Eu puxava Lucy em direção do palco, e ela apertava minha mão mais forte para não nos perdermos uma da outra. Foi aí que a vi, meio escondida ao lado do palco.
Ela estava de jeans, blusa larga e seu cabelo solto ao redor de seu rosto, como de costume. Annie sorria, enquanto conversava com mais cinco caras que não me importava muito quem eram. Gesticulava e falava de um jeito engraçadinho, enquanto momentaneamente tirava alguns fios de cabelo de seu rosto. Eu queria gritar seu nome, mas eu sabia que ela nunca iria me ouvir devido a musica alta que tocava na pub.
– Você podia parar de tremer e apertar minha mão ao mesmo tempo. Ta me machucando. – Lucy gritou em meu ouvido, fazendo-me largar sua mão subitamente. Olhei para ela, que balançava a mão fazendo uma caretinha de dor. Sorri para ela e pisquei como forma de pedir desculpa. Olhei para Annie novamente, não querendo perde-la de vista. Puxei Lucy comigo para mais perto do palco, na esperança de que Annie me visse. Ouvi Lucy falar um “é ela”, em forma de afirmação. Ela já havia entendido.
Finalmente, cheguei próximo o bastante para que a guria me visse, e meu objetivo foi alcançado. Ao me ver, primeiro ela semicerrou os olhos e uniu as sobrancelhas. Sorri e acenei para ela, e pude ver que ela soltou uma gargalhada ao ver que eu era eu. Ela correu até mim, esbarrando violentamente em quem estava em seu caminho, de um jeito que me fazia rir.
– Sua dor de cabeça melhorou, afinal. – ela disse, me abraçando e me erguendo um pouquinho, em forma de zombar com minha baixa altura.
– É. Eu vim. – dei de ombros quando ela me soltou.
– Você está... – Annie levou sua mão até minha nuca, puxando meu cabelo de leve, fazendo-me sentir um arrepio da cabeça aos pés. Ela balançou a cabeça, mordendo o lábio e rindo, enquanto soltava meus cabelos e os arrumava com cuidado.
De repente, o mesmo gordo que estava afinando a guitarra começou a falar num microfone. Eu não prestava atenção; só conseguia sentir a mão de Annie pousada cuidadosamente em minha cintura. Sentia longe – bem longe­ – a mão de Lucy na minha.
Merda. – murmurei comigo mesma. – Lucy, essa é Annie. – eu gritei, tentando fazer com que as duas me ouvissem. Lucy acenou alegremente para Annie, que sorriu em resposta. Peguei-me sorrindo observando seu sorriso. Era instantâneo. E irritante às vezes.
– Acho que tenho que ir. – Annie falou em meu ouvido. – Não vai embora sem falar comigo antes, por favor. No fim do show eu te procuro, prometo.
– Vou ficar aqui. – eu disse, olhando em seus olhos e sentindo-me derreter por dentro.
Annie então olhou para os dois lados, suspirou pesadamente e depositou um selinho rápido em minha boca, surpreendendo-me até demais. Arregalei os olhos para ela, que apenas sorriu e saiu andando. Lucy me olhou com os olhos arregalados, apenas refletindo minha expressão naquele momento.
O show havia começado, e eu observava Annie atentamente de onde eu estava. Novamente, peguei-me sorrindo ao observar sua graciosidade, de certa forma grosseira, mas ainda era encantador.
De repente, senti uma mão grande e pesada me retirar de meus devaneios, apertando meu braço de uma forma violenta. Gritei em protesto, mas ninguém conseguia me ouvir; os acordes que minha guria reproduzia em seu instrumento tomavam conta de cada pedaço daquele lugarzinho. Virei para o lado para avistar o dono daquela mão, e vi Joey me olhando com uma expressão de raiva, os olhos vermelhos e... cheios de lágrimas?
– Eu estou de olho em cada passo que você dá. Quero te lembrar pra tomar cuidado com as tuas atitudes. Sapatão. – ele pronunciou a última palavra de uma forma tão estúpida que eu me encolhi. Observei-o se afastar de mim e olhei para Lucy, que me perguntava o que tinha acontecido. Nem eu sabia.
– Acho que ele viu Annie... – fiquei sem chão. No momento, meu único medo era que Joey fizesse alguma coisa à guria. Tudo começou a girar ao meu redor, ao mesmo tempo em que eu sentia uma náusea forte. Abracei Lucy e pedi-a para me segurar, enquanto eu escondia meu rosto em minhas mãos, respirando fundo e tentando fazer aquilo passar. Por um momento, pensei estar sentindo a mesma cólica chata de sempre, mas a sensação passou.
E voltou, depois de dois minutos. Eu tentava me distrair com Annie, tentava ouvir o que eles tocavam, tentava senti o chão debaixo de meus pés, mas eu só sentia uma pontada em meu abdômen. E ficava cada vez mais forte. Tão forte, que eu sentia que estava me encolhendo cada vez mais. Fechei os olhos, gritando e apertando o lugar de onde vinha a cólica insuportável, tentando manda-la embora, mas ela permanecia ali. Cada vez mais forte.
E então, tudo girou e escureceu.


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Notas finais do capítulo

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