Inexplicável escrita por Pear Phone


Capítulo 24
Fim - parte II


Notas iniciais do capítulo

Fim? Pois é, já é o fim.

Eu agradeço tanto por minhas duas recomendações, de ParisLloyd e Lanny Puckett *-*

Eu agradeço tanto por cada review sincero, por cada leitor... eu simplesmente agradeço por ter chegado até aqui, com vocês.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/404333/chapter/24

"O destino está sempre lá, nos pregando peças e entrando sem ser convidado."

Cabelos ao vento e dúvidas em mente. Samantha permanecia andando pelas ruas de Seattle, até ver-se em frente ao condomínio onde a morena costumava morar. Lembrava-se que, horas atrás, Harold havia lhe dito que eles já se relacionaram amorosamente ou algo do gênero, porém pouco importava-se com tal omissão. Na verdade, sentia pena do loiro por ser atraído de tal forma... e por Carly. De todo jeito, o pensamento de entrar no prédio e investigar a volta da jovem de cabelos negros para New Jersey lhe veio em mente, e já estava em prática.

Quanto mais adiasse sua conversa com seu possível ex-marido, melhor.

Ela adentrou a portaria.

— Pois não?

— Carly Shay está no prédio? — interrogava, objetiva.

— Desculpe-me, a senhorita Shay não quer receber visitas. — Sam torceu os lábios após a afirmação que escutara.

— Então... já estou de saída — mentiu.

— Volte sempre!

Assim que a mulher distraiu-se com os dados do computador, a loira correu pelos corredores do edifício, rapidamente.

Talvez rápido demais.

Sentiu seu corpo chocar-se com um alguém não identificado, e depois com o chão, após subir a primeira das escadas em direção ao apartamento de Carlotta.

— Eu sinto muito — ela disse sem fitar a quem esbarrara.

— Eu também — o homem afirmou, na mesma situação.

— Freddie? — assustou-se ao encarar a face do moreno. Ela chegava a sentir um pouco de ciúme sem mesmo saber o motivo que o levava a dirigir-se até aquele lugar.

— O que está fazendo aqui, Sam?

— Eu que lhe pergunto!

Desde sete dias atrás, quando haviam dado um intervalo na conturbada relação que permaneciam mantendo, ambos agiam de maneira indiferente para com o outro. Mal pareciam adultos.

— Vim aqui por causa desse bilhete. — Ele estendeu suas mãos para que ela pudesse enxergá-lo.

Logo, ela o tomou sobre as mãos, deixando que seus olhos, os lindos olhos azuis que tiravam o fôlego de qualquer um — ele pensava —, rolassem sobre cada letra escrita por aquela caligrafia bem feita. Após ler o pequeno bilhete, porém tão revelador, ela parou perplexa e evitou encarar as íris castanhas que fixavam-se sobre ela.

— Foi a Carly? Quem escreveu, Freddie? Onde achou isso? — indagou de uma só vez.

— Não existe outra alternativa, estava no porão de Joe. Só ela pode ser a remetente, Sam.

— Veremos. — Pela primeira vez, ela o fitava diretamente. — Você... estava no apartamento dela?

— Sim.

— Me leve até lá.

O caminho até a moradia de sua ex-melhor amiga fora silencioso, a menor porcentagem de contato visual possível. Comunicavam-se basicamente através de visão periférica.

Assim que chegaram até lá, ela adentrou o cômodo vagarosamente, que ainda encontrava-se exatamente como havia visto da última vez em que a visitou. As mobílias continuavam distribuídas em seus devidos lugares, como se nada fosse alterado. Aparentemente, a morena não estava de mudança, apenas queria deixar tudo para trás.

— Veja se consegue perceber algo que condene o comportamento de Carly. Você a conhecia tão bem... e é bem melhor em "investigar" do que eu — afirmou a tirando de seus devaneios.

— Tudo bem. O melhor lugar para procurar o que quer que seja seria o quarto dela — dizia, receosa. Obviamente não desejava ouvir que ele havia ido até lá, mas não podia deixar de apontar o fato.

— Eu não me atreveria a ir até lá. Mas você...

Ela reprimiu um suspiro de alívio.

— Você sabe que eu me atrevo a tudo — completou sua frase, deixando um sorriso escapar. Ele retribuiu.

Arrastou a porta ouvindo um leve ranger da mesma. Freddie a seguia. O quarto de Carly estava perfeitamente arrumado, seus pertences de mesma forma e as roupas organizadas dentro de seu armário. Seus objetos íntimos enfileirados em uma pequena cômoda, junto a seu porta joias e outros. Havia um criado-mudo ao lado da cama um pouco desdobrada que despertava a atenção da jovem de cabelos loiros, por ali haver uma caneta e um bloco de anotações. De imediato, revirou as páginas do bloco, mas nada encontrou de surpreendente. Eram apenas notas do dia, de futilidades a compromissos e atividades importantes que ela deveria de fazer. Se fosse algo assim, tão interessante, ela nem ao menos deixaria exposto antes de partir — pensava. E era exatamente isso. Cogitou que as coisas que tanto procuravam não estariam à mostra, seria muito fácil encontrá-las. Claramente, havia algum cofre, algum esconderijo onde ela guardava seus possíveis segredos. A morena era, de fato, muito cautelosa.

Reviraria quase todo o prédio em busca de respostas.

— Está procurando nos lugares mais improváveis — Freddie sugeriu.

— Deixe-me fazer o meu trabalho. — Desviou novamente o olhar.

— Se continuar me evitando será ainda mais difícil terminá-lo.

— Que seja, Benson.

— Desde quando está falando comigo desse jeito?

— Desde sempre.

Ambos deixaram que, mais uma vez, o silêncio dominasse o ambiente. Em meio a tensão momentânea em que meteram-se, Samantha havia encontrado um computador embaixo da cama.

— Encontrou algo? — Ele caminhou em direção à cama e sentou-se ao lado de Sam.

— Parece que sim, ou esse computador é invisível? — ironizou. — Ela escreveu em um tipo de "diário" e o salvou antes de ir.

— Leia para mim.

Ela começou o discurso:

"Sou eu mesma, Carly Shay.

E, sim, presumo que alguém, em algum dia, irá encontrar esse computador embaixo da minha cama e ler cada uma das palavras que descrevo aqui. E se o meu pressentimento se realizou, esse alguém é você — e eu realmente não sei quem você é.

Desde que eu voltei para Seattle, pensei em rever meus antigos amigos e viver uma vida como eu tinha, ou ao menos me recordar de parte dela. Ao contrário disso, quando cheguei aqui, a primeira coisa que descobri foi o fato de minha melhor amiga estar se divorciando do meu melhor amigo. A primeira coisa que eu pensei em relação a isso? Nada. Eu simplesmente não podia acreditar que tudo isso havia acontecido enquanto eu estava em outra cidade, em outro lugar. Eu não conseguia imaginar que eu tinha deixado de aconselhá-los a fazer o certo. Eu não aguentava me ver nessa situação. E então, eu fiz o máximo, eu tentei, eu queria me livrar de todos esses momentos que eu não presenciei, mas só piorei as coisas. Eles não me viam mais como uma melhor amiga e sequer como uma amiga de infância. Eles estavam concentrados demais na vida que construíram e eu descobri que o certo era deixá-los vivê-la. Ou não.

Foi quando, na noite seguinte, me vi com um homem que eu nem sequer havia me dado o prazer de conhecer. Nos embebedamos e acordamos nus em uma cama. Então, quando me lembrei de parte das besteiras que tinha feito, percebi que ele era o único que importava-se em me ajudar. Eu me vi tão facilmente apaixonada por ele... e ele parecia sentir o mesmo. Harold. Harold Backer, era o nome dele. E que nome lindo, que olhos lindos, que homem lindo eu estava me dando o prazer de, finalmente, conhecer como deveria. Nunca mais fizemos amor depois daquela vez... Porque em poucos dias minha vida mudou completamente de novo. Eu realmente não pude evitar, mas eu o reencontrei e quase nos tornamos... namorados, talvez. Quem sou eu pra falar de namoro? Uma viúva.

E eu me sentia tão sozinha, andando pelas ruas, mas ele estava lá. Ele estava lá, como se esperasse por mim. Sempre fazendo o certo e me apaixonando cada vez mais... E o que eu fiz? Eu me deixei iludir pelas barbaridades que o passado me fez. Quando menos esperava, os braços de Harold estavam tão distantes.

E foi quando, de repente, tudo mudou. Eu fui sequestrada por Joe Terry e ele me obrigou a ajudá-lo no seu plano. E qual era o plano? Claro, o plano era separar meus melhores amigos que eu queria recuperar. Ele me seduziu e eu fingi cair em suas armadilhas. Meu objetivo? Enganá-lo e me vingar de sua pessoa. Ele conseguia ser tão... sujo. Ele era um dos piores ladrões com que já me relacionei, mas quase não mostrava isso. Mas eu sempre fui mais esperta que ele, desde Paris, quando nos conhecemos. Ele não podia me enganar. Eu virei o jogo e fiz a minha parte para torná-lo um fracasso total, eu descobri cada um dos segredos que ele escondia e cada uma de suas mentiras. Hoje, para quem quer que esteja lendo, irei dizê-las:

Ele começou tentando me comprar me dizendo um suposto segredo, que no entanto era falso. Ele disse que Sam roubava os investimentos da empresa de Freddie, quando era ele mesmo quem roubava. Em seguida, ele dizia-me ter conseguido provas de que Sam era estéril e que iria usá-las para pôr o casamento deles em risco... Era tudo tão... sujo como ele. E eu acreditei, de início. Me deixei enganar, me achei certa fazendo tudo aquilo. Não sei qual era a minha intenção, mas eu entrei naquele jogo e aceitei a proposta de seduzir Freddie. Mas ele não prestava atenção em mim, isso nunca teria sucesso. Não atendia meus telefonemas. Não respondia minhas mensagens. Ele estava tão preocupado em ser um bom marido que mal podia perceber o quanto estava sendo roubado! Ele se deixou enganar por uma mentira, o plano do Joe estava dando certo. E um dos planos do Joe era me enganar, mas ele nunca soube que eu não estava sendo levada pelas calúnias dele. Eu nunca me deixei levar e não me deixaria agora. Ele também tentou fantasiar minha mente contra Harold da maneira mais inacreditável.

Tempos depois, descobri que Joe estava me usando, claramente. Ele sabia que eu nunca estaria ao lado dele e me deixou fazer Sam desconfiar de um "plano" por parte dele. Mais uma preocupação que tiraria as atenções da empresa, ele já havia começado suas estratégias desde que... Desde que inventou a mentira de que ela estava morrendo.

E, não, Sam — se você chegar a ler isso. Você nunca esteve morrendo. Durante esse tempo todo, era só o Joe nos fazendo de idiotas. Se vingando pelos tempos de Paris. E, sim, Sam, a culpa é toda minha. É por isso que eu fui embora. Coloquei todos os que eu amava em risco e agora chegou a minha vez de sofrer, porque eu não sofri o bastante, não é mesmo?

Mas, Sam — se um dia for realmente possível que você esteja lendo isso, eu ainda vou fazê-lo sofrer por tudo que fez. Eu juro. Assim como ele pensou me enganar. Da mesma forma que você e o Freddie se amam, eu vou vingá-lo da forma mais inexplicável."

[...]

Um mês se passou.

Carly e Rachel foram dadas como mortas.

Sam e Freddie ainda estavam brigados.

O falso médico que Joe havia contratado fora preso.

Joe estava em um sanatório, depois da morte de Carly, e Freddie recuperou cada centavo que ele havia roubado.

Harold havia seguido em frente.

E a loira estava com todas essas coisas na cabeça.

— Sam? — Freddie disse batendo na porta de seu quarto. — Eu preciso lhe contar que... não podemos mais viver assim. Não há nada que nos impeça. Eu assinei a minha parte do divórcio, você precisa assinar a sua.

— Tudo bem.

— Nós já escondemos coisas demais um do outro.

Ela ficou o olhando e não acreditava que finalmente seria o fim de seu casamento. Hesitou em estender suas mãos para pegar o documento e simplesmente encarou a folha, com o espaço de sua assinatura em branco e o preencheu. Ela nunca imaginou que o veria exigindo que se divorciassem... Era ele quem não queria isso, desde o início. Seu corpo saiu de seu controle e caiu de encontro ao chão.

E ela acordou horas depois, em uma sala de hospital, com o soro sendo infiltrado em suas veias.

— O Joe conseguiu o que ele queria antes de ser internado em um hospício — ela afirmou, quase que para si mesma, sem esperar ser respondida por alguém.

Um tempo se passou e ela sentiu um hálito quente envolvê-la:

— Não, Sam, ele não conseguiu.

— Freddie? — ela dizia, a voz rouca e forçada.

— Quer se casar comigo outra vez? — ele indagou, ajoelhado, com um anel sobre as mãos, em direção ao leito onde Sam estava deitada. — Finalmente consegui enganar Samantha Puckett, não é mesmo?

Ela ficou um tempo o encarando e em seguida sorriu.

— Sim e sim – ela finalmente disse. — Eu te amo tanto.

— Eu também te amo, muito. — O moreno beijou os lábios dela com leveza, até receber olhares de algumas pessoas daquele hospital. — Não, não... Eu te amo mais que muito.

— Quando sairmos daqui, quero que você esteja na minha cama — a loira disse baixo para que as enfermeiras não escutassem.

— Acho que darão alta logo. — Lançou-lhe um sorriso malicioso.

— Ótimo.

Segundos passaram-se.

— Sabe, eu acho que a Carly tinha razão — Freddie disse, lembrando-se daquele dia em que leram o documento naquele computador.

Ela agarrou as mãos dele, o fazendo se aproximar.

— De que razão você fala?

— Eu e você passamos muito tempo tentando descobrir o que sentíamos, mas quando o amor tem explicação, não é amor de verdade, Sam. O nosso amor é um dos poucos amores do tipo... inexplicável.

Ela sorriu e disse, sem arrepender-se:

— Depois de tudo isso, eu nunca tive tanta certeza de que te amar não é errado.

Na verdade, amá-lo é uma das coisas mais certas que já me permiti fazer em toda a minha vida.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Fim? Não, apenas o início... :'(

Merece um epílogo? Sim, claro ou com certeza?

Se vocês quiserem, eu posto.