Fui designado para protegê-la de todo mal. Eu era apenas um novato nisso tudo, havia morrido há pouco tempo. Dizem que os que morrem cedo e com o corpo puro viram anjos. Realmente, pelo menos comigo foi assim.

Minha primeira missão era proteger Kouki Naruki, uma menina que acabara de nascer. Todo bebê que nasce, recebe um anjo da guarda que o protegerá até a morte e fará com que ele cumpra seu destino. Caso o anjo faça algo que impeça que o que está escrito seja feito, ele é severamente punido.

Nos primeiros anos de vida, nós observamos nossos protegidos de longe, em nossos corpos normais, invisíveis aos olhos humanos. Mas passado um tempo, é necessário que nos aproximemos de nossos humanos, nos fazendo viver num corpo de carne e osso até que seja necessário. Após a morte de nosso protegido, somos designados para outro recém-nascido.

Kouki Naruki sempre fora uma garotinha adorável. Delicada como uma flor, mas com uma grande força de vontade desde pequena. Sempre se metera em confusões, pelo mau-costume de comprar a briga dos outros. Seu senso de justiça era muito forte. Mas apesar de tudo, era uma boa menina.

Chegou o dia em que completaria seus 18 anos. Finalmente eu entraria em ação, com um corpo humano, para ficar mais próximo dela. Eu, que vi aquela menina dar seus primeiros passos, falar as primeiras palavras estava até emocionado de ver como a vida passa rápido.

14:56 do dia 31 de Agosto, exatamente quando ela completara 18 anos. Uma luz forte envolveu meu corpo, e logo comecei a sentir o sangue correndo por minhas veias... Como era boa aquela sensação! Sentia-me vivo novamente!

Tinha uma imagem aparentemente de uns 20 anos, idade com que morri. Sempre fui muito tímido no assunto garotas, por isso morri virgem. Mas mesmo voltando a ser "humano", não posso me envolver aqui. Para um anjo, se apaixonar por um humano é estritamente proibido.

Naruki entrou na faculdade no ano seguinte. Faria um curso de Psicologia. E claro que eu faria o curso de psicologia da faculdade junto com ela, para ficar mais fácil a aproximação. Anjos são dotados de extrema sabedoria, portanto, provas como vestibulares são fáceis para nós. Até então, apenas observei-a de longe, até que chegou o dia de entrar em ação.

No primeiro dia de aula, tive a sorte de conseguir um lugar ao lado dela. Seria sorte mesmo, ou Deus teria preparado isso para mim? Assim como os humanos, anjos também têm destinos para serem cumpridos. Mas nosso diferencial, é que não morremos.

Seu rosto parecia ainda mais belo de perto. Sempre fora uma garota muito bonita e muito cobiçada entre os homens. Devo admitir que isso me gerava um pouco de ciúmes, ainda tenho o péssimo hábito de possessão de quando era humano, e ela era a minha protegida.

De fato, ela seria a típica anja. Pele clara, olhos azuis, cabelos loirinhos e cacheados. Só faltavam as asas... Seus olhos estavam atentos para porta, provavelmente estava nervosa, esperando o professor entrar para começar a primeira aula. Já era um bom motivo para começar a conversar com ela.

- Também estás ansiosa para a primeira aula?

Seu olhar recaiu sobre mim, e na sua boca surgiu um terno sorriso. E um pouco tímida, ela falou:

- Sim... Sempre foi meu sonho entrar numa universidade... E agora, eu o realizei! Mas admito que estou com um pouco de medo também...

Ela continuou a olhar para mim com aquele olhar cristalino e inocente.

- Prazer, sou Kaidou Matsui. - Deus havia me dito para usar este nome, apesar de eu não gostar muito... Estendi a mão para cumprimentá-la. Ao contrário do que eu esperava, ela deu um delicado beijo em minha bochecha e disse:

- Prazer, sou Kouki Naruki. - E dizendo isso, novamente soltou um belo sorriso, o que fez meu coração pular dentro do peito. Nem quando estava vivo sentia meu coração bater tão forte.

As aulas foram passando. Prestávamos atenção em tudo, e nos intervalos, conversávamos sobre diversos assuntos. Para dois recém-conhecidos (pelo menos para ela), estávamos nos dando muito bem.

Finalmente, nosso dia dentro da faculdade acabou. Ela perguntou onde eu morava, disse-lhe que estava num hotel, ainda não havia achado um apartamento próximo da Universidade. Ela disse que estava em um apartamento, herança de seus avós, e queria transformá-lo numa república.

- Aí, quando finalmente a república estiver aberta, você pode morar lá! - E novamente sorriu.

Aquele sorriso me trazia uma sensação boa... Uma sensação de paz... Mas o que estava acontecendo comigo?

Despedimos-nos e me dirigi ao hotel onde estava. Entrei em meu quarto e abri minhas asas. Ficar com elas guardadas dentro do corpo deixavam-nas doloridas...

Me atirei de bruços na cama, e não conseguia parar de lembrar daquela face angelical, daquele sorriso inocente, daquela voz tão doce...

Será que eu estava... me apaixonando?