Esqueci-me de dizer,mas já não vou no Cadillac cor-de-rosa com os meus pais até Gretna Green.Como a viagem para a Escócia é no mesmo dia que o meu exame de piano,decidimos que eu faria o exame,e depois ia com o avô até à estação para apanhar o comboio das 18h23.Deve dar certo.

No dia seguinte…

–Muito obrigada menina Oliveira. (esse é meu sobrenome) Agora pode ir.

Respiro fundo e agradeço ao examinador,ele faz um sinal de assentimento com a cabeça,sorri e escreve no seu bloco enquanto saio da sala.Acabou,e eu portei-me bem.Sinto-me aliviada e com o coração mais leve.A Prof. Luísa está cá fora à espera,sentada nas poltronas.

–Foi ótimo,Soraia,pelo que eu ouvi.De certeza que passate!

–Obrigada professora,foi tudo graças a si_digo,entregando-lhe um presente que tinha comprado.

Conversamos um pouco e depois saí do edifício,à espera do meu avô.

–Soraia!_a minha tia está a acenar do passeio com o Totó a trotar atrás dela,preso pela trela.O Totó é o nosso cão.

–Tia! Não estava à espera de te ver aqui!_digo quando ela chega ao pé de mim.-Onde está o avô?

–O teu avô não pôde vir_diz ela,ainda ofegante.-Por isso vou eu levar-te à estação ok?

–Ok.

Descemos pelo metro e voltamos a subir pelo caminho que leva à estação.

–Toma conta do cão_diz-me a tia.-Vou comprar um bilhete para mim.

–Mas porquê?_pergunto espantada.

–Então? Eu vou contigo até Gretna Green.Não ia faltar à renovação de votos da minha irmã!

–Tudo bem…_suspiro.Ia ser uma longa viagem.

Deixo-me cair num banco com o Totó aos meus pés,enquanto a tia espera na fila comprida.Um grupo de meninos sai da frente da fila,patinando graciosamente pelo chão de mármore do átrio da estação,com os tacos de hóquei nas mãos.É o Lysandre,o Castiel e mais um grupo de garotos da escola,a equipa de hóquei,e estão de patins.Eles giram e deslizam por entre a multidão de passageiros,riem-se,gritam e batem numa lata de coca-cola amachucada atirando-a de uns para os outros.

–Eh,garotos!

Dois funcionários da estação correm para eles,tentando acabar com o jogo,mas os patinadores são demasiado rápidos e espertos.Avançam com os bilhetes na mão e desaparecem pelas barreiras para as plataformas.Todos exceto o Castiel.Os homens encurralaram-no a um canto,encostando-o à parede.O Castiel está a tentar argumentar,mas os funcionários mantêm-se firmes.Finalmente,ele baixa-se,tira os patins e atira-os contra o brilhante chão de mármore,furioso.

Estes deslizam em diferentes direções,um vem parar aos meus pés.O Castiel olha em redor,desanimado,à procura dos patins.Pega num,investiga com o olhar o átrio da estação e por fim,vê-me calmamente sentada com um cão e um patim aos meus pés.

–Soraia_diz ele corado.-Por favor diz-me que não viste aquilo.

–Não vi o quê?

–Estás a mentir não estás?_pergunta ele,aborrecido.-Viste tudo.Porque é que eu sou um idiota tão grande?

–Queres que eu responda a isso?_provoco.

–É o meu azar_diz ele sentando-se ao meu lado.-De qualquer maneira já perdi o meu comboio.Tínhamos um jogo marcado em Sweet Amoris,ainda bem que era só um suplente.

–Já alguma vez pensaste em arranjar outro passatempo?_pergunto.-Um em que sejas mesmo bom?

O Castiel franze o sobrolho.

–Onde é que está o desafio disso?

–Era só uma ideia_digo.

O Castiel encolhe os ombros.

–O teu exame de piano não era hoje?

–Sim,correu bem.

–Claro que correu! Tu praticas demasiado,provavelmente.Devias praticar menos e andar mais comigo,faria bem à tua arte.

–Achas?

–Acho,decididamente_ele pisca os olhos negros.

–Temos de estar sempre a treinar,se quisermos ser bons em alguma coisa_digo-lhe.

–Eu sei.Só estou a dizer para treinares qualquer coisa diferente.Pratica andares comigo.Como dizes,poderíamos acabar por ser muito bons nisso_responde o Castiel,sorrindo pervertidamente.

–Andar não é uma arte_argumento.-Faz-se e pronto.

–Então faz e pronto!

Reviro os olhos exasperada.O Castiel pega numa barra de chocolate,oferece-me um pedaço,engole o resto e depois escrevinha qualquer coisa nas costas do papel de embrulho e entrega-mo.

–O que é isto?_pergunto ao olhar para os seis algarismos rabiscados no papel.

–É para o caso de quereres ligar-me durante o fim-de-semana_diz o Castiel como quem não quer a coisa.-Para praticares o andarmos juntos.Ou qualquer coisa do género.

–Qualquer coisa do género_digo rindo.

–Então,aonde é que vais?_quer saber o ruivo.

–Vou à Escócia para a renovação de votos de casamento dos meus pais_respondo.

A tia saiu da fila da bilheteira e aproxima-se de nós.

–Pronta Soraia? Quem é este? O teu namorado,é?_pergunta ela alegremente.

Olho para o Castiel e o seu sorriso é maior do que a cara dele.

–Não,não é_atiro.-Tia,este é o Castiel,lá da escola.Castiel,esta é a minha tia.

Ouve-se um aviso no altifalante e eu olho para o relógio.

–Tia depressa é o nosso comboio!

Corremos para as roletas dos bilhetes,disparamos pela plataforma e metemo-nos no comboio em direção a Gretna Green.

–Vejo-te na segunda-feira!_grita o Castiel,mas eu não tenho tempo para responder.

CONTINUA…