"- E eu estou voltando para Tóquio."

    As palavras de Rukia martelaram com força a cabeça da pobre Orihime. A ruivinha teve uma ligeira impressão de ter visto um sorriso ameno no rosto da menor, e sabia - por dedução, já que Rukia não iria falar de jeito nenhum - que ela tinha gostado do beijo. Provavelmente ela teria batido nele depois - como sempre - e estava com medo de começar de novo.
    - Kuchiki-san... porque? Abarai-kun está aqui, fazia tanto tempo que você não o via..
    - Inoue, ele está aqui, e enquanto estiver, o Ichigo vai andar com ele.. os dois são amigos, afinal. Preciso esfriar a cabeça, sabe.
    - Esfriar a cabeça por que? - Inoue soltou um risinho alegre - o Kurosaki-kun gosta muito de você, isso não é um problema!
    - Inoue...
    - E além do mais, você vai embora sem o seu celular?
    - É verdade.. acho que vou ligar pra ele.
    - O QUE???
    - P-Preciso do meu celular, ué...
    - Sei, Kuchiki-san!!
    Inoue deu um sorriso satisfeito e foi para a sala. Lá, Renji estava olhando para a televisão, passando um canal atrás do outro, sem vontade.
    - Posso me sentar, Abarai-kun?
    - Claro.. como foi lá?
    - Ela queria ir embora! Mas parece que desistiu da ideia por enquanto.. ela devia ficar até pelo menos amanhã de manhã, já que se sair agora vai pegar estrada noturna e...
    - E..?
    - Assim ela pode ficar um pouco mais conosco e com o Kurosaki-kun! he he.
    

    Já era noite. Rukia ligava para o próprio celular, atrás de Ichigo. Esteve ponderando por toda a tarde - ainda caiu no sono por um tempo - e resolveu ligar para ele. Tocou uma, duas, três vezes. Nada de atender... não iria desistir. Ligou mais uma vez, e mal escutou o primeiro toque e o ruivo já havia atendido.
    - Alô.
    - Ichigo.
    - Rukia? O que foi? - ele disse entre bocejos.
    - É que eu lembrei que preciso do meu celular pra olhar umas coisas e.. você pode me entregá-lo?
    - C-Claro. Eu vou praí. Beijo.
    - Tchau. - Rukia desligou o telefone e olhou para a janela. Será que era certo tirá-lo da mulher grávida? Não poderia pensar muito.
    Ainda estava com as roupas de tarde, então resolveu tomar um banho rápido. Enquanto a água caía pelo seu pequeno corpo claro e bem feito, ela pensava que horas antes aquele mesmo corpinho estava tão próximo ao de Ichigo. Não pôde deixar de levar sua cabeça até os tempos passados, nos quais Ichigo a abraçava e beijava e.. era melhor parar de pensar naquilo. Desligou o registro, enrolou-se na toalha e pôs-se a secar seu corpo e seus pequenos cabelos. Olhando para si mesma no espelho, lembrou-se que Inoue sempre tinha umas garrafas de bebidas ótimas em casa. Beberia com certeza.
    Vestiu um vestido vermelho de alças finas com a saia mais rodada, que vinha com um bordado em branco nas barras. Ainda com os cabelos minguados pela água, saiu da suíte que dormia e escutou a campainha. Desceu as escadas tranquilamente, e viu que não tinha ninguém em casa. Onde Inoue e Renji teriam ido? Abriu a porta.
    Ichigo estava encostado no corrimão da varanda que antecedia a porta de entrada da casa da amiga. Usava uma camisa de manga lisa e preta, e uma calça apertada - até demais - e reparou que Rukia o olhara de cima em baixo. Soltou um risinho e deu um passo em sua direção. A pequena murmurou um "entra" e assim o fez. Sentou-se no sofá - já conhecia bem o local - mas ela não esboçou reação. Apenas continuava olhando para o rapaz de perto da porta.
    - Que medo é esse de mim hein?
    - Aceita alguma coisa? - ela tentou apenas ignorá-lo com suas piadinhas.
    - Não. Obrigado. - Rukia então se mexeu para sentar-se ao lado do morango no sofá. - Você fica bonita nesse vestido.
     - Só nesse? - ela diz sorrindo sapeca. Às vezes, ela apenas esquecia que tinha "raiva" dele.
    - E-Em todos, eu acho. - e ele esquecia o quão desconcertado ele ficava quando ela resolvia ser gentil.
    - Sei.. e cadê meu telefone? Você não ficou olhando minhas coisas não, né?
    - Sua bipolar! Há quatro horas atrás estava me dizendo que não tinha nada de importante e agora está com medo que eu tenha lido?
    - E você leu?
    - Não vou te responder isso. - ela apenas dá um soco na coxa do rapaz - Ai, Rukia!
    - Você leu ou não leu, Ichigo?
    - Li algumas mensagens! - ele pausou e viu algo indecifrável na expressão da morena - com uma tal de Nell e um Ashido. - Ichigo não conteve um sorrisinho no canto dos lábios ao se lembrar do que tinha lido. - Seu namorado morava na Inglaterra, né?!
    - O-O-O quê? Você leu tudo errado! Eu só precisava dar uma desculpa e-
    - Tóquio tem 9 milhões de pessoas. Ele não iria encontrar seu "namorado" tão facilmente. Não precisava dizer que era de Karakura...
    - Seu...
    Ichigo estava ficando cada vez mais perto e Rukia estava quase deitando no sofá para afastar-se dele.
    - Porque você não admite que é louca por mim hein, Rukia? - ela tentou se levantar, mas Ichigo a prendeu com o próprio corpo, enquanto inclinavam-se ainda mais.
    - De jeito nenhum. - ela deu um sorriso verdadeiro.
    - Eu vou ter que ficar te agarrando até você entender? - ele diz num sussurro, com a voz rouca, bem perto do rosto dela. De resposta, Ichigo recebeu apenas uma respiração quase ofegante por parte dela. Deixar a garota Kuchiki sem palavras era uma confirmação de tudo o que ele queria.
    Aproximou os lábios dela contra os seus quando finalmente ela recostou a cabeça no braço do sofá. De olhos fechados, apenas pressionou-se contra ela e levou a mão que antes segurava-lhe um pulso até as bochechinhas rosadas de sua amada. Rukia, ao sentir a mão grande e quente contra sua face, abriu os olhos devagar. Ichigo ainda a beijava com ternura e inocência, parecia querer aproveitar um momento de paz. Ela iria embora no dia seguinte e estava decidida; de última hora, então, decidiu-se por aproveitar.

Talvez, na próxima vez que viesse a Karakura, tudo estivesse mudado.

    A mão livre, que não não tinha os braços fortes do ruivo contra si, foram de encontro ao cabelo do ruivo em um carinho. Ele, inconscientemente, mexeu a cabeça como um gato manhoso e ela riu. Ele finalmente abriu os olhos e passou novamente a mão pela lateral do rosto bonito e quase infantil dela. Seus olhares eram o suficiente e se dissessem alguma coisa, ambos sabiam que tudo seria estragado. Ichigo apenas abaixou-se e beijou a pequena novamente, com mais fervor.
    A temperatura subiu bruscamente quando Rukia, em meio à dança que as suas línguas estavam dispostas a fazer, puxou os cabelos do ruivo que retirou a mão do rosto da mesma e apertou levemente a coxa que pendia no sofá.

-x-x-x-x-x

    - Obrigada pelo passeio, Abarai-kun! Fazia tempo que não saíamos juntos assim.
    - É verdade, Inoue!  Ficamos todo esse tempo tentando juntar aqueles dois.. me diz, como está aqui em Karakura?
    - Está ótimo! As crianças são um amor. E lá na universidade?
    - Tudo tranquilo, apesar de eu ser um pouco novo...
    - Ué, o que tem a ver?
    - As meninas ficam loucas, você sabe.
    Inoue riu alto. O amigo desde sempre era assim, prepotente, conversava alto e mal tinha muitos assuntos. Era o irmão mais velho que ela perdeu.. estavam andando lado a lado com um sorvete que casquinha em mãos, e já estavam na porta de casa; ao abrir a porta, Inoue dá um grito.
    
    Ichigo estava vestindo ainda a calça jeans - ainda, já que estava com os botões e o zíper abertos - mas não contava mais com sua camiseta, que jazia esquecida no chão. Sua mão direita já havia alcançado a barriga de Rukia, que estava com o vestido levantado até aquele ponto, e com as alças fora do seu local. Ao escutar um grito, ambos saem do transe - e da transa - e tomam um susto ainda maior. Haviam sido pegos pelos amigos. Rukia estava vermelha como seu vestido, assim como Ichigo. Não disseram nada - e estavam calados há vários minutos; Ichigo apenas pegou Rukia pelo braço e subiu as escadas, enquanto a mesma tentava arrumar suas peças de roupa quase perdidas.