Clarity - Primeira Temporada escrita por Petrova


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Mudeeeeei algumas coisas, espero que gostem
estou tão feliz que mesmo terminada ainda tenha gente lendo. Boa leitura



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Filas 40 à 50. – a moça do balcão anuncia minha fila de embarque, eu junto meu passaporte e me levanto até ela.

Eu estou fraca, melancólica e com dor de cabeça. Não consegui pregar o olho nessas ultimas noites e tudo que faço é chorar a todo momento. Meus olhos parecem tão pesados quanto a minha frasqueira que Helena entupiu de cremes, toalhas de rosto, produtos de beleza e produtos para cabelos, sabonetes e outras coisas que surpreendemente cabem ali.

– Tenha uma boa viajem, Srta. White. – ela diz suavemente.

– Obrigada. – minha voz é dura, mas tento ser mais casual e educada o possível.

Quarta-feira, já fazia dois dias que recebi a noticia que pai estava morto. Isso arde somente em pensar. Helena teria viajado comigo, se ela fosse capaz de ver toda a família do meu pai frente a frente depois de abandoná-lo pelo seu colega de profissão. Eu aceito. Mas não entendo.

De qualquer forma, será melhor para todos que eu passe esses longos meses com a família do meu pai em Sponvilly e esquecer as malditas tragédias pessoais que aconteceram comigo. Meu namorado me traiu, minha mãe abandonou meu pai não por falta de compreensão de ambas as partes, mas sim porque se interessou por um cara mais jovem. E agora, meu pai está morto e eu não tinha certeza de como isso aconteceu, mas sabia que a polícia da cidade estava se esforçando para descobrir.

Desde que a saúde da minha avó se tornou algo para se preocupar, Helena achou certo juntamente com meus tios que eu voltasse para Sponvilly e tornasse todo o sofrimento de ambos menores, porque seria melhor para Emmy que a família estivesse reunida, sem ela saber sobre a morte do meu pai.

– Quando chegar, me avise. – minha mãe gritou do outro lado da fila de parentes antes que eu tornasse a caminhar dentro do corredor de embarque. - E eu te amo, Nina.

Dei um sorriso fechado antes de vê-la desaparecer do meu campo de visão. Eu também te amo, mamãe. Josh também estava no aeroporto, mas minha mãe sabe que se ele estivesse ali, naquele momento, eu iria xingá-lo, chutá-lo ou fazer qualquer outro tipo de escândalo. Porque eu o odeio. Enquanto caminhava, agradeci por ter colocado o casaco que Helena havia pedido.

Um senhor de idade, que poderia ter seus setenta anos resmungou atrás de mim por eu estar caminhando tão lentamente e me ultrapassou, sumindo um pouco depois.

Meu pai morreu seu idiota e eu estava indo para o enterro dele, eu deveria correr? Ou deveria me prender a memória de que ele estava vivo e que estava esperando por mim?

A tristeza apertou meu coração. Chuviscava fraquinho pelo lado de fora, mas homens grandes e morenos com guardas-chuva corriam para pegar o próximo passageiro que saia do portão de embarque. Eu suspirei e me conformei, eu estava mesmo indo para Sponvilly, para seu enterro.

A minha poltrona ficava confortavelmente perto da janela, isso evitaria ter que observar as outras pessoas que caminhavam pelo corredor ou mesmo algum carrinho acidentalmente acertar meu cotovelo relaxado. De alguma forma tola, isso ajudaria o percurso da viagem. Sentei-me na poltrona G-45 e me acomodei, ninguém ousou a se sentar ao meu lado nos próximos segundos. Tive um lampejo de tranqüilidade. Vasculhei na minha frasqueira meu MP4 e agradeci pelo trabalho árduo de David em montar uma nova playlist, algumas bandas novas como Artic Monkeys que eu nunca tinha ouvido antes, mas estava a algum tempo ouvindo R U Mine. Além de Imagine Dragons, Muse, Foster the People, David fez questão de colocar minhas duas cantoras favoritas, Britney e Miley. Ual, nada mal.

Repousei minha cabeça na poltrona quando uma senhora sorriu educadamente para mim e sentou ao meu lado. Não seria uma longa viagem, de Anchorage até Fairbanks, no aeroporto Internacional, levarei uma hora e meia. Era apenas evitar os maus pensamentos. Sponvilly é uma pequena cidade que fica entre de Fort Wainwright e North Pole, em uma das entradas da alto estrada Richardson, perto das montanhas, a viagem de avião seria a melhor parte, se não fosse um pequeno problema. Sponvilly não tinha uma base de aeroporto, então eu teria que enfrentar mais uma hora e meia de viagem dentro do carro. Era exatamente o que eu precisava, estar trancada em um veiculo dançante enquanto dentro de mim está uma confusão.

Quando finalmente o avião se ergueu e começou a decolar, percebi que a senhora que estava ao meu lado, por volta de quarenta anos e muito bem agasalhada – poderia se tratar de uma turista afinal ainda estávamos numa das épocas mais quente do ano -, lia imersa o romance de Nicholas Sparks, Diário de uma Paixão. Eu já li ele uma vez, através de Helena que tem uma coleção completa do Sparks, sem contar que já assistiu todos os livros que viraram filme. Diário de uma Paixão não é meu favorito, na verdade, gostei mais ainda de A Ultima Musica, tanto na representação em filme como em livro, por alguns detalhes óbvios, a aparição da Miley Cyrus como personagem principal também, mas além disso, existe uma intensidade entre Ronnie e Steve, o seu pai, apesar das discussões e a dificuldade da Ronnie sentir algo bom, eu vejo nela uma forma diferente de tentar enfrentar a separação dos pais, e quando finalmente aceita seu pai como antes, ele morre. Eu posso sentir ainda mais todo o sofrimento que ele sentia de cena por cena, tentando evitar o sentimentalismo, mas eu não era a Ronnie, normalmente eu podia fingir estar de acordo com tudo, fingir que estou aceitando essa escolha dos meus pais, e não colocar tudo para fora como ela fazia. É um pouco de arrependimento que eu poderia ter agora, não ter falado nada, ter deixado isso acontecer como se não houvesse escolhas. Apesar das coincidências, eu não tive a chance de passar o verão com meu pai, como ela teve, eu não tive a chance de ter um irmão a quem eu pudesse me apegar e contar histórias legais enquanto minha mãe ficava até tarde da noite com seu quase namorado.

Eu e meu pai não tínhamos a música. Eu e meu pai tínhamos as matérias que passavam nos noticiários como no canal KTUU-TV da NBC, e nós riamos muito com isso. Eu adorava quando ele me explicava por quê os furacões que aconteciam em Mississipe, Flórida ou Louisiana tinham nomes de mulheres, ou pelo menos a maior parte. Nas eleições, adorávamos nos vestir com as cores da bandeira do Alaska e cantar o hino da nação em frente a TV como dois patriotas sem noção. Parecia como se nunca pudéssemos dizer adeus. Parecia.

Remexi-me na poltrona e decidi cochilar a próxima hora de viagem. Acordei com o aviso da aeromoça. Estávamos finalmente em Fairbanks.

Esticando-me um pouco, vi os primeiros prédios da cidade através da janela, juntamente as montanhas, o rio Chena banhando partes da cidade e rapidamente o Aeroporto Internacional de Fairbanks. O avião pousou tranquilamente na pista, alguns minutos longos para parar e os passageiros passarem a se mover até a saída. Apertei-me no meu casaco e falando comigo mesmo que tudo ia dar certo. Vai dar tudo certo, será seu ultimo ano antes de ir para a faculdade, aproveite um pouco, fique com sua família e nunca esqueça do seu pai e o quanto ele foi maravilhoso. Não chore, aonde ele estiver, ele sempre vai estar pensando em você. Suspirei, abri meus olhos e lá estava Fairsbanks. Dois meses depois das férias, Setembro.

E aqui ainda é muito frio.

Eu já estou procurando minhas malas antes do portão de desembarque, não vai ser muito difícil, quantas pessoas aqui tem duas malas laranja com bolinhas na cor marrom? Ela é uma das primeiras, eu agradeço por isso, eu a pego e vou rapidamente para a porta de desembarque.

Meu coração está pulando acelerado, eu vou vê-los, depois de tudo. Sinto a saudade se apertar e... É Maison que está lá, nada de Isobel ou Megan. Eu não devia ficar pensando nisso, mas desde quando Maison tem a mesma aparência há quase... Certo, há muito tempo? Exceto que... Ohh, fios brancos, então esqueça que ele seja imortal e pare de ficar pensando na saga de livros Os Imortais de Alyson Noel. Maison é mais alto do que eu, é mais robusto, ele é mais novo do que meu pai alguns anos, entre trinta e trinta e cinco anos, mas olhando-o bem, eu poderia dá-lo vinte sete. Apesar dos fios brancos, o cabelo de Maison ainda é tão negro como o restante da família, os olhos verdes cujo puxei do meu pai, pareciam ainda mais com Jeffrey, até mesmo a forma de sorrir, eles eram estranhamente parecidos e eu não podia evitar ficar mexida com isso. Tropecei nos meus próprios pés e fui amparada pelo meu tio. Fico vermelha e quente com a mancada.

Todos estão me observando disfarçadamente.

– Hey, querida, – ele sussurra amigavelmente colocando-me de pé – seja bem-vinda de volta. – e se apoderando das minhas malas.

Suspiro envergonhada.

– Obrigada tio.

Caminhamos em silêncio até a saída, somente o turbilhão de pessoas dentro do aeroporto que me fazia acreditar que eu estava realmente aqui. Quando entramos no estacionamento, procurei uma BMW preta, mas me deparei com uma Toyota modelo RAV4, suspeitei. Não era de se estranhar afinal tio Maison administra uma das maiores lojas de venda de carro entre Fairbanks, North Pole, Fort Wainwright e Sponvilly, dava-lhe muito dinheiro e direito de mudar de carro quando ele quisesse. E essa era estupidamente linda e cara.

– Bonito carro. – eu disse quando ele fechou o porta-malas e direcionou seu olhar a mim.

– Gostou? – ele sorriu do modelo do carro para mim. – Resolvi escolher uma menos chamativa.

– Certamente.

Além do carro que me chamou a atenção e que o tempo estava melhor do que na cidade, Maison estava vestindo uma blusa de mangas compridas preta e uma calça jeans preta, e levando em consideração que a palidez é algo de família, isso deveria ficar totalmente estranho, se todo o conjunto não ficasse estupidamente bem nele.

Abri a porta do carro em seguida do silencio estranho entre Maison e eu, por sorte, ele ligou o aquecedor, embora eu observasse que quando começou a colocar o carro em movimentação, o aquecedor não o deixasse muito confortável, na verdade, ele estava tentando parecer relaxado forçadamente. Mais perguntas para minha caixinha cheia.

Ajustei-me no banco e vi Fairbanks e Fort Wainwright para trás, pegamos a Richardson, nessa direção, em vinte quilômetros, chegaríamos em North Pole, até tio Maison desviar para a Badger. Seguiríamos por mais ou menos uma hora de viagem. Não havia como isso ser diferente, então eu preferia manter meu cérebro ocupado do que agüentando esse silencio interminável.

– Então, como está... tudo?

– Um pouco bagunçado, para falar a verdade. – ele estava calmo, mas aparentemente pensativo.

Consenti, enquanto mordiscava a ponta dos meus lábios.

– E Helena? – ele se virou ligeiramente rápido para mim. – Pensei que ela viria também.

– Eu não sei. – disse-lhe. – Eu também pensei.

Tio Maison não me respondeu, me deixou pensar sobre minha resposta.

– E a vovó? Ela está bem?

– Emmy está bem, fique tranqüila, Nina. – ele se atreveu a me olhar, um olhar doce. - O médico dela, o doutor Eric, - ele começou a falar. - nos disse que tinha uma clínica especializada entre Fairsbank e North Pole, nós não tínhamos pensado nisso, mas agora depois do que...

Maison se pausou, sua feição pareceu fria e entristecida, eu devia imaginar que era mais difícil para ele, do que apenas só para mim.

– Depois do que aconteceu... – ele completa depois de um tempo. - Resolvemos pensar na possibilidade de levá-la para lá, afastá-la um pouco de toda essa tensão que nós estamos tendo.

– Qualquer coisa que a deixe bem, está ótimo.

– Tudo bem, querida.

Eu apenas assenti com a cabeça e fiquei quieta no meu lugar. Olhei por entre a janela e fiquei observando algumas casas, as arvores e me dei por conta que eu não sabia de nada. Não sabia como tudo havia acontecido, ninguém havia se atrevido a falar comigo. Depois do terrível dia que recebi a noticia, Helena evitou me dar detalhes, tive a companhia de David por muitas horas do meu dia enquanto minha mãe ajeitava as passagens, e tudo que eu podia contar com ele era sua amizade e a tentativa de não cometer nenhuma loucura.

Meu celular vibrou no bolso e me lembrei que eu devia uma mensagem ao David. Antes de partir, ele me pediu que eu o mantivesse informado de tudo, que mesmo que estivéssemos distantes por alguns quilômetros, ele não queria me perder de vista. Eu devia uma resposta a ele quando chegasse. David me fez prometer que eu daria uma chance a mim mesma em Sponvilly, que eu soubesse desfrutar da minha família e dos meus amigos e não deixasse de compartilhar nada com ele. Meu celular só avisou que meus créditos estavam espirando, então ignorei a mensagem e resolvi escrever para David.

Demorei muito? Já saí de Fairbanks e não acredito que você nunca esteve aqui, parece legal, embora eu tenha que desfrutar mais uma hora viajando dentro de um carro com tio Maison. E não estou reclamando, não diretamente, só fico frustrada com a sensação de estar presa por um longo tempo. Mas você tem razão, eu tenho que dar uma chance aos meus tios... Eu mando uma mensagem quando chegar em Sponvilly, mande um abraço caloroso a Lucy, haha! Nina.

Dei um sorriso relâmpago, mesmo que esse fosse rápido, queria dizer que não estava tudo perdido. Afinal, eu estava voltando para casa. Havia deixado de ser por algum tempo, mas nunca esqueci as memórias que desfrutei aqui. Tudo foi muito mais complexo do que a separação dos meus pais e ser puxada pela minha mãe até Anchorage. Antes de tudo, antes das decepções, meus pais viveram aqui por um longo tempo, cresci ao lado dos meus vizinhos e conheci Suzanna na escola. Jeffrey trabalha no jornal local que tinha base em North Pole, então a maior parte do tempo, ele estava pegando o carro e se dirigindo para lá quando Helena terminava os últimos meses na faculdade de Inglês.

Os planos começaram a ser feitos, Helena nunca aceitou viver para sempre em Sponvilly, ela queria algo maior, talvez viajar para fora do país, conhecer a Londres ou cidades da America do Sul, um sonho que nunca foi desfrutado pelo meu pai. Depois de algumas discussões e uma pequena crise, nos mudamos finalmente para North Pole. Eu até poderia entendê-la, passar metade da sua vida vivendo no mesmo lugar, como toda sua familia e boa parte das familias originais da cidade, era decepcionante e minha mãe nunca foi de criar raízes e ficar. Quando Helena terminou a faculdade, nós nos mudamos pela primeira vez para North Pole, ela conseguiu uma vaga de educadora, mas não durou muito, não era seu sonho suficiente, Jeffrey estava se complicando com o trabalho juntamente com os custos da mudança.

Eles não conseguiam mais fingir que as brigas estavam constantes. Eles desistiram, por algumas semanas, fiquei com tia Isobel, terminei meu ano na escola de Sponvilly e pude ver Megan crescer. Finalmente Jeffrey e Helena se entenderam e resolveram voltar para casa. Ou parecia no começo. Tudo retornou como um furacão, as discussões retornaram, Helena queria algo diferente para a sua vida e Jeffrey não podia abrir mão do seu emprego fixo. Tudo explodiu alguns meses depois. Quando meus pais comunicaram a separação, achei que meu pai já não amasse a minha mãe e por isso estava nos deixando, mas quando fiquei mais velha, percebi que era Helena que estava farta de uma vida que não era sua. Com quatorze anos, nos mudamos para Anchorage depois dela receber um emprego como educadora numa escola publica. Foram três anos vazios.

– Então, no que está pensando? – Maison perguntou de repente.

Estávamos tão pensativos que quase me assustei com sua voz.

– Nada interessante. – fitei minhas mãos.

– Parecia que era.

Eu o olhei pensativa.

– Na verdade...

– Na verdade o quê?

– Eu estive pensando muito sobre isso, tio. Eu acho que preciso saber como tudo aconteceu. – digo diretamente.

A expressão dele não é tão complicada quanto a minha, mas ele parece estar hesitante com este assunto. Ele não pode me negar a verdade, nenhum deles.

– Por favor, eu só quero saber.

Maison solta o ar. Ele demora mais tempo do que eu levei para perguntar, eu não sou mais uma criança para ser ignorada. Eu cresci.

– Tudo bem. – ele consente. – Nós ainda estamos tentando entender tudo que aconteceu, talvez isso pareça complicado para você também.

– Eles estão investigando ainda?

– É, eles estão, então, toda a verdade que temos é quase frustrante. – Maison dá de ombros. – Jeffrey estava pegando o caminho para Fairsbank, um vôo direto para Anchorage.

– Sozinho? – perguntei.

Então me lembrei vagamente que ele estava indo cumprir a promessa que havia me feito. A sensação que vem depois é horrível, estou prestes a chorar e meu peito dói com culpa. Pressiono as lágrimas presas para não caírem, eu não posso ser tão frágil agora, não quando Maison está me contando a verdade.

– Estava. Eu me odeio só por ter feito-o prometer me ver. - Aparentemente, claro. – Maison diz de repente. – Nós tínhamos combinado de ir juntos, ele só precisava esperar um pouco mais, eu estive enrolado a noite inteira com uma encomenda atrasada e não prevista da loja. De qualquer forma, - ele deu de ombro. – Jeffrey seguiu em frente, sem ao menos me avisar, enquanto uma tempestade acontecia lá fora.

Eu queria me sentir aliviada, mas não dá. Eu queria colocar a culpa em alguém por ter tirado a vida do meu pai, mas foi simplesmente por causa da natureza. Então eu me culpei, ele ia para me ver e se eu não tivesse insistido tanto para ele vim, ele estaria vivo.

– Nina, - Maison me chamou em tom baixo. – não estamos nos melhores dias, mas não quero que você se culpe, que você se sinta na obrigação de levar um fardo que não é seu.

Engoli minhas lágrimas. Eu queria agradecê-lo por isso, mas eu apenas sorri, sentindo-me cansada.

– Foi esse o motivo? O tempo?

– De acordo com a policia, sim. – ele responde, indeciso.

Maison estava suspeitando de alguma coisa?

– Não, – ele diz e eu quase tenho um lampejo de surpresa.

Ele tinha respondido minha pergunta? Claro que não, eu não disse alto, eu apenas pensei nela.

– Não quero que fique remoendo esse assunto na sua cabeça, tudo bem? Você tem muitas coisas para pensar e enfrentar agora.

– Eu sei, - digo pesadamente. – mas é frustrante a idéia de não saber nada, estou sempre sendo vetada da verdade, nem mesmo quando eu implorava para Helena.

– Nathalie, você sabe, é complicado para todos nós essa situação, sua mãe sabe o que está fazendo, tudo bem? – seus olhos são doces. – Agora vamos deixar que a perícia e a policia da cidade esclareçam, certo?

– E se houver culpados?

– O que quer dizer com culpados, Nina? – seus olhos são profundos, mesmo tão claros.

– Eu estive pensando na possibilidade de tudo isso não ser apenas um acidente, Maison. – eu o olho. – Pode existir a possibilidade dele não ter estado sozinho naquela noite, eu não sei o que isso quer dizer, mas... E se não foi um acidente?

Maison inspira fortemente antes de dizer:

– O carro estava amassado Nina, isso quer dizer que não foi exatamente um assassinato. Houve uma batida. – ele diz indiferente.

Eu não sei reagir a sua resposta. As imagens rapidamente tomam a minha visão e a minha consciência, como se eu fosse sugada para uma noite de tempestade, a mesma onde meu pai se encontrava. A estrada permanecia vazia, deserta, fria e muito sombria, trovões partiam o céu, a chuva amaldiçoava a cidade. Tudo estava errado. Em um segundo Jeffrey estava bem, olhando para seu aparelho de som, no outro, ele perde o equilíbrio do carro. Eles derrapam pela pista várias e várias vezes, meu pai está gritando e está tentando voltar a ter o controle do carro, suas mãos ficam presas no volante, suas tentativas são falhas. Eu estou chorando, eu estou sentindo toda sua frustração, eu consigo sentir o medo em seu coração, os batimentos desorganizados dele. Ele sabe, ele sabe que vai bater.

– Use o freio pai, pai... – eu grito.

Eu estou molhada, meu cabelo está pingando enquanto a chuva se mistura com as minhas lágrimas. Eu corro em direção a pista, mas meus pés se prendem como samambaias ao chão, eu vejo o carro girando, eu vejo a ultima lembrança viva do meu pai até o carro ser arremessado para fora da pista em direção ao ninho de árvores enormes, de troncos largos e de mata sombria. A batida é tão alta quanto meu grito, quando tento me aproximar, o carro explode e sou jogada para trás, me desequilibrando e tombando no chão. Eu tento me prevenir, mas o fogo nunca chegaria até mim, porque nada me aconteceria, foi apenas uma ilusão, e nela, a única vitima era meu pai.

– Você está bem? – a voz de Maison irrompe no silêncio.

Eu volto ao meu presente para começar a ver as primeiras casas de uma pequena vila.

– Eu, eu estou bem.

– Eu estou aqui, ok? – ele olha na minha direção e eu aceno para ele.

Nós iríamos fazer uma parada em um dos postos quando Maison resolveu conversar comigo sobre qualquer coisa, como a escola.

– Ela está legal. – eu só disse.

Eu ainda me sentia cansada, mas precisava esticar as pernas, então, quando chegamos no posto da pequena vila, Maison me perguntou se eu queria beber alguma coisa durante o caminho, eu aceitei uma coca, de qualquer forma, me ajudaria ter algo dentro do meu estômago que não fosse um monte de sensações ruins que me deixavam enjoada. Nós estávamos quase fora da vila nesse posto, Maison entrou numa lojinha a beira de estrada atrás da minha coca quando decidi sair e ir esticar as pernas. Aqui é fresco mesmo sendo frio pra caramba.

– O feminino é aqui e o banheiro masculino deve ficar na outra extremidade. - foi o que uma mulher de cabelos lisos e louros me disse quando perguntei onde ficam os banheiros.

Quando ultrapassei a porta branca de madeira inalei aquele cheiro de menta e água sanitária. O lugar até que é organizado, um espelho se estendia por todas as pias, uns retratos rasgados de folhas de revistas estavam estendidos nas paredes cor de maracujá e ladrilhos meio cafonas. Verifiquei se havia alguém além de mim ali. Negativo. Olhei-me no espelho assim que me senti sozinha naquele lugar. Toda essa tensão de estar lembrando do meu pai e como ele morreu me fez parecer uma mulher de quarenta anos com olheiras, cabelo volumoso e fios desobedientes. E mais branca que o normal. Lavei meu rosto e passei os dedos pelo meu cabelo, mordi meus lábios e vi minha face ganhando cor em alguns segundos. O tom preto do meu cabelo era tão intenso quanto os cabelos normais, e isso me deixava parecida demais com meu pai e tio Maison. Cabelos escuros e olhos claros é coisa dos O’Connel, dizia minha avó Emmy. Eu estava com tanta saudade da minha família que nunca parei para pensar que a única coisa que me fizesse vir para cá e ficar com eles seria depois de um deles partir. É como um sonho incompleto, um pesadelo infeliz.

– Okay, você vai passar por cima disso, White. – eu disse a mim mesma.

Apoiei minhas mãos na pia e fiquei me olhando por mais algum tempo. Será mesmo que vou passar por cima de tudo isso? Eu não soube a resposta. Respirei fortemente, inalei aquela mistura de menta e água sanitária, dei as costas para o espelho e abri a porta.

– Aaai! – alguém gemeu.

Dei um pulo para frente e arregalei os olhos, o que eu fiz? Acabei de acertar a porta do banheiro na cara de um homem!

Não exatamente um homem velho, ele não deveria ter mais que vinte anos, mas estava com o peito da mão contra a testa, o olho esquerdo fechado e o direito aberto olhando para o chão. Eu deveria ter falado ou feito alguma coisa, tipo, correr, mas fiquei ali. Aquele cara era muito bonito. Acertei a porta em um homem de cabelo preto com fios longos pairando até um pouco abaixo do lóbulo da orelha, era tão preto que tive a sensação de não ser natural, mas sem duvida era. O homem tinha os olhos mais preto do que seu tom de cabelo e o meu junto, ao mesmo tempo que parecia estranho, era atraente. Maxilar trincado, pele branca, um nariz incrivelmente simétrico e lábios sinuosos e carnudos, mas suavemente marcados, uma barba crescente no queixo. Ele era mais alto do que eu, muito mais, ele também é magro, porém muito musculoso, vestia uma blusa verde escura com uma jaqueta preta e calças Levi’s.

Eu nunca tinha visto um cabelo surpreendentemente lindo e aparentemente macio como o dele. Eu devia dizer alguma coisa.

– Céus, me desculpe.

Ele estava com seu nariz franzido.

– Sinto muito mesmo. – eu disse outra vez, tentando me redimir quando ele não disse mais nada a não ser soltar um gemido doloroso.

O garoto que eu bati deu um sorriso cauteloso e educado. Ele tem um sorriso lindo. Dentes superiores certinhos, dentes inferiores levemente tortos. Um charme.

– Ok, certo, não é aqui o banheiro masculino. – o rapaz me olhou nos olhos, ele estava sorrindo. – Acho que eu deveria ter tido mais atenção...

– Eu realmente sinto muito. – eu o interrompi.

Ele acenou com a cabeça. Seus dois olhos abertos estão me encarando, tenho a sensação que nunca vi olhos mais escuros que o dele, e nem mais bonitos.

– Não, está tudo bem, - o rapaz mostrou um sorriso grande e educado. – Acho que, hm, melhor eu ir.

O garoto apontou para trás, de onde ele tinha saído.

– Então nos vemos por aí. – ele piscou para mim antes de dar a volta e sair.

Quando ele saiu, eu consegui respirar.


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Notas finais do capítulo

Se gostaram, deixem o comentário logo a baixo, beijoooos