Clarity - Primeira Temporada escrita por Petrova


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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O sinal tocou mais ou menos há três minutos, enquanto eu me escondia atrás de uma árvore alta caso algum professor me visse.

E faz já faz alguns minutos que mandei uma mensagem para David pedindo que ele trouxesse meu casaco e minha bolsa, largadas por algum canto da escola na qual não consegui me lembrar. Eu estava mais pensando em evitar o máximo que eu pudesse Jake, e seria mais fácil para David se ele o fizesse por mim. Eu também não entrei em detalhes, eu não queria que ele soubesse, a não ser que ele já estivesse por dentro.

Ah, merda!

David é o melhor amigo do Jake, ele certamente comentaria comigo se soubesse de alguma coisa não é? Ou ele preferiu ajudar o amigo e esconder isso de mim para salvar sua amizade com Jake? Eu não suportaria saber que David sabia o tempo todo.

Querida, voltei mais cedo, sua tia Isobel ligou para a escola dizendo que queria falar urgente comigo, não se preocupe, sua avó está ótima, deve ser outra coisa. Já estou em casa.

– Nathalie, - eu escuto a voz de David assim que ele entra no meu campo de visão. Aquelas madeixas loiras balançam quando ele está correndo até mim. – aqui, suas coisas.

Ele me passa meu motinho e me espera colocar meu casaco. Eu me sinto cem vezes melhor quando meu corpo se esquenta por debaixo daquele pano.

– Obrigada.

David não deve ter percebido meus olhos inchados ou muito menos minha voz fraca marcada por choro. Eu espero que continue assim, o que mais quero é evitar qualquer assunto que envolva Jake e traição.

Nós começamos a caminhar e David embarca numa conversa aparentemente animada sobre deveres de casa e sou pega procurando Jake pela multidão, não demorando muito para vê-lo perto do seu carro prata quase do outro lado do campo.

Olhá-lo nos olhos, mesmo tão distante, me dói o peito. A verdade era que não me importei com a distância, me importei com as tentativas jogadas fora, pelas vezes que me entreguei, pelas palavras carinhosas que não deveria ter dito, ou melhor, que hoje não vale mais a pena. A sensação é como se um trabalho inteiro, um trabalho intensivo, antes maravilhoso, houvesse chegado ao fim, pior que isso, um trabalho sendo rasgado, estraçalhado, pisado e desdenhado pela pessoa que um dia você pensou que se importava, mas no fim, você percebe que quando uma pessoa não se importa, quando uma pessoa não se entrega, não digo metade, tem que ser por inteiro, quando nada disso acontece, é porque nunca foi, na realidade, para ser. Isso dói o peito, faz nó na garganta, a pele congela e a cabeça lateja. Dores interiores que remédio algum cura, o que o faz ser desesperador. Te culmina aos poucos e só ele tem o bem entender de parar, quando parar e se parar. Por isso dói.

Eu queria ter sido forte ao olhar para ele e virar o rosto como se nada tivesse acontecido, mas quando o fiz, deixei transparecer uma lágrima traiçoeira, uma maldita lágrima.

– Está me ouvindo? – David está balançando os dedos para mim tentando me despertar.

Eu não tive tempo de esconder, limpei a lágrima com as costas da minha mão e enrijeci o corpo, parando não por minha escolha, mas por David.

– O que houve? Por que está chorando?

Eu queria tanto respondê-lo, queria poder dizer sem desabar, queria poder ter força para contar, mas eu só consigo fugir, e é o que eu faço. Fujo para o outro lado da rua, atravessando perigosamente e acelerando os passos, pensando que minha casa estava perto, pensando, infelizmente, que a casa de David ficava no mesmo bairro.

– Nina, espere. – eu ouço sua voz por trás de mim, carregada de preocupação.

E se ele souber? Eu me pergunto freneticamente. Se ele sabia todo esse tempo e nunca me contou? Eu poderia agüentar essa traição?

– Nina por favor, o que houve? – ele aparece do meu lado, assustando-me por completo e me esquecendo que eu devia ter mantido a velocidade.

Recuso-me a olhá-lo por mais que um segundo.

– Nada, absolutamente nada.

– Por que acha que você vai conseguir me enganar

Eu inspiro prolongando o silencio.

– Porque não tem nada para se enganar.

Doeria um milhão de vezes mais se ele soubesse.

– Se você não contar para seu melhor amigo, a quem você contaria?

Eu o olho dessa vez, porque ele tem razão. David é meu amigo, e mesmo que ele também seja amigo do Jake, não havia sido eu quem traíra, na verdade eu tinha sido a vítima. A idiota. E havia apenas a alguém a quem eu poderia requer ajuda. Á ele, meu melhor amigo.

Então eu me vi contando tudo, marejando os olhos e lágrimas escorrendo pelo meu rosto, eu devia estar horrível, depressiva e debilitada. Mas eu estava assim mesmo, não poderia escapar disso.

– Espere... O quê? – ele perguntou, em seguida de me tomar nos braços enquanto eu chorava, chorava apertada em seus braços, agradecendo que isso fosse uma reação de que ele não sabia de nada, que ele não me escondera nada, que ele está do meu lado e que eu posso contar com alguém.

– Não chore, não chore por ele.

Inevitável, eu choro ainda mais.

– Ele é tão imbecil. – eu murmuro para ele.

– Sim, ele também é um idiota. – ele me responde volta.

Meu peito se alivia.

– Mas eu quero que você me conte tudo, como você ficou sabendo? Alguém lhe disse? – ele perguntou preocupado, então me lembrei que não havia contado a parte da declaração de Jake.

Eu me ergui novamente em pé.

– No ginásio, depois que saímos do refeitório. – eu conto amarga. – Sem... Detalhes por favor. – imploro, enxugando uma lágrima traiçoeira. – Ele mesmo me contou, não pergunte mais nada, certo?

David inspira fortemente consentindo com a cabeça, os olhos pesados sobre os meus, compartilhando a minha dor, sem ter uma igual.

– Como ele pode fazer isso? E com Marcie? – ele encara a estrada perguntado mais para si mesmo do que para mim.

– Então você não sabia?

– Não, se eu soubesse eu teria contado e eu teria com certeza esmurrado a cara daquele idiota.

Espontaneamente eu solto um sorriso fechado.

– Mas ele é seu amigo. – eu digo baixinho, porém feliz por saber que ele me defenderia.

– É diferente, ele traiu você, então isso o faz um completo idiota e estúpido, e eu acho que quando se começa um relacionamento, não há motivos completamente sedutores para se trair alguém, a não ser que você não a...

– Que não a ame?

Ele não responde, mas seu silêncio diz muita coisa. É como voltar a sentir a dor novamente. Eu sei que ele está muito arrependido por deixado escapar, mas não pode fazer nada, é a verdade e ela dói.

– Sabe o que é pior?

– Pior que a traição? – ele aperta os olhos.

Ele me faz rir.

– Pior de toda essa situação é a minha esperança. Eu tinha tido esperança que Jake seria o garoto que eu pensei que ele fosse para mim. Alguém a quem valesse correr o risco, lutar, alguém que me entendesse, alguém que fosse, mesmo opostamente, perfeito para mim. – eu digo ingenuamente. – Tolice a minha.

– Não pense dessa forma. – ele protesta. – O heróico homem que você procura, não é nem sequer perto de ser um jogador do time de basquete. – ele ironiza. – Mas não é tolice, tolice é magoar alguém que só lhe quer o bem. – ele aperta meu ombros paternalmente.

Suspiro.

– Obrigada por me ouvir.

Isso basta, é como se eu fosse sobreviver, eu iria, eu iria cada dia, se houvesse a quem eu recorrer de vez em quando.

Quando nos afastamos dos extensos prédios comerciais, eu percebi que como a casa de David estava perto, a minha também viria.

– Normalmente eu sou um cara muito bom com conselhos.

– Daqueles que “faça o que digo, mas não faça o que eu faço”? – eu rio por um breve período.

– Nossa, você se recupera fácil. – ele ironiza.

Nós paramos em frente ao prédio onde David mora. É um prédio alto de cinco andares, o tom é amarelado e é bem organizado, exceto quando se entra no quarto dele.

– Então, isso é um até logo. – eu digo.

– Um até logo próspero, este será sua melhor semana pós Idiota do Jake. – ele pisca, antes de entrar.

Eu fico parada ali, segundos se passando, sorrindo para David enquanto ele desapareceu rapidamente.

No fim da rua se encontra minha casa, é apenas alguns extensos metros até lá, mas são o suficiente para me fazer pensar, e vejo que eu não estou com o humor melhor depois que David ficou. Ele não estava ao meu lado para me fazer sorrir ou me tranqüilizar, pelo contrário, ele estava longe, alguns metros de distância, mas já eram o suficiente para sentir-me mal e isolada. Sozinha, e de novo.

É frustrante tudo isso, sentir como se num momento tudo pudesse dar certo e no outro, num rápido segundo, tudo se desmorona. Não é normal. É triste e te destrói por dentro, a sensação de perder alguma coisa é ainda pior, porque se perdeu, é que futuramente vai sentir falta dele. Mas, mais frustrante do que isso é essa sensação gélida que eu estava sentindo agora. Uma vez, há muito tempo, eu tinha sete anos e ainda morava em Sponvilly, Jeffrey estava lendo um livro antigo na varanda da casa de Maison, meu outro tio, enquanto eu estava procurando pedrinhas brilhantes que era freqüente achar ali e eu era inocente de mais para saber que aquilo não eram pedras preciosas.

A Mansão de Maison, do que me lembro, era rodeada por uma extensa floresta verde cintilante no verão, mas no inverno, quando as chances de sol aparecer era quase menos que cinco por centro, tudo aquilo parecia um tenebroso e assustador lugar. Sponvilly é pequena e então é rodeada por muita mata e a casa de Maison ficava, curiosamente, afastada do centro e adentrando mais nessa vegetação. Mas meu pai estava ali, então qualquer coisa que acontecesse comigo ele estaria me vigiando.

E naquele momento, eu senti um frio estridente passar pela minha espinha dorsal, como se meu consciente tentasse se comunicar comigo, mas eu tinha apenas sete anos, essas coisas de consciente, segunda voz ou prudência só deveriam ocorrer com o amadurecimento, mas naquele dia aconteceu. Volte para seu pai, agora. Não era uma voz qualquer, meu subconsciente se comunicava comigo em sinal de alerta. No momento eu não compreendi, atrevi-me a olhar adiante, bem adiante, entre os galhos grossos e pontudos das árvores, eu vi uma pessoa, certamente era um pessoa, sua pele irradiava um brilho diferente, como as pedras que eu caçava por ali, mas não era uma pedra grande, eu sabia que não, e quando eu corri de volta para meu pai, ele me disse que havia sido qualquer outra enorme pedra por ali e naquele dia eu acreditei, mas hoje? Relembrando disso, caçando nas minhas memórias, eu sei que era uma pessoa.

Então essa sensação voltou agora.

A frustrante sensação de achar que estar sendo seguido voltou, como um mau presságio, uma agonia diferente. Espiei algumas vezes para trás, não havia nada de diferente, na verdade, a diminuição da movimentação da rua me deixou curiosa. Não era muito tarde, era o horário perfeito para passagem de carro e de pessoas, afinal, a escola ficava a alguns metros daqui e seria o suficiente para o trajeto de alunos movimentar. Decidi que continuar com esses pensamentos não faria com que eu ficasse mais tranqüila, estaria só piorando. Resolvo acelerar os passos, dificultar a passagem de pensamentos conturbados, mas a mesma sensação volta, surge como mais força, sou pega olhando para trás, porém, não vejo nada. Que diabos está acontecendo comigo?

Respiro e transpiro, diminuo os passos e resolvo ficar quieta por alguns segundos. É só estresse, estou com muitos pensamentos conturbados, isso passará em breve, digo a mim mesma. Mais calma, me apresso em direção a minha casa, por isso rapidamente volto a procurar as chaves do portão para poupar tempo e impedir o retorno dos pensamentos. Vasculho entre os bolsos da bolsa até me lembrar que eu havia deixado no meu casaco. Puxo com muita força e rapidez deixando-a distraidamente se soltar entre meus dedos e cair numa poça suja no chão.

– Ah, merda! – resmungo comigo mesma, deveria haver um curso para pessoas desastradas, aulas de auto-ajuda que resolvessem meu problema e de muitas outras pessoas a não estragarem tudo em momentos cruciais de pura tensão, como agora.

Apesar da raiva iminente, me agacho para procurar as chaves, mas sou interrompida por uma imagem conturbada. A poça que falei estava realmente suja, mas não com água lameado, estava mais para uma poça vermelha, um líquido grosso, espesso que cheirava a ferro e sal, como ferrugem. Apesar da mínima incidência de sol naquele dia, ele até brilhava, estonteante e muito chamativo. Vários pensamentos se passaram pela minha cabeça e havia apenas duas opções, uma muito improvável e a outra que me esfriava, arrepiava até a espinha dorsal. A primeira e mais estúpida, levei em consideração que algum vizinho estava reformando sua casa, nada melhor do que pintar algum cômodo com uma tinta vermelho sangue. E a outra que me assustava, era a possibilidade disso aqui não ser tinta, apenas vermelho sangue. Muito sangue. Encarei os fatos, eu só podia estar enlouquecendo até que uma figura assustadora se formou no reflexo do liquido e perdi o equilíbrio, pendi para trás e meus braços não me apoiaram. Tombei no chão.

Caso eu não fosse louca, eu tinha a absoluta certeza que o reflexo se tratava de um homem, apesar dos detalhes fracos, sem muita certeza sobre o que eu vira, o homem não aparentava ser velho e não tinha nenhuma semelhança com monstros de filme de terror, mas me lembro muito bem dos olhos brilhantes e o cabelo louro, ou próximo ao tom. Com os olhos bem fechados, me recusei nos próximos segundos abri-los e encarar o que eu tinha visto, embora eu tentasse me convencer de que tinha sido apenas uma ilusão, porque eu já estava com os pensamentos conturbados, minha discussão com Jake e nosso término ainda tomavam minha mente e isso poderia refletir em imagens histéricas de homens assustadores numa poça de sangue.

Era o suficiente para conseguir coragem, porque existia uma enorme parte em mim que não acreditava em acontecimentos sobrenaturais ou ilusões, monstros e essas diversidades. Por fim, abri os olhos.

– Mas que diabos...

Eu poderia ter imaginado inúmeras coisas, por exemplo, o homem assustador não estaria no reflexo e sim a minha frente ou tinha sido um engano e o homem que eu vi era apenas algum vizinho passando que resolveu me ajudar, mas em todas as hipóteses, tudo que eu não imaginei aconteceu. Eu esperava sim que não tivesse ocorrido nada, mas não esperava não encontrar a poça, buraco algum, nenhuma formação de água da chuva, apenas minhas chaves secas e geladas no chão, como se os segundos passados nunca tivessem ocorridos.

– Estou louca. – falei para mim mesma e puxei minhas chaves. – E é culpa do Jake.

Agüentei firme esses últimos minutos que passaram e me levantei, meio zonza, mas sabia que isso passaria quando eu chegasse em casa, tomasse um banho quente e fosse dormir por umas quatro horas. Já me sentia tranqüila só em pensar em dividir minha tarde hoje com filmes tolos e muito sorvete para congelar meu coração por dentro e não sentir a dor de ser traída. Finalmente voltei em si e me apressei até a minha casa, que não estava longe. O único som que consegui ouvir quando cheguei, foi minha respiração forte chocando-se contra a porta de madeira da minha casa, nada além disso, como se Helena não tivesse chegado embora seu carro estivesse estacionado na garagem. Apesar dessa confusão de pensamentos, ainda sentia meu peito arder, como se não fosse o suficiente sofrer com a alucinações, a possibilidade da minha asma, que a quatro anos não surgia efeito, voltar a qualquer momento.

Não, não era normal. Tudo que você viu ali, Nina, não foi normal, não aconteceu, supere isso.

Destranquei a porta e entrei. Eu esperava sentir aquele suave calor percorrer minha pele, mas ao contrário, quando abri a porta, eu senti a sensação de novo. Aquela de algo não estar bem. Joguei as chaves em cima do balcão, pendurei meu casaco e coloquei minha bolsa no braço do sofá, mas, mais surpreendente do que o silêncio, era minha mãe apertando o telefone contra seu peito, a feição paralisada e sua frágil estrutura encolhida no canto do sofá.

– Mãe... – eu disse suavemente, aproximando-me com cautela. – Tudo bem?

Ela não respondeu.

– Isobel ligou?

Ela fez que sim com a cabeça.

– Aconteceu alguma coisa... Alguma coisa com a vovó?

Senti meu peito arder logo em seguida, não pude segurar uma lágrima traiçoeira, mas a limpei o mais rápido que pude.

– Emmy está bem? Mamãe, a vovó está bem?

Helena inspira antes de me olhar, sua feição é... Devastadora.

– Fique tranqüila, não houve nada com sua vovó Emmy, Nina. – ela tira um fio de cabelo do meu rosto e o põe atrás da minha orelha.

Eu fico aliviada.

– Então o que houve?

– Não se preocupe. – ela sussurra misteriosa, agarra-me apressadamente e me abraça, sua voz alcança o tom de melancolia, ela está chorando... Helena está chorando?

– Mãe? Mãe! – eu a chamo e ela se desprende do meu abraço. – A senhora está me assustando, o que houve?

– Apenas saiba que tudo vai ficar bem, ok?

– Estou assustada, o que houve? – pergunto marejando os olhos.

Um silêncio culmina todo aquele lugar, as paredes, os móveis, tudo completamente. E isso me assusta. Poucas vezes na minha vida havia visto aquelas feições em Helena, normalmente, tudo que é sadio e jovem se especificam muito bem nela, mas agora, eu vejo uma sombra escura, uma dor que me faz arder o peito.

– Estamos voltando para Sponvilly, Nina. – ela diz de repente.

Nós... Estamos?

Milhões de pensamentos passaram pela minha cabeça neste momento. Era isso que a fazia doer? Por acaso ela tinha brigado com Josh e resolvido esquecer os problemas voltando para a nossa verdadeira casa? Não fazia sentido algum. Eu estava feliz, como nunca antes, voltaria a ver minha familia com freqüência, Suzanna e Lauren estariam lá a minha espera, e a esperança de que meus pais pudesse finalmente se entender crescia como uma chama brilhante. Então era isso, Helena estava com medo de voltar? Nós poderíamos dar um jeito nisso.

Se o problema estava em Josh, o que Isobel estava fazendo nessa história? Eu tremi com a resposta, estava assustada com a ideia de não saber da verdade, de não ter controle algum com essa situação.

– Se estamos voltando mamãe, - disse com dificuldade. – se estamos indo para casa, por que está chorando?

– Porque há um motivo para isso.

– É o Josh? – pergunto sem pensar. – Vocês terminaram? Ele a fez sofrer? Mãe, está tudo bem, iremos dar um jeito nisso.

Dou um pequeno sorriso e seguro seus ombros, o toque é o mínimo para que a faça chorar, Helena se derrete em lágrimas.

– Mãe... por que está chorando?

Ela suspira com dificuldade antes de me encarar.

– Nós estamos voltando porque....

– Por que, o quê?

– Seu pai está morto, Nina.

Minha boca se abre, mas não ouso dizer nada.

As paredes parecem se mover, parecem me aprisionar num pequeno lugar, um lugar frio. Minha mente está girando, aflita, sinto que estou perdendo o ar. Meu coração não está batendo... Ou ele bate muito devagar que naquele silêncio eu não consigo escutar. As lágrimas começam a descer urgentemente antes que eu as perceba, antes que eu perceba que já estou de pé e com as mãos na cabeça. O que ela disse? Ela disse que meu pai... Morreu?

Como assim ele morreu? Não, não é isso. Ele não poderia morrer. Ele me prometeu que viria me visitar hoje, ele me prometeu que tentaria transferir seu escritório para Anchorage para poder ficar perto de mim e me ver ir para faculdade. Por que ele não cumpriu?

– Nina, Nina... – Helena está chamando há algum tempo na verdade, embora eu ainda sinta dificuldade em processar. – Você está bem?

– Ele. Deus. Ele morreu, oh. – eu grito desesperadamente e me agarro a qualquer coisa antes de cair no chão. Eu caio em cima de uma almofada.

Helena corre na minha direção e agarra meus braços.

– Vai ficar tudo bem querida, pode saber que tudo vai ficar bem.

– Como se você se importasse.

– Do que você está falando?

– Você abandonou meu pai, por quê? Por causa de um amor idiota entre colegas de trabalho? Você tinha a mim, tinha a meu pai, mas preferiu esse seu desejo estúpido.

Nós choramos juntas, mas ela não me respondeu, ficou quieta por alguns segundos.

– Ele disse que ia me ver... – eu sussurro para mim mesma, tremula demais para se entender.

– Eu sei o que você está passando querida, eu sei que o que você disse não seja o que realmente pensa. – ela suspira antes de falar outra vez. – Eu entendo você.

Eu fico quieta em panico.

– Mas eu estou dizendo que tudo vai ficar bem. – ela sussurra para mim, aproximando-se e me procurando para me juntar a ela num abraço.

Eu só precisava de um abraço. Agarro-me nos frágeis braços de Helena e me deixou chorar, espernear, deixo-me sentir a dor presa dentro meu coração, porque agora eu sei e não consigo acreditar. Meu pai está morto!


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Notas finais do capítulo

comentem se gostaram!