Clarity - Primeira Temporada escrita por Petrova


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, eu realmente estou muito ocupada, mas espero que tenham gostado desse capitulo, fiz especialmente para os que comentam os capitulos sempre!



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Andrew colocou seu Hamann em movimento quando conseguiu cessar minhas lágrimas e desistiu de tentar limpar as manchas de sangue que marcava meu corpo. O carro dele canta pneu no asfalto e quanto mais os segundos passavam, mais a velocidade dele aumentava, eu estaria com medo se não houvesse culpa e tristeza tomando meus pensamentos.

– Preciso que me ajude, Nathalie.

Eu desperto, deixo de encarar a janela e as casas pelo lado de fora como um borrão para olhar Andrew.

– Você pode me dizer onde mora qualquer amiga confiável sua? Qualquer uma. – suas mãos estão no volante, mas seus olhos estão mirando os meus com muita intensidade.

– O quê?

– Não se preocupe, eu tenho um plano, mas preciso que me ajude. – sua voz é doce e harmoniosa, é o bastante para me convencer.

– Suzanna tem um apartamento na Delphic, ele é bem fácil de observar, é o único com tantas lojas por perto.

Ele faz um movimento com a cabeça e dobra na proxima a direita, o movimento é rápido e quando percebo já estamos aumentando a velocidade novamente. Parece que estamos correndo contra o tempo ao mesmo tempo em que não consigo fechar os olhos sem cair numa pesada sombra escura de pensamentos controversos, eu sinto que vou ser puxada para outro mundo, bem diferente de Alice no País das Maravilhas, é bem mais parecido com um pesadelo, é um submundo, e neste eu lembro do olhos brilhantes do assassino crescendo de tamanho e mirando-os para mim. É como se eu perdesse o ar devagar, como se não restasse mais nada de mim, aos poucos eu vou desacordando do mundo e vou sofrendo nessa dor masoquista, eu fico me criticando a maior parte do tempo, me derramo em lágrimas enquanto o assassino avança com velocidade e grita meu nome, sua voz parece uma mistura de sons sombrios que não remetem a ninguem conhecido, é um filme de terror.

Eu estou caindo porque o chão se abre e ao inves do assassino me pegar, eu faço é cair e há mais olhos brilhantes no fim do buraco que parece se aproximar segundo por segundo, até que chegue a hora de tombar no chão. É o fim.

– Nathalie? Acorde, Nathalie!

Abro os olhos e vejo, aliviada, um par de olhos escuros e profundos, eu nunca desejei tanto vê-los como eu desejava agora.

– Você estava tendo um pesadelo? – Andrew pergunta, cauteloso.

Nós não estávamos mais em movimento, a porta do meu lado estava aberta e era por onde eu conseguia vê-lo, metade do seu corpo inclinado para dentro do carro perto o suficiente de mim para que possamos misturar nossos cheiros.

– Foi horrivel. – minha voz sai marejada.

A feição dele me aperta o coração, vejo sua expressão ganhando dor, ele está mal por mim, ele está exausto psicologicamente.

– Se eu pudesse, se eu tivesse chegado um pouco mais cedo, eu teria acabado com quem quer que tenha te assustado, Nathalie. Eu o faria pagar por toda a dor que você está sentindo agora, é por eu ter chegado tarde que espero que me perdoe.

Eu sinto meu coração se apertando a cada palavra saindo com a sua voz.

– Andrew...

– Eu não vou interrogá-la sobre o que houve, acho que quando você estiver bem para isso, você irá fazer. Mas eu quero que me prometa que irá fazer um boletim de ocorrência, posso falar com meu irmão e...

– Não, por favor, não, eu não quero que ninguém saiba disso Andrew, isso já passou, por favor, eu não quero, não quero ser o centro das atenções de novo... Por favor! – uma lágrima traiçoeira escapa dos meus olhos.

Os dedos quentes dele chegam até a minha pele e enxuga o vestígo da lágrima.

– Está tudo bem, não vou forçá-la a nada.

Meu coração se alivia, novamente.

– Eu vou ter que deixá-la só por alguns minutos, ok? – Andrew dá alguns passos para trás e sai de dentro do carro.

– O quê? Por quê?

– Eu tenho um plano, é por isso que estamos em frente do apartamento de sua amiga, Suzanna. Eu volto logo, fique aqui.

Ele não me espera, fecha a porta e atravessa a rua sem demorar um minuto inteiro. Ele vai tão rápido que a proxima visão que tenho é o porteiro destrancando a porta e deixando Andrew passar. Não sei como ele o fez, mas conseguiu entrar. Eu fico dentro do carro, me encolhendo no casaco dele uma mistura de colonia masculina, umidade e menta, além disso, fico feliz por ele ter deixado o aquecedor ligado por todo o trajeto. A rua está quase deserta, a maioria das lojas estão fechadas e a maior parte da movimentação vem dos carros em circulação, mas deve ser o horário na qual as pessoas evitam sair de casa, a pé pelo menos.

Eu tento procurar meu celular, quando me lembro que eu deveria ter chegado em casa a quase três horas atrás, se não me engano, mas a porta sendo destravada me desperta e eu desisto de procurá-lo quando Andrew entra no carro segurando uma muda de roupa, passando-a para mim no mesmo momento.

– O que é isso? – pergunto, não me referindo a muda de roupa, mas sim pelo motivo dela.

– Consegui convencer Suzanna, isso faz parte do plano. – ele aponta para a muda de roupas em minhas mãos.

– E como?

Andrew está surpreso com a minha pergunta, porque antes de qualquer coisa, eu não posso acreditar que ele conseguiu convencer a expert Suzanna Marin.

– Eu disse que seu tio Rick convidou meu irmão e eu para um jantar na sua casa. – enquanto ele diz, Andrew manobra o carro para seguir caminho. – E acidentalmente eu encontrei você escapando dessa chuva horrivel.

No mesmo momento eu volto a olhar pela janela e vejo que a chuva aumenta de volume, castigando a região.

– Eu acho que acertei acidentalmente que sua tia é um pouco preocupada em relação a você, porque ela começou a acreditar quando eu disse que você estava com medo da reação de Isobel quando lhe visse ensopada.

– Era iria pirar de vez. – confesso.

Andrew, finalmente, sorri.

– Então ela me arrumou uma muda de roupas para você. Parte um do plano está concluida, a outra parte é te levar para meu apartamento, para você se livrar dessa mancha.

Quando nossos olhos se encontram, eu tento desviar para a muda de roupas, que estão sob meu colo agora. Eu nunca fui à casa de Jake, o maximo que cheguei a casa de um homem foi do meu melhor amigo David, e não foi bem uma visita, estava chovendo e ele me convidou para entrar, fiquei a maior parte vendo-o jogar video-game com seu irmão mais novo, Jonathan, então, bem, isso é completamente diferente, eu estou indo para o apartamento de um cara quatro anos mais velho do que eu e que certamente não mora com os pais, e ele é do tipo de cara que além de ser intimidador, tem um elevadíssimo grau de atração, do tipo que faz a base tremer de qualquer mulher em qualquer idade.

Acreditaria que Suzanna só confiou em ajudar Andrew pela capacidade que ele tem de fazer as pessoas confiarem nele só pelo seu jeito. E havia tambem a possibilidade dela achar que existe algo diferente entre eu e ele. O que eu não acredito, pelo menos da parte dele.

Andrew dobra a esquerda e a direita tudo em seguida, nós pegamos um bairro de prédios altos e assim que passamos o terceiro, ele para em frente a um apartamento com garagem na parte debaixo.

– Chegamos. – ele diz.

Eu fico sentada no meu canto como se eu estivesse grudada ali. Eu não consigo assimilar muita coisa.

– Você está bem? – ele se vira para mim.

– Ahm, é.

– Se me permitir, eu posso levá-la nos meus braços, se quiser. Você está pálida demais, Nathalie. – ele estica o braço e toca minha pele.

Eu devo ter ficado mais vermelha que o normal, porque eu sentia minha pele esquentar, e era como se eu não tivesse controle sobre Andrew na minha vida.

– Está tudo bem. Eu consigo ir.

Ele afasta os dedos lentamente para depois fazer um sinal de positivo com a cabeça. Quando ele abre a porta do seu lado, eu percebo que a hora de eu fazer o mesmo. Agarro a muda de roupas, e procuro a maçaneta, quando Andrew faz isso por mim.

– Nada de te carregar nos braços, mas eu posso pelo menos servir de apoio, se quiser. – ele sorri sem mostrar os dentes.

É o suficiente para me fazer derreter e é por isso que eu não consigo me mover. Andrew fica preocupado por isso resolve fazer o serviço por si mesmo. Ele passa um braço para trás das minhas costas e com o outro ele segura meu braço livre, para me levantar. Nós fazemos o movimento juntos, quando estou fora do abrigo que é seu Hamann, eu sinto a chuva molhar meu corpo inteiro.

– Melhor irmos logo. – ele olha do céu para mim, nossos rostos muito perto.

Andamos com mais pressa, ele tira as chaves do bolso e abre a porta. Subimos uma escada comprida e larga, as paredes são de um vinho escuro e tem uns quadros estranhos pregados, não é de nenhuma figura bem definida, parece algo do periodo Modernismo europeu, mas de qualquer forma, dá todo o toque luxuoso no lugar. Chegamos numa bifurcação, eu não sei o que tem no corredor esquerdo, embora eu tenha ficado curiosa, pois estramos pela entrada direita onde tem uma porta. É o apartamento dele!

A primeira coisa que noto é o quanto tudo é extenso, bem maior do que eu podia suspeitar. Além do mais, há muitas janelas, mesmo cobertas, é tão organizado que sinto vergonha do meu quarto, mais surpresa por se tratar de um rapaz solteiro. Não tem cuecas espalhadas (ainda bem), nem outras partes de roupas, ou revistas masculinas nas mesas ou restos de comidas com prazo de validade vencido, tudo é tão organizado e no seu devido lugar que parece que estou fora do ambiente normal de uma pessoa do século XXI e que esta seja um rapaz com mais de vinte anos. Embora não haja latas de cervejas soltas por ai, há, no balcão cor de tabaco, uma bandeja com bebidas e copos e taças de vidro, além disso, os sofás, a televisão, o tapete, tudo realmente, está no seu devido lugar.

– Você mora aqui? – a pergunta escapa, sem eu mesma perceber.

Andrew está com os braços agarrando meu corpo, ou seja, não preciso falar alto para me ouvir, e sinto todo o movimento do seu corpo quando fala e respira ao mesmo tempo.

– Não é oficialmente meu. – ele confessa. – Eu fico aqui quando eu quero estar longe do ambiente familiar, quero dizer, de certas lembranças.

Nós nos encaramos.

– Você deve saber sobre meu pai, não é?

Seus lábios se movem e quase não sai som, de tão perto que estamos já não é necessário falar.

– Sim. – sussurro. – E sinto muito.

– Tudo bem. Ou não. Bem, nós temos que nos preocupar com você agora.

Ele tem razão. Andrew tira lentamente seus braços que me apoiam, certificando-se que eu ainda vou continuar em pé quando ele se afastar. Pareco bem, até aqui.

– Fique a vontade, eu volto num instante.

Quando ele diz, já começa a caminhar para dentro de um corredor com uma iluminação fraca, de paredes no tom marrom escuro, um pouco mais forte que no restante da sala e da cozinha. Os quatros modernistas continuam por aqui, há vasos ornamentais que parecem custar uma foturnas, além disso, há uma grande estante com livros, eu não consigo reconhecer nenhum, são nomes em outra lingua, algo meio latim meio alemão, eu não faço ideia, e isso remete que Andrew é bem mais refinado que a sua fama de play boy pela cidade deixa transparecer.

Eu caminho para frente, segurando com muita força a muda de roupas em meu peito, olhando toda aquela extensão e tentando assimilar o lugar a pessoa. Andrew seria a ultima pessoa na face da terra que eu assimilaria um apartamento desse a ele.

– Estou de volta. – Andrew anuncia.

Quando nossos rostos se encontram, vejo que ele está segurando uma toalha dourada nas mãos.

– Desculpe a demora, nós não recebemos muitas visitas aqui. – ele confessa.

Quando ele está perto, eu resolvi perguntar:

Nós?

Andrew muda um pouco a feição, ele parece meio nervoso ou meio surpreso pela gafe.

– O apartamento não é meu, oficialmente, como eu disse. – ele dá mais dois passos. – É de Lewis Jones, você deve conhecê-lo, os Jones moram aqui a mais tempo que possa imaginar.

– Já ouvi falar. – eu digo, desconfiada com o tom que ele usou ao falar sobre seu amigo. – Mas não é errado eu estar aqui? Porque, quero dizer...

– Não vamos falar sobre isso, afinal, eu tenho um bom direito sobre esse apartamento. – ele muda de assunto, balançando a cabeça em negação. – Eu trouxe a única toalha intocável da casa, a sorte que quando me mudei para cá, Rebecca fez uma reforma... – ele examina o apartamento.

Eu sigo seu olhar.

– É um pouco exagerado não é? Ela é formada em história e literatura, é por isso a dos quadros e dos vasos, esse conjunto de cores sombrias. – seus olhos pretos caem sobre mim, fixamente. – O que achou?

Eu fico constrangida por ele segurar meu olhar, por isso troco rapidamente para observar as paredes.

– Sombrio de mais?

– Não, na verdade. – eu digo. – É incrível, parece um pouco com a antiga decoração da casa do meu tio, Maison. Eu gosto.

Eu não estou olhando-o, mas sei que seus olhos estão sob mim e isso faz minha pele arder com a questão da duvida. Eu tento procurar nas paredes, nas janelas, nos quadros, qualquer lugar, algo para poder ficar observando e algo para poder ocupar minha mente, mas quanto mais eu olho, mais meus pensamentos absorvem a figura dele, seu nome e sobre ele estar me encarando a tanto tempo. Quando o barulho da chuva inrrompe nosso silêncio, nós nos despertamos.

– Péssima noite. – ele sussurra.

Eu olho dele para a janela. Andrew tem razão.

– Ahm, bem, aqui está a toalha. – ele diz, passando-me o pano. – A primeira porta a esquerda é o banheiro, pode se sentir a vontade.

Eu fico constrangida por nada.

– Ok.

A ideia de estar numa casa desconhecida com um homem é completamente absurda, ainda mais sobre eu estar indo me dirigir ao banheiro, para tomar um banho. Isso é realmente algo que eu nunca imaginei, nunca.

Eu também não tinha escolhas, eu não podia voltar para casa toda ensaguentada, submetendo Isobel a me ver nesta situação, ela me mandaria para Anchorage, eu teria que enfrentar minha mãe e a possibilidade dela, no fim, acabar pedindo Josh em casamento. Isso eu não suportaria.

Eu passo por Andrew e sinto uma tensão surgindo dele, eu não sei o que é, mas isso continua até quando tranco a porta do banheiro. Eu não observei os outros comodos, sendo que todos tinham as portas fechadas, e eu não queria encher minha cabeça com pensamentos tolos, além dos que eu tinha que enfrentar. Eu deixo a muda de roupas em cima de uma cesta de roupa, penduro a toalha e começo a me despir. O banheiro é tão organizado quanto a casa, mas existe um aroma diferente aqui: creme de barbear e colonia masculina. O cheiro é tão forte e ao mesmo tempo tão bom que pisco várias vezes para o pensamento fugir da minha cabeça. Pensar em Andrew ao mesmo tempo em que estou tomando banho dentro do seu banheiro no seu apartamento me deixa completamente sem ar, é por isso que começo a bolar alguma desculpa para Isobel, quando eu finalmente chegar em casa. Eu posso mentir sobre eu estar na livraria, posso dizer que passei na casa de Suzanna e acabei perdendo a hora. Mas se ela tivesse o numero de Suzanna?

Em quê eu fui me meter?

Eu fecho os olhos e puxo o sabonete liquido para as minhas mãos, esfrego pelo meu corpo e vejo as manchas secas de sangue – agora umidas – esvaindo e descendo pelo ralo. É como se eu pudesse, pela primeira vez desde aquele momento, esquecer do que realmente aconteceu. Ou da minha culpa.

Talvez isso leve mais tempo. Talvez eu viva com isso para sempre, mas não neste momento, eu quero poder chegar em casa e ter uma boa noite de sono, que eu possa fechar os olhos e não sonhar com nada, nenhum pesadelo, nem os melhores sonhos encantados, nada de coelho falante, ou toca desconhecida, embora meus pesadelos sejam uma inversão de enredo, eu estou seguindo por uma toca, mas não há coelhos atrasados, lagartas sábias ou biscoitos escrito “coma-me” ou garrafas com “beba-me” com incrivel habilidade de ora encolher ora crescer. Nos meus sonhos eu sou muito menor que meus medos, e embora eu veja olhos brilhantes e tenebrosos, eu não consigo me livrar dele, nem mesmo quando eu corro para longe.

De repente, quando abro os olhos, vejo que não há diferença alguma. As luzes acabaram, a agua ainda está caindo e está esfriando aos poucos, que é quando eu tateio a parede para desligar. Assim que a agua para de cair, eu escuto a chuva mais forte lá trás e duas batidas na minha porta.

– Nathalie? Você está ai?

Eu fico imóvel, sem saber o que fazer.

– As luzes apagaram, eu acho que a chuva e o vento derrubaram o fio. – Andrew esclarece com verdade.

– E agora? – pergunto, preocupada.

– Eu não sei... – nós esperamos alguns segundos em silêncio, eu sinto que ele está encostado na porta.

Eu tento procurar a toalha, está começando a ficar frio aqui, mas esbarro numa prateleira, de onde me lembro ter visto produtos higiênicos. O banheiro de Andrew é bem maior agora no escuro, parece um lugar vago, assustador, eu só consigo ver quando o raio atravessa o céu e brilha lá no alto.

– Você caiu? Se machucou? – ele fala alto aparentemente preocupado depois de bater duas vezes na porta.

– Eu estou bem, eu, hm, esbarrei em alguma coisa, estava tentando procurar a toalha, está frio aqui.

Fico surpresa com a minha sinceridade.

– Realmente. – ele confessa. – Tome cuidado, qualquer coisa pode ser afiada aí dentro.

Eu sei que ele ainda continua perto da porta, porque consigo ouvir o ruido dela quando ele se mexe. Finalmente encontro a toalha, enrolo-me nela e tento procurar a muda de roupas. Quando as achos, torço para que eu esteja vestindo o lado certo, tateio as partes obvias, como as etiquetas que geralmente ficam para as costas. Depois de abotoar o sutião e colocar a blusa preta de mangas compridas, eu lembro que o casaco de Andrew ainda está em algum lugar do banheiro, talvez no memso lugar onde as roupas haviam sido encontradas. Volto até lá e acho o casaco. Eu estendo a toalha no gancho na parede e vou caminhando lentamente para a porta.

– Eu estou saindo. – eu aviso para ele, depois de um bom tempo em silencio.

Eu não escuto nada nos proximos segundos. Depois ouço passos meio molhados que fazem meu coração acelerar rapidamente. Umidade, umidade, assassino.

– Desculpe, eu estava espiando a situação lá fora. – é a voz de Andrew que se segue ao mesmo tempo dos passos, isso alivia meu coração. - Fique a vontade, eu vou ver se tem alguma coisa que eu possa fazer pela luz.

– Tudo bem.

Quando escuto seus sepatos molhados se arrastando pelo piso e desaparecendo aos poucos, eu resolvo voltar a me movimentar pelo banheiro. Esbarro na pia e sinto o alto da minha cintura latejando agora. Eu odeio estar no escuro, odeio tudo isso. Quando me recupero, começo a tatear a parede atrás da maçaneta da porta e assim a chave. O casaco de Andrew se embola na minha mão ao mesmo tempo em que me assusto com o barulho de um trovão e deixo a chave cair.

– Oh, droga!

Eu falo baixinho, amaldiçoando essa tempestade, me amaldiçou por ser tão desajeita e por ter me colocado nessa situação estupida. Eu não consigo achar a chave, eu não consigo ver absolutamente nada para ser exata, não é mesmo Nathalie?

Desisto!

Encostome-me na parede (pelo menos fui capaz de encontrá-la) e fico pensando com meus botões. Não me lembro de ter trancado a porta, talvez eu nem tenha visto a chave na fechadura, eu estava tão desligada e preocupada com a situação em que tinha me colocado que nem me passou pela a cabeça fechar a porta. Movo-me para perto da maçaneta novamente, coloco minha mão nela e inclino minha mão para a vertical. Nada. Minha esperança se foi.

Eu acho que vou chorar... Eu não posso chorar, isso é besteira, estou sendo estupida.

Eu não estou em perigo, mesmo que isso remeta ao que me aconteceu a algumas horas. Eu não posso lembrar, não posso, isso vai me frustrar e vou enlouquecer de vez, tenho que aceitar que não foi minha culpa, eu não podia fazer nada. Aconteceu!

Ouço passos molhados.

– Nathalie? – Andrew chama meu nome. – Está um caos lá fora, acho que ficaremos sem luz por um bom tempo. Eu tentei de tudo, mas não pude fazer muita coisa, pelo menos não nessa chuva.

– Andrew? – sussurro.

Ele se encosta na porta.

– Sim? – ele pensa um pouco. – Você ainda está aí? Achei que já havia terminado.

Eu fico vermelha pelo contrangimento, talvez eu minta e diga que não consegui achar minhas roupas, talvez eu consiga fazê-lo esperar até que, graças a Deus, a luz volte, qualquer coisa, não importa o que seja, que pelo menos não me faça contar a verdade e vê-lo rir da minha cara.

– Nathalie? O que está acontecendo? – ele parece preocupado.

Eu não posso levar essa mentira para o resto da minha vida. Eu acho que vou chorar de novo, não por isso, mas pelo dia de hoje, eu não consigo simplesmente esquecer, apagar da memória.

– Eu estou trancada.

– A chave está dentro da fechadura. – ele avisa.

– Não... Está mais.

Nós ficamos em silêncio por três segundos. Eu acho que ele está me xingando mentalmente por ser uma garota estupida, por ter me encontrado, por ter me levado para seu apartamento, por eu estar aqui. Eu sou tão estupida, não posso suportar ouvir as palavras cruéis de Andrew ou sua feição furiosa. Não posso.

– Você pode se afastar o máximo que puder da porta? – ele de repente diz, sua voz não parece embargada ou debochada.

– O quê?

– Vou te tirar daí.

– Você vai quebrar a porta? – falo alto, meio pasma.

– Não estou ouvindo você se mexendo Nathalie, vamos, deixe que da porta cuido eu.

Eu não falo nada, faço o que ele pediu.

Dou vários passos para trás até que sinto a parede umida atrás de mim. Eu estou longe o bastante, ou pelo menos espero.

– Está protegida? – ele grita.

– Sim... – eu acho.

– Ótimo. Vamos lá. Um. Dois. Três.

A porta se despedaça em duas partes e despenca no chão, eu vejo só um borrão rápido ao mesmo tempo que um trovão rasga o céu ao meio assim em seguida de um relampago que ilumina o rosto de Andrew e a madeira despedaçada da porta.

– Oh, meu deus! – só consigo dizer isso.

– Você se machucou?

Andrew pisa em cima da madeira e dá um pulo para frente, alguns pingos de agua molham a barra da minha calça e vejo que ele não precisou de esforço nenhum para vir até mim, ele fez todo o trajeto em um pulo. Literalmente.

– Não. – confesso. – Mas estou surpresa.

Ele dá um meio sorriso, vejo uma parte do seu rosto se iluminando.

– Pelo o quê?

– Você partiu uma porta ao meio e isso é bem... Bem... Impressionante.

Ele está sorrindo de lado a lado. Eu fico deslumbrada.

– Venha, vou te tirar daqui. – ele estende a mão para mim e eu a alcanço.

Caminho atrás dele enquanto estamos tentando desviar dos destroços da porta e saimos enfim de dentro daquele banheiro. O resto do apartamento não está tão diferente, mas o ar aqui é bem melhor do que lá dentro. Eu consigo voltar a respirar com alívio.

Nós caminhamos para perto da sala, onde estão os sofás. Andrew está caminhando até a janela para abrir as cortinas, suspeito. Quando ele o faz, ele deixa a mostra uma parte da janela que deixa a tempestade mais proxima. Realmente um caos.

– A previsão era de céu limpo. – Andrew caminha para mim, sorrindo.

Até mesmo no escuro eu posso observar o quanto as feições dele são mais deslumbrantes, mais marcantes. Andrew é lindamente esculpido.

– Sinto muito pela a porta.

– Ela estava velha mesmo. – ele dá de ombros. – De qualquer forma, não poderiamos esperar as luzes voltarem para encontrar a chave.

Eu fico vermelha por causa do meu jeito desajeitado.

– Você está pensando em quê?

– Eu não estou.

– Estava calada até então. – rebate.

– Que sou muito estupida por ter deixado a chave cair. – confesso, constrangida.

– Não seja dura consigo mesmo, é só olhar pelo o que você passou hoje. O que quer que tenha acontecido naquele lugar, você estar aqui com vida já é o suficiente para ser mais maleável consigo mesma.

Eu deixo um sorriso escapar.

– Obrigada.

– É desse sorriso que eu estava falando. – ele está perto, bem perto.

Um trovão rasga novamente o céu que me assusta, o suficiente para nós dois encararmos um ao outro. Eu não consigo pensar em nada logicamente comprovado, meus pensamento estão turvos e sinto minha pele congelar ao mesmo tempo que meu coração acelera, bombeando sangue. Não faz sentido. Mas acho que é o frio, o aquecedor está desligado, as luzes continuam apagadas e uma tempestade rola lá fora, enquanto uma confusão cresce dentro de mim. O que há de errado comigo?

Eu sinto um arrepio passar pelo meu corpo, estremecendo-me.

– Eatá com frio? – ele pergunta, sem se mover.

Eu olho rapidamente para as minhas mãos e encontro o casaco, que eu já devia ter devolvido;

– Eu estou bem. – ele diz, quando encontro seus olhos. – Deixe-me te ajudar.

Andrew segura o pano com as duas mãos ao mesmo tempo em que se encaminha para me ajudar a colocar as mangas. Seu toquei é leve e tranquilo, mas é o suficiente para esquentar a minha pele. Quando terminamos ali, ele se vira para mim.

– Melhor?

Eu faço que sim com a cabeça, sem capacidade de falar alguma coisa. Eu fico completamente boba e isso não é normal por vários motivos. Eu nunca estive perto e ao mesmo tempo longe de alguém desconhecido que fosse o suficiente para me encontrar boba, em extase, tremendo a base. Nem mesmo com Jake. Eu nunca estive dessa forma e eu não sei o que é, diretamente. É como se com Andrew eu não tivesse força o suficiente para agir, é como se eu não tivesse controle sobre meus proprios pensamentos, meus sentimentos, minhas reações. Eu sou outra pessoa ao lado dele, e não sei se gosto desse meu lado.

– Nathalie... – ele me chama.

– O quê? – desperto, sussurrando.

– Eu vou confessar uma coisa. – ele está tão perto que sinto o ar sumir.

Ah, meu deus. O que ele vai dizer? Ele vai me contar a verdade sobre o que aconteceu esta noite? Ele planejou que as luzes se apagassem? Ah, qualquer coisa, qualquer coisa que não encha meu peito de esperanças.

– O quê? – repito, ansiosa demais.

– Isso é novo para mim, então...

Ele está mais perto, eu sinto seus braços roçarem nos meus, sinto sua respiração contra meu rosto, eu sinto tanta coisa e ao mesmo tempo quero ignorar. Será que ele consegue ouvir os batimentos em descompasso do meu coração?

– Andrew...

– Eu sei que não é a melhor hora. – confessa. – Eu não devia nem ter começado isso, afinal, acabamos de sair de um cenário de perseguição para um apartamento escuro devido a uma tempestade. E tenho, ainda, a responsabilidade de levá-la para casa.

– Você tem razão.

– É, tenho. – Andrew diz tristimente.

– E o quê?

– Não era importante... – seus olhos não informam nada, eles são indescritiveis.

Ele não vai dizer mais nada, Nathalie, apenas aceite que toda essa eclosão de sentimentos por ele parte apenas de você. Você gosta dele, e sozinha. Oh, meu deus, eu gosto dele.

– Então, é melhor eu ir? – sussurro.

– Acho melhor.

É só isso? Eu me pergunto, irritada comigo mesma.

Eu não posso acreditar que eu estou gostando de alguem que mal conheço, alguém inalcancavel. Eu não posso ser tão estupida a este ponto, eu estou aqui para outros tipos de ligação, e não para estar tão ligada a alguém romanticamente. Eu não posso.

– Ok, vamos então. – eu resolvi dizer, é o que eu tenho que dizer.

Eu me movo para a porta.

– Espere. – ele pede.

Eu paro no tempo.

Eu não sei o que fazer, os dedos de Andrew seguram meu braço e sinto que posso ir ao céu e voltar quando ele me toca, mesmo aqui estando um caos.

– O quê?

– Eu não paro de pensar em você, e não sei o por quê.

Ele disse... Eu sei o que ele disse!

Andrew não se contenta em estar perto desse jeito, se aproxima o suficiente para nos tocarmos. Seus dedos alcançam meu rosto e sinto sensações nunca sentidas antes, não há como descrever algo que você nunca tenha visto antes, até agora. Seus dedos são feitos para que a minha pele possa sentir, é isso.

Os centimetros são desfeitos e descubro que sou fraca para ignorar meus sentimentos. É muito além de estar gostando de um desconhecido, eu sinto que esse sentimento é tão forte que não parece ter acontecido de um dia para o outro. É como se eu o conhecesse muito mais do que nossas lembranças. É algo muito além da minha compreensão.

Todos meus pensamentos passam longe da lógica normal. Ele está tão perto que chego a conclusão de que Andrew, o McDowell, quer me beijar. E eu quero também, nossa, eu quero muito. Quero com muita vontade e desejo. Quero sentir o gosto dos seus lábios, seus toques mais selvagens pelo meu corpo, quero sentir o que é estar nos braços de alguém como ele. Nem mesmo Jake teve uma reação dessa sobre mim. Eu não acho isso normal, só acho isso tentador.

Eu quero que ele me beije, me beije logo.

Andrew toca meu nariz com o seu e sei que é a hora. Eu fecho meus olhos e sinto as mãos de Andrew segurando minha cintura, nossos corpos estão colados, ele sente minha respiração agora, o calor do meu corpo, a pulsação do meu coração, ele sabe do efeito que tem sobre mim. Eu quero que ele saiba, e quero que ele me beije. Seu lábio inferior faz um toque leve no meu e é nesse momento que as luzes voltam.

Eu não sei o que é depois dali, eu só observo que olhar nos olhos dele é bem diferente agora. Eu me afasto, ele se afasta. Eu não sei o por quê, estávamos tão perto e de repente parece que estamos tão longe, é uma força inexplicável.

– Desculpe. – ele diz.

Eu não sei o que dizer, principalmente pelo fato dele pedir desculpas como se fosse a pior borrada que ele iria fazer. Andrew dá as costas para mim, passa os dedos pelo seu cabelo umido e sussurra baixinho, suspeitando que eu não possa escutar:

– Essa luz deve estar brincando comigo, eu acho.

Eu realmente não sei o que dizer. Eu desvio meus olhos pelo lugar e tento procurar qualquer outra coisa. Eu vejo as horas marcadas no despertador e isso me assusta.

– Meu deus. – eu digo.

Andrew se vira para mim, seus olhos pretos me cercam, ele parece preocupado. Quando é que não está?

– Desculpe, é que está tarde.

Ele faz que sim com a cabeça.

Então está eu e Andrew, um metro de distância olhando um para o outro com feições diferentes: eu estou envergonhada, ele está tranquilo. E está me encarando muito fixamente.

– Isobel deve estar enlouquecendo.

Ele caminha na minha direção.

– Tudo bem, então vamos. – ele conscente, mas me pego pensando na sua hesitação, como se não fosse isto o que ele queria dizer.

O quê? Eu posso ser positiva, não posso?

Quando nos afastamos, eu vejo que ele está esperando que eu siga na frente, primeiro. É o que faço, eu estou a três degraus adiantados quando ele parece ter se perdido nos pensamentos. Quando estamos fora, eu vejo que a chuva é ainda mais terrivel encarada de perto, mas parece que os trovões e os relampagos resolveram tirar um folga, eu agradecia. Andrew destranca o carro e abre a porta para mim, eu encolho-me no banco e aperto minhas rouplas molhadas no meu colco. Ele entra um segundo mais tarde.

Eu não gosto desse silêncio.

– A casa da minha tia fi...

– Eu sei onde fica. – ele pisca para mim antes de manobrar o carro.

Eu apenas fico calada, claro que ele deveria saber, o tio dele já havia ido várias vezes lá. Exceto que... Então ele sabe! Se Andrew sabe onde eu moro, certamente juntara os pontos de quem eu era, do acidente do meu pai. Ele sabia o tempo todo!

Por que ele nunca comentou isso comigo? Por que ele nunca se dirigiu a mim, antes? Eu não consigo entendê-lo. Nós já saímos do bairro de prédios altos, o caminho é complicado o suficiente para ter cuidado ao dobrar uma esquina ou frear, mas neste momento não é com isso que eu me importo.

Por que Andrew nunca disse nada sobre saber da morte do meu pai?

– Então, - eu começo. – você sabe quem eu sou agora.

Seus olhos estão sobre mim agora, carregando surpresa.

– Do que estamos falando, exatamente?

– Sobre o acidente do meu pai, os noticiários, sobre tudo. – eu estou fitando ele fixamente esperando sua reação.

Ele suspira antes de falar.

– Bem, sim, eu sei. – ele concorda, mas parece desconfortável.

– Sabe? Digo, sabia disso quando foi na livraria? – perguntei interessada.

Ele concordou com a cabeça, não muito convicto.

– Por que não disse nada?

– Eu deveria? – ele me olhou nos olhos.

– A maioria das pessoas teriam me dado algum conselho construtivo sobre não tentar suicidio ou dizer a famosa frase “tudo vai ficar bem”.

Ele dá um meio sorriso.

– Não sou como a maioria. – no que ele disse, havia muito mais coisas do que ele quis expressar, e issso me fez estremecer. – E eu sei que você não iria gostar de ouvir isso de mim como eu sei que você não gostou de ninguém que o disse.

– Como você... Sabe?

– Eu já passei por isso, lembra? – seus olhos pretos são incompreensíveis.

Eu fico furiosa comigo mesma por não ter lembrado desse detalhe. As vezes as perguntas saem antes mesmo de processá-las. Nós dobramos a esquerda.

– Embora isso não nos faça iguais. Na verdade o que deveria nos fazer iguais, nos deixa completamente diferentes. – o que ele disse não faz nenhum sentido para mim.

– É sobre seu pai?

Mas olhando para ele, percebi que eu devia ter evitado essa pergunta. As vezes eu apenas penso e quando vejo eu já estou perguntando.

– Tambem.

– E por que isso nos faz diferentes?

– Porque nós dois, - ele me encara agora, olhando-me nos olhos – enfrentamos esse tipo de dor de formas diferentes.

– E tem como enfrentar isso de forma diferente? – ou apenas enfrentar?

– Existe muitas formas de enfrentar isso. - ele dá de ombros, um pouco vago. – As pessoas estão sempre buscando a justiça, culpando alguém, esse é o mais natural, embora tenha aquelas pessoas que isso não vai funcionar, porque, as vezes, o culpado não pode ser preso e tem que fazer do seu modo.

Andrew seria esse tipo de pessoa? Eu não levo isso a sério.

Quando o carro finalmente para, eu percebo que foi rápido demais. A casa de Isobel está esperando por mim e eu não quero descer agora. Nós estamos quietos e eu não sei se ele vai dizer alguma coisa, eu penso em me virar e pedir desculpa pela a minha falta de educação, mas quando eu olho para ele, percebo que estava sendo observada a muito tempo. Como pode alguém carregar olhos tão pretos?

– Se pensar um pouco mais, - ele sussurra. – existem pessoas que procuram esquecer como uma forma de aliviar a dor, mas isso é muito dificil e leva tempo.

Eu queria, queria dizer que por mais que Andrew nos achasse diferente, perder uma pessoa nos tornava ainda mais próximos, eu podia sentir sua dor e ele não precisava viver ignorando ou fingindo que não se sente como eu, lutando para não desabar.

– Andrew...

– Está tudo bem. – ele sorri.

Eu não tenho tanta certeza, eu teria dito alguma coisa, se as luzes da porta de entrada da casa não tivessem sido acesas. Isso queria dizer que já era tarde.

– Melhor eu ir, então. – respondo definitivamente, desviando meu olhar dos seus e procurando abrir a porta.

Porém Andrew é mais rápido e me impede.

– Eu sei que já falaram isso para você. E eu sei o que eu disse sobre isso anteriormente, mas – ele diz. – quando tudo isso estiver acabado, você vai poder seguir em frente, não neste caos, não agora, mas no final você vai ficar bem.

vai ficar bem.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Eu gostei muito desse, é como se fosse um novo passo para Nathalie e Andrew. (ignorem os erros, obrigada)