Elementos Opostos escrita por Adrenaline Sunshine


Capítulo 5
Capítulo 4




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Quando cheguei em casa, eu avisei que não compareceria aos treinos do dia seguinte a Finn e ele ficou furioso comigo.

– Como assim você não vai?! Já vai molengar de novo?

– Calma! É só amanhã.

– Foi só hoje, é só amanhã e depois? É só uma semana? Um mês? Para sempre? – Finn falava de olhos arregalados. Eu consegui ver uma veia em sua testa pulsando. Estava me assustando.

– Kiara, você disse que esse namorico não ia atrapalhar os treinos. – Ian me lembrou.

– Eu sei, mas... O Lee está doente e amanhã o tio dele vai inaugurar a nova casa de chá e eu quero ir!

– Ai, tadinho do Lee, não vai sobreviver sem você. – Finn ironizou com voz de bebê.

Já perdeu a graça.

– Olha aqui vocês dois: nós temos treinado desde que chegamos nessa cidade. Eu já aceitei várias vezes o centro do alvo e já derrubei o Ian também. Eu mereço folga! E agora, pela primeira vez na vida, eu estou tendo uma experiência comum, de uma pessoa normal, me deixa aproveitar! – eu pedi brava.

Finn e Ian ficaram em silêncio. Eu fiquei esperando que um deles falasse alguma coisa até que Ian disse:

– Tudo bem, eu concordo. – Finn o olhou boquiaberto. – Nós temos nos esforçado muito nesses últimos tempos imaginando que entraríamos em perigo, quando nem sabemos se vamos realmente precisar.

– Não podemos parar! Tem uma guerra rolando fora daqui! – Finn esbravejou.

– Eu sei, mas acho que podemos tirar uma folguinha um dia ou outro. – Ian se explicou tentando acalmar Finn. – E a Kiara está namorando, acho que ela merece aproveitar o momento.

Eu sorri. Finn abaixou os ombros, desistindo.

– Tá, eu concordo. Queria ter uma namorada também. – ele confessou triste.

– Nossa hora vai chegar. – Ian o consolou batendo em suas costas. – Mas – ele avisou. – as folgas são de vez em quando. Não podemos relaxar totalmente.

Eu concordei.

No dia seguinte, quando saí do restaurante depois do expediente, me espantei ao dar de cara com Lee.

– Oi, Kiara! – ele saudou e me abraçou. Aconteceu tão rápido e tão inesperadamente que levou uns três segundos para eu reagir; então, eu o abracei também.

– Oi, Lee. O que você está fazendo aqui? Não deveria estar com seu tio n’O Dragão Jasmim?

– Sim, mas ele me pediu para vir te buscar porque o seu amigo chato poderia te impedir de ir. – o amigo chato era o Finn. – E eu também queria te ver. – ele sorriu mostrando os dentes.

Eu estranhei. Lee não era assim, o que será que aconteceu?

– Você está bem? Está diferente. – eu disse, examinando-o.

– Nunca estive melhor. Vamos indo? Meu tio está te esperando. – ele disse, segurou minha mão e me guiou o caminho todo, me contando como era a casa de chá de Mushi.

Apesar de eu estar estranhando essa mudança de comportamento, eu fiquei feliz. Muito feliz. Nós parecíamos um casal de namorados normal e feliz. Sentia como se estivesse andando nas nuvens.

– Chegamos. – Lee disse e parou de frente a uma casa de chá grande, espaçosa e muito bonita. – Nós moramos lá em cima. Depois te levo para conhecer. – ele me puxou para entrarmos. Eu estava encantada.

Entramos. A cada de chá O Dragão Jasmim era muito maior que a antiga, mais espaçosa e bonita. No fundo ficava a cozinha, onde estava Mushi ocupado preparando os chás.

– Tio! Eu trouxe a Kiara. – Lee avisou quando chegamos. Eu acenei para Mushi.

– Excelente! Aquele eu amigo chato não pôde te segurar, não é? – ele disse e logo voltou a preparar os chás.

– Kiara, sente-se onde quiser, fique a vontade. Quer um chá? – Lee ofereceu, ainda segurando minha mão.

O que? Chá? O que era chá mesmo? Ah, sim!

– Sim, claro! – eu aceitei.

Lee me acompanhou até uma mesa e pouco depois me trouxe um chá de lichia.

Enquanto fiquei na casa de chá, eu fiquei observando Lee. Ele estava muito diferente, sorridente, simpático e bem humorado. Nem consegui disfarçar meu olhar, ele o acompanhava a todo o momento. Me pergunto o que aconteceu para ele mudar desse jeito.

Eu terminei o meu chá e fui leva-lo ao balcão, visto que Lee estava muito ocupado.

– Oi, Mushi. – eu cumprimentei animada. Mushi estava preparando os chás alegremente. – Sua casa de chá é muito bonita.

– Obrigado, Kiara! Estou feliz que tenha vindo ao dia da inauguração. – ele disse, servindo chá em três xícaras. – Aquele seu amigo chato não conseguiu te segurar, não é? – ele repetiu.

Eu ri.

– Não. E nem que tivesse ele poderia, o Lee foi me buscar.

– E eu nem precisei o mandar ir. Ele foi por pura e espontânea vontade. – Mushi colocou uma bandeja com os três chás no balcão.

– Ele está diferente. É aquela transformação que você disse? – eu perguntei.

– É e felizmente ele veio para o lado certo. – Mushi respondeu sorrindo e olhando gentilmente para Lee, que pegava o pedido de um cliente.

Eu não entendi bem o que ele quis dizer com “lado certo”, mas não questionei.

Lee veio até o balcão para pegar a bandeja.

– Ué, vai embora? – Lee me perguntou.

– Acho que vou dar uma voltinha pelo Anel Superior, conhecer as redondezas. Mais tarde eu volto para conhecer seu novo apartamento.

– Tudo bem, então. Até mais tarde. – ele se despediu e me deu um beijo na bochecha que me fez abrir um enorme sorriso.

Saí d’O Dragão Jasmim e fui passear pela rua. As ruas do Anel Superior eram mais bem pavimentadas, melhor cuidadas e mais espaçosas. Todo o comércio era mais bem estruturado e arrumado. Fiquei com inveja. Tudo ali era de primeira qualidade, algo raro de se encontrar no Anel Inferior.

Parei em um mercadinho, onde vendia verduras, legumes e carnes, o maior lugar de compras que eu já tinha visto. Tudo ali parecia tão bonito e gostoso. Abri minha bolsa, peguei o dinheiro que tinha e contei. Não tinha muito e fiquei em dúvida se levava alguma coisa ou não. Dei mais uma olhada nas carnes. Estavam muito melhores que as do Anel Inferior. Achei que eu, Finn e Ian merecíamos uma carninha melhor uma vez na vida, e considerando que Ian ganhou um aumento no salário, eu resolvi levar um pedaço.

Saí do mercadinho feliz comigo mesma e esbarrei em alguém. Eu cambaleei e caí. Olhei para quem eu tinha esbarrado e ele também tinha caído.

– Desculpa, moço, eu não te vi! – eu pedi desculpas, me levantei e fui até ele.

– Você devia olhar por onde anda, menina! – ele falou para mim, se levantando.

Olhei bem para ele e vi que não era um moço. Era um garoto da minha idade, com cabelo apenas no meio da cabeça e preso em um rabo curto. Ao lado dele estava uma garota, provavelmente a irmã e um... Animal branco com orelhas grandes que eu não conhecia.

– Ô seu Zé, eu pedi desculpas. – eu disse. Não gostei de ele ter sido estúpido depois de eu ter me desculpado.

– Não me chame assim. A culpa é sua de termos nos esbarrado! – ele falou um pouco alto demais e vindo até mim.

– Sokka, deixa pra lá, foi um acidente. – a menina ao lado dele disse. – Desculpa, moça, ele é desequilibrado.

Sokka? Onde eu já tinha ouvido esse nome? Sokka? Olhei de novo para os dois. A pele deles tinha a mesma tonalidade da minha, eles tinham olhos azuis e usavam roupas azuis características da Tribo da Água.

De repente a ficha caiu. Sokka! É claro que eu já tinha ouvido esse nome.

– Espera aí. Seu nome é Sokka? – eu perguntei.

– Isso depende de quem está procurando por ele.

Eu ignorei e me virei para a menina.

– Katara?

Os dois arregalaram os olhos e o suposto Sokka baixou a pose.

– Como você sabe quem nós somos? Quem é você? – Sokka perguntou, apontando o dedo na minha cara. – Você é vidente?!

– Kiara! Lembram-se de mim? – eu perguntei entusiasmada.

O rosto de Sokka se iluminou. Ele abriu os braços e veio para cima de mim me abraçar.

– Kiki!

Eu o abracei de volta. Não acreditei ter encontrado Sokka e Katara da Tribo da Água do Sul depois de tantos anos separados. Eu não fazia ideia do que tinha acontecido com eles e foi uma alegria sem fim saber que eles estavam vivos e bem.

– Eu não acredito que vocês estão aqui. – eu disse com a voz emocionada depois de termos afrouxado o abraço. Eu fui até Katara e a abracei também. – Estou tão feliz por você estar bem, Karata.

– Estou feliz por te ver também. – ela disse me abraçando forte.

– Mas o que vocês estão fazendo aqui? – eu perguntei depois.

– Nós viemos avisar o Rei da Terra sobre uma informação que nos ajudará a derrotar a Nação do Fogo. – Sokka respondeu animado.

– Não brinca! Isso é ótimo!

– É, e melhor ainda: nós estamos viajando com o Avatar. – Sokka disse cheio de si.

Meu queixo caiu.

– Vocês são os dois que estão viajando com o Avatar?! – eu tinha ouvido que o Avatar estava viajando com dois adolescentes, mas nunca na vida eu ia imaginar que eu conhecia esses dois adolescentes. – Que legal!

– Cara, nós temos muito que conversar! Quer conhecer nossa casa?

– Claro, eu adoraria!

Então, nós três fomos para a casa de Sokka e Katara.

Ao andar pela cidade, não pude evitar ficar maravilhada com as casas. Eram todas grandes, com pilares na fachada e muito bem construídas, o contrário do meu apartamentinho.

Chegamos à casa de Sokka e Katara e ela era igualmente grande, com pilares decorando a fachada e com uma escadaria que levava à porta de entrada.

Por dentro era ainda melhor: tinha uma sala grande com mesinhas e vasos decorativos e uma mesa com almofadas no centro, em cima de um tapete verde. No fundo havia um patamar mais alto, onde tinha um grande tapete verde claro e as camas.

– Seja bem vinda à nossa casa. – Sokka disse, abrindo os braços.

– Obrigada!

– Senta aí, vamos conversar. – Sokka disse e apontou para a mesa e as almofadas. Eu me sentei, Katara ao meu lado e Sokka na minha frente. O animal branco voador pousou perto de mim e eu assustei. – Esse é o Momo, é um lêmure voador. Ele não morde, fica tranquila.

– Está bem. – eu disse, hesitando um pouco, mas estiquei meu braço e passei a mão na cabeça do animal. Ele não se afastou e aproveitou o carinho. Era tão bonitinho!

– Então, onde você mora? – Sokka perguntou.

– No Anel Inferior.

– Por quê? Você tinha que estar aqui também! – ele pareceu inconformado.

Eu ri.

– Aparentemente só o Avatar tem esses privilégios. Eu sou refugiada, lembra? E nós refugiados ficamos no Anel Inferior. – eu expliquei.

– Mas você mora sozinha lá? – Katara perguntou preocupada.

– Não, não, moro com dois amigos. – eu respondi.

– Ah! E um deles é o seu namorado? – Sokka perguntou me olhando de perto, debruçado na mesa.

– Não, são só amigos mesmo. Meu namorado mora no Anel Superior, por isso estou aqui. – eu respondi.

Sokka voltou a se sentar como gente.

– E o que aconteceu todos esses anos? O que você fez? Como chegou aqui? – Katara perguntou curiosa.

Então, eu contei desde o dia em que eu e meus pais fugimos da Tribo da Água do Sul (o que eu lembrava), sobre o tempo em que viajamos pelo Reino da Terra, pelo Pântano, sobre quando meus pais se foram e o tempo que eu passei na Tribo da Água do Norte. Sokka e Katara disseram que Yue se foi, que se transformou no espírito da Lua. Fiquei arrasada ao saber disso.

Eles me contaram sobre a batalha na Tribo da Água do Norte contra a Nação do Fogo que eu nem fiquei sabendo. Contei que depois que entramos em Ba Sing Se ficamos meio alienados quanto ao mundo de fora. Eles disseram que estavam começando a perceber isso.

– Depois que saí da Tribo da Água do Norte, voltei para o Reino da Terra e comecei a viver com os Lutadores da Liberdade.

– O quê?! – Sokka e Katara perguntaram ao mesmo tempo. – Você fazia parte dos Lutadores da Liberdade? – Katara concluiu.

– Sim. Você os conhece? – eu perguntei.

– Tivemos esse desprazer. – Sokka respondeu.

– Já sei, vocês tiveram problemas com o Jato. – eu adivinhei.

– Exatamente. Ele fez com que eu e o Aang dominássemos a água para destruir a represa e também a aldeia próxima. – Katara lembrou com amargura.

– E o que aconteceu?

– Eu avisei todos a tempo de fugirem – Sokka respondeu.

– Jato tinha pedido para eu fazer isso também, mas eu recusei. Nós brigamos e aí eu fui embora com Finn e Ian. – eu contei.

– Mas por que raios que o parta você viveu com eles para começo de conversa? – Sokka perguntou, ou melhor, exigiu a resposta.

– Simples: eu estava completamente sozinha, encontrei um bando de refugiados como eu que construíram suas casas e estavam conseguindo se virar muito bem. É claro que eu aceitei ficar com eles. – eu expliquei. – Eu não gostava quando eles atacavam gente inocente para roubá-las, mas era o que eu tinha. Era isso ou viver sozinha de novo e lá fora essa não é a opção mais segura. Mas chegou uma hora que foi a gota d’água e então eu saí.

Sokka e Katara ficaram em silêncio por um segundo.

– Deve ser difícil viver sozinha por tanto tempo. – Karata comentou.

– É sim. – eu confirmei. Lembrei-me da noite que meus pais morreram e senti o meu ódio da Nação do Fogo voltar com tudo. – E se vocês precisarem de ajuda especialmente se tratando de combater a Nação do Fogo podem me chamar, eu ajudo com certeza. – eu me ofereci. – E tenho certeza que Finn e Ian ajudarão também.

– Quanto mais ajuda melhor. – Sokka sorriu e fez sinal de ‘joia’ com a mão esquerda.

– E vocês moram aqui com o Avatar, certo? – eu perguntei.

– Sim e a Toph. Ela é a mestra na dobra de terra do Aang. – Katara explicou.

– É, mas ela descobriu que a mãe dela está na cidade e foi se encontrar com ela hoje. – Sokka disse. – E daqui a pouco eu e o Aang vamos sair. Recebemos uma carta do nosso pai – e indicou ele e Katara - de que ele está na Baía do Camaleão e eu estou indo para lá hoje! – ele contou empolgado.

– Isso é ótimo! Que bom, Sokka! Você também vai, Katara? – eu perguntei.

– Não, vou ficar para ajudar na preparação para a invasão do dia do eclipse solar.

Eclipse solar? Sem sol? Isso significaria ‘Nação do Fogo inútil’?

– Eu quero participar. Estarei lá com certeza. – eu disse com convicção.

– Estaremos contando com você. – Sokka disse.

A porta da casa se abriu e um garoto de uns doze anos, vestindo uma roupa laranja, careca com uma seta azul clara tatuada na cabeça e segurando uma vara entrou.

– Oi, cheguei. – ele anunciou.

– Aang, que bom que voltou. Temos visita. – Sokka disse.

– Ah, oi. – Aang me cumprimentou. Eu cumprimentei de volta.

– Essa é a Kiara, uma antiga amiga nossa da Tribo da Água do Sul. – Katara apresentou-me a ele. – Kiara, esse é o Aang, o Avatar.

– É um grande prazer conhecê-lo! – eu disse sorridente e nervosa por dentro. O Avatar estava ali na minha frente! Finn ia ficar doido quando soubesse.

– O prazer é meu em conhecer a amiga do Sokka e da Katara. – ele sorriu para mim. Ele se virou para os dois. – Sokka, acabei de saber que as Guerreiras Kyoshi estão em Ba Sing Se.

Sokka abriu um enorme sorriso.

– Suki! Vamos vê-la!

– Não podemos. Eu tenho que ir ver o Guru para aprender a controlar o estado de Avatar o mais cedo o possível. – Aang disse agitado.

Sokka murchou.

– Você está certo.

– Esqueceu que você vai ver o papai, Sokka? – Katara lembrou.

– É verdade! Quando voltar eu vejo a Suki. Vamos, Aang! – Sokka se empolgou, pegou suas coisas e ele, Katara e Aang saíram e eu os acompanhei.

Dali pouco tempo a casa de chá Dragão Jasmim encerraria as atividades do dia, então eu já voltaria para lá. Abracei Sokka para me despedir.

– Tchau, Sokka. Foi muito bom de reencontrar.

– Foi mesmo. Quando eu voltar, a gente conversa mais. – ele prometeu.

– Tchau, Aang, foi um grande prazer!

– Igualmente. – ele sorriu e os dois foram embora.

Eu me virei para falar com Katara.

– E Katara, não fique triste, eu te farei companhia. Se quiser me visitar no Anel Inferior, eu venho te buscar.

– Obrigada, Kiara. Hoje eu vou ficar por aqui, mas eu vou sim. Vem me visitar também. – ela pediu.

– Venho sim. – eu a abracei e me despedi.

Eu então me dirigi ao Dragão Jasmim para esperar Lee encerrar o expediente.

Cheguei lá pouco depois que anoiteceu. Eu entrei e Mushi fechou as portas da sua casa de chá feliz da vida.

– Que dia fantástico, não acham? – ele disse para mim e para Lee. – Nunca pensei que uma vida normal pudesse ser a melhor!

Tombei a cabeça para o lado esquerdo. O que ele quis dizer com vida normal? A vida anterior a Ba Sing Se não era normal?

– Estou feliz por você, tio. – Lee disse e o abraçou.

– Eu é que estou feliz por você compartilhar isso comigo.

A cena foi tão bonitinha. O Lee de agora não era nem um pouco parecido com o Lee de antes. O que será que aconteceu? Mushi não estava brincando quando disse que Lee passava por uma transformação no período em que ficou doente, mas foi uma transformação pra lá de radical. Se ele continuasse assim eu seria a parte mais revoltada do casal.

Fiquei observando os dois abraçados sem querer interromper. Parecia ser um momento importante para os dois, e eu tentei não fazer nenhum barulho para que suas atenções não voltassem para mim.

– Tudo bem. – Mushi disse e se afastou de Lee. Os olhos estavam marejados de lágrimas. – Por que você não leva a Kiara para conhecer nosso novo apartamento enquanto eu termino de arrumar aqui? – ele sugeriu.

– Ótima ideia. – Lee disse e veio até mim. – Vamos? – ele convidou e pegou minha mão. Eu nem acreditava que aquilo estava acontecendo. Há dois dias esse tipo de comportamento acontecia apenas em minha imaginação e agora era realidade. Não que eu estava infeliz antes, mas uma garota pode imaginar, não pode?

Lee me levou até os fundos da loja onde havia uma escada. Subimos e entramos em um apartamento muito maior com o que eu estava acostumada a morar. Havia uma sala grande com várias janelas. Uma mesinha com uma toalha branca encostada na parede abaixo dessas janelas. Na parede ao lado estavam o utensílios de cozinha: o fogão a lenha, lenha de reserva e uma prateleira com um bule e xícaras. Havia um grande tapete no meio da sala e uma divisória do lado oposto à cozinha, provavelmente onde ficava o quarto.

– É isso. – Lee disse esticando o braço e apresentando o lugar. – É ótimo, não acha?

Eu estava boquiaberta. Eu sabia que as casas do Anel Superior eram melhores as do Anel Inferior e agora sabia que os apartamentos também eram. Na verdade, eram bem melhores.

– É muito lindo seu novo apartamento! – eu elogiei observando o lugar. – Seu tio merece. Vocês merecem.

– Meu tio merece muito tudo isso. Ele sempre foi muito bom para mim, como um pai de verdade. – Lee disse e eu olhei para ele. – E eu sempre fui muito estúpido e grosso com ele, mas ele nunca desistiu de mim, sempre esteve presente, me apoiando e me guiando. – Lee estava arrependido por suas atitudes passadas.

Eu fiquei ao lado dele e passei meu braço por seus ombros.

– Tenho certeza que ele entende seus motivos. E que está feliz por você ter escolhido viver aqui e ajuda-lo com a casa de chá.

– É. Ele sempre quis que eu seguisse meu próprio caminho e não o que impuseram a mim.

O caminho que impuseram a ele? E qual caminho seria esse? Eu não perguntei para não estragar o momento. Mais tarde eu perguntaria. Minha lista de perguntas estava crescendo a cada dia.

– O importante é que você agora sabe o que quer. E eu também estou feliz por isso. – eu disse, sorrindo.

Ele virou o rosto para mim com um leve sorriso e virou o resto do corpo.

– Obrigado por não ter desistido de mim as vezes que eu fui grosso com você. Agora tenho certeza que quero ficar aqui com você também. – Lee me abraçou. - Você é parecida com meu tio nesse aspecto.

Eu ri.

– Acho que é um ponto positivo. – eu disse.

Lee se afastou um pouco e me beijou. Ah, era uma sensação maravilhosa. Se eu abrisse os olhos poderia ver corações flutuando no ar, mas não queria abri-los. Eu tinha adorado nosso primeiro beijo, mas esse foi muito melhor. Coloquei os dois braços em volta do pescoço de Lee, enquanto ele me abraçava pela cintura, e aproveitei o momento.

Nos afastamos e Lee sorriu para mim. Eu dei o meu maior sorriso em retribuição. Eu nunca tinha sentido nada como isso. Seria a felicidade extrema? Não me lembro de ter estado tão feliz quanto agora.

Lee olhou para o lado e ficou vermelho. Eu olhei também e entendi o motivo. Mushi estava parado nos observando com a expressão de alegria que eu imaginava estar no meu rosto e com os olhos brilhando. Estaria ele ali há quanto tempo? Senti meu rosto ficar quente.

– Ah! Que coisa linda! – Mushi disse, veio até nós e nos abraçou. – Seremos muito felizes aqui, eu sei disso!

Eu e Lee rimos e compartilhamos do abraço.

Depois, eu resolvi ir embora antes que ficasse tarde demais. Lee me acompanhou até o muro interno.

– Você vem amanhã? – Lee me perguntou.

– Acho que não. Eu vou ficar com Finn antes que ele dê um chilique. – eu expliquei e ri.

– Ah, claro. – Lee pareceu nervoso de repente. – Eu posso ir à sua casa amanhã? – ele perguntou rápido.

Eu arregalei os olhos. Que falta de educação a minha! Por que eu não o tinha convidado antes?

– Mas é claro que pode! Que falta de noção, eu devia ter te convidado, desculpa! – eu falei agitada.

– Não tem problema, calma! – ele pegou meus braços para me fazer parar de me mexer. – Só que eu não sei onde é a sua casa.

– Eu te encontro aqui, pode ser? – eu perguntei.

– Sim. Então, mais ou menos nesse horário eu estarei aqui.

– Perfeito.

Lee me deu um último beijo e foi embora.

Cheguei em casa cantarolando alegremente.

– Boa noite, Kiara. – Finn disse. – O que aconteceu para você estar assim? – ele me mediu de cima a baixo.

– O amor me aconteceu! – eu respondi.

Finn e Ian colocaram a língua para fora, numa expressão de nojo.

– Que nojo. – Ian comentou.

– Vocês estão com inveja! – eu debochei.

– Claro que não! Amor é para os fracos. – Finn menosprezou.

– Não foi você que ontem mesmo disse que queria uma namorada? – eu perguntei.

– Eu não disse nada disso!

– Disse sim. – Ian confirmou.

– E pelo que eu entendi você também quer. – eu apontei para Ian.

– Eu?! Imagina!

– Deixa pra lá antes que vire uma discussão de duas horas! Tenho uma notícia para dar. – eu interrompi.

– Você conheceu o Avatar?! – Finn disse empolgado.

– Sim! – eu respondi.

Finn espantou-se com a resposta e Ian começou a gargalhar.

– Ah, tá bom que você conheceu o Avatar, conta outra Kiara. – Ian duvidou.

– É verdade! Eu fui dar uma volta pelo Anel Superior – eu me lembrei da carne que comprei. – e comprei carne boa para comermos hoje. – eu tirei da bolsa a carne de joguei no colo de Ian que a ergueu nas mãos como se fosse um troféu. – E – eu continuei. – encontrei dois amigos meus da Tribo da Água do Sul e eles estão viajando com o Avatar.

– Você só pode estar de brincadeira! – Finn exclamou.

– Eu juro! E eu conheci o Avatar, que por sinal se chama Aang.

– Você terá que apresenta-lo a nós e “não” como resposta está fora de questão. – Finn disse.

– Ele saiu de Ba Sing Se hoje e não sei quando volta.

Ian rolou os olhos.

– Estou começando a achar que é mentira, Kiara. – Finn duvidou.

– Achem o que quiserem, eu sei que estou falando a verdade. – eu afirmei séria. – E tenho mais uma coisa para falar: amanhã à noite o Lee virá aqui.

– Ah! Que chato. – Finn ficou emburrado e cruzou os braços. – Preferia que o Avatar viesse aqui. – ele parecia uma criança fazendo manha.

– Não, é bom que esse cara venha aqui. Eu ainda não o conheci e tenho que saber com quem você está namorado. – Ian disse para mim.

– Que instinto paternal é esse? Não estou gostando.

– Só quero ter certeza que ele é um cara decente e não um sem vergonha disfarçado. – Ian se explicou.

– Ainda estou descontente por isso, mas está bem. – eu concordei. – Mas sejam legais com ele. – eu disse a Ian e Finn, principalmente Finn.

– Eu não sou legal com ninguém. – Finn avisou.

– Isso é verdade. – Ian concordou.

– Bom, eu acho que tudo bem. Mushi te conhece como o “meu amigo chato”.

– Quem deu esse direito a ele? – Finn perguntou inconformado.

– Você e sua chatice. – Ian respondeu antes de mim.

Depois de uma hora discutindo sobre a chatice de Finn, nós começamos a pensar sobre o que íamos comer. Preparei um assado maravilhoso com a carne de primeira que comprei. Ian e Finn comeram até o último pedacinho e me agradeceram por ser uma amiga tão especial. Eu não os impedi de me elogiar.

O treino da tarde seguinte demorou menos que o de costume. Eu quis parar mais cedo para comprar carne e vegetais para preparar um jantar mais-do-que-delicioso já que Lee ia em casa à noite. Finn ficou muito bravo, mas eu nem liguei.

Próximo ao horário combinado eu fui até o muro interno esperar por Lee. Não demorou muito para ele aparecer. Fui até ele e dei-lhe um beijo na bochecha. Segurei na sua mão e o guiei até o meu pequeno o apartamento.

Quando chegamos lá, eu abri a porta e nós entramos. A sala estava arrumada do jeito que eu havia deixado, com a mesa no centro e quatro almofadinhas de cada lado para nos sentarmos.

Finn estava deitado no chão do outro lado da sala, com as pernas cruzadas, jogando uma bolinha no teto. Ian estava sentado ao lado dele observando o panfleto do bisão perdido do Avatar que ele havia trazido no outro dia.

– Chegamos. – eu anunciei.

Na mesma hora, Ian e Finn olharam para mim e se levantaram. Ian foi o primeiro a chegar até nós.

– Então você é o Lee. – Ian estendeu a mão. Lee a apertou e sacudiu. – Finalmente pude conhecê-lo.

– Este é o Ian. – eu apresentei à Lee.

– Ah, sim. Já ouvi falar de você.

– Só coisas maravilhosas, certo? – Ian riu. Fiquei aliviada por ele estar bem humorado.

– Este é o Finn, você já o conhece. – eu apresentei Finn.

– Oi, Lee. – Finn cumprimentou de longe sem abusar da simpatia.

– Vem cá, Lee, senta aí, vamos conversar. – Ian convidou apontando para as almofadas.

– Sim, fique a vontade. – eu disse a Lee e dei-lhe um beijo na bochecha. – Eu vou terminar nosso jantar!

Dizendo isso, fui até nossa “cozinha” e terminei o arroz e a carne com legumes que tinha preparado com a ajuda de Ian. Ele era o melhor cozinheiro da casa. Infelizmente eu não pude preparar o banquete que eu planejava devido à minha condição financeira, mas foi a melhor comida que eu já fiz.

Pedi para Finn me ajudar a levar os dois pratos para a sala e nos sentamos. Fiquei ao lado de Lee e de frente para Ian.

– Aí, comida! – Ian comemorou já se servindo, mostrando sua boa educação.

Eu coloquei a mão na bochecha direita num sinal de constrangimento e pedi desculpa a Lee com o olhar. Ele riu. Finn se serviu apressado assim que Ian terminou de se servir.

– Gente! Modos à mesa! – eu reprovei.

– Que modos à mesa, o que! Estou com fome. – Finn reclamou cortando um enorme pedaço de carne. – E você nunca ligou pra isso, só porque seu namorado está aqui vai ficar com frescura?

Eu não sabia onde enfiar minha cabeça. Normalmente eu rebateria, brigaria ou zoaria Finn também, mas não agora. Quando eu estou perto de Lee, toda a educação que minha mãe me deu quando estive com ela e foi sendo esquecida no período que fiquei com os Lutadores da Liberdade volta à tona. Pelo menos uma vez meus amigos poderiam cooperar.

Eu olhei para Lee e ele ria da situação. Isso me deixou mais relaxada.

– Me deixa pegar antes que acabe tudo. – ele disse e se serviu. Eu, Finn e Ian rimos.

– Kiara do céu, está ótimo isso aqui. – Finn comentou colocando um pedaço de carne na boca.

– É, por que você não cozinha assim todos os dias? – Ian questionou.

– Por que normalmente eu fico treinando todos os dias e não dá tempo de cozinhar com calma. A fome de vocês não deixa. – eu respondi.

Finn fez careta.

– Isso é verdade. – ele admitiu.

– E nós tínhamos que aprender a cozinhar outras coisas também. – eu disse.

– É. Tudo o que sabemos aprendemos com os Lutadores da Liberdade e eles não são especialistas em culinária. – Ian disse.

– Lutadores da Liberdade? Vocês faziam parte? – Lee perguntou.

– Fazíamos. Nós os deixamos há alguns meses. – Finn respondeu. – Já teve problemas com eles? – não era raro encontrar pessoas que tiveram problemas com os Lutadores da Liberdade. Nós soubemos disso depois de algumas semanas em Ba Sing Se, conversando com os habitantes e até ouvindo conversas paralelas sobre o assunto.

– Pois é, logo que me mudei para cá o Jato atacou a mim e ao meu tio na casa de chá. – Lee contou.

– Espera, o Jato está em Ba Sing Se? – Finn perguntou.

– Sim.

– Ai, meu Deus. Espero não nos esbarrarmos com eles, pelo bem de todos. E bem que eu tive a impressão de ter visto Smellerbee esses dias. – Ian disse pensativo.

– Parece que ele nos persegue. – eu comentei.

– Ele deve ter vindo para cá pra recomeçar, como nós. – Finn o defendeu.

– Mas por que ele os atacou? – eu perguntei a Lee, mudando a direção da conversa.

Lee hesitou por um momento antes de falar.

– Ele... Nos acusou de sermos dobradores de fogo.

Eu, Finn e Ian o olhamos por um segundo e começamos a rir.

– Esse Jato é muito sem noção. – eu comentei.

– Ele é obcecado por destruir a Nação do Fogo e fica vendo dobradores de fogo em todo lugar. – Finn disse a Lee.

– Ainda bem que viemos para cá sozinhos, foi a melhor coisa deixar os Lutadores da Liberdade. – Ian confessou.

– Me sinto mal por pensar assim. O Jato me acolheu quando eu precisei. – eu disse me sentindo culpada.

– Mas ele perdeu o controle da raiva e estava causando mais mal do que bem. – Ian tentou me acalmar.

– Ele parecia revoltado desde a primeira vez que eu o vi na balsa para Ba Sing Se. – Lee contou.

– Ele era mesmo. Se bem que não podemos culpa-lo, a Nação do Fogo destruiu a aldeia e a família dele também. – Finn disse com pesar. Eu passei a mão pelo braço dele, numa tentativa de confortá-lo.

Ficamos alguns segundos em silêncio.

– O que aconteceu com a família de vocês? – Lee perguntou a Finn e Ian.

– Digamos que nós aqui – Finn se referiu a ele, a mim e a Ian. – somos os poucos que escaparam de ataques da Nação do Fogo às nossas casas.

– No meu caso, - começou Ian – quando eu tinha dez anos a minha aldeia foi atacada, os dobradores de Terra foram presos e o resto de nós ficou para trabalhar para os soldados. Minha mãe e meu irmão mais novo foram capturados - eles são dobradores de terra - e eu fiquei lá. Até que um dia me cansei e consegui fugir. Encontrei os Lutadores da Liberdade e com ele fiquei até pouco tempo.

– Então sua família pode estar viva ainda? – Lee perguntou.

– Pode, mas as chances são mínimas, creio eu.

Lee abaixou a cabeça.

– Melhor mudarmos de assunto, não é? – eu sugeri. – Vocês gostaram da minha comida?

– Sim, está ótimo. – Ian elogiou. – Eu que ajudei.

Eu ri.

– Você é um ótimo mestre. – eu elogiei. Me virei para Lee. – E você, gostou?

Ele ainda estava de cabeça baixa.

– Está tudo bem?

Ele levantou a cabeça. Parecia abatido.

– Sim, desculpa. Está ótima a comida.

Fiquei triste. A conversa abalou Lee e não era essa a minha intenção para o jantar.

– Vixe, está chovendo. – Ian disse e foi correndo fechar a janela.

– Legal! Kiara, faz aquela coisa com a chuva? – Finn pediu.

– Que coisa com a chuva? – Lee perguntou esquecendo o assunto deprimente.

– Vem cá, eu te mostro. – eu convidei. Me levantei e ofereci a minha mão. Ele a pegou a fomos para fora do apartamento.

– Espera! Eu vou também. – Finn gritou e correu para fora também.

– Você parece uma criança, Finn. – Ian o zoou e se sentou de volta à mesa.

– Você não vem? – Finn perguntou.

– Acho melhor não.

Finn deu de ombros e me seguiu.

Eu abri a porta e saí. Comecei a dobrar a água da chuva e fui para baixo dela. Dobrei a água até uma altura e largura em que nós três pudéssemos ficar sem nos molharmos. Dessa forma, a água batia numa proteção invisível em cima e dos lados, como se estivéssemos dentro de uma bolha.

– Agora, olha para cima. – Finn disse a Lee e nós três olhamos para cima.

O que Finn gostava de ver era a chuva vinda de cima. Era como pequenos raios caindo em cima de nós, mas sem nos machucar. Era muito agradável. A última vez que fiz isso, eu, Finn e Ian subimos no telhado e nos deitamos lá, enquanto eu dominava a água do mesmo jeito. Era a mesma sensação de ficar vendo as estrelas, só que nesse caso elas pareciam estar caindo do céu. Ficamos lá por bastante tempo, conversando e relaxando até que meus braços se cansaram e nós descemos.

Lee deve ter sentido a mesma coisa porque olhava maravilhado.

– Eu nunca tinha visto a chuva desse jeito. – ele comentou olhando para cima.

– É muito legal, não é? – eu perguntei.

– É sim. Como você pensou nisso?

– Finn uma vez pediu. Disse que queria ver a chuva caindo e nunca conseguia. Aí eu tentei desviar os pingos da chuva e consegui. – eu contei.

– Isso é muito legal. E bonito. Poderia ficar aqui por horas vendo.

Eu sorri e olhei para ele, ainda com a cabeça virada para cima. Dei um passo à frente. Lee percebeu e olhou para mim. Eu fiz o mesmo e sorri. Ele chegou mais perto, colocou as mãos na minha cintura e com sutileza me beijou. E eu que achei que nada poderia ser melhor que o segundo beijo. Este estava... Perfeito. Lugar perfeito, hora perfeita, situação perfeita... Pessoa perfeita.

Não durou muito, eu me distraí e esqueci de dominar a água. A chuva de repente caiu em cima de nós e nos assustamos. Eu rapidamente a manipulei novamente e nós dois rimos, ensopados.

Voltamos para dentro do apartamento, formando uma poça d’água na entrada.

– Ei, ei! Vocês estão molhando o chão! – Finn reclamou apontando para mim e Lee e para o chão.

– Mas é claro, estamos molhados. – eu disse sem paciência. – Espera, você não estava com a gente lá fora? – eu de repente me dei conta de que Finn não voltou comigo para o apartamento, ele já estava lá.

– Eu estava, mas ficou um clima de romance lá fora e eu preferi entrar. – ele respondeu com desprezo.

Eu ri e Lee ficou vermelho.

– Foi por isso que eu não quis sair. – Ian se explicou.

– Valeu por avisar, amigo. – Finn ironizou e fez joia para Ian.

– Desculpa, Finn, nem percebi que você saiu.

– Nem faço mais falta para você, já entendi. – Finn fez drama e Ian rolou os olhos.

– Não é nada disso! Para com esse drama.

– É melhor eu ir embora. – Lee cochichou para mim.

Eu me espantei. Embora? Já?

– Mas está cedo! E está chovendo!

– Eu acho que causei discórdia entre vocês. – ele se explicou.

Minha expressão mudou instantaneamente. Fechei a cara e me virei para Finn, fuzilando-o com os olhos. Estendi o braço e apontei o dedo indicador para ele. Finn arregalou os olhos.

– Teremos uma conversa muito séria quando eu voltar. – Eu disse, segurei o pulso de Lee e o puxei para fora do apartamento.

Dobrei a água e começamos a andar pela rua.

– Não liga para o Finn, Lee. Ele não está acostumado com isso. – eu disse. Eu não gostava quando Finn tinha esses ataques de ciúme ou o que fosse, mas também entendia o lado dele, o porquê dele fazer isso.

– Ele é bem ciumento, não é?

– Pois é e eu nem sabia disso. – eu admiti. – Mas ele vai melhorar, eu prometo. Só não deixe de me visitar por causa disso.

– Seu amigo chato não me impedirá de te ver. – Lee garantiu sorrindo e me puxou para perto pela cintura. Arrepios percorreram pelo meu corpo e eu quase deixei a chuva nos atingir. Eu sorri radiante.

Eu estava me sentindo estranha. No começo, o Lee era a parte revoltada da relação e eu a parte calma. Agora, parece que os papéis se inverteram. Eu me sentia como a revoltada e o Lee como o calmo. Acho que isso acontece para nos equilibrarmos.

Acompanhei Lee até O Dragão Jasmim dessa vez. Ele estava sem guarda-chuva e eu não o faria correr desesperadamente do muro interior até a casa de chá.

Ao chegarmos lá, nos despedimos com mais um beijo. Dessa vez durou um pouco mais, me esforcei para não deixar de dobrar a água da chuva e abraçar Lee.

Ao deixar Lee, eu voltei correndo para meu apartamento, agradecendo aos céus por Lee ter se mudado para praticamente a divisa entre o Anel Superior e o Inferior, assim não levava muito tempo para irmos do meu apartamento à casa de chá e vice-versa.


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