Stay With Me Saukerl. escrita por Vick Pimentel


Capítulo 2
Capítulo 2- O fim do mundo.


Notas iniciais do capítulo

Bom gentem, esse é um capitulo de passagem então é algo crucial cheio de partes do livro que vocês já devem conhecer, no próximo, obviamente havera mais conteudo....



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• UMA TRISTE ESPERANCINHA •

Ninguém queria bombardear a Rua Himmel

Ninguém bombardearia um lugar que tinha o nome do céu, não é?

Será que bombardearia?

Imagine-se andando pela Rua Himmel no escuro. Seu cabelo começa a ficar molhado e a pressão do ar está à beira de uma mudança drástica. A primeira bomba atingiu o prédio de apartamentos de Tommy Müller. E o teto sem telhado é vermelho como uma chapa quente. A Rua Himmel está em chamas.

As sirenes começaram a uivar. Ah, houve alertas, é claro. Em Molching, eles chegaram com as bombas.

– Agora é tarde demais para esse exerciciozinho- murmurei.

As cápsulas da destruição desceram trotando e, horas depois, quando o silêncio estranho e desarrumado acomodou-se em Molching, a LSE local ouviu alguma coisa. Um eco. Lá embaixo, em algum lugar, uma menina e um menino martelavam com lápis em latas de tinta.

Todos pararam, com os corpos e orelhas recurvados, e, ao ouvirem de novo, começaram a cavar.

Foram jogando tudo para cima.

Quando mais um pedaço de parede partida foi retirado, um deles viu o cabelo da menina que roubava livros e outro os cabelos de limões do menino.

Os homens deram risadas de puro prazer. Estavam trazendo ao mundo um casal de recém-nascidos.

– Nem posso acreditar! Eles estão vivos!

Houve grande alegria entre os homens que gritavam em algazarra, mas não pude compartilhar inteiramente seu entusiasmo.

Antes disso, eu havia segurado o papai dela num braço e sua mamãe no outro. A mãe e os irmãos de Rudy nos acompanhavam.

Mais adiante, seus corpos tinham sido estendidos, como o resto.

[...]

As mãos resgatadoras puxaram Liesel para fora e logo depois Rudy, e sacudiram de suas roupas as migalhas de detritos.

Quando os tiraram do fundo daquele porão, a verdade é que Liesel começara a chorar e gritar por Hans Hubermann. Os Homens da LSE tentaram segura-la em seus braços poeirentos, mas a menina que roubava livros conseguiu safar-se.

Os humanos desesperados sempre parecem capazes de fazê-lo.

Rudy não tentou segura-la, não podia nem mesmo controlar a si mesmo. De algum modo, tenho certeza de que ele teria adorado ver os escombros assustadores e a inchação no céu naquela noitede 7 de outubro. Teria gritado, rodopiado e sorrido. Na escuridão do meu coração tenebroso, eu sei que não fossem as circunstâncias, -se ele soubesse se sua mãe e irmãos estavam bem, não fosse uma Liesel desamparada correndo por aquele lugar onde teria sido a Rua Himmel-ele teria adorado, com certeza.

Liesel não sabia por onde estava correndo, porque a Rua Himmel já não existia. Tudo era novo e apocalíptico. Porque o céu estava vermelho? Como podia estar nevando? E porque os flocos de neve lhe queimavam os braços?

–Onde está a loja de Frau Diller?- Perguntou Rudy, mais para si mesmo do que para Liesel. No fundo a menina se fazia a mesma pergunta. Onde...

Perambularam um pouco mais, até que o homem que os havia resgatado agarrou-os pelo braço. Como esperado, foi Rudy quem começou a falar.

–O que aconteceu?- Indagou- Aqui ainda é a Rua Himmel?

– Sim - fez o homem de olhar decepcionado. Que teriam visto aqueles olhos nos anos anteriores? - Aqui é a Himmel. Vocês foram bombardeados,meu menino. Es tut mit leid,Schatz. Sinto muito, tesouro.

– Vamos levá-los num instante - disse a seu sargento.

Rudy olhou para a ladra de livros, e o livro em suas mãos, seus dedos estavam sangrando. Liesel não correu, não andou nem se mexeu. Seus olhos haviam esquadrinhado os humanos e parado, confusamente, ao notar o homem alto e a mulher baixa, em formato de guarda-roupa. Aquela é a mamãe. Aquele é o papai.

As palavras foram grampeadas nela.

– Eles não estão se mexendo - disse a menina, baixinho. - Não estão se mexendo.

Avançou um passo e não sentiu vontade de dar nenhum outro, mas deu. Lentamente, andou até a mãe e o pai e se sentou entre eles, Segurou a mão da mãe e começou a falar com ela.

– Lembra-se de quando eu vim para cá, mamãe? Agarrei-me ao portão e chorei. Você se lembra do que disse a todo o mundo que passava na rua, naquele dia? - e sua voz vacilou. - Você disse: "O que é que estão olhando, seus babacas?"

Pegou a mão da mãe e a tocou no pulso.

– Mamãe, eu sei que você... Gostei de quando você foi à escola e me contou que o Max tinha acordado. Sabe que eu vi você com o acordeão do papai? - e apertou mais forte a mão que endurecia. - Eu cheguei e fiquei olhando, e você estava linda. Puxa vida, você estava tão linda, mamãe!

Olhou para traz e seus olhos vagaram a procura de Rudy, a procura de algum conforto, porque ela não queria, não podia olhar para o pai. Ainda não. Agora não. Quando achou-o arrependeu-se de ter olhado, porque sua dor só se tornou maior ao vê-lo chorando sobre um pequeno corpo. Talvez Bettina, talvez Anna Marie.

Cristo Crucificado, pobres meninas, pobre Rudy, pobre... papai.

Liesel começou a balançar o corpo para frente e para trás. Uma nota estridente, e alada, untuosa, ficou presa em algum ponto de sua boca, até que ela finalmente conseguiu se virar.

Para o pai.

Nesse ponto, não pude evitar. Andei em volta dela, para vê-la melhor, e, desde o instante em que revi seu rosto, eu soube que aquele era o que ela mais amava. Sua expressão afagou o rosto do homem. Seguiu uma das rugas que lhe desciam pela face. Ele se sentara com ela no banheiro e lhe ensinara a enrolar cigarros. Dera pão a um homem morto na Rua Munique e dissera à menina para continuar lendo no abrigo antiaéreo. Talvez, se não o tivesse feito, ela não houvesse acabado escrevendo no porão, não estivesse viva, nem Rudy.

O homem da LSE levantou-a e começou a levá-la embora. Havia uma colher de pau pegando fogo. Passou um homem com uma caixa de acordeão quebrada e Liesel viu o instrumento dentro dela. Viu seus dentes brancos e as notas pretas de permeio.

A menina virou-se e falou com os homens da LSE. - Aquele é o acordeão do papai. Por favor, o acordeão do papai. Vocês podem pegá-lo para mim?

Após alguns minutos de confusão, um membro mais velho trouxe a caixa corroída e Liesel a abriu. Tirou o instrumento machucado e o depositou junto ao cadáver do pai.

– Tome, papai.

E uma coisa eu posso lhe jurar, porque foi algo que vi muitos anos depois - uma visão da própria roubadora de livros: quando se ajoelhou ao lado de Hans Hubermann, ela o viu levantar-se e tocar o acordeão. Os foles respiraram e o homem alto tocou para Liesel Meminger pela última vez, enquanto o céu era lentamente tirado do fogão.

– Adeus, papai, você me salvou. Você me ensinou a ler. Ninguém sabe tocar como você. Nunca mais tomarei champanhe. Ninguém sabe tocar como você. -Seus braços o envolveram. Ela o beijou no ombro - não suportou mais olhar para seu rosto - e o repôs no chão.

A menina que roubava livros chorou, até sentir Rudy rodear seus braços em volta dela e retira-la gentilmente dali.

Mais tarde, eles se lembraram do acordeão, mas ninguém notou o livro. Fora atirado num caminhão de lixo. Pouco antes de o caminhão partir, subi depressa e peguei o livro... A primeira versão de "A Menina que Roubava Livros- uma pequena história de Liesel Meminger."

Foi sorte eu ter estado lá, apesar de que, ela escreveria outro.


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Notas finais do capítulo

Então gente, no próximo capitulo é que a história se incia de verdade, então como diz a minha mamis, A paciência é um dom divino... mentira eu vou postar logo *--* Kisses kisses