– Nós precisamos conversar – Eu disse de braços cruzados. Ela estava tão estranha, ela era sempre certinha, sempre ficava no canto dela, não falava muito com ninguém. Aí do nada aparece um ex-namorado stalker psicótico, um universitário que gosta de flores, e agora ainda tem um primo meio delinquente! Eu não sei lidar com isso, antes era muito mais fácil, eu só tinha que lidar com a atenção dela voltada pra mim.

– Ahn? Conversar? Sobre o que? – Disse ela, mas parecia estar mais me testando do que perguntando, afinal pareceu pálida por um segundo, antes de fingir não entender o que eu disse.

– Sobre várias coisas! Vem comigo. – Foi o que eu disse pra ela, enquanto andávamos até o pátio.

Eu estava em silencio, deve ter sido estranho pra ela, que havia se acostumado em me ter sempre por perto sorrindo, fazendo piadinhas com as mãos atrás da cabeça. Dessa vez eu não quero nem mesmo parecer estar tudo bem, eu estou preocupado não só com ela, mas com o nós! O que vai acontecer conosco, se continuarmos nos afastando desse jeito?

Nos sentamos sob a sombra da árvore, e então eu virei o rosto pra encara-la. Ela estava linda, mesmo com os cabelos levemente bagunçados, e o roso um pouco corado pela temperatura quente em baixo do sol, mesmo sem maquiagem alguma. Ela era linda naturalmente, e não precisa ser nenhum gênio pra sacar isso.

– Alexy, eu estou muito preocupada com uns assuntos! – Ela me disse, sem me olhar nos olhos.

– E o que está te incomodando? Pode confiar em mim, farei o possível para ser útil. – Eu respondi esperando que ela me contasse.

– Nada de tão sério, não tem que se preocupar, de qualquer forma... mais tarde, eu posso passar na sua casa – Ela disse mudando o foco do assunto.

– Claro que pode, só não pode chegar muito tarde, ouviu? – Eu respondi sorrindo.

– Sem problemas! Ah, Alexy eu... Realmente tenho algo que quero te contar, e é algo muito importante. Mas antes, eu tenho que te fazer uma pergunta. – Ela olhou de forma tão intensa em meus olhos, que tive que ter muito auto controle para não corar. Então assenti com um aceno.

– Se... Eu conheço uma pessoa, e essa pessoa tem uma grande amizade comigo, e eu começo a acreditar que estou gostando dessa pessoa. Eu deveria dizer pra ele o que eu sinto? Ou é melhor não prejudicar a amizade, porque se der errado, a culpa também é minha? – Por um breve momento, senti as esperanças crescerem dentro de mim. Isso significa que sou correspondido? Se for assim, eu seria o cara mais feliz do mundo.

– Sabe o que eu acho? Que você deveria ser sincera com ele e dizer a verdade, ou você vai ficar se perguntando para sempre, por que é você não disse antes, quando teve a chance! – Eu falei, dando a ela meu melhor sorriso, talvez ela se confesse, e se for assim, eu quero que ela tenha somente lembranças maravilhosas.

– Sério? Obrigada Alexy, você é o melhor. Eu estava muito preocupada, mas... Agora você me acalmou bastante, eu... Eu tenho que ir, te vejo mais tarde, e aí eu te explico tudo certinho e com detalhes, ok? – Primeiro ela deu um sorriso meigo, depois me deu um abraço. Em seguida se levantou e correu para longe de mim, longe de onde eu sequer pudesse vê-la.

O quê? Então... Aquilo não era pra mim? Significa que ela gosta de alguém? Ou será que antes ela quer se preparar pra me dizer, ou falar com a Rosalya, sei lá...

Ah, não interessa! Ainda tem um bom tempo livre, até que ela tenha que ir pra minha casa, talvez eu devesse... Simplesmente ir ao shopping. É isso! Vou chamar o Armin, e nós dois vamos ao shopping.

Saí procurando meu irmão pela escola, o que não me surpreendeu, foi quando por acaso, eu vi Iris quase se jogando em cima dele.

Para evitar problemas, e não atrapalhar as investidas da menina, eu sai de perto, pensando no que eu poderia fazer para passar o tempo.

Comecei a perceber que estava muito entediado, e por algum motivo desconhecido saí caminhando na rua, sem ter exatamente um lugar pra ir. Passei perto da casa do Viktor, e me arrependi de não te-lo matado enquanto ainda dava tempo. Aquele garoto causou muita dor de cabeça a todos. Eu fiquei tão preocupado. O que eu faria, se a Mieko não acordasse novamente? Eu cheguei a chorar por medo de perdê-la. Quando fui visita-la no hospital, ela ainda estava desacordada, eu espero nunca passar por isso outra vez.

Durante meus pensamentos aleatórios, eu fui caminhando sem rumo, até perceber que cheguei ao parque. Lembrei-me de quando vi Mieko e Jade se beijando, eu também tinha vindo até aqui... Talvez, só talvez, meu inconsciente me trouxesse ao parque sempre que sentisse que algo não está bom.

Acabei decidindo ficar no parque, por esse motivo, me sentei em baixo de uma árvore, e coloquei os fones de ouvido, ficando lá por um tempo indeterminado, até cair no sono. Acordei com alguém me chamando e me cutucando.

– Ei, eeeei! Oh do cabelo azul, se você continuar dormindo aqui, vai congelar até a morte durante a noite! – Me cutucava Dimitry, enquanto se esforçava em me acordar.

– Só mais cinco minutos! – Eu resmunguei e virei pro lado.

– Se você demorar mais cinco minutos, é capaz de não chegar na própria casa a tempo de receber minha prima, que já deve estar a cainho cara! – Insistiu o rapaz, que Deus sabe como apareceu ali.

Abri os olhos e acordei num pulo, agradecendo pelo aviso, e começando a acelerar o passo para chegar em casa o mais depressa possível.

Atravessei algumas ruas da cidade, e logo cheguei em casa, abri a porta, e gritei para meu irmão avisando que eu estava em casa, então ouvi um barulho na cozinha e fui até lá, então... Vi Mie tomando água.

– Você chegou antes de mim? – Eu falei surpreso, pois eu esperava que ela viesse só de noite.

– Cheguei faz pouco tempo, toquei a campainha mas o Armin não desceu pra atender, pra não perder a fase do jogo, como a porta estava aberta, eu entrei! – Ela me disse dando um sorrisinho encantador, o que me fez sentir um pequeno desejo insano de agarrar ela ali mesmo, e desmentir essa história toda a respeito da minha sexualidade.

Ela colocou o copo que usou na pia, e me puxou pela minha casa, me pedindo para conhecer meu quarto. Claro que eu jamais negaria algo tão simples a ela, então a levei até lá.

– Nossa! É muito diferente do que eu imaginava, é tão simples e tão... masculino! – Disse Mieko olhando em volta! Não tinha muito o que se ver no meu quarto. A cama era estilo beliche preta, porém a parte de baixo era uma mesa de escritório, onde ficava o meu notebook, uma luminária, alguns livros, HQs e mangás, um pequeno radio, e uns dois ou três CDs rock pop!

Eu tinha uma pequena cômoda, onde em cima ficava a minha televisão, e tinha o guarda roupa. E não posso esquecer de uma pequena portinha no canto do quarto que dava para um banheiro. Meu quarto era suíte, mas não daquelas luxuosas, era mais uma suíte bem básica mesmo!

Mieko caminhou pelo meu quarto, deu uma olhada nos meus CDs e livros e depois subiu até minha cama e se sentou ali, me chamando para me sentar ao seu lado, e assim eu fiz.

– Sabe Alexy, eu tenho que te contar uma coisa. É um assunto um pouco complicado, então enquanto eu conto, por favor não me interrompa! – Foi o que ela disse, e eu apenas concordei, curioso para ouvir logo o que ela tinha para me falar.

– Bem... Você se lembra de quando eu recebi flores na sala de aula, certo? Aquilo foi uma forma do Jade pra me chamar pra sair. E eu decidi acompanhar ele e quando chegamos lá, um assunto leva ao outro e ele me pediu em namoro. Ele me deu o tempo que eu precisasse pra pensar e lhe dar uma resposta. Hoje você me respondeu aquela pergunta, o que fez com que eu decidisse que talvez eu devesse ir até o Jade e aceitar sua confissão. Eu fui procura-lo hoje, mas ele não veio, então amanhã acho que vou até ele. É isso, eu queria te contar, pra saber o que você acha e tudo o mais. – Ela terminou me encarando apreensiva, esperando alguma reação minha.

– O que eu acho? Acho que isso está indo muito depressa, acho que você devia conhecer muito bem ele antes de simplesmente aceitar sair com ele! E se odiar como ele come? E se ele tiver alguma mania que te irrite? E se ele não estiver sério sobre você? E se ele for igual ao Viktor? Não importa quão bom ele pareça, você começou a falar com ele faz muito pouco tempo! Se você pode ficar com ele, então também pode ficar comigo, né? – Eu acabei falando tudo de uma vez, sem pensar nas consequências, e sem controlar a impulsividade. Eu estava fora de controle, e não sei do que era capaz de fazer assim.

– Tudo bem, você tem toda a razão, antes de aceitar, eu devia conhecer ele melhor, mas... Como assim ficar com você? É você que não ficaria comigo, não é?! – Ela perguntou e afirmou ao mesmo tempo, me encarando confusa.

Eu perdi o que me faltava de autocontrole, e me aproximei dela. Eu não vou deixar que aquele cara apareça e roube ela de mim! Ele é somente um personagem secundário da minha história, e se eu sou o protagonista, então é vergonhoso perder a menina pra outro, seja ele quem for.

Meus olhos só olhavam em uma direção, os lábios dela! Não é como se eu nunca houvesse beijado os lábios dela antes. É claro que eu já tinha feito isso antes, quem é que você acha que foi o cara que beijou ela no baile? Um estranho é que não foi! Eu não menti sobre a história de usar aplique, e tudo o mais, eu realmente fiz isso, e tirei as fotos para caso ela me perguntasse, eu tivesse como mostrar para ela, porque logo em seguida eu tirei aquela fantasia e me vesti de príncipe mascarado e aproveitei minha noite com Mie! Ela acabou não descobrindo que era eu, mas não tem problema nenhum, acho que é realmente muito mais interessante ficar no anonimato.

Logo nossos lábios estavam colados. Eu sentia a necessidade de te-la, então pedi passagem e ela concedeu, e um intenso e luxurioso beijo de língua se iniciou.

Eu a desejava tão intensamente, que sentia que se me separasse de seus lábios, poderia não voltar a tê-los novamente. Infelizmente a necessidade de ar se fez presente, e logo tivemos que nos separar. A respiração dela estava descompassada, mas mesmo assim eu não a soltei. Desci meus beijos para seu pescoço, dando ali leves mordidas, e alguns chupões intencionalmente fortes para deixar marca. Acariciava seu corpo, enquanto beijava toda a extensão de seu pescoço. Ela acabou me puxando para outro beijo quente e desesperado, como se precisássemos daquilo tanto quanto precisávamos respirar. Naquele momento, eu juro que poderia congelar ali e ficar assim para sempre.

Com esses beijos, toques e carícias, é claro que meu corpo, como o corpo de qualquer pessoa normal e saudável, iria reagir, e logo um volume começou a surgir. Incentivado pelo calor do momento, eu fui deitando ela lentamente sobre a cama, naquele momento eu estava muito disposto a satisfazê-la o quanto ela desejasse. Continuei a beijar e acariciar-lhe, e em um certo momento ela se mexeu e isso fez com que ela sentisse o volume entre minhas pernas, e se surpreendesse, ao notar a seriedade das coisas, e para onde tudo estava sendo encaminhado, então ela me empurrou.

– Alexy eu... Nós... Eu não pensei que você também gostasse de mulher! – Ela disse me olhando desconcertada, e acanhada.

– Alguma vez eu afirmei ser gay? Eu até dei a entender, mas... Eu jamais afirmei isso! Eu tive meus motivos para fazer com que os outros achassem que sou homossexual, mas eu não sou realmente! Eu sou hétero! – Eu falei encarando ela, esperando que ela dissesse algo.

– Então... Significa que você gosta de mim? – Perguntou ela, com uma voz um pouco apreensiva, talvez até amedrontada, ou o que quer que fosse!

– Eu jamais deixaria as coisas chegarem onde chegaram se eu realmente não gostasse de você! – Eu falei olhando bem sério para ela.

Ela ficou me olhando corada, e surpresa, até em seguida dar um pequeno sorriso de lado, me deixando curioso para saber o que se passava em sua cabeça, mas não descobri isso, pois fomos interrompidos, quando Armin apareceu na porta rindo e disse:

– Então a verdade veio a tona, né?