Aquela menina acabou de sair de lá e já voltou para jantar, sorrindo. O que era queria? Ah, deve ser uma maluca.

Quando vejo, logo atrás vem o Lúcio chegando; automaticamente abriu um sorriso no meu rosto, o Alê não perdeu a oportunidade de me zoar, a Ama fez a cara mais fofa do mundo com seus olhos brilhando ao ver minha felicidade vendo o Lúcio chegar; acho que eu estava transparecendo demais isso.

-Kay, se segura- disse Alê me provocando com sua brincadeira

-Vá se ferrar Alê- disse rindo, encarando o Lúcio chegando. Ele era radiante naquela camisa sem manga marrom, sua calça preta e seu sapato bruto preto e seus cabelos castanhos balançando com o vento dos ventiladores do refeitório, tudo se passava lentamente na minha mente, até que ele chegou e se sentou na minha frente; eu ainda estava naquela brisa quando ele falou

-Kay? Por que ta me encarando assim?

-A-ah, sim, desculpa.. C-como foi lá?- ele me encarou de forma estranha

-Você está bem?- ele falava de um jeito tão, nem sei dizer, me traz segurança

-To bem sim, vá terminar de comer!

-Ahn? Então ta... haha...Não quer saber como foi lá?

-Quero!

-Ela é uma maluca, os pais dela queriam que ela viesse pra cá pra ver se ela se curava de vez dessas invenções que ela faz do nada.

-Só isso? Por que demorou mais?

-A-ah, isso? Eu não queria vir junto dela...- disse ele meio travando

-Mas você veio bem depois...

-Eu ainda conversei algumas coisas com o coroa camarada, ele me deixou confuso dessa vez, haha... Ele também falou que fui lá cedo demais e se da próxima vez levaria mais uma garota diferente- disse ele sem graça.

Esperamos o Lúcio terminar a janta que foi interrompida anteriormente por uma garota com problemas psicológicos e depois saímos para nosso dormitório caçoado da situação que acontecera.

Quando estávamos andando o Alê grudou em mim e falou

-Se controla garota!

-Do que você tá falando, Alê?

-Aaaaah, você sabe, você tá louca de paixão pelo mal-humorado ali...

-Eu? Não! Nem chegamos aqui direito! Não veja coisas erradas!

-A-há, eu enxergo tudo corretamente, senhorita...

Nesse momento, eu fiquei sem respostar para dar aquele viadinho sagaz que me interrogava... Então falei

-Ah, se você não fosse gay, eu diria o mesmo sobre você e Amaterasu...

-Ah, mas você não conheceu meu jeito ainda, em!

-Não, não presto atenção nos outros..

-Mas eu presto! E pos você ser tão burrinha querendo mudar de assunto me provocando, vou lhe contar... Sim, eu posso estar gostando da Amaterasu! Mas agora que eu assumi, que tal você me falar sobre você?- Ah, mas que garoto esperto! Bem, ele já estava me sacando mesmo, então eu me abri, a Ama tava com o Lúcio um pouco mais afastado, eu me afastei mais e sussurrei com o Alê

-É, como você consegue? Você adivinhou! Eu estou loucamente apaixonada por ele- revirei os olhos

-Viu, eu sabia- gritou, ao invés de sussurrar; os dois nos olharam, mas logo desviaram a atenção

-Ssh Alê, seja menos exagerado... Mas então, você não acha meio cedo para estar loucamente apaixonada?

-Claro que não, menina! Paixão não tem tempo! Amor sim, coisas diferentes! Paixão é você se sentir atraído, gostar da pessoa e querer ela pra você; amor foi o que eu despertei por você, agora que é minha amiga, sinto que tenho que te defender, cuidar de você; isso... é amor!

-Nossa Alê, mas que palavras...- eu estava lacrimejando... AHN? Quem sou eu? Essa não é a Katie que eu costumo ser! Eu nunca havia tido uma amizade com alguém...

-Eu sei, eu sei... Sou ótimo com palavras!

-Sim, obrigado, mesmo! Eu te amo muito, meu mais novo amigo!

-Eu também, minha primeira amiga!

-É, acho que devo lhe chamar de primeiro amigo também, não lhe chamar, mas te classificar assim, pois acho que você foi o primeiro que desenvolvi uma amizade...

-É, eu também, sempre fui muito rejeitado... Você sabe...

-Ah, mas que besteira dos outros, é só uma opção sexual!

-Também acho, amiga... Mas quem sou eu para mudar o pensamento das pessoas, não é?

Quando vimos, estávamos parados no meio da mata e Ama e Lúcio na porta do dormitório nos esperando, então eu puxei o Alê

-Vamos, eles estão nos esperando!

Nos sentamos nas camas; o Alê com Amaterasu e eu com o Lúcio.

Alê mais uma vez com suas brincadeiras

-Que lindo, casais!

Então Lúcio falou

-É, mas você não é...g-gay?- disse dando uma mini risada, zoando de brincadeira o Alê.

Então Alê franziu as sobrancelhas

-É o quê que é, em Lúcio?- nesse momento, com olhar competitivo, o Alê agarrou a Amaterasu e deu um beijo nela, não um simples beijo, um beijão, que foi imediatamente correspondido.

Eu me virei pro Lúcio, e falei

-Meu Deus!- e eles continuaram se beijando. Eu chamei o Lúcio para irmos para fora do dormitório e os deixar a sós

...

-Por que me chamou aqui pra fora? Ele só quis provar pra mim que podia muito mais...

-Claro que não, bobinho... Eles estão meio que afim um do outro... E o Alê é bi...

-O Alê... Bi? Então...aff, deixa...

-Não, fala!

-Não, nada não, coisa boba...

-Fala!

Ele segurou na minha mão e falou

-Talvez seja cedo pra falar isso, mas fiquei aliviado em saber que fez amizade com um gay e não um hetero... Sem mais palavras...- fiquei paralisada e sem reação...

-É... Sem o que dizer agora...-disse rindo sem graça.

-Não diga, eu também ficaria sem reação...Eu sou mesmo um idiota- disse soltando minha mão, pegando uma pedra no chão e atirando para o mato, se virou pra mim com um olhar tentador e falou

-Acho que já está meio na cara o que eu sinto por você, né?- eu não disse nada e ele – Não diga nada... Vamos ver o que será dessas próximas semanas passando juntos... Mas antes de tudo, vocês são minhas primeiras amizades... Nunca fui tão meloso, mas- me encarando nos olhos – Mesmo que aconteça qualquer coisa, a distancia, as brigas, sempre quero ter a amizade de vocês, sempre!

-Claro, claro!- pulei nele e dei um abraço e ele correspondeu.

-Olha, nunca fui assim com ninguém, olha o que vocês fazem comigo!- disse se apontando e rindo- ainda quero conhecer mais de vocês, ainda teremos um mês para aprontar e se conhecer mais!

-Isso isso- disse sorrindo alegremente; eu também não costumava ser assim, ainda mais com pessoas da minha idade, eu estava realmente mudando.

-Mas... Acha que devemos entrar agora no dormitório?- quando ele disse isso, Alê abriu a porta e falou

-Entrem! Está frio! Eu e a Ama já tomamos banho e estamos pronto, vão vocês!- eu encarei o Lúcio rindo e então Alê se desesperou

-Não, não tomamos banho juntos, se é o que estão pensando!- começamos a rir e ele nos puxou para entrar.

Chegando no quarto, Alê se sentou com Ama que o ensinava a jogar um de seus jogos favoritos no DS; o Lúcio me chamou e falou

-Quero lhe mostrar algo!- pegou um de seus cadernos, ele tinha bastante, mas esse era um caderno diferente, com a capa azul escura, ele passou várias páginas e falou – Essa! Você toca violão, né?

-Sim, toco; inclusive o trouxe...

-Ah sim, eu vi... Então, essa é uma de minhas escritas, eu avaliei bem e gostaria de transforma-la em uma música, você me ajuda? Talvez isso nos ajude a se conhecer melhor... Isso será inédito, só eu, você, Alê e Ama que saberão.

Eu li a sua escrita e era realmente profunda, eu gostei bastante.

-Ótimo, Lú, adorei!- falei o abraçando de laod, pois estava sentado de meu lado. Ele sorriu e falou

-Gostou mesmo?- perguntou sem graça

-Amei! Vamos fazer amanhã?- Alê que escutou de longe, gritou

-PÔ, eu e Ama nos beijamos e vocês já querem fazer?!- ele riu nos zoando e eu falei

-Nada disso Alê, é uma música!

-Música, eu adoro música!

-Eu sei, e você canta bem!

-Sim, você e Ama também... Acho que todos cantamos bem! Ai, que divação... Não, espera, ainda não ouvimos sua voz, Lú...

Ele arregalou os olhos e falou

-E nem vão ouvir! É horrível, parece uma ovelha tendo a lã arrancadas a mão!

Todos rimos e o Alê

-Cruzes!!!- e depois ele tentou imitar o barulho da suposta ovelha e todos rimos; era realmente um clima muito gostoso. Quando olhamos, a Amaterasu estava deitada quase pegando no sono, nos deu boa noite e apagou. O Alê se virou de conxinha com ela e só restou eu e o Lúcio acordados.

-Bem, Lúcio, vou me preparar para dormir... Amanhã será agitado, atividades obrigatórias como a Lynda disse e depois nós vamos ainda transformar essas palavras em uma melodia- fui me levantando, ele me puxou pelo braço e me deu um beijo na bochecha, eu pude sentir que estava toda vermelhinha, coloquei minha mão sobre a bochecha e paralisada peguei minha toalha e fui direto para o banheiro, pude escutar a risadinha dele.

...

Estou começando a viver, finalmente. Nunca tive amigos, nunca me diverti; precisei vir aqui com a ordem de meus pais para ter isso tudo. Talvez eles estivessem certos... Obrigado mãe, obrigado pai.