OS HEINSTEIN

Um certo alarde se faz dentro da cidade. Aos poucos, o tempo começava a escurecer e as nuvens carregadas de raios e água invadiam o céu, ocultando a luz solar. Eu podia ver os cidadãos correrem para dentro de casa, um pouco assustados com a tempestade que ameaçava vir. Ao contrário deles, eu caminhava calmamente, observando toda aquela movimentação...nosso imperador havia renascido e era meu dever cuidar dele e da pequena Pandora até que estivessem prontos. Não demoraria muito tempo para que os Heinstein sucumbissem ao mal que trariam ao mundo, e logo, teríamos duas crianças órfãs....

Aproximava-me daquela enorme e sombria mansão, apresentando-me como o amigo da família....era fácil para mim iludir as pessoas e colocar em suas mentes memórias que jamais aconteceram. Eu estranhava que Thanatos ainda não aparecera....o que ele poderia estar fazendo? Deixei de lado esta pergunta quando senti um cosmo quase familiar surgir e desaparecer rapidamente, ocultando o cosmo que eu há anos conhecia.

Sobressaltei-me, indo imediatamente aos aposentos dos Heinstein, e, quando cheguei ali, nada mais encontrei do que uma garotinha sozinha e vários corpos no chão. Hades havia desaparecido, nas mãos de ninguém menos que o receptáculo de Kairos, irmão mais jovem de Cronos, senhor do tempo.Por um tempo, me preocupo com isto, entretanto, sabia que Kairos tinha mais planos para Alone, ou Hades, por isto, não lhe faria mal até que fosse o momento oportuno....sem falar que seria a chance para eu tomar as rédeas da guerra e planejar tudo com mais calma.

_ Q-quem é você?? - uma voz infantil interrompe meus pensamentos. Levo meus olhos para a dona da voz, encontrando dois olhos negros assustados fitando-me. Pandora chorava abraçada em seus próprios joelhos. Eu a compreendia....enfrentar aquela situação realmente não seria fácil de maneira alguma. Aproximo-me dela com calma, colocando a mão em seu ombro.

_ Ei....está tudo bem agora....Meu nome é Hypnos, e eu cuidarei de você agora.... - dou um sorriso amável, tentando convencê-la com minha famosa lábia. Entretanto, quando a garotinha faz menção de segurar minha mão, ouço a voz de meu reflexo de personalidade oposta.

_ Hypnos, novamente de papo furado com Pandora?Por que não conta logo a ela a que ela está destinada...? - ele parecia não se preocupar muito com a ausência de Hades. Talvez também pensava o mesmo que eu. Kairos não iria fazer nada de mal a nosso imperador enquanto não fosse a hora.

Ao ver Thanatos, a garotinha se afasta de nós, assustada, enquanto algumas lágrimas ainda escorriam de seu rosto. Suspirei, cansado, olhando para Thanatos.

_ Ela está muito abalada....melhor tratarmos disto mais tarde.....não vamos ser precipitados... - aproximo-me novamente dela, mantendo meu sorriso amável no rosto, apesar da amargura que me batia por dentro. Eu sabia todo o sofrimento que aquela garotinha passaria e que o que acontecera hoje, seria apenas o começo para ela, mas não podia, assim como Thanatos queria, obrigá-la a saber de tudo ali, naquele momento. Tudo tinha seu tempo, e eu esperaria o momento certo para agir. Como todas as vezes fazia. - Pandora....é este seu nome, não é? Venha conosco, iremos ajudá-la a recuperar teu irmão.....você viu algo antes de ele desaparecer?

_ A única coisa que vi, foi todos caírem mortos ao meu redor....e meu mundo tornar-se sombrio e cinza.... - comenta, assustada, ainda receosa de aproximar-se de mim. Entretanto, alguns segundos depois, ela subitamente me abraça pelas pernas, soluçando. Confesso que fiquei sem reação no início, mas vesti minha melhor máscara de tranquilidade e passei a mão em sua cabeça.

_ És um coração mole de uma figa, Hypnos..... - Thanatos ria de mim naquela situação, não deixando de apontar um pouco de sarcasmo em sua voz. - Só você mesmo para falar desta maneira afável com uma simples serva....Ande logo, garota!!!Temos mais coisas a fazer do que aguentar você chorando feito uma idiota! - dirigiu-se à garota rispidamente, fazendo sinal para mim para que saíssemos dali.

Pandora estremeceu com a voz de Thanatos, voltando seus olhos para mim, como que esperando que eu a defendesse daquele outro homem. Entretanto, fui obrigado a apenas fazer-lhe um sinal, assentindo que meu gêmeo tinha razão, acompanhando-a até nossa catedral, onde seriam os futuros aposentos do imperador do submundo.

Mal pude perceber o quão rápido todos estes anos que cuidamos de Pandora e a ensinamos seu objetivo e suas obrigações se passaram, iniciando a nova etapa de mais uma guerra santa: encontrar o hospedeiro de Hades e convencê-lo a aceitá-lo como seu senhor.