They Don't Care About Us - Hiatus escrita por Ju Black, Vicky Black


Capítulo 3
My Medicine


Notas iniciais do capítulo

Então. Eu sei que demoramos. Foi mal aí. Mas aqui estamos :33



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Annelise caía.

Lembrava apenas do vento batendo em seus cabelos e seu vestido branco, bagunçando-a completamente.

Aquilo era real? Parecia mais um buraco sem fim, cheio de plantas em todos os lugares - grossos ramos. De algum modo, Annelise sabia que não deveria tocá-los.

Eram venenosos. Matariam-na em, no máximo, sessenta segundos.

Perguntou-se quando aquilo acabaria. Será que não seria mais fácil poupar sua dor tocando em um deles?

Talvez fosse mesmo, mas aquilo causaria dor às únicas pessoas que ainda se importavam. Causaria dor à única pessoa que se importava.

– Estou te perdendo... - ouviu um sussurro distante. - E eu não quero te perder...

Alice falava com ela. Como? Essa era uma pergunta sem resposta.

– Por favor, fique...

Primeiramente, achou que aquela voz fosse dela de novo. Mas era muito masculina para pertencer a ela.

– Jake - sussurou.

O que estava acontecendo com ela? Ela o conhecia a uma semana!

Ou era o que pensava, porque ele sabia, tinha certeza, que não era verdade.

Então Annelise se decidiu. Iria lutar contra a dor. Mesmo que ela fosse tão intensa quanto era...

Mas o buraco chegara ao fim. Esquecera-se de que estava caindo para a morte certa.

Abriu e levantou-se da cama improvisada que Alice arrumara. As duas camas tinham sidas espremidas no quarto, de forma que ficassem de frente para a janela, para os posters de bandas e seriados e para a guitarra.

Fora um sonho. Não passara de um sonho.

A loira sentou-se na cama, o peito subia e descia apressadamente. Fora um belo de um pesadelo.

Seus pulsos enfaixados coçavam, ela queria coçá-los e coçá-los, até sangrarem.

"Não vai nem manchar os lençóis", pensou, olhando para sua amiga para verificar se ela estava dormindo e tirando uma das faixas.

– Não ouse.

– Masoq?! Você não estava dormindo Alice?

– Estava. - seus olhos estavam quase pendendo, e dava para perceber as olheiras em baixo de seus olhos. Ela estava um trapo. - Mas eu prometi que não ia te deixar fazer isso por um tempo.

– Desculpa Lice. - ela encarou o chão.

Alice suspirou e a abraçou pelos ombros, fazendo-a deitar ao seu lado.

– Deita aqui, vai. A culpa não é sua por sua vida ser assim, a culpa é das estrelas. Não se machuque por isso.

– Você está citando John Green e Shakespeare de novo.

– Desculpe.

Sem problemas. - Annelise abraçou a amiga apertado. - O que seria de mim sem você?

– Um trapo.

– Trapo? Eu estaria viva?

– Um trapo ambulante sem vida.

– Faz mais sentido. - Annelise concordou. - Quantos dias eu...?

– Dois dias. - Lice suspirou de novo - Você precisa parar com isso.

– Perdi muita matéria na escola?

– Nem. Só perdeu de ver o professor Lexander pagando mico de novo.

– O que dessa vez?

– Ele tentou dar uma lição de moral pela metade da turma não ter feito o dever inútil dele sem perceber que estava com a calça rasgada.

– Típico dele. - Annelise sorriu de leve para sua irmã. - Como cheguei até aqui? O parque é longe da sua casa.

–... O Sr. Watson deu uma ajudinha.

– JAKE ME VIU ASSIM? NESSE ESTADO?

– Jake, é?

– Err...

– Err...?

– E meu trabalho? Eu tinha que ir trabalhar! - desconversou Annelise.

– São sei da manhã, seu horário só começa às oito. Você não vai pra nenhum lugar.

– Mas eu faltei dois dias!

– Responda a minha pergunta.

– Qual foi a pergunta mesmo?

– "Jake, é?"

– Jake? Que Jake? - Annelise perguntou angelicalmente.

– Hm, Jake Watson. E eu vou descobrir algo sobre vocês.

– Descobrir o quê? Tem nada para descobrir.

– Uhum.

– Affs... - Annelise jogou um travesseiro em Alice

– Ui, ela jogou um travesseiro em mim.

– Ui, ela vai acertar um tapa na sua cara já já.

– Não se eu tiver um travesseiro. - disse Lice, e meteu um travesseiro na cabeça de Anne para depois sair correndo pelo quarto (ou o resto do espaço que sobrara).

– Ah, volta aqui baixinha! - Annelise correu atrás dela com um travesseiro.

Bem, correu até tropeçar em seus próprios pés e rolar pelo chão.

– Anne! Sua coisa! Você quer parar de me dar susto? - Alice correu até a amiga, ajudando-a a se levantar. Querendo ou não, ela tinha perdido muito sangue, ainda estava fraca.

– Hey, calma. Eu to bem, acho.

– Pois eu acho que não.

Annelise jogou-se na cama de Alice e encarou o teto pensativa. Tantas memórias, tanta saudade...

Era incrível como a dor tinha que sempre acompanhá-la, quase como se fosse uma velha amiga.

Ela estava cansada disso já, cansada de tudo. Mas principalmente dessa vida de sofrimentos.

Cansada de ser apunhalada pelas costas pelas surpresas ruins.

Cansada de ter que fazer tudo sozinha.

Cansada de ter que aturar o tio.

Cansada do tio a envolver nos negócios sujos.

Apenas cansada.

Annelise só queria que tudo isso acabasse. Por que ela não podia ser normal? Por que ela não podia ser feliz?

Era quase como se ela estivesse marcada - marcada a sofrer pela eternidade.

A loira suspirou e deitou de bruços, sufocando sua dor no travesseiro da amiga. O que mais queria era que tudo aquilo parasse.

A parte ruim era que, naquele caso, querer definitivamente não era poder.

~ ~ ~ ~

– Me explica como você vai trabalhar nesse estado?

– Trabalhando. - respondeu enquanto colocava suas botas. - As contas não se pagam sozinhas, anjo.

– Não se tem como pagar as contas precisando estar de cama e o que você acha que 'tá fazendo com esse skate?

– Indo para o trabalho. - disse Annelise saindo da cada de Alice. - Beijos borboleta.

– Se cuida! - gritou Lice quando ela já estava em seu skate.

– Sempre. - Annelise acenou para a amiga e seguiu para a boate em que trabalhava como bar women.

Alice ficou observando a cabeleira loira com mechas desaparecer na esquina e suspirou. Aquela ali não tinha jeito.

Entrou novamente dentro de casa, tendo o cuidado de fazer o maior silêncio possível para não acordar o pai. Provavelmente estava de ressaca. De novo.

Provavelmente gritaria ou bateria nela, de novo.

Subiu para o quarto cuidadosamente, cuidando para não pisar no nono degrau que rangia alto. Por fim, fechou a porta do quarto, cuidadosamente.

Abençoando a cobertura acústica que tinha no quarto, começou a andar para lá e para cá, procurando o que fazer. Até que teve uma ideia.

Pegou o celular e discou um número.

– Consegue se livrar dos seus pais ainda hoje?

~ ~ ~ ~

Ignorando as dores nos pulsos, na cabeça, no corpo, no coração, na alma... Annelise seguiu para a boate em que trabalhava.

Bom, o termo boate era muito "chique", era mais um prostíbulo, onde ela ficava no bar, preparando as bebidas.

Ao chegar ao lugar, afastou-se das moças que trabalhavam lá, colocou a camiseta regata e decotada roxa, a minissaia preta e roxa xadrez e a bota de salto alto. A roupa mais vulgar e curta que usava, mas era seu uniforme, fazer o quê?

Como fazia desde que começou a trabalhar lá, ignorou todos ao seu redor e se pôs a preparar as coisas para as bebidas. Cortar os limões e demais frutas, ajeitar as garrafas que continham o líquido alcoólico e os demais ingredientes, tudo isso, ouvindo música, como sempre.

Às vezes tinha vontade de pegar a faca que usava para cortar as coisas e se matar, mas pensava em sua querida borboletinha e desistia, não a deixaria. Respirou fundo e continuou seu trabalho.

– E aí, belezinha. - disse um homem no balcão. - Passa uma cerveja.

Sem nem mesmo responder ou olhar o homem, Annelise passou o lazerzinho pelo código de barras da pulseira do homem e lhe entregou a cerveja. Tudo no modo automático.

O homem pegou seu pulso e a puxou para mais perto, mesmo sendo contra a vontade de Annelise e mesmo que ela estivesse se puxando para longe dele.

– Não precisa ser tão automática. - ele riu, uma risada repugnante.

– Me solta!

Mas o homem não parecia escutar. E os cortes doíam onde ele segurava no seu pulso.

Annelise foi cada vez mais puxada até que parecia estar debruçada sobre o balcão.

Ótimo, era o que precisava. Já não bastava o tio e seus amiguinhos a torturarem e violentarem, ela ainda tinha que aguentar caras como ele no trabalho.

– Me. Deixa. Em. Paz. - ela falou e deu um soco bem forte no rosto do homem.

Com um suspiro pesado, voltou ao trabalho. Não via a hora de voltar pra escola.

~ ~ ~ ~

– Meu Deus, finalmente você chegou. - disse Alice levantando-se para abraçá-lo.

Ela estava há, pelo menos, meia hora, com um livro no colo e seus fones de ouvido, esperando por William. Sabia que o relacionamento dele com os pais era difíceis (não tanto quanto o seu relacionamento com os próprios pais, mas difícil) e que eles não aprovavam o namoro do filho (e com aprovar, significa "fazer tudo quanto possível para impedir"), mas meia hora era muito tempo.

– Eu sei, eu sei. Foi mal. Minha mãe fez um escândalo dizendo que eu vinha encontrar você e blá blá blá.

– Certo. Eu tenho um plano. - um sorriso maroto brincava nos lábios de Alice.

– Que sorriso é esse, moça?

– Ah, nada, moço. Só vamos agitar um pouquinho aquela escola.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? :33



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