Harry Potter e a Fúria dos Deuses escrita por almeidalef


Capítulo 6
Capítulo VI - Primeiras aulas.


Notas iniciais do capítulo

Obrigado a todos que comentaram o último capítulo e, especialmente, à LoveSagas que recomendou a fic.

Boa leitura, espero que gostem!



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- Olhem só hoje! - vociferou Rony, desanimado, quando a Professora McGonagall vinha passando pela mesa da Grifinória distribuindo os horários. - História da Magia, Adivinhação, dois tempos de Defesa Contra as Artes das Trevas, e mais dois tempos de Poções... Essa tal de Lana Griffith, Trelawney, essa outra tal Umbridge e Snape, tudo no mesmo dia! Onde estão Fred e Jorge com os kits Mata-Aula?

 Hermione fez uma imitação tão perfeita da expressão de censura que McGonagall costumava fazer que Rony sobressaltou-se ligeiramente.

 - Olhe só o que temos hoje - disse Rony rabugento, metendo o horário embaixo do nariz de Hermione. - É a pior segunda-feira que já vi na vida.

 - Não seja tão dramático, Ronald! - ralhou Hermione, dando um tapa no papel abaixo de seu nariz, fazendo-o cair na jarra de suco de abóbora à sua frente.

 - O que será que eles foram fazer? - indagou Harry, o que era para ser uma pergunta silenciosa, acabou sendo escutada pelos alunos à sua volta.

 - Quem? - perguntou Rony, com a voz embargada devido a grande colherada de mingau de aveia na boca, olhando para Harry e tentando seguir a sua linha de visão.  

 - Eles - e Harry apontou para os quatro alunos que saíam mais cedo do Salão Principal: um garoto que mancava fingidamente, uma garota ruiva com muitas sardas, um garoto vestido numa jaqueta de aviador marrom e outra garota de cabelos louros e olhos cinzentos. - Aonde estão indo?

 - Foram visitar Percy Jackson na ala hospitalar - disse uma voz conhecida à sua frente. Luna Lovegood estava sentada ao lado de Hermione - absorta na leitura de O Pasquim, a revista de cabeça para baixo, que a encarava com um olhar assustado, pois ela não estava ali a pouco. - Madame Pomfrey o liberou hoje.

 - Vou lá - falou Harry, levantando-se rapidamente da mesa fazendo Simas derrubar geleia em seu uniforme.

 Hermione encarou Rony, que engolia rapidamente os ovos com bacon em seu prato.

 - Por que vocês só fazem isso quando estou com fome? - perguntou Rony, indignado, ainda com a voz embargada, engolindo uma torrada que acabara de pegar de uma bandeja.

 Rony e Hermione levantaram-se e apressaram-se para alcançar Harry, deixando Luna tateando, sem mesmo tirar os grandes olhos claros d'O Pasquim, uma torrada do prato de Rony. Os três chegaram ao pé da escadaria de mármore. Uma fila de quartanistas da Lufa-Lufa vinha descendo para atravessar o saguão e seguir para o Salão Principal. Ao avistarem Harry, agruparam-se depressa, como se tivessem medo de que ele atacasse os retardatários.

 - O que foi aquilo? - perguntou Harry, quando estavam seguindo para o corredor norte, sem entender.

- Estão todos achando que você foi o responsável pelo desmaio de Percy, Harry - contou Hermione, com um leve tom de indignação na voz.

- Ouvi Simas conversando com Dino esta manhã - começou Rony, lambendo os dedos com geleia -, ele acha que Percy tem alguma coisa com Você-Sabe-Quem.

 - É, Lilá também acha isso - comentou Hermione, tristonha, soltando um longo suspiro.

Madame Pomfrey os deixou entrar, com relutância.

 - Não faz sentido tanta gente vir visitá-lo - disse ela, e eles tiveram que admitir que estava certa. Hermione abriu a boca para explicar à Madame Pomfrey as razões de sua visita mas a enfermeira, atarefada, acorreu-se e enfurnou-se em sua pequena salinha, em uma porta do lado direito do cômodo.

 A ala hospitalar, como já é de se imaginar, não é um lugar que os alunos desejam conhecer, mas, apesar de tudo, é organizada de forma a oferecer o máximo de conforto possível aos seus pacientes. O cômodo é espaçoso, abrigando uma boa quantidade de pacientes por vez. As camas são dispostas em duas fileiras, uma de frente para a outra. Feitas de ferro, são bem detalhadas e rústicas. Apesar do aspecto nada chamativo, são reconfortantes e mantidas sempre muito limpas. Toda semana Madame Pomfrey cuida de manter os lençóis branquinhos e lisos. Cada cama está sempre acompanhada de um travesseiro claro, forrados por uma colcha fina e polida de tons claros e sem muitos desenhos. Em cada uma, está bordado com o máximo de capricho, o brasão de Hogwarts. Uma mesinha simples acompanha cada cama, de modo que o enfermo guarde seus pertences pessoais, receba doces e cartões dos amigos com mensagens carinhosas e tenha acesso a iluminação, mesmo que precária, através de uma pequena lamparina disposta sobre a mesa. No canto inferior, um armário está postado, cuja finalidade é guardar materiais de primeiros socorros e afins. Algumas poções e ervas medicinais também fazem parte do estoque. Por medida de segurança, ele está sempre trancado, sendo possível o acesso apenas a Madame Pomfrey. A temperatura da enfermaria é mantida magicamente, se adequando ao estado em que os pacientes se encontram. Para tornar o ambiente mais acolhedor, grandes vitrais se fazem presentes, permitindo boa parcela da entrada da luz do sol durante as tardes.

  Harry, Rony e Hermione avistaram quatro silhuetas em volta de uma cama ao fundo. O céu lá fora estava apinhado de nuvens gorduchas e rabugentas, finas gotas de chuva debatiam-se contra as vidraças do cômodo. Se aproximaram, hesitantes, e ao serem vistos, um silêncio incômodo pairou por entre eles. Percy arregalou-se ao rever Harry enquanto levantava-se, Annabeth e Nico os encararam desconfiados, Grover sorriu caloroso juntamente com Rachel.

 - Ah... bem... - começou Hermione, gaguejando, nervosa. - Viemos aqui para... - ela olhou de esguelha para Rony, pedindo apoio.

 - Para desejar boas-vindas a Hogwarts. - disse ele, hesitante, as orelhas vermelhíssimas.

 - É... muito obrigado - respondeu Percy, sorrindo com dificuldade, sem tirar os olhos da cicatriz de Harry, que se interessou, repentinamente, em olhar o chão.

 Ouvia-se apenas o tilintar da chuva nas vidraças e os murmúrios irritados de Madame Pomfrey em seu escritório.

 - Bem... nossa primeira aula já vai começar e... se vocês quiserem nós podemos levá-los até lá - sugeriu Rony, rompendo o silêncio incômodo que mais uma vez pairou sobre eles.

 - Que aula? - indagou Annabeth, lançando um olhar cinzento e penetrante em Rony.

 - História da Magia - respondeu Hermione entredentes, insolentemente, ao notar o olhar de Annabeth em Rony, antes mesmo que ele respondesse.

 Grover soltou um quase inaudível "Bééé..." de constrangimento e Rachel juntou-se a Hermione enquanto todos caminhavam para a aula de História da Magia.

 - O que acha que essa Lana vai ensinar? - indagou Harry, ao ver que Hermione estava prestes a fazer uma crítica em relação à Annabeth.

 - Se ela falar da Revolta dos Duendes eu peço pro Filch me amarrar pelos tornozelos! - gemeu Rony, rabugento.

  A História da Magia era a matéria mais sem graça do programa. O Prof. Binns, encarregado de ensiná-la, era o único professor fantasma, e a coisa mais excitante que acontecia em suas aulas era ele entrar em classe atravessando o quadro-negro. Velhíssimo e enrugado, muita gente dizia que ainda não percebera que estava morto. Um belo dia ele simplesmente se levantara para dar aula e deixara o corpo sentado numa poltrona diante da lareira da sala de professores; sua rotina não se alterara nem um pingo até este ano. Os garotos seguiram para a ala oeste do primeiro andar. A porta de madeira e aldrava dourada estava aberta. A sala era espaçosa e para melhor visualização do quadro-negro na parede frontal, contava com alguns patamares que formavam geometricamente, semicírculos. As carteiras ficavam lado a lado nesses patamares, em alturas diferenciadas e permitindo a visão de todos. Cada carteira confortava dois alunos. No patamar inferior, estava a grande mesa de carvalho da professora Griffith. Um pequeno armário, de porta única, era encontrado ao lado, onde o professor podia guardar materiais e evitar o transporte dos mesmos todos os dias. Uma lousa menor estava situada do lado direito, usada raramente. Quadros relacionados a disciplina tinham lugar garantido no ambiente. A iluminação era feita através de grandes vitrais que circulavam o cômodo. Com a finalidade de não atrapalhar os alunos durante o dia com a claridade excessiva, grandes cortinas em tons pastéis estavam suspensas. Archotes de luz completavam o cenário tedioso.

 Ouvia-se apenas os ruídos de alunos assentando-se, distribuídos em cada canto da sala e a Professora Lana encontrava-se inclinada em sua mesa. Uma pilha de mais de meio metro de livros grossos e empoeirados rodeando-a. Suas várias pulseiras douradas tilintando conforme escrevia rapidamente em uma folha de pergaminho. Harry devaneou, mesmo que por alguns segundos, que a professora lhe fazia lembrar sua amiga Hermione. Ela levantou seus olhos esverdeados para as quatro Casas, agora sentadas, sorrindo.

 - Bom-dia! - anunciou ela, com sua voz etérea e forte, o seu costumeiro cigarro pendurado entre os lábios. - Creio eu que, vocês já aprenderam muito sobre as Revoltas dos Duendes... - ela olhou para todos, que balançavam a cabeça positivamente, excitados. - Eu sou Lana Griffith, sua nova professora de História da Magia. Bem, hoje iremos nos aprofundar na história do Quadribol através dos séculos!

 Lana tirou seu cigarro da boca, balançou-o delicadamente e, rapidamente o cigarro crescera e se transformara numa varinha embranquecida, sete faíscas incandescentes espiralaram de sua ponta, passando atrás das cabeças de cada aluno. Com mais uma balançada suave, as sete faíscas tomaram forma: sete hologramas em miniatura de jogadores de quadribol em suas vassouras. Os alunos acompanharam, abobados e estupefatos, os mini-jogadores fazerem várias manobras às suas frentes. E Harry reconheceu a Finta de Wronski, a qual vira Vítor Krum arriscar-se a fazer na Copa Mundial de Quadribol.

 - Queiram fazer silêncio, por favor - pediu a Professora Lana jovialmente, toda sorrisos. - Eles não machucam, o.k., galera?

 Ela pigarreou e começou a falar, como se estivesse lendo um livro à sua frente. Seu tom de voz não era como o de Binns, não colocava os alunos em um torpor ou causava o efeito da Poção do Sono. Era clara e gentil.

 - Em 1338, o bruxo Zacarias Mumps redigiu a primeira descrição completa do jogo de Quadribol - começou ela, balançando a varinha, fazendo com que os sete mini-jogadores dançassem pela sala. - Ele começou por enfatizar a necessidade de se estabelecerem medidas de segurança antitrouxas durante a realização dos jogos: "Escolham áreas de charnecas desertas, longe das habitações dos trouxas, e tomem medidas para não serem vistos depois de decolar com suas vassouras. Os feitiços para repelir trouxas são úteis se alguém pretende construir um campo permanente. É igualmente aconselhável que se jogue à noite."

 Um dos hologramas enfurnou-se nos cabelos de Lilá Brown, fazendo-a se balançar loucamente.

 - Deduzimos que os excelentes conselhos de Mumps não foram seguidos porque, em 1362, o Conselho dos Bruxos proibiu os jogos de quadribol em um raio de oitenta quilômetros das cidades do país. Era evidente que a popularidade do jogo estava crescendo rapidamente, porque o Conselho achou necessário emendar a lei de 1362, tornando ilegais os jogos a menos de cento e sessenta quilômetros de uma cidade. Em 1419, o Conselho publicou o decreto, cujo texto se tornou famoso, determinando que o Quadribol não deveria ser jogado 'próximo a lugar algum em que haja a mínima possibilidade de ser assistido por um trouxa ou veremos com que perícia o infrator jogará acorrentado à parede de uma masmorra.'

 Nesta altura, um dos sete hologramas pousou sob a carteira de Rony e balançou os braços, em comemoração, como se tivesse acabado de ganhar a Copa Mundial.

 - Conforme todo bruxo em idade escolar sabe - falou Lana, com sua voz ressonante, fazendo todos prestarem-na atenção -, o fato de voarmos em vassouras provavelmente é o nosso segredo mais mal guardado.

 "Nenhuma ilustração de bruxas feita por trouxas está completa sem uma vassoura e, por mais absurdos que sejam tais desenhos - porque vassouras representadas não se sustentariam no ar sequer por um instante -, eles nos lembram que fomos descuidados durante séculos demais e que, não devemos nos surpreender que vassouras e magia estejam indissoluvelmente ligadas na cabeça dos trouxas. As medidas de segurança necessárias não entraram em vigor até o Estatuto Internacional de Sigilo em Magia de 1692 tornar os Ministérios da Magia nacionais diretamente responsáveis pelas consequências dos esportes praticados em seus territórios. Disso decorreu, na Grã-Bretanha, a criação do Departamento de Jogos e Esportes Mágicos. Os times de quadribol que desrespeitavam as diretrizes do Ministério eram obrigados a se dissolver. O caso mais famoso de dissolução foi o dos Rojões de Banchory, um time escocês notório não somente por sua imperícia no quadribol quanto pelas festas que dava após os jogos. Depois que jogou em 1814 contra os Flechas de Appleby, os Rojões não somente deixaram seus balaços se perderem no céu noturno como saíram a capturar um dragão negro das Hébridas para adotar como mascote do time. Os representantes do Ministério da Magia os surpreenderam quando sobrevoavam Inverness, e os Rojões de Banchory nunca mais tornaram a jogar."

 Um dos jogadores, que Harry reconheceu como o batedor, voou em direção de Pansy Parkinson e, para a alegria de Hermione, começou a esbofeteá-la como um balaço errante.

 - Nos dias atuais, os times de quadribol não jogam em suas sedes, mas viajam até os campos construídos pelo Departamento de Jogos e Esportes Mágicos, nos quais foram adotadas medidas de segurança antitrouxas permanentes. Conforme Zacarias Mumps sugerira tão sensatamente, há seiscentos anos, os campos de quadribol são mais seguros nas charnecas desertas.

 Em seguida, a professora Lana revisou o que acabara de ditar, fazendo perguntas para alunos aleatórios, que, surpreendentemente, conseguiram responder corretas.

 - Muito bem, muito bem! - vociferou Lana, rindo à toa depois que Ernesto Macmillan respondeu corretamente sua última questão. - Vamos agora falar das mudanças no Quadribol a partir do século XIV! Zacarias Mumps conta que o campo do século XIV era um ovóide, de cento e cinquenta e dois metros de comprimento por cinquenta e cinco de largura. Com uma pequena área circular de aproximadamente sessenta centímetros de diâmetro ao centro. Ele conta, ainda, que o juiz - ou quijuiz, como era conhecido então, fosse homem ou mulher - levava as quatro bolas até o círculo central rodeado pelos catorze jogadores, na época. No instante em que as bolas eram liberadas - a goles era atirada pelo juiz -, os jogadores levantavam voo a toda velocidade. No tempo de Mumps, os gols ainda eram marcados em enormes cestas presas no alto de postes..."

 Mais uma vez, com um balançar suave, várias faíscas espiralaram da varinha de Lana e aproximaram-se dos alunos que agora viam-se diante de um pedaço de pergaminho antigo e amarelado, com o esboço de um grande poste que lembrava as atuais balizas, exceto por uma grande rede presa no alto.

  - Em 1620 Quíntio Umfraville escreveu um livro intitulado O nobre esporte dos bruxos, no qual havia um diagrama do campo do século XVII. - Com um leve movimento da varinha de Lana, os esboços dos postes que encontravam-se à frente das mesas de todos os alunos, transformaram-se no campo de Quadribol parecidíssimo com o que hoje conheciam.

 - Nele vemos o acréscimo do que hoje conhecemos como "pequena área" em cada extremidade do campo. As cestas no alto dos postes eram muito menores e mais altas do que no tempo de Mumps. Por volta de 1883, as cestas deixaram de ser usadas para a marcação de gols e foram substituídas pelas balizas que hoje usamos. Uma inovação noticiada pelo Profeta Diário da época. A partir daí, o campo de quadribol não sofreu mais nenhuma alteração."

 O pergaminho com o diagrama do campo do século XVII, transformou-se numa manchete do Profeta Diário e Harry pôde ler:

Devolvam as nossas cestas!

"Era o que gritavam os jogadores de quadribol em todo o país, ontem à noite, quando se tornou evidente que o Departamento de Jogos e Esportes Mágicos decidira queimar as cestas usadas há séculos no quadribol para a marcação de gols.
"Não vamos queimar as cestas, não exagerem",
disse um representante do Departamento com ar irritadiço à noite passada quando lhe pediram que comentasse a notícia.
"As cestas, como vocês devem ter observado, são fabricadas em diferentes tamanhos. Constatamos que é impossível padronizar o tamanho das cestas de modo a igualar as balizas de gol em toda a Grã-Bretanha. Sem dúvida, vocês são capazes de perceber que é uma questão de justiça. Quero dizer, há um time nas proximidades de Barnton que prende cestas minúsculas às balizas do time adversário, em que não se consegue acertar nem uma uva. Em contraposição, nas balizas deles há verdadeiras cavernas de vime balançando para cá e para lá. Não é direito. Definimos aros de tamanho fixo e já está decidido. De forma certa e justa."
Neste momento, o representante departamental foi obrigado a se retirar sob uma saraivada de cestas atiradas por manifestantes furiosos que se aglomeravam no saguão. Embora duendes agitadores tenham levado a culpa pelo tumulto que se seguiu, não resta dúvida de que esta noite os fãs de quadribol em toda a Grã-Bretanha estão chorando o fim do jogo que conhecíamos.
"Não vai ser a mesma coisa sem as cestas", disse com tristeza um velho bruxo de bochechas redondas e coradas. "Eu me lembro de que quando era rapaz, costumávamos atear fogo nas cestas durante a partida só para nos divertir. Não se pode fazer isso com aros. Acabaram com metade da graça."

Profeta Diário, 12 de fevereiro de 1883.

 - Bem, galera, é só isso por hoje - disse Lana jovialmente, com um movimento da varinha, fazendo com que os sete hologramas de mini-jogadores de quadribol e a manchete do Profeta Diário desaparecessem com um baque surdo. - Na próxima aula falaremos sobre as mudanças das bolas.

 Os alunos levantaram-se, tristonhos, para fora da sala e Lana retornou à sua mesa tateando seus grossos e empoeirados livros, dando tchauzinhos aos alunos.

 - Não gostei! - exclamou Hermione indo em direção a sala da professora Vector de Aritmância, ao passarem por um grupo de alunos da Lufa-Lufa que conversavam, excitados, sobre a aula que acabaram de ver.

 - Quem é você e o que fez com Hermione Granger? - indagou Rony, estupefato e brincalhão.

 Hermione bufou, irritadiça, pondo um fim à conversa separando-se de Harry e Rony.

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Ofegando ruidosamente, Percy, Rachel, Nico e Grover subiram os estreitos degraus em caracol, sentindo-se cada vez mais tontos, até que finalmente ouviram o murmúrio de vozes no alto e perceberam que tinha chegado à sala de aula. Os garotos subiram os últimos degraus e chegaram a um minúsculo patamar, onde a maioria dos colegas já estava reunida. Não havia portas no patamar, mas Grover cutucou Percy indicando-lhe o teto, onde havia um alçapão circular com uma placa de latão.

 - Sibila Trelawney, Professora de Adivinhação - leu Percy. - E como é que esperam que a gente chegue lá em cima?

 Como se respondesse a sua pergunta, o alçapão se abriu inesperadamente e uma escada prateada desceu aos seus pés. Todos se calaram.

 - Primeiro você - disse Nico sorrindo, e Percy subiu a escada.

 Chegou na sala de aula mais esquisita que já vira. Na realidade, sequer parecia uma sala de aula, e, sim, uma cruza de sótão com salão de chá antigo. Havia, no mínimo, vinte mesinhas circulares juntas ali, cobertas por uma toalha vermelha clara comprida e por cima, uma menor em tom verde. Rodeadas por cadeiras forradas de chintz e pequenos pufes estufados, cada mesa contava com a presença de uma bola de cristal, presas em seus devidos suportes prateados - um dos instrumentos mais utilizados. O ambiente era iluminado por uma fraca luz avermelhada, as cortinas às janelas estavam fechadas e os vários abajures, cobertos com xales vermelho-escuros. O calor sufocava e a lareira acesa sob um console cheio de objetos desprendia um perfume denso, enjoativo e doce ao aquecer uma grande chaleira de cobre. As prateleiras em torno das paredes circulares estavam cheias de penas empoeiradas, tocos de velas, baralhos de cartas em tiras, incontáveis bolas de cristal e uma imensa coleção de xícaras de chá. Dois patamares eram observados na sala, fazendo uma diferença de nível e permitindo que a professora tivesse uma visão geral de todos, que já estavam dispostos em duplas e trios. Rachel juntou-se a Lilá Brown, Parvati Patil e Neville Longbottom, displicentemente, sorrindo. Nico reuniu-se com Harry e Rony, e Percy e Grover formaram um par mais distante da turma, numa mesa próxima a uma das várias vidraças dispostas na torre.

 Percy espiou por cima do ombro de Grover enquanto os colegam conversavam à volta deles, todos falando aos cochichos.

 - E onde está a professora? - perguntou Percy.

 Uma voz saiu subitamente das sombras, uma voz suave, meio etérea, fazendo Percy sobressaltar-se em seu pufe avermelhado.

 - Sejam bem-vindos novamente. Que bom ver vocês no mundo físico, finalmente. Estive acompanhando-os silenciosamente de minha bola de cristal durante suas férias, e estou felicíssima que todos tenham voltado e alguns chegado - ela olhou para Percy, Nico, Grover e Rachel - a Hogwarts sãos e salvos, como, aliás, eu sabia que aconteceria.

 "Vocês vão encontrar nas mesas à sua frente exemplares do Oráculo dos Sonhos, da autoria de Inigo Imago. A interpretação dos sonhos é um meio dos mais importantes para adivinhar o futuro, e que por isso pode muito provavelmente ser exigido em exames futuros. Não que eu acredite, é claro, que ser aprovado ou não em um exame tenha a mais remota importância, quando tratamos da arte sagrada da adivinhação. Se a pessoa tem o Olho que Vê, os certificados e as séries concluídas não vêm ao caso. Contudo, o diretor gosta que vocês prestem exames, portanto..."

 A voz da professora foi baixando delicadamente enquanto caminhava por entre as mesas, entregando os exemplares do Oráculo dos Sonhos, não deixando aos alunos a menor dúvida de que ela considerava a sua disciplina acima de detalhes sórdidos como exames.

 - Abram, por favor, na Introdução, e leiam o que Imago tem a dizer sobre a interpretação de sonhos. Depois, quero que se dividam em pares e usem o Oráculo dos Sonhos para interpretar os sonhos mais recentes um do outro. Comecem.

 Uma coisa boa a se dizer desta aula é que não durava dois tempos. Na altura em que todos terminaram de ler a introdução ao livro, restavam menos de dez minutos para interpretação de sonhos. Na mesa ao lado da de Percy e Grover, Simas fizera par com Dino, que imediatamente embarcou em uma interminável explicação sobre um pesadelo que envolvia uma tesoura gigantesca e o chapéu preferido de sua tia-avó; Grover e Percy apenas se entreolharam sombriamente.

 - Nunca me lembro dos meus sonhos - disse Grover. - Conta você.

 Percy finalmente encontrara uma situação para contar os sonhos e flashes que andara tendo para Grover. Resumiu toda a história em cinco minutos, deixando um Grover boquiaberto, na ponta de uma cadeira de chintz para ouvir mais claramente toda a história.

 - Percy - disse Grover, depois que Percy terminara de lhe contar os sonhos, abrindo e folheando o Oráculo dos Sonhos, nervoso -, deveríamos procurar aqui se existe alguma definição para estes seus sonhos...

 Por alguns minutos Grover procurou insistindo, mas desistiu quando chegou à última página sem a mais remota definição do sonho que Percy acabara de lhe contar.

 Todos se sobressaltaram quando a professora Sibila gritou na penumbra, sentada em sua cadeira de espaldar alto.

 - Abram suas mentes, meus queridos, e deixem seus olhos verem além do que é mundano!

 Harry, Rony e Nico tentaram se controlar para não rir. A Professora Sibila levantou-se e dirigiu-se para Nico quando este deixou escapar um ronco de riso. A professora afundou em uma cadeira vazia, ao lado de Harry, a mão faiscante de anéis ao peito e os olhos fechados.

 - Meu pobre garoto... meu pobre garoto querido... não... é mais caridoso não dizer... não... não me pergunte...

 - Que foi, professora? - perguntou Simas Finnigan na mesma hora. Todos tinham se levantado e aos poucos se amontoaram em torno da mesa de Harry, Rony e Nico, aproximando-se da cadeira de Sibila para dar uma boa olhada na encenação da professora.

 - Meu querido - os olhos da professora abriram-se teatralmente -, você tem um agouro de morte.

 A gargalhada de Rachel, que fizera dupla com Neville Longbottom, rasgou o silêncio que havia se instalado ali enquanto a professora olhava, com os lábios fingidamente crispados, para Nico e agora virava-se, um tanto surpresa e um tanto ofendida por Rachel tê-la atrapalhado no clímax de sua apresentação.

 - Desculpe, professora - falou Rachel, a voz abafada devido a mão na boca, segurando mais uma gargalhada, que era observada pelas caras de desaprovação de Lilá e Parvati -, mas Nico está longe de morrer. Te aconselharia a repetir este mesmo número quando a Professora Umbridge vier inspecionar suas aulas.

 Ouviram a sineta ao fundo, anunciando o fim da aula e, todos, rapidamente, retiraram-se do sótão, comentando o ocorrido aos murmúrios, encarando Rachel, que caminhava tranquilamente como se nada tivesse acontecido.

 Duas aulas depois, enquanto desciam em direção a sala de Snape, Rony e Harry ouviram Hermione resmungar "Aquela maldita gárgula! Ela não está nos ensinando como se defender contra as Artes das Trevas!", referindo-se a Umbridge.

 Localizada nas masmorras do castelo, próxima a Sala Comunal da Sonserina, a sala de aula de Poções é muito grande, com espaço para acomodar até três turmas juntas. Existem ali várias bancadas dispostas em série, onde os alunos se reúnem em trios para prepararem suas poções. Uma bancada central está localizada na frente da sala, lugar de onde o professor Snape ministra suas aulas. Nas laterais da sala são encontrados alguns armários, onde os mais estranhos e repulsivos ingredientes utilizados em suas aulas se encontram. Por ali também existem alguns frascos que flutuam serenamente, cujo conteúdo consiste em animais embalsamados tal qual a maioria pertence a fauna mágica. Por ser localizada no subterrâneo do Castelo, a sala é extremamente gelada e escura, o que lhe confere ainda mais tenebrosidade do que possuiria por si só, e no inverno é extremamente comum, nos dias mais frios, que a respiração dos alunos vire névoa ali dentro. Em subsequência à sala de Poções, é encontrado o escritório do professor, assim como um armário restrito com ingredientes exóticos, perigosos e raros utilizados na produção de poções, onde apenas os membros do corpo docente têm acesso.

 - Cadê seu namorado, Potter? - perguntou Draco, insolentemente, fazendo com que Crabbe e Goyle dessem falsas risadas apenas para agradar. - Desmaiou outra vez e você foi cuidar dele, é? - Agora, Pansy Parkinson entrara em um pequeno ataque de risos.

 - Ignore, ignore - balbuciou Hermione, entredentes, esforçando-se para não socar Pansy.

 - Draco, você já ouviu essa piada de loura? - indagou Pansy, displicente, dirigindo-se à Annabeth, que acabara de entrar na sala com Alexander em seus calcanhares. - A loura estava tentando tirar a tampa da cerveja amanteigada e não conseguia. O dono do bar explicou: "Você tem que torcer". E a loura começou a bater palmas, na maior torcida pela tampinha: "Tam-pi-nha! Tam-pi-nha!"

 Os alunos da Sonserina soltaram gargalhadas retumbantes que ecoaram na masmorra. Exceto Nico di Ângelo e Anne Montgomery que já encontravam-se sentados a um canto, encaravam com desaprovação as atitudes de seus colegas de casa.

 - Não ligue - preveniu Alexander, lançando um olhar severo à Pansy, quando Annabeth e ele fizeram trio com Luna em uma das mesas na frente de Harry, Rony e Hermione. - Ela é insuficientemente inteligente para notar que também é loura...

 - Os zonzóbulos devem ter embaralhado o cérebro deles - explicou Luna, serenamente, observando curiosa um dos vários potes flutuantes na sala.

 - Ponha-se em seu lugar, Srta. Parkinson - ordenou Snape ao prorromper de sua sala, a capa farfalhando em direção a sua mesa.

 Draco Malfoy e seus amigos deram risadinhas escondendo a boca com as mãos e, ao terminarem de encontrar os seus lugares, Snape encarou a classe. Annabeth notou que seus olhos eram negros como os de Hagrid, mas não tinham o calor dos de Hagrid. Eram frios e vazios e lembravam túneis escuros.

 - Vocês estão aqui para aprender a ciência sutil e a arte exata do preparo de poções - começou. Falava pouco acima de um sussurro, mas eles não perderam nenhuma palavra. Como a Prof.ª McGonagall, Snape tinha o dom de manter uma classe silenciosa sem esforços. - Como aqui não fazemos gestos tolos, muitos de vocês podem pensar que isto não é mágica. Não espero que vocês realmente entendam a beleza de um caldeirão cozinhando em fogo lento, com a fumaça a tremeluzir, o delicado poder dos líquidos que fluem pelas veias humanas e enfeitiçam a mente, confundem os sentidos... Posso ensinar-lhes a engarrafar a fama, a cozinhar a glória, até a zumbificar, se não forem o bando de cabeças-ocas que geralmente me mandam ensinar.

 Mais silêncio seguiu-se a esse pequeno discurso. Annabeth e Grover - que estava a uma mesa à frente - se entreolharam com as sobrancelhas erguidas. Rachel estava sentada na beiradinha da carteira e parecia assustadoramente calma.

 - Underwood! - disse Snape de repente, fazendo Grover sobressaltar-se e derrubar um frasco de líquido azul no uniforme de Neville, com quem fizera trio. - O que, normalmente, os centauros costumam fazer com malva e artemísia?

 Grover olhou para Rachel, pedindo socorro, mas a garota parecia absorta em ajudar Neville limpar seu uniforme que chamuscava fagulhas azuis claro; as mãos de Hermione e de Annabeth levantaram-se no ar.

 - Ahn... é... - gaguejou Grover, apavorado.

 - Professor, os centauros... - começou Hermione, que logo fora interrompida pela voz decidida de Annabeth na sua frente.

 - Os centauros costumam queimar malva e artemísia para a observação de resultados na fumaça acre, como certas formas e símbolos - concluiu Annabeth, encarando o professor que a boca se contorceu num riso de malícia.

 - Dez pontos para Sonserina.

 - Mas, senhor... eu sou da Corvinal! - explicou Annabeth, olhando sem entender para Nico, que fizera trio com Blásio e Anne, que olhava para uma garota com cara de buldogue, claramente ofendida com a colega de Casa.

 - Sim. Dez pontos para Sonserina.

 - Depois de um tempo você se acostuma - explicou Luna, sussurrante. - Snape é legal, só é mal-compreendido. Me surpreende não ter sido da Corvinal.

 - Vamos tentar outra vez, Sr. Underwood - disse Snape, sorrindo desdenhoso enquanto caminhava por entre as carteiras, as vestes escuras enfunando a cada passo. - Se eu lhe perguntasse o que é heléboro, o que você me diria?

 A voz de Grover vacilou mais uma vez e as mãos de Hermione e Annabeth tornaram a levantar.

 - Professor, heléboro é uma - Annabeth agora fora interrompida pela voz alta de Hermione.

 - Heléboro é uma planta bulbosa e que possui um caule robusto. Ela apresenta uma altura de aproximadamente 60 a 120 centímetros. O rizoma é pequeno e cilíndrico. As folhas basais são verticiladas, largas, variando de elípticas para lanceoladas e com nervuras...

 - ...a inflorescência é disposta em racemo - interrompeu Annabeth, mais uma vez a tentativa de resposta de Hermione -, medindo de 30 a 60 centímetros de comprimento e as flores são de cor branco-amareladas. Faz parte dos ingredientes que constituem a Poção da Paz...

 - ...a flor de Heléboro pode ser usada farmacologicamente - Hermione agora gritava, irritada. - É indicada principalmente na homeopatia, sendo desta forma usada nas cãibras, suores frios, vômitos, cólicas, colapsos e no tratamento de irregularidades de circulação...

 - ...na fitoterapia é mais indicado uso tópico devido a sua ação parasiticida - a classe acompanhava com a cabeça a discussão de Hermione e Annabeth. - Não é recomendado o seu uso interno devido a constituir um poderoso irritante dos nervos sensoriais, atuando diretamente sobre receptores cardíacos, causando efeitos anti-hipertensivos e na frequência cardíaca...

 - ...a intoxicação por heléboro produz uma ação vesicante sobre as mucosas digestivas, com sensação de queimação, náuseas, vômitos, hipotermia, suores frios e depressão dos centros nervosos cardíacos e respiratórios, o que pode ocasionar a morte - as duas agora se encaravam, espumando. - Duas gramas da planta ou vinte miligramas de veratrina é dose letal...

 - ...o tratamento da intoxicação consiste em promover o esvaziamento gástrico induzindo ao vômito, lavagem gástrica. Os espasmos podem ser tratados com barbitúricos e a bardicardia do soro de mandrágoras - finalizou Annabeth, olhando triunfante para Hermione.

 - Cinquenta pontos para Sonserina - falou Snape lentamente, batendo palmas com uma expressão de divertimento no rosto macilento.


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Notas finais do capítulo

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