Betty não podia acreditar na loucura que eles tinham feito, se martirizou por ser tão volúvel com ele a ponto de ter permitido as coisas irem tão longe, mas ela não podia negar que tinha sido bom, talvez por estarem ciente dos riscos e da loucura do ato o prazer tenha sido tão grande. Ela estava na sua salinha e ainda com o rosto corado e o coração acelerado, já ele estava na presidência e não poderia estar de melhor humor, a todo momento olhava o sofá e sorria recordando do prazer que a poucos minutos estava sentindo.

Armando estava trabalhando quando sentiu alguém forçar a porta para abrir, porém a porta ainda estava trancada e por isso a pessoa bateu, ele se levantou e abriu a porta encontrando seu pai e sua mãe o olhando interrogativamente.

- Desculpe, mas eu fechei para poder terminar um relatório sem ser interrompido – Ele parecia tão sério que seus pais não conseguiram não acreditar nele – Mas entrem – Ele deu espaço para seus progenitores entrarem – Vocês não chegaram um pouco cedo? A reunião é apenas a tarde – Armando fechou a porta, e se virou para ver seus pais, eles já iam sentar no sofá quando ele gritou – Não façam isso – Os dois se assustaram e olharam para o sofá procurando alguma sujeira ou defeito, porém o móvel estava normal.

- Armando você está muito estranho hoje – Sua mãe lhe disse.

- É que eu queria que vocês sentassem mais perto de mim, venham – Armando conduziu os dois para as cadeiras em frente a sua mesa, ele ainda não estava preparado para alguém sentar no sofá que tinha acabado de servir de ninho para seu amor, muito menos seus pais – E então, o que fazem aqui tão cedo? –

- Viemos antes para almoçar com você, ontem você chegou lá em casa do nada, ficamos preocupados meu filho – Seu pai falou com sinceridade.

- Papai não se preocupe, eu nunca estive melhor ou mais feliz – Seu pai sorriu para ele, sua mãe apenas olhou desconfiada, Armando estava mudado, parecia leve e realmente feliz, sua postura também tinha mudado era como se ele tivesse mais maduro.

- E podemos saber o porquê tanta felicidade? – Sua mãe perguntou e ele a olhou com pesar, sentia vontade de contar a seus pais tudo que estava ocorrendo em sua vida, por um segundo passou na cabeça dele contar toda a verdade, começando pelos problemas da empresa e terminando com ele revelando que ia ser pai e amava a mãe de seu filho, porém ele não podia, não era hora e sua mãe acabou percebendo o olhar dele ficar mais escuro e turvo.

- Por agora, basta saberem que estou feliz – Ele disse e sua mãe acabou aceitando.

- Fico feliz por você meu filho – Roberto falou, a verdade é que ele tinha perdido muito da criação de Armando e agora mais ainda morando tão longe de Bogotá, mas só de saber que o filho estava bem e acima de tudo, feliz, ele se sentia pleno.

- Eu acho que já podemos ir para o almoço – Armando disse ao olhar o relógio – Espere só um minuto que vou falar com Beatriz e já volto. - Ele foi até a sala dela e a encontrou trabalhando – Meu amor, está na hora do almoço, eu vou ter que ir com meus pais comer, mas você vai junto – Betty o olhou assustada.

- O que? Claro que não, não tem cabimento eu ir com vocês –

- Mas se você não for, como vou saber se está comendo direitinho? Você está tão magrinha que nem parece estar grávida. – Ela respirou irritada, Armando parecia que estava falando com uma criança.

- Eu juro que vou comer direito e tudo mais que você quiser, porém entenda que não poderei ir com você e seus pais, tudo ainda é muito louco, vamos tentar não misturar mais as coisas do que já estão – Ela lhe pediu e ele acabou aceitando, por fim lhe deu um beijo nos lábios em despedida.

Simultâneo a isso Roberto e Margarida conversavam na presidência.

- Meu amor, você não está achando nosso filho estranho ultimamente? – A mãe de Armando perguntou.

- Sim, porém ele está inegavelmente feliz, então seja lá o que está acontecendo com ele, é algo bom. – Roberto acrescentou orgulhoso.

- Não te da curiosidade do motivo dessa mudança? Porque é nítido que ele mudou, está mais ... mais – Dona Margarida não sabia o que dizer.

- Mais homem – Roberto mais uma vez disse orgulhoso de como seu ‘varão’ estava.

- Pode ser, porém ainda acho que devemos averiguar isso – Margarida disse e Armando acabou entrando na sala e ouvindo suas últimas palavras.

- Averiguar o que mamãe? –

- Se Marcela vai almoçar conosco – Margarida respondeu rapidamente e ganhou um olhar de reprovação do marido por ter mentido.

- Não mamãe, não me apetece que Marcela nos acompanhe, vamos só nós três –

- Mas por que meu filho? – Margarida perguntou preocupada.

- Conversamos durante o almoço, pode ser? – Armando respondeu vagamente.

O almoço passou tranquilo para ambos, Armando desfrutou da companhia de seus pais e Betty almoçava em meio a risadas, como sempre era quando ia comer com o quartel. Quando ela chegou do almoço ele já estava em sua sala.

- Desculpe pelo atraso –

- Não se preocupe com isso, como foi seu almoço? –

- Divertido como sempre é, quando o quartel se junta –

- E comeu tudo? – Ela fez que sim com a cabeça – Tem certeza? – Ela não teve tempo de responder, bateram na porta e antes mesmo que a pessoa fosse convidada a entrar, a porta se abriu e Daniel entrou com sua postura soberba.

- Mas que surpresa mais desagradável Daniel, chegas-te cedo – Armando como sempre não usou de educação para cumprimentar seu  único e maior inimigo.

- Pois é querido cunhadinho, cheguei cedo para conferir se está tudo certo, espero que você não se importe – Daniel que até então apenas tinha a atenção voltada para Armando, se colocou a ampliar seu campo de visão e viu Betty ali em pé, não pode deixar de se assustar com a mudança do visual – Dra. Pinzon, vejo que tirou a máscara de halloween – Daniel disse com toda a naturalidade que lhe era peculiar, Armando já estava pronto para rebater a Daniel e defender a honra de ‘sua’ Betty quando a mesma se apressou em responder.

- Você vê doutor Valencia, algumas pessoas tem a sorte de conseguirem tirar suas máscaras, outras no entanto ... – Ela deixou a continuação em aberto, sabia que Daniel entenderia a indireta.

- Sabe Beatriz – Daniel se aproximou dela ignorando totalmente seu comentário irônico e a presença de Armando – Levando em conta os belos olhos que você escondia por trás daqueles óculos e o lindo rosto por trás daquela franja e aparelho, não posso deixar de me perguntar o que você esconde por baixo dessas roupas – O comentário tinha a pego desprevenida e ela apenas prendeu a respiração de susto e não soube responder a altura, para Armando aquilo tinha sido o estopim.

- Daniel nunca mais faça uma insinuação assim a Beatriz – Armando tinha ira na voz, para Daniel ele apenas estava irritado pelo mesmo esta cortejando sua assistente e nada mais, jamais poderia achar que Armando tivesse um caso com a Pinzon ou algo assim, mesmo sabendo que Beatriz tinha mudado um pouco, ele achava que para Armando ela continuava feia, afinal o padrão do seu cunhado era elevado demais, apenas as melhores modelos, porém Daniel não pode deixar de admirar a Beatriz, ele via que ela ainda tinha muito a mudar, mas no entanto ela tinha potencial para se tornar uma bela mulher, bastava fazer a sobrancelha, uma depilação no buço, um trato nas unhas e obviamente roupas novas e ela ficaria realmente bonita, além de tudo, Beatriz era inteligente, a única mulher que sempre conseguia responder com altura suas ironias, seria a companheira ideal para ele apresentar em eventos e na sociedade.

- Por favor Armando, menos gritos que ninguém te chamou na conversa – Armando não podia acreditar na audácia de Daniel.

- Como não? Você está desrespeitando Betty na minha frente e quer que eu fique calado? – Era um milagre que Armando ainda não tinha golpeado Daniel com um soco. Betty apenas via toda a cena sem acreditar, afinal estava Daniel a cortejando? Não, certamente é um equivoco, ela pensou.

- Armando, Betty sabe se defender sozinha e a ti não cai bem o papel de cavalheiro que protege tímidas donzelas – Daniel se mostrava pronto para a briga e então Betty resolveu que era hora de intervir.

- Doutores – Betty falou um pouco mais alto e conseguiu a atenção dos dois, Armando a olhava irritado enquanto Daniel tinha um olhar indescritível – Que tal irem para a sala de reuniões, eu já tinha colocado as pastas com os informes antes do almoço, vocês poderiam ir lendo – Daniel mordeu a isca e foi até lá, pensou que poderia usar do tempo extra lendo tudo e caçando assim erros, já Armando disse que conhecia tudo de memória e ficou.

- Não quero Daniel perto de você, entendeu? – Armando estava furioso.

- Tudo bem Armando, como você quiser, agora vamos nos preparar para a reunião – Betty disse simplesmente o que ele queria ouvir, porém a tensão dele ainda era nítida, então ela segurou em sua mão e o conduziu até a salinha dela, fechou a porta e o beijou, na mesma hora a irá foi embora e o amor tomou conta dele, ela sorriu durante o beijo ao senti-lo relaxar, seu plano tinha dado certo e ele já não estava mais furioso.