Garota-Gelo escrita por Bia


Capítulo 72
Estrelas Cadentes - Epílogo


Notas iniciais do capítulo

OLHA QUEM APARECEU DEPOIS DE UM ANO!!!! (Ai meu Deus, eu fiz essa piada. Socorro, me matem) GENTE DO CÉU, PASSAMOS MAIS UM ANO JUNTINHOS! Que 2015 venha com tudo! Que coisas boas venham com frequência, que possamos ser três vezes melhores do que fomos ano passado, que possamos sorrir mais, sermos mais felizes, mais alegres, mais tudo! De verdade, só desejo coisas boas a vocês.
Eu demorei para atualizar a fanfic por n motivos. Um deles foi o fato de que eu não conseguia escrever. Foi um puta sacrifício escrever, começar a me despedir de tudo. GG deu início ao que eu quero fazer. Essa história foi a linha de partida para eu decidir o que eu sou. Vocês participaram disso tão avidamente e tão amorosamente que nem consigo agradecê-los de forma válida. Obrigada, de verdade, por estarem aqui, por comentarem, por serem essas pessoas incríveis, por receberem de braços abertos meus textos drogados e minhas notas gigantes :,)
Amo vocês e essa foi uma experiência que eu NUNCA vou esquecer.
Agora, sobre o capítulo: destruidor e engraçado. Muito engraçado. Ri madrugadas escrevendo e me lembrando dos momentos, se eu fizer vocês soltarem UMA RISADINHA com ele, ficarei mais do que satisfeita. FINALMENTE vai acontecer aquilo que toooooodos estavam esperando, uhullllllll! o//// ~dançando~
Enfim. Espero, de verdade, que vocês gostem!
Boa Leitura!



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– Katrina, se você tivesse a chance de mudar alguma coisa, o que você mudaria? - Jason me perguntou, obviamente cabisbaixo.

Suspirei, pensando seriamente na questão.

– Não faço ideia… Talvez mudaria de casa… - Falei, coçando o queixo.

– Só? - Indagou novamente, me olhando nos olhos.

– Provavelmente. - Respondi. Estávamos num parquinho, sentados em balanços, um do lado do outro. O dia estava nublado, fresquinho; o dia ideal.

Segurei com mais força as correntes do balanço, impulsionando os pés no chão para dar certo movimento ao brinquedo. Jason continuou parado, encarando o nada.

– Talvez, se eu tivesse uma chance, mudaria. - Disse vagamente.

– Ah, é? O quê? - Indaguei, realmente interessada.

– Tudo. - Respondeu, mais vagamente ainda, erguendo o olhar e me dando um sorriso deformado. - Katrina, devo dizer, com imenso pesar, que não poderá mais sonhar comigo.

– Hã? - Perguntei, parando o balanço bruscamente, enfiando os pés no chão de terra - você não pode mandar nos meus sonhos. Ele é meu e se quiser, sonho até com uma capivara dirigindo uma nuvem em formato de gatinhos. - Soltei irritada, franzindo o cenho.

Jason riu.

– Prepotente até em seus sonhos, Katrina Dias. Mas, infelizmente, isso não é culpa minha. É culpa sua. Mesmo você nunca admitindo, em todos esses anos, sempre sentiu-se solitária. Encontrar um personagem fictício e habituar-se a ele, como se fosse real, foi sua válvula de escape desta situação… Porém, agora… - Ele suspirou, olhando para um ponto específico. - Você não está mais sozinha… Pelo menos não nesta cama. - Terminou, confundindo meu cérebro.

Acordei logo em seguida, piscando repetidas vezes, meus olhos desacostumados à claridade do ambiente. Gemi em preguiça eterna, esticando meu corpo todinho num espreguiço gostoso, que até estralou minhas costas. Fiquei alguns segundos deitada, pensando no que faria em seguida.

Decidi me sentar na cama, os olhos miúdos de sonolência. Meu corpo estava estranhamente relaxado naquela manhã, como se eu tivesse recebido uma espécie de massagem ou algo parecido assim que fui dormir.

O dia estava quente, já que o quarto estava abafado, mesmo que o vidro estivesse aberto. Eu podia sentir um ventinho vindo da janela, mas nada que pudesse sobrepor o calor incessante do cômodo. Bocejei, coçando minha barriga exposta, decidindo, pela primeira vez, dar uma olhada no meu próprio corpo.

Como de costume, numa provável noite quente, eu estava apenas usando uma calcinha. Mas tinha uma coisa estranha: não era minha calcinha confortável, e sim uma calcinha que eu usava para fazer coisas diferentes de dormir.

– Caralho, onde eu bati isso aqui? - Murmurei, realmente espantada, acariciando meu seio direito, vendo um grande arroxeado. Na realidade, o mesmo se repetia no outro seio, dessa vez numa área diferente, ao lado, e não no centro da mama. - Eu tava drogada quando fiz isso… - Pensei, incrédula.

Ergui o olhar, já sem tanta sonolência, com preguiça de sair da cama. Foi quando quase tive uma síncope: o quarto todo estava uma perfeita zona. O.k., não é como se ele nunca estivesse assim, porém, naquela manhã, tudo estava diferente. Eu sei diferenciar a bagunça feita com o tempo (é aquela que você chega em casa, tira a camiseta e joga num canto qualquer, aí tem preguiça de pegá-la depois, então a joga em outro canto, e isso se repete várias e várias vezes, até que sua mãe ou pai chegue para você e o mande arrumar “aquela zona”) e…

As outras bagunças.

Minha camisola estava em cima da escrivaninha, jogada lá como se fosse um trapo sujo; havia uma camisa branca de botões grande demais para mim no chão, juntamente com uma bermuda jeans preta, também masculina e… Espera, oi?

Roupas masculinas?

Pressionei ambas minhas mãos na cabeça, encarando, cética, uma grande mala aos pés da cama. Os pensamentos da noite anterior me atingiram como um balde d’água frio. Girei devagarinho minha cabeça para trás, os olhos levemente arregalados, torcendo internamente para que os pensamentos que tive há pouco fossem mentira.

Ah, ledo engano.

Logo atrás de mim, parcialmente coberto e - aparentemente - nu, ressonando baixo e gostosamente, como se aquele estivesse sendo o melhor sono de sua vida, estava Pedro Marconni.

É exatamente o que você está pensando.

Transamos.

Virei a cabeça, disposta a não encará-lo para não me lembrar dos acontecimentos anteriores - não que tivesse sido uma experiência ruim, muito pelo contrário; me lembro que, nos instantes finais, eu senti como se estivesse tomando um chocolate quente feito pelo Willy Wonka num inverno polar.

Não nos desagarramos durante todo o processo. Uma vez eu estava com as pernas ao redor dele, beijando-o ferozmente no intuito de deixar seus lábios inchados. Outra hora ele estava em cima de mim, beijando e chupando despudoradamente todo o meu tórax. Às vezes eu sentia gotas de suor escorrendo entre nós, as raízes de nossos cabelos ensopadas, a temperatura do quarto podendo ser comparada a uma sauna, minhas pernas mais moles que macarrão.

Os olhos do Pedro pareciam duas esferas negras, me observando de forma intensa, prestando atenção nas reações do meu corpo, não perdendo os mínimos detalhes.

Não trocamos muitas palavras na hora, mas não é como se realmente tivesse sido necessário.

Estremeci com o pensamento, esfregando meus antebraços com força. Era meio normal nós transarmos, já que estávamos num relacionamento, havia sido uma experiência mais que ótima, mas… Eu estava puta com ele! PU-TA! E o que as pessoas fazem quando estão putas com outras?

Elas, definitivamente, não fazem sexo com elas!

Bufei, irritadiça, me sentindo extremamente hipócrita ao ponto de ter me deixado levar dessa forma. Olhei mais uma vez para o italiano, sentindo uma vontade crescente de socar aquele rosto adormecido e, puta merda, lindo.

Levei um susto quando ele resmungou na cama, coçando o peito enquanto se remexia, os olhos ainda bem apertadinhos. O garoto virou-se de barriga para cima, esticando as pernas e os braços de forma à vontade, como se a cama fosse dele. Provavelmente ele também não se lembraria do que aconteceu.

– Aahn, megera… - Pedro murmurou, virando-se novamente de lado, esticando uma mão e me abraçando pela cintura.

– Que é? - Resmunguei, sem paciência com ele.

– Apaga a luz… - Pediu quase igual a uma criancinha.

– Não tem luz nenhuma acesa, é a luz do Sol entrando pela janela - respondi, talvez um pouco grossa.

– Então apaga o Sol… - Pediu de novo, completamente grogue de sono. - Não quero sair da cama, quero ficar com... - ele interrompeu-se, talvez tendo um momento de lucidez. Pedro abriu os olhos bem devagar, encarando tudo com certa estranheza. - … Você…

Fiquei encarando-o com uma sobrancelha levantada, sentindo seus dedos me acariciarem na cintura. Então, do nada, o italiano ergueu o rosto, parecendo assustado, sentando-se na cama como o Flash e olhando em volta. Depois ele olhou para mim, a mesma expressão de perdido no rosto.

– Ontem… Nós? - Tentou se lembrar.

– Sim - respondi vagamente, revirando os olhos e cruzando os braços, talvez um pouco envergonhada ao deixar meu busto exposto.

Eu pensei que ele iria dizer algo como “ai meu Deus, nós nos deixamos levar pelo momento!” ou algo do gênero, mas a única coisa que Pedro fez foi dar um sorriso extremamente cafajeste, já parecendo completamente desperto. Fiquei indignada com sua reação.

– Como pode me lançar esse olhar?! - Indaguei, voando em cima dele e pegando seu queixo, fazendo-o me encarar. - Não está nem um pouco arrependido?!

Pedro soltou um “pff” desaforado, me encarando profundamente.

– Arrependido? Por que eu estaria arrependido de ter transado contigo, a mulher que eu amo? - Perguntou, quase seriamente, mas eu via em seus lábios vestígios de que estava sorrindo internamente.

O xinguei baixinho, decidindo ignorá-lo e sair de perto. Coloquei minhas pernas para fora da cama, me levantando.

Assim que dei um segundo passo, aconteceu algo meio patético. Minhas pernas, de uma forma meio absurda, perderam totalmente suas forças, me fazendo ir beijar o chão gloriosamente.

– Ai, ai, ai, ai, ai… - Reclamei como uma velhinha, me sentindo fraca. Botei minhas mãos na cintura, sentindo uma leve pontada na região lombar.

– Katrina! - Pedro exclamou, quase desesperado, indo me socorrer. Ele me pegou por debaixo dos braços, me erguendo e me botando sentada na cama como se eu fosse uma boneca de pano. - Tudo bem? - Ele tinha um verdadeiro olhar de preocupação no rosto. Foi quando Pedro ficou meio pálido, como se um pensamento assombroso lhe ocorresse. - Eu não te machuquei… Né?

– Não, não, de boas… - Garanti, estralando as costas. - É que… Você sabe, essa parada é meio nova para meu corpo sedentário, ele fraquejou, ocorre nas melhores famílias… - Foi quando me toquei de uma coisa: EU ESTAVA PUTA COM ELE! - Por que eu estou falando com você? - Indaguei do nada, olhando-o furiosamente.

Pedro me encarou, confuso por dois instantes.

– E… - Completei, olhando rapidamente para baixo. - Coloque uma cueca, não sou obrigada a ver suas partes dessa maneira.

O garoto sorriu, maroto, esticando-se e pegando sua cueca preta que estava jogada do lado da cama, vestindo-a rapidamente. Ele apontou para mim com o queixo, rindo.

– Também não sou obrigado a ver, mas quem sou eu para reclamar? - Disse, obviamente se referindo aos meus peitos.

Gaguejei, lembrando-me que eu estava seminua todo esse tempo. Pesquei a coberta e me cobri parcialmente, encarando-o de forma mais digna. Pedro me encarou de volta, ainda confuso.

– Você está brava comigo?

– Estou - respondi, juntando as sobrancelhas.

– Por quê? - Perguntou, ainda mais confuso.

Revirei os olhos, cética.

– Preciso mesmo dizer? - Quando ele assentiu, explodi: - ah, o.k., vamos começar pelo básico! O que diabos foi aquela despedida há um mês? Tipo “oi, Katrina, então, eu juntei dinheiro por um tempo aí, sabe? Hoje é meu aniversário, então eu estou partindo para a Itália. Tchau, nos vemos na Véspera de Natal!” HÃ? Sério, quando eu ouvi isso, a primeira coisa que eu tive vontade de fazer foi bater na sua cara até você sangrar! Que tipo de pessoa vai para outro país sem avisar com antecendência? Eu realmente estou te odiando neste instante, você me deixou aqui a ver navios durante um mês! Você sabe o que é um mês? É, foi esse tempo que eu fiquei aqui em casa, enquanto você se divertida lá em Roma, Florença, Veneza e na puta que pariu! O meu problema, definitivamente, não é com o fato de que você foi para a Itália no dia em que completou dezoito, não, sério, por mim de boas, mas sim com o fato de que você não me avisou! Porra, qual era o problema de me dizer? E também tem o maravilhoso episódio onde você chega antes do previsto, dia vinte e três, para me fazer uma “surpresa”. Aí, nós dois, sem nos conter, acabamos transando, arruinando todos os meus planos de acordar cedo para comprar os presentes de aniversário da minha mãe e da Camila. Sério, eu até comprei um remédio para a Serena dormir mais, sabe o quanto caro isso custa? É, você arruinou tudo e eu não sei como eu estou podendo encará-lo agora. Realmente, eu sou uma pessoa muito boa por fazer isso. - Concluí meu monólogo, respirando profundamente, em busca de ar.

Pedro ouviu tudo com atenção, as sobrancelhas erguidas.

– Wow - disse, coçando a nuca, um pouco perdido. - Escuta, eu… Sinto muito. De verdade. Sabe, eu esperei muito tempo para fazer essa viagem. Foram, eu acho… Quatro…

– Meses? - Me senti meio ofendida pelo “muito tempo”.

– Anos - Pedro me corrigiu com um sorrisinho tímido. Ele pegou a minha mão, apertando-a com força. - Me desculpe. Eu estava animado demais e só me liguei do que eu fiz quando eu estava no avião. Mas, Katrina, serei totalmente sincero com você: a minha viagem não foi tão boa assim.

Ri com escárnio, revirando os olhos.

– Ah, sim, claro, aham, vou acreditar com certeza. Para de brincar com a minha cara… - Grunhi, tomando um susto quando Pedro me pegou pelos ombros e me virou com força em sua direção.

Tudo bem, então olhe diretamente nos meus olhos e veja se eu estou brincando com você agora. - Disse, mais sério impossível. Encarei aquelas orbes negras, um certo arrepio escorregando em minha coluna. - Escute, o.k.? Eu poderia ganhar um tour exclusivo pelo mundo, Katrina… Se você não estiver comigo, não será bom o suficiente, já que só você pode fazer com que tudo fique cem por cento...

Fiquei encarando-o, sem dizer nada. Aaaah, ele era tão…! Aarrgh!

– Cala a boca, você nem deve ter pensado em mim lá! - Contra-argumentei, me desvincilhando de seu toque.

Pedro me olhou, as sobrancelhas levemente arqueadas. Ele sorriu, balançando a cabeça.

– Legal você ter dito isso, megera… - Começou, curvando-se e puxando sua mala pela alça, até que ela batesse em seus pés. Pedro fuxicou suas coisas por alguns instantes, até que retirou de lá um pote de acrílico que parecia ser um pouco pesado, fechado com uma tampa vermelha. Quando reparei bem no conteúdo do pote, percebi que ele, se caso aberto, provavelmente transbordaria de tantas flores que estavam lá dentro.

– O que é isso? - Perguntei consumida pela curiosidade. Pedro sorriu, me entregando o pote, que aceitei com naturalidade, observando-o. Provavelmente tinha algumas dez espécies de flores diferentes, todas elas esmagadinhas por conta da quantidade. - Pra que isso?

– Bom, quando eu estava no avião, fiquei consumido pelo tédio. Acabei comendo toda a bolacha que estava dentro desse pote, e acabei pensando em você. Algo como “o que a Katrina faria se estivesse na minha situação?”. Então eu bolei um jogo, que serviria como presente no final da viagem: a cada vez que eu pensasse em você, depositaria uma flor dentro do pote. - Ele deu ombros quando acabou de explicar. - O resultado foi esse.

Entreabri a boca, cética. Não era possível. Encarei o pote, depois encarei o italiano. Pedro havia ficado na Itália durante vinte e sete dias. Havia ali dentro, no mínimo, o quadruplo de vinte e sete. O.k., aquilo havia sido extremamente doce. Nem eu aguentei.

– Só você mesmo, idiota… - Murmurei, encarando o pote. Mas a verdade era que eu estava morrendo de fofura por dentro.

Pedro riu, inclinando a cabeça para o lado.

– Isso é um “você está perdoado, mesmo que eu te odeie por mais alguns dias”? - Perguntou quase inocente. - Eu sei que o que eu fiz foi desprezível, tá bom? Então, sério, eu vou tentar fazer de tudo para compensar - falou quase que sofridamente, juntando as mãos.

Levantei o queixo, colocando o pote-da-fofura em cima da cama.

– Bom mesmo. Aliás, talvez eu transforme esse ódio em greve, o que acha? - Falei apenas para ver a reação dele. Gargalhei quando o garoto exclamou um “não, pelo amor de Deus!” e pegou minhas mãos com força. - Olha, eu achei uma ótima ideia! - Brinquei, satisfeita ao vê-lo sofrendo.

– Nem brinque com isso! - Falou, já relaxado quando percebeu que era brincadeira. Então o italiano estralou as costas, sorrindo de uma maneira jovial. - Eu trouxe presentes!

– Mais?! - Exclamei, surpresa. Existe alguma coisa melhor do que receber presentes?

Yep– Pedro me respondeu, botando a mala com dificuldade em cima da cama, entre nós. O colchão balançou um pouco com o peso dela, mas manteve-se estável. O garoto começou a fuxicar entre suas coisas, revelando peças de roupa, máquinas fotográficas e coisas mais. - Ah, aqui, achei… Eu meio que fiquei em dúvida quando fui escolher os seus presentes, mas acho que escolhi bem… - Falou, tirando de lá um sacola e colocando-a no meu colo.

Abri a sacola, enfiando a mão e tirando de lá a primeira coisa que meus dedos alcançaram. Soltei uma exclamação abafada quando tirei de lá um mini-Coliseu, colado sobre um pequeno apoio de madeira. Pelas imagens que eu havia visto em livros e outros mais, estava perfeito. Pedro pegou a miniatura das minhas mãos, sorrindo como se tivesse feito arte.

– A melhor parte… - Falou, apertando um botãozinho dentro do Coliseu. Levei um susto quando ouvi uma espécie de rugido e gritos de gladiadores, depois uma salva de palmas fervorosa. Fiquei encarando o italiano, sem palavras. Ele riu baixinho. - Legal, né?

– É muito errado achar isso legal, mas, sim, é demais - confessei, botando a miniatura do Coliseu em cima da cama, para guardá-la depois. - Meu Deus, só você para me trazer isso… Espera - falei, erguendo o olhar. - Você visitou o Coliseu? Tipo, dentro?

– Não - falou, parecendo cabisbaixo.

– Por quê? - Indaguei, cética. - Você teve a chance e não foi? Chega mais perto que eu vou te dar um soco.

Pedro riu, dando de ombros.

– Era muito caro! Só para entrar custava em média doze euros, o que seria mais ou menos… - Ele olhou para cima, como se estivesse pensando brevemente. - Uns quarenta reais.

– Realmente, foi melhor você não ter ido… - Concordei, voltando a xeretar a sacola. Fiquei surpresa ao sentir uma espécie de tecido. Será que era uma camiseta? Retirei a coisa de dentro da sacola, ficando sem reação durante alguns vários segundos.

Não era nada que eu havia imaginado. Eu havia retirado um quadro dali, ele não era muito grande, talvez medisse trinta por vinte. Mas a novidade ali era que eu estava pintada naquele quadro; de uma forma meio excêntrica, mas era eu, tinha certeza. Olhei para Pedro, ainda incrédula.

– Eu encontrei um artista de rua bastante famoso em Roma. Ele cobrava dois euros, ou seja, uns sete reais por cada quadro pintado. E aí eu mostrei uma foto sua e disse a ele “pinte essa garota de um jeito que combine com a personalidade que você acha que ela tem”. No início ele me encarou desconfiadamente, mas concordou e te pintou assim. A verdade era que eu estava curioso em descobrir como as pessoas acham que você é, Katrina. O resultado ficou ótimo, não acha? - Riu, cruzando os braços.

Não tem forma menos vergonhosa de explicar a situação: eu fui representada como uma princesa. Eu estava ajoelhada numa grama verdinha, o cabelo solto, uma tiara de brilhantes na cabeça, um sorriso bobo enquanto cheirava uma flor– que ridículo, meu Santo Deus - e uma espécie de vestido branco esvoaçante.

– A cadeira da cozinha tá bambeando, vou botar esse quadro embaixo de um pé dela para ver se resolve - resmunguei, vendo o italiano gargalhar.

– Não, megera, se você não pendurar em algum canto do seu quarto, pode deixar que eu penduro no meu… - Falou, tentando pegar o quadro, mas eu dei um “olé” nele, apertando a moldura contra o peito.

– Não. Sem essa, o presente é meu e… - Suspirei, olhando para o lado. - Tem um lugar vazio na parede acima da camiseira, vou colocá-lo lá.

O italiano riu, apertando minha bochecha fracamente. Eu iria dizer qualquer coisa sobre aquilo, mas ouvi a minha mãe me chamando lá embaixo. Olhei para o garoto, que me encarava com expectativa.

– Ah, hm… Vamos descer, certo? - Falei, vendo-o assentir. Saí da cama devagar, sentindo todas as minhas juntas doerem; o.k., estava na hora de eu começar a fazer alguns exercícios físicos antes de me “aventurar” novamente. Me agachei e catei a camisa do italiano, vestiando-a e abotando-a. Não teria coragem de buscar as minhas próprias.

Sorri ao perceber que a camisa dele parecia um vestido para mim; as mangas arregaçadas que para ele ficavam sobre os bíceps, alcançavam com facilidade meus antebraços.

– Ei, ei, ei, que roubo é esse? - Pedro fez um falso protesto, fuxicando sua mala e tirando de lá uma bermuda de algodão vermelha. Ele se levantou, botando-a com facilidade e amarrando-a na frente. O garoto me avaliou por uns instantes. - Você deveria colocar minhas camisas com mais frequência. - Opinou, voltando a encarar sua mala, provavelmente à procura de uma camiseta.

– Por que vai colocar uma camiseta? Tem ninguém aí em casa não, fica à vontade… - Falei, abrindo a porta.

O garoto assentiu, pegando sua escova de dentes e saindo do quarto depois de mim. Nós dois descemos os degraus, descalços, e eu já ensaiava o que iria dizer a minha mãe.

– Katrinaaaa! - Uma voz familiar e irritante me chamou. Paralisei na escada, girando os calcanhares e olhando, aflita, para o italiano.

– Volta, volta, volta, volta! - Murmurei, abanando as mãos, começando a subir novamente, vendo Pedro assumir uma expressão de confusão.

– Ahá, você está aí! - Tia Rosa apareceu como um fantasma antes que pudéssemos escapar. Espremi os olhos, mortificada e pronta para ouvir as piadinhas. - A mesma cara de tédio, peituda e encalha- - ela interrompeu-se quando viu Pedro, que ainda estava meio perdido. - Minha nossa…! - Falou automaticamente, vidrada. - Íris, Margarida, Serena, venham rápido porque acho que estou vendo coisas! - Chamou as irmãs, a mão sobre o peito.

– Hã… - Pigarreei, apontando para o italiano. - Oi, tia, esse aqui é o Pedro, meu, hm, namorado. - Apresentei, olhando para o Pedro. - Pedro, minha tia Rosa…

– Oi… - Ele cumprimentou, sem saber o que fazer.

Logo as três apareceram, apressadas, como se tivessem chamadas por causa de um incêndio. Minhas tias ficaram encarando o italiano como se ele fosse uma espécie de bebida cara.

– Ah, sim, meninas, esse aqui é o meu genro e vizinho, Pedro! - Mamãe apresentou extremamente orgulhosa, me olhando em seguida. “Ele dormiu aqui?” seu olhar inquiria extremamente sugestivo. Respondi com outro olhar sugestivo, o que a fez abrir um sorriso de satisfação. - Ele é italiano - disse como se fosse muito importante.

– Seus netos serão lindos! - Tia Íris pensou de forma distante, me fazendo desejar morrer. Entreolhei Pedro, que não parecia tão incomodado assim.

– Tomara que sejam gêmeos! - Tia Margarida desejou, nos olhando com expectativa. - Aí será beleza em dobro, certo? Mas vocês têm que tê-los jovenzinhos ainda, se esperarem ficarem velhos e pelancudos, não terá graça!

– Não esperem até ficarem iguais às tias da Katrina! - Mamãe brincou, divertida, recebendo várias risadas e tapinhas no ombro. - Bom, agora, vamos deixá-los! Eles têm que fazer suas higienes matinais!

Aproveitei a deixa que minha mãe nos deu e peguei na mão do italiano, descendo o restante das escadas com pressa, vendo-as tocarem nele, como se Pedro fosse Elvis em carne e osso. O italiano começou a rir desesperadamente quando o empurrei para dentro do banheiro, nos trancando lá.

– Suas tias são demais! - Disse animado. Revirei os olhos, abrindo o espelho e pegando minha pasta de dente. - Deve ser muito divertido conviver com elas.

Dei três soquinhos na pia, tentando me livrar do pensando de ter que viver com minhas tias doidas.

– Vira essa boca para lá! Seria confusão demais ter de aturá-las! - Grunhi, começando a escovar os dentes e dando a pasta para ele.

Depois de um tempo notei a estranheza daquele momento: Pedro e eu estávamos lado a lado num banheiro, escovando os dentes. Ri sozinha, saindo primeiro do banheiro, já que Pedro parecia escovar cada dente umas trinta vezes.

Andei até a sala devagar, vendo que era lá onde as irmãs problemáticas estavam. Minhas tias abraçavam uma a uma Serena, provavelmente despedindo-se. Elas deram um gritinho quando me viram.

– Ah, essa menina está cada dia mais parecida com a mãe dela! - Tia Íris disse, acariciando-me nos cabelos. - Até a marca de expressão na testa é igual!

– Valeu - agradeci, satisfeita por saber que me parecia com Serena Dias. - Mas, mudando um pouco de assunto, vocês já vão?

– Sim, querida! - Tia Margarida respondeu, pegando na minha mão. - Só viemos aqui para dar um olá e desejar um feliz Natal. Infelizmente a Camilinha está dormindo ainda, queríamos vê-la… - Disse cabisbaixa, mas animou-se em seguida. - Enfim, trouxemos uma torta para vocês! Até breeeve!

Sorri, feliz por elas terem trago torta para o café. Dei um tchauzinho básico quando elas saíram, rindo feito doidas no meio da rua. Mamãe fechou a porta, suspirando.

– Ah, que saudades dessas suas tias! - Falou nostálgica, mesmo que elas tivessem saído a menos de dez segundos. - Me lembro como se fosse ontem quando brincávamos juntas de superstar em cima do balcão da cozinha… Cantávamos tudo errado. - Riu-se, olhando para mim em seguida. - Você já separou sua roupa para hoje? - Perguntou quando comecei a rir da cena que imaginei.

– Na realidade, não. Marcela me disse que traria minhas roupas - dei de ombros.

Antes que alguém esprema as sobrancelhas e faça cara de perdido, vou explicar a situação. Como muitos perceberam, Marcela e Jonas não estão aqui.

Em outubro, mais ou menos, Marcela voltou para casa, já que estava com saudades de sua família - obviamente eu não reclamei, ter o quarto todo para mim foi maravilhoso: minhas sessões de dj voltaram com força total.

E Jonas, bem… Jonas recebeu uma proposta muito inusitada do namorado. É, eles foram morar juntos num apartamento a duas quadras de distância da minha casa. O garoto começou a trabalhar (coisa que eu nunca pensei que ele faria) numa loja de roupas no shopping para manter o aluguel enquanto Davi também trabalhava em algo que eu não lembro, mas era relacionado à matemática, contabilidade e coisa assim.

Mesmo que nós não morássemos mais juntos, nada mudou: Marcela vinha praticamente todo dia na minha casa, e Jonas sempre ficava comigo aos domingos. Decidimos mês passado que faríamos um Amigo Secreto na Véspera, reunindo a galera toda (e quando eu digo “galera toda”, quero dizer: a família do Pedro - finalmente a mãe dele concordou em pisar aqui em casa de novo - e a família da Marcela). Porém, o Natal propriamente dito, cada um passaria junto com suas famílias.

Até agradeci internamente, já que o Natal aqui em casa é meio diferente do restante das famílias. Quero dizer, além de não termos muito dinheiro para gastar com pisca-piscas e não termos uma árvore de Natal, é o aniversário da minha mãe; então decidimos comemorar os dois ao mesmo tempo: colocaríamos uma vela no chocotone e ela assopraria.

Ridículo, porém útil. Seríamos apenas nós… Quatro. Não, cinco, porque eu também conto com presenças caninas.

Pedro saiu do banheiro logo em seguida, coçando o abdome, o cabelo meio arrumado. Ele se aproximou e cumprimentou a minha mãe com um beijo na bochecha. Serena sorriu, olhando-o.

– Então, querido, como foi a sua viagem? Sabia que a Katrina teve que usar minha técnica de recuperação amorosa ao comprar uns cinco potes de sorvete napoli- a interrompi bruscamente, botando minha mão sobre sua boca com força, rindo forçadamente.

– Ha-ha-ha, muito engraçado, parabéns! - Falei tensa, vendo o italiano rir de lado, presunçoso.

– Poderia ter sido muito melhor - disse, piscando disfarçadamente para mim. Revirei os olhos, vendo a expressão de sabidinha da minha mãe. - Ah, aliás, Serena, trouxe um presente para você! - Avisou, estralando os dedos e subindo as escadas correndo.

– Oxe - ela exclamou, me olhando depois. Não deu nem vinte segundos para o garoto começar a descer com sua mala. Ele a colocou no último degrau, sentando-se na escada e começando a fuxicá-la. - Ah, o que será que é? - Mamãe ansiou, apertando as mãos.

Ele sorriu ao tirar de lá um embrulho de presente prateado. O entregou à mamãe, que agradeceu avidamente. Ela abriu o embrulho delicado e quase desmaiou quando tirou de lá um vestido. Ele era vinho, de um tecido frágil, comprido e delineado, com um decote meio extravagante, mas perfeito para uma mulher da idade da minha mãe.

Serena abraçou-o forte, realmente agradecida.

– Tenho o melhor genro do universo! - Elogiou-o, rindo.

Pedro retribuiu o abraço desajeitosamente, meio encabulado. Enquanto mamãe grunhia histérica no sofá enquanto abraçava seu mais novo vestido, Pedro colocou duas caixinhas em cima das minhas mãos.

– Isto é para a Camila e para a Isadora. Agora eu vou para casa, tentando me preparar psicologicamente para a bronca que eu vou receber dos meus pais… - Riu-se, inclinando-se e me dando um beijo. Senti o gosto da pasta de dente e acabei sorrindo. Pedro nos separou, me encarando profundamente. - Que horário vai rolar o amigo secreto?

– No horário em que minha mãe disser que irá rolar - respondi, sorrindo internamente pela pessoa que eu havia tirado.

– Quem você tirou? - Pedro perguntou de maneira sussurrada.

– Não vou dizer! - Repliquei, juntando as sobrancelhas. Que graça teria se eu dissesse a ele que eu havia tirado seu pai?!

– Ah, me diz, sou uma criatura curiosa! - Insistiu, chegando mais perto. - Se você me disser, eu te digo o meu!

– Para! - Afastei-o quando ele tentou me fazer cócegas no pescoço. - Não estraga a magia da brincadeira! O engraçado é que depois eu sou a estraga-prazeres!

Pedro riu, desistindo por fim de saber quem eu havia tirado. Não teria graça nenhuma se ele me contasse. O garoto foi embora logo em seguida, despedindo-se de nós duas com acenos sutis. Fechei a porta e cocei a nuca, vendo minha mãe deitada no sofá em posição fetal, assistindo a TV.

Decidi ir tomar um banho antes de dar meio-dia. Entrei no banheiro já desabotoando a camisa do Pedro. Ela tinha em si um aroma extremamente agradável, uma mistura de perfume comprado e perfume próprio… “Típico cheiro de tranquilizante para animais selvagens” devaneei, rindo comigo mesma enquanto abria o chuveiro.

Depois de alguns minutos embaixo da água quente, pude ouvir meu nome sendo chamado da sala. Prestei mais atenção no chamado e notei ser Jonas. Ele obviamente tinha vindo com Marcela, mas não ouvi outras vozes além das suas, por isso deduzi que a família da oxigenada viria mais tarde. Bateram na porta do banheiro.

– Katrina? - Era a voz de Marcela.

– Que é? - Respondi enquanto terminava de me enxaguar, desligando o chuveiro.

– Chegamooos! - Cantarolou, feliz.

– Não me diga! - Ironizei, rindo, me envolvendo na toalha. Me enxuguei parcialmente, passando a mão pelo espelho e encarando aquele rosto queimado de Sol. A outra riu, me avisando para sair logo porque tinha roupas líndissimas para me fazer vestir. Sim, ela me tratou como sua boneca pessoal. - Tá, tá, já vou… - Repliquei, piscando para mim mesma.

Acabei por sorrir para o meu reflexo. Contei as vezes em que realmente pude fazer isso: sorrir para mim mesma. Fiquei satisfeita por simplesmente fazê-lo. Dava uma sensação boa.

Saí do banheiro segurando a camisa do Pedro, atravessando a cozinha vazia e começando a subir as escadas, na direção das vozes altas e espalhafatosas.

Nem entrei no meu quarto direito quando Marcela voou na minha direção, me dando um abraço apertado.

– Feliz Natal! - Desejou, me balançando de um lado para o outro.

– Tecnicamente, não é Natal ainda… - Falei, vendo-a me desabraçar e me encarar.

– Quer parar de ser tão chata? - Pediu quase monotonamente, mas sorriu em seguida, me pegando pela mão e me arrastando para fora do quarto. Seguimos o corredor a passos rápidos, entrando no quarto da minha mãe.

Serena e Jonas conversavam animadamente, sentados na cama. Jonas virou sua cabeça em direção à porta, ouvindo os sons que fazíamos.

Ele sorriu para mim, me olhando de cima a baixo.

– Feliz Véspera de Natal! - Desejou “corretamente”.

Fiquei encarando-os por um momento, sentindo uma certa estranheza no ambiente. Eles estavam tramando alguma coisa, disso eu tinha certeza.

– Vai, desembucha o que vocês estão querendo dizer. - Incentivei, olhando em volta do quarto.

Marcela sorriu e, num movimento rápido, agachou-se, pegando algo de dentro de uma bolsa. Quando ela se ergueu, me encarando seriamente, vi que ela havia colocado uma barba branca, grande e falsa.

HO, HO, HO!– Disse, muito séria.

Explodi em risadas, me contorcendo e pressionando a barriga, quase morrendo quando ela espalmou ambas as mãos sobre a barriga, esfregando-a enquanto se inclinava para trás, a risada de velho inundando todo o cômodo.

Jonas caminhou em direção à bolsa enquanto eu me recuperava, vendo o quão ridícula era a situação.

– Aqui, temos para você também… - Disse, tirando de lá um arquinho marrom com chifres aveludados de rena. Ele o botou na minha cabeça, apreciando seu trabalho com orgulho. - Perfeito. Agora você é a rena Katrina, a rena que deu um coice nas costelas do Papai Noel e que gosta de comer peru no Natal - contou, dando tapinhas no meu ombro.

Olhei-o com uma sobrancelha erguida.

– E você, que galhada vai usar? De veado? - Fiz a piadinha típica, vendo-o me olhar com tédio.

– Melhore. - Disse, revirando os olhos enquanto se agachava novamente, pegando óculos falsos e redondos. - Eu sou a Mamãe Noel - explicou, colocando os óculos.

Novamente explodi em risadas, não aguentando aqueles dois.

– Isso tá muito desfuncional! - Falei, enxugando uma lagrimazinha que escapuliu no canto do olho. - E você, mãe, quem será você?

– Eu serei uma vela! - Disse animada, retirando de dentro do guarda-roupa um vestido branco, comprido e apertadinho, cheio de babados espalhados aleatoriamente pelo tecido, como vela derretida. - Chique, não?

Concordei com a cabeça, olhando para Marcela.

– Então, Santa, qual é a minha roupa? - Inquiri, vendo-a bater uma palma, agachando-se e pegando de dentro da bolsa um saco. Peguei-o da mão dela, abrindo-o e tirando de lá uma saia com suspensórios, preta, e uma camiseta vermelha de manga comprida; a gola da camiseta era canoa, de forma que meus ombros apareciam, decorada com sininhos e um tom de verde mais escuro. Olhei para Marcela, que sorria em aprovação. - Ah… - Falei falsamente cabisbaixa. - Pensei que me vestiria de Grinch.

Ela riu, me dando uma ombrada. Fui para meu quarto me trocar lá, não queria que eles me vissem nua quando meu corpo estava tão generosamente marcado da aventura de ontem.

Fiquei meio desconfortável com a saia com suspensórios; estava me sentindo como um lenhador. Já que a garota não havia me dado nada para calçar, decidi colocar meus tênis (sujos e imundos, porém meus). Enquanto colocava minha meia branca, gritei em susto quando um vulto negro saiu de debaixo da cama, os olhinhos ramelados.

– Puta que pariu, Hércules, que susto! - Repreendi-o, vendo-o sentar-se no chão e me olhar com aquelas orbes carinhosas. Suspirei, tentando normalizar minha respiração. Acabei por acariciar o topo de sua cabeça, que exalava um cheiro adocicado de xampu para cachorro. Eu havia dado banho nele há uns três dias. O Dogue Alemão chegou mais perto de mim, me dando umas lambidinhas na bochecha enquanto eu acabava de calçar os sapatos. Foi quando notei uma coisa. - Oh, merda, meu cachorro me ouviu transar. - Olhei para ele de olhos arregalados. - Como vai ficar nossa relação agora?!

Ele fungou, um “não tem problema” implícito. Peguei seu rosto com ambas as mãos, fazendo-o me encarar.

– O.k., amigão, você ouviu coisas que não podem ser desouvidas… Eu me culpo, sim, deveria ter verificado embaixo da cama antes de fazer tudo aquilo. Desculpa… - Pedi, encostando nossas testas.

Hércules fungou de novo, lambendo meu nariz, um sinal claro de que estava tudo bem. Envolvi meus braços nele, abraçando-o forte.

– Vou ver se a Marcela tem galhadas extras… Só preciso de uma e você será o meu Max perfeito por um dia. - Contei a ele, que pareceu gostar da ideia, já que seu rabo balançou freneticamente.

*

Às exatas três horas, me sentei na sala com Marcela, Jonas e Hércules. Eu havia vestido o cachorro de pseudo-rena, botando nele uma única galhada. O fato era: ele havia ficado tão fofo com aquela carinha de bebezão que dava vontade de roubá-lo e comê-lo com mostarda.

Marcela não estava vestida literalmente de Papai Noel, é claro. Só a barba ridícula que contava, de fato, com o modelito, que toda a hora ela acariciava de maneira estranha. Jonas ainda tinha os óculos sem lente na cara, próximos da ponta do nariz. Ele havia desenhado marquinhas de expressão ao lado dos olhos, dando-lhe uma impressão velha.

Camila veio andando em direção à sala, vestida com um vestidinho verde, cheio de babados; o tecido estava cheio de bolinhas coloridas, sinalizando enfeites para árvores de Natal. Ela também usava uma meia-calça branca, com sapatilhas pretas. Comecei a rir da cara de imparcialidade dela enquanto chupava um pirulito, a boca toda vermelha.

– Onde você arranja essas fantasias?! - Perguntei para Marcela, que riu, animada.

– Eu as encomendo! - Explicou, pegando Camila por baixo dos braços, botando-a sentadinha em seu colo. Ela começou a arrumar as bolinhas no vestido da garotinha, enquanto a mini árvore de Natal olhava para o que ela fazia com atenção. - Você tem é que ver a fantasia do Derek! - Ela riu meio diabolicamente, como se o tivesse feito se vestir de banana. - Ele está tão lindo!

– Imagino… - Resmunguei, olhando para cima quando ouvi passos na escada. Quase tive uma síncope ao ver minha mãe descendo devagarinho os degraus; ela estava maravilhosa naquele vestido, sambando na cara de todos ali fantasiados. - Quem te vê pensa que vai a um casamento ou algo do tipo. - Falei a ela, que terminou de descer as escadas.

Mamãe sorriu, apalpando seu coque grande e enfeitado.

– Obrigada - agradeceu, rindo e indo para a cozinha.

Ficamos por um tempo ali, conversando sobre coisas aleatórias antes que batessem à porta. Me levantei com certa dificuldade, desamassando a saia à base de tapinhas antes de abrir a porta. Dei de cara com Pedro e Derek e uma bolinha de pelos embaixo do braço do italiano. Fitei o moreno por um tempo, incrédula.

Ele estava vestido com um kigurumi de rena. Ele ficou tão ridiculamente bem naquela fantasia que não resisti; comecei a gargalhar ali mesmo, descaradamente.

– O que um jovem desinibido de dezoito anos não faz por amor? - Pedro cutucou-o, botando sua mão no ombro do amigo, uma cara de satisfação meio sádica ao vê-lo daquele jeito.

Assenti, apontando para Derek vagamente enquanto minha risada ia murchando, pensando no quanto ele poderia se foder num relacionamento.

– Ei, ei, ei! - Derek exclamou de repente, quando eu já havia me recuperado, os braços abanando. - Nós dois estamos de rena… Só poderá haver um de nós dentro desta residência - falou, apontando para dentro.

– Por mim tudo bem… - Falei, puxando Pedro para dentro e começando a fechar a porta. Ri de novo quando Derek gritou e se chocou contra o objeto, impedindo seu fechamento. - Ué - brinquei quando ele entrou, me olhando quase mortalmente. - Cê não disse que não poderia haver duas renas num mesmo lugar?

– Eu ia te dar um abraço de “feliz natal” mas não vou mais… - Falou quase emburrado, passando por mim e recebendo um caloroso abraço de Marcela, que levantou-se para cumprimentá-lo. Quase morri outra vez ao ver seu rabinho de rena. - Que barba é essa, Marcela? - Ele perguntou enquanto ria, passando a mão nos fios falsos.

– Sou o Papai Noel! - Ela respondeu, beijando-o na bochecha.

Olhei para Pedro, que segurava um embrulho obviamente o seu presente para o Amigo Secreto. Ele olhou para mim também, talvez porque eu estava encarando-o. Duque já estava no chão, andando fabulosamente até a cozinha, indo cuidar de sua vida.

– Ei - comecei, notando sua aparência. Pedro usava uma camisa social vermelha com jeans; sem fantasias ou nada do tipo. - Por que você está tão normal? - Indaguei.

Ele deu de ombros, olhando para os lados.

– Também não sei. Na realidade, estou me sentindo meio excluído aqui. - Gracejou, abrindo um sorrisinho.

– Não seja por isso! - Mamãe veio andando depressa da cozinha, sem vestido longo impossibilitando-a de correr. Ela estava com ambas as mãos atrás das costas, escondendo algo. Pedro olhou-a por um instante, boquiaberto.

– Senhorita Dias, não sei se isso parecerá precipitado, mas, wow, você está absurdamente linda - elogiou-a, parecendo muito sincero.

Mamãe sorriu, as bochechas levemente avermelhadas.

– Obrigada, genro! - Agradeceu toda risos, logo botando o que havia em suas mãos sobre a cabeça do garoto. Era uma touquinha vermelha com um pompom branco na ponta. - Proonto, agora você é o ajudante de Papai Noel mais lindo do Pólo Norte!

Pedro ficou com uma cara de perdido por um tempo, enquanto Serena ria e se afastava para ir até a sala, cumprimentar Derek. Comecei a rir também, virando-o para que ele ficasse em frente a mim. Arrumei a touquinha enquanto o via espremer as sobrancelhas, botando o tecido sobre as pontas de suas orelhas.

– O.k., agora está bom - falei, olhando-o nos olhos. - Veja só, temos três renas, uma vela, um Papai Noel, uma Mamãe Noel, uma árvore de Natal e um ajudante. Está bem dinâmica a coisa por aqui… - Brinquei, fazendo-o rir enquanto assentia. Peguei na mão dele, puxando-o de leve. - Vem, vamos botar esse presente ali…

*

Era como se o tempo estivesse se passando rápido demais para a compreensão humana. Antes das seis horas todos já haviam chegado: Chris, a família Marconni e a família de Marcela. Eu me sentei no sofá junto com Pedro e a oxigenada, enquanto Jonas e os outros ajudavam na cozinha para a preparação da mesa de jantar.

Pedro nos contava que nesta época natalina, muitas famílias abandonavam animais nas portas do trabalho dele.

– Parece que essas pessoas vêem seus animaizinhos como pelúcias que podem abandonar a qualquer momento. Eu fico puto com isso, na realidade… - Confessou, coçando a parte debaixo do focinho de Hércules. Sorriu, quase orgulhoso. - A cada dia que passa ele está mais lindo - riu, recebendo uma lambidinha no queixo.

– A cara da dona! - Brinquei, esticando meu braço por cima do ombro de Pedro e acariciando Hércules também. Marcela e Pedro soltaram exclamações desaforadas. Comecei a rir, notando a presença de mamãe na sala (quem não notaria, não é mesmo?). - E aí, Serena.

– Katrina, onde você colocou os presentes do Amigo Secreto? - Ela perguntou, esbaforida, olhando para os lados depressa.

Olhei para a sala, tentando me lembrar onde eu havia enfiado a sacola com os presentes. Me levantei num salto, me esgueirando para trás do sofá e pescando com dificuldade a sacola de supermercado recheada de presentes. Conferi se tudo estava ali mesmo sob o olhar confuso de Serena.

– Por que botar num lugar tão difícil? - Resmungou, pegando a sacola da minha mão. Voltei a me sentar enquanto ela chamava o pessoal que estava na cozinha. - Deixem isso aí por enquanto, vamos logo com o Amigo Secreto antes que fique muito tarde!

Marcela bateu palmas, animada por começarmos o Amigo Secreto. Eu também estava entusiasmada, querendo saber quem havia me tirado. Me espremi ao lado de Pedro e da oxigenada para que Jonas e Derek pudessem sentar-se no sofá. Pedro sorriu, contente com a ideia, aproveitando para se aninhar a mim.

Respirei, sentindo o cheiro agradável que ele emanava. Encostei meu nariz em seu ombro, inspirando aquele aroma gostoso.

– O que é? - Perguntei, curiosa.

Ele sorriu, me encarando como se estivesse bolando uma peça.

– Adivinha - me respondeu vagamente.

Espremi as sobrancelhas, incisiva a continuar; apurei o olfato, dobrando o colarinho de sua camisa e puxando-o para mais perto.

– É pêssego - soltei, certeira. Ele assentiu, surpreso.

– Você é um cachorro? - Brincou, surpreso pelo meu olfato apurado. Eu ia respondê-lo, mas Serena cortou o barato de todo mundo ao começar a dizer para ficarmos quietos. - O.k., o.k., senhoras e senhores, atenção por favor, mamãe Dias quer falar - Pedro anunciou brincalhão, engrossando a voz e virando-se para trás, para que todos ouvissem.

Serena riu, posicionando-se em frente à TV e botando a sacola na cômoda, tirando de lá seu presente, que estava embrulhado num papel verde cheio de bolinhas brancas.

– Tudo bem, acho que a melhor maneira de começarmos isso é comigo - disse, referindo-se ao fato de que ela era a “anfitriã”. Ela deu um pigarreio, sorrindo lindamente. - Tudo bem, tudo bem… O meu Amigo Secreto é uma pessoa muito especial para mim, ele é realmente maravilhoso, um doce de pessoa…

– Opa, hein… - Derek brincou, fingindo que iria se levantar. - Eu acho que é para mim…

– Shiu! - Marcela reprendeu-o, puxando-o de volta para o sofá e abraçando-o para que ele não se levantasse mais. Ri, voltando minha atenção à mamãe, que também sorria.

– O.k., continuando… Essa pessoa ajudou eu e a Katrina desde o início, sempre foi um amorzinho com nós duas… - Então ela lançou um olhar amoroso a Chris, que estava sentado atrás de nós, na escada. Ele ficou confuso, apontando para ele mesmo em dúvida. - Dã, sim! - Serena riu, chamando-o.

Eeeeeeeh…– Pedro brincou, engrossando a voz de novo e olhando-os de maneira suspeita. - Esse jogo tá armado, hein? Já começou com a roubalheira…

Balancei a cabeça, ouvindo os protestos fajutos de Pedro e Derek. Ambos pareciam se divertir muito ali, fazendo o que melhores amigos fazem: zoar. Mamãe mandou-os ficarem quietos, mas eles ainda continuaram a fazer gracinhas enquanto Chris se posicionava lá na frente, trazendo consigo um embrulho cinza.

– Desculpem, eu não sou muito bom nessa coisa de descrever pessoas, então… - Ele apontou para alguém atrás de nós. - Cunhado da Katrina, eu tirei você…

Eu não sabia para quem olhava; para Rodrigo, que riu-se e foi até o pseudo-marinheiro pegar seu presente ou para Pedro, que tinha o maior sorriso idiota no rosto. Ele ficou me encarando por um segundo, os olhos faiscando.

Cunhado da Katrina… O melhor termo, com certeza… - Disse, mais para ele mesmo do que para mim. - Vou começar a chamar meu irmão assim.

Comecei a rir, decidindo alfinetá-lo.

– Ainda não te caiu a ficha que estamos juntos, não é? - Brinquei, ficando surpresa quando ele assentiu com convicção.

– É - me respondeu, sincero. - E, pelo jeito que as coisas estão, nunca vai cair - confessou, me abraçando com mais força, encostando sua bochecha na minha testa.

Aquele, de longe, estava sendo um dos melhores Natais que eu já tive. Não supera o dia em que minha mãe me levou à pracinha da esquina e andamos de carrossel, quando eu tinha oito. O brinquedo estava cheio de pisca-piscas, e eu imaginava que andávamos juntas em cavalos alados num céu estrelado em outra dimensão. Depois tomamos sorvete de pistache sentadas na calçada enquanto ela me explicava o porquê que papai nunca me visitou.

Olha só, temos um “top five”.

*

O resto do Amigo Secreto havia sido demais; meus músculos do rosto e da barriga já estavam doloridos de tanto utilizados por conta dos risos. A mãe do Pedro havia trago pavê de Bis para nós enquanto continuávamos com a brincadeira. Rodrigo tirou Jonas, que, por sua vez, tirou Pedro. Jonas, fazendo Jonasisses, tirou uma lasquinha dos irmãos, abraçando-os forte (o que foi extremamente ilegal).

Pedro, fazendo um teatrinho, anunciou Derek como seu Amigo Secreto; o moreno deu um grito, surpreso, saltando na direção do italiano, que começou a rir desesperadamente quando ele tirou o embrulho branco de suas mãos, mais que feliz.

Pedro observou quando Derek pegou seu presente, mostrando a todos uma camiseta cinza, regata e cavada. O moreno abraçou Pedro, realmente agradecido e feliz com seu presente. Logo Derek fez umas três graças lá na frente, anunciando que havia tirado minha mãe depois de séculos. Derek tirou do bolso um par de brincos com uma espécie de garotinha, sem embrulhos, sem nada.

– Aqui, óh - ele explicou para a minha mãe, que observava os brincos com atenção. - Essa aqui é a Katrina… - Disse, apontando para a bonequinha com tintura vermelha na cabeça - eu pintei com canetinha, então evite molhar, tá? - Aconselhou, cara de pau, apontando para a outra - e essa aqui é a senhora, viu, cabelos louros e tal…

Mamãe apenas riu, abraçando-o forte enquanto recolhia os brincos. Como Serena já havia saído, a filha da anfitriã deveria ir lá, brincou Pedro, todos concordando.

Suspirei, deslizando do sofá, não evitando e rindo sozinha com os rostos songamongas que me observavam. Peguei o embrulho verde da sacola, pensando no que poderia dizer para definir Enzo Marconni. Quer dizer, eu sabia exatamente quais palavras utilizar, mas preferi mantê-las somente para mim.

– Hã… - Comecei, olhando para o presente. - Cacete, eu não faço ideia do que dizer… - Admiti, coçando a cabeça. - Tá, vou direto ao ponto. Enzo - chamei-o, sacudindo o presente no ar.

O homem me olhou, surpreso por um instante. Ele veio até mim com os braços abertos, por isso me preparei psicologiamente para o abraço de urso. Fui esmagada por breves instantes enquanto Enzo me dava seu abraço da morte, me largando e já pegando seu presente com felicidade, chacoalhando-o no ar e mostrando a sua esposa.

Ele parecia uma criancinha. Enzo abriu o embrulho depressa, surpreendendo-se quando deparou-se com um avental. Botei minha mão contra a boca, contendo o riso. Ele tirou o avental de dentro do embrulho, lendo-o por dois instantes, um sorriso crescente em seus lábios.

– Aaaaaah, eu não acredito, norinha! - Exclamou, todo risos, virando o avental para que todos pudessem ver. O avental era cor de rosa, cheio de hambúrgueres por todos os cantos. No meio, em azul, destacado, havia escrito “Papai Cozinheiro 100%”.

Foi impossível não gargalhar quando Jonas gritou, histérico, rindo como uma hiena.

– Eu nunca mais vou tirar isso aqui! - Papai Marconni exclamou, apertando o avental contra o peito. - Vou dormir, tomar banho, ir comprar pão e ir para o trabalho com ele! - Gracejou, parecendo realmente uma criancinha.

– Quero um também! - Pedro exclamou, fazendo uma cara de indignação eterna. - Se for a megera quem fizer, aceito até um avental escrito “Pepê Cozinheiro 69%”!

Sim, eu estava morrendo. Era uma verdade que eu havia feito à mão, já que não tinha dinheiro para comprar nada, mas depois desse comentário minha vontade foi mesmo de fazer um avental para o Pedro. Fiquei curvada no sofá, a testa encostada no ombro do italiano, rindo silenciosamente, já sem fôlego.

Definitivamente, aquele estava sendo um dos melhores Natais que eu estava tendo.

*

O resto do Amigo Secreto havia sido fantástico: muitos risos, zoação, presentes (eu mesma ganhei dois DVD’s, mais especificamente, “Jason Vs Freddy” um e dois - e, sim, eu tive um orgasmo no instante em que Marcela me entregou o presente, tá aí as vantagens de ser tirada por sua amiga ricaça no Amigo Secreto) e comida.

Houve um momento, às oito da noite, quando todos estavam espalhados pela casa, conversando e comendo aleatoriamente, que mamãe veio na minha direção com um prato de bolo.

Fiquei contente, achando que era para mim, mas quebrei a cara quando ela me deu um “olé”, dizendo que não era para eu comer.

– Olha só, eu sei que você e Lúcia têm um certo ódio uma pela outra. Vou ser sincera: é ridículo. - Ela botou o prato em cima da minha mão. - Vá até a casa dela e a entregue isso, desejando-a um feliz Natal.

– Ma- - tentei, mamãe me cortando brilhantemente.

– Nada de mas! Vá logo, é uma ordem. Não quero ódio mútuo em pleno Natal. Tá entendendo? - Me repreendeu, cutucando meu nariz.

– Mereço sair dessa casa a essa hora, mas puta merda, viu… - Comecei a resmungar, abrindo a porta enquanto apertava o prato com força. Levei um susto quando Camila grudou nas minhas pernas. - Que é, macaca?

– Me leva junto! - Pediu, erguendo os bracinhos. Suspirei, me agachando e pegando-a com uma mão pelas pernas, erguendo-a num sufoco, já que aquela menina pesava uma televisão. Ela fez um som de quem está se divertindo, me abraçando pelo pescoço enquanto eu saía de casa.

Atravessei o “jardim” com certa dificuldade, ouvindo Camila comentar o quanto a casa dos Marconni estava bonita, toda iluminada. Sorri, olhando-a de esguelha.

– Estrelas cadentes vieram do céu e grudaram nas paredes - contei, vendo-a arregalar os olhos, olhando mais uma vez para trás, observando as “estrelinhas”. Parei em frente à casa de Lúcia, pensando seriamente no que estava fazendo. - Bate palma - pedi para Camila, já que eu estava com as mãos ocupadas.

Camila obedeceu, batendo palma alto o suficiente para que alguém lá dentro ouvisse. Depois de algum tempo, Lúcia apareceu na porta, vestindo um roupão branco encardido, os cabelos presos em bobes.

– Que cê quer?! - Ela perguntou abruptamente, nos olhando mortalmente.

– Ho, ho, ho - falei, sem animação, chacoalhando o prato. - Feliz Natal - desejei sem boa vontade.

Ela riu cinicamente, não acreditando.

– Katrina Dias me desejando feliz Natal?! - Perguntou como se fosse uma piada boa daquelas. - Sua mãe inconsequente lhe deu bebidas alcoólicas?

Olhei para Camila, que observava a casa dos Marconni. Voltei a encarar Lúcia.

– Escuta. - Falei simplesmente, a voz normal. - Só… Vem aqui e pega esse pedaço de bolo. Minha mãe inconsequente quem fez - contei, passando o prato pelas barras do portão e esticando o braço. - Ela acha que não é bacana, em pleno quase Natal, ficarmos neste clima pesado. Ela me disse que acha ridículo, na realidade. Por mim você, sua casa e seu gato pulguento poderiam explodir que eu iria aplaudir e dar risada. Eu estou fazendo isso por ela, minha mãe inconsequente. Então vem aqui logo e pega essa porra de bolo antes que eu quebre este portão e jogue-o na sua cara. - Acredite, minha voz ainda estava normal.

Lúcia olhou para nós, obviamente desafiada e tentada. Ela saiu da caverna com passos lentos e hesitantes, pegando o prato em dúvida. Dei um sorriso normal.

– Feliz Natal - desejei de novo, agora mais naturalmente.

A velha olhou para o bolo, cheirando-o em seguida, como se desconfiasse que houvesse veneno nele.

– É de abacaxi. É gostoso, você vai gostar. - Falei, ajeitando Camila nos braços enquanto dava um passo para trás. Lúcia ficou me observando, os olhos semicerrados, pensando.

– Feliz Natal para você também - disse, claramente obrigada, a voz rouca e amargurada de quem não está se importando.

É um progresso. Qual é, eu gastei quatro rolos de papel higiênico no ano retrasado para “enfeitar” a casa dela no Ano Novo. Não estou pedindo para que ela abrisse o portão e me abraçasse, porque seria ridículo. Camilinha se despediu dela com um aceno e um “feliz Natal! animado enquanto eu começava a andar de volta a minha casa. Quando Lúcia ouviu aquele desejo vindo da criança, abriu um sorriso derretido. Andei mais rápido.

– Katina - Camila chamou de repente, me encarando.

– Hm.

– Por que as estrelinhas caíram? - Seu tom era inocente e curioso.

Dei de ombros.

– Vai ver que elas olharam para baixo e pensaram “cacete, quanto boy lindo nessa casa, é para lá que eu vou!” e, tchanan, aí estão elas, grudadas na parede - contei a primeira coisa que veio na cabeça, ouvindo uma risada de bebê gordo em resposta.

Assim que pisei no jardim, vi uma cena um tanto… Peculiar. Pedro estava agachado perto de um arbusto, encarando-o. Minha vontade era de rir, mas me contive e permaneci em silêncio, andando devagarinho e na surdina para perto dele.

Sussurrei um “dá um tapa na cabeça dele” para Camila. Assim que chegamos bem pertinho, a inclinei para baixo, vendo-a erguer um braço gordo e bater com força na cabeça do garoto.

Pedro levou um susto, erguendo-se de repente e se virando como se fossem tiros. Comecei a rir desesperadamente de sua reação exagerada.

– Aaaah, então é assim? - Pedro gracejou, chegando perto de nós. Camila deu um gritinho e me abraçou forte, tentando se esconder dele. O garoto riu, começando a fazer cócegas nela, que apenas gritava e se contorcia. - Sua sapequinha, bate nos outros e faz essa cara de cachorro sem dono para se livrar, até parece sua irmã! - Brincou, enfim pegando-a no colo.

Comecei a rir, concordando completamente. Cruzei os braços, lembrando-me de uma coisa.

– O que cê tava fazendo agachado daquele jeito? Tava vendo uns duendes? - Perguntei, erguendo uma sobrancelha.

Ele riu, negando levemente com a cabeça. Camila brincava com o pompom na touca dele.

– Não, eu apenas parei um pouco para não vomitar. - Explicou, fazendo uma careta de desgosto. - O desgraçado do Derek botou óleo no meu refrigerante. - Lembrou-se, fazendo um movimento parecido com mastigar de línguas.

Imaginei o gosto na minha própria boca, soltando um grunhido de desaprovação.

– O quão inconveniente ele pode ser? - Perguntei, realmente em dúvida, parando de andar em frente a porta.

Pedro riu, dando de ombros.

– Não faço ideia. Derek é estranho demais para a compreensão humana. E, vejam só, ele conseguiu arranjar uma garota legal para ele. Sorte? Destino? Fé? - Gracejou, me fazendo rir. - Ou, talvez, sei lá, Marcela somente seja avoada demais para ligar para esse tipo de coisa. - Opinou, aproximando-se de mim.

– Aposto na segunda - ri, vendo Camila olhar-nos de maneira estranha. - O que foi, macaquinha?

Ela olhou para a nossa casa de maneira sonhadora.

– Eu queria que as estrelas cadentes viessem em nossa casa também… - Falou tudo errado, apontando para as paredes. - Por que só na casa do Pedro? - Disse, brava, olhando-o mortalmente.

– Estrelas cadentes? - Pedro perguntou, perdido. Então ele se tocou quando olhou para sua casa. - Aaaah, os piscas-, digo, estrelas, claro! - O garoto matutou por dois instantes, pensando em desculpas plausíveis. - Bom, eu acho que é porque a megera foi muito má este ano, então as estrelinhas ficaram com medo dela…

– Calúnia! - Gritei, indignada. - Eu fui um completo anjo este ano! O que aconteceu foi que elas ficaram com medo de não brilharem como eu. Aí, óh, perfeito - finalizei, jogando as mãos para a cintura, satisfeita por poder explicar.

Pedro assentiu, olhando para Camila, que acabou por sorrir, levando em consideração o que eu havia dito - ela era uma das primeiras. Abri a porta devagarinho, sendo seguida pelos dois.

Arregalei os olhos quando vi mamãe marchando para a sala, sendo seguida por todo mundo que estava na cozinha.

– O que estão fazendo? - Perguntei, perdida, olhando para os lados.

– Vamos tirar uma foto para guardar de recordação! - Serena exclamou, mostrando alegremente sua câmera recém-comprada. - Todo mundo se apertando, vamos, vamos! - Mandou, posicionando-se na frente da TV.

No sofá onde cabiam com folga quatro pessoas, sentaram-se o dobro. Da esquerda à direita estavam: eu, Pedro, Jonas, Marcela, Derek, Rodrigo, Chris e um pedacinho para mamãe sentar-se na pressa na contagem de cinco segundos da câmera. Na escada, sentaram-se Marina e Isabel, ambas já amigas por conta de suas personalidades parecidas. Os papais Marconni e Agostino ficaram atrás do sofá, apoiados no encosto, junto com o irmão de Marcela.

Camila estava sentada no meu colo, meio perdida, cutucando seus pompons coloridos. Duque estava no colo de Derek, a mesma cara de "foda-se" de sempre.

Foi quando notei uma coisa.

– PERA! - Gritei, eufórica, olhando para os lados. - CADÊ O MEU MAX? NINGUÉM SAI! HÉRCULES! - Berrei, chamando-o, ouvindo logo em seguida passos pesados descendo as escadas, pulando as mamães (que deram gritinhos) e vindo na minha direção. Hércules me olhou com expectativa, todo feliz. Botei Camila no colo de Jonas, que recebeu-a com um sorriso carinhoso enquanto eu batia no meu colo, chamando-o.

Pedro deu um grunhido de dor quando o cachorro pulou no sofá, pisando em sua barriga e deitando o tronco no meu colo, suas patas traseiras no colo do italiano.

– Agora sim - falei, satisfeita.

Mamãe riu, revirando os olhos.

– Katrina sendo Katrina até na hora da foto - resmungou audivelmente, botando a câmera em cima da cômoda e apertando o botãozinho, dando uma corridinha bonitinha até o sofá, espremendo-se contra o namorado.

Dei o meu melhor sorriso para a câmera, feliz, percebendo que Pedro inclinou-se um pouco na minha direção, para que saíssemos mais juntos na foto. Sem querer e quase automaticamente, me virei em sua direção, olhando-o enquanto sorria. E, para a minha surpresa, vi que ele também me encarava, aquele sorriso idiota estampado no rosto.

Era quase um sentimento de felicidade compartilhado mutuamente. Ou grupalmente, se for considerado todos os outros que também saíram na foto, aquele sorriso colgate.

Se ela saiu como eu havia imaginado, eu iria querer, de certeza, umas três cópias.


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Notas finais do capítulo

Cacete. A última nota da história. Tô respirando fundo e tentando, mas tá hard.
Espero que vocês tenham gostado do epílogo, de verdade, ele foi feito com muito esmero. Nem sei o que falar sobre ele, talvez sobre a referência ao Grinch, meu filme natalino preferido OAJAJOAOJAJOJAOJOAOJA Mas, confessem, é bem a cara da Katrina se vestir de Grinch no Natal, mds ajsakdjakslada
Ao mesmo tempo em que eu fico triste por terminar a fic, fico meio feliz. Só de olhar para o prólogo e para o epílogo, dá para notar uma grande diferença. Eu me sinto extremamente orgulhosa por ter evoluído gradualmente, como minha própria escrita sugere. Fico feliz por ter encontrado tantas amizades maravilhosas que fiz graças a fic. Fico feliz por muitas coisas, e entre elas, fico feliz por fazer pessoas sorrirem com esses meus textos.
Talvez seja isso o que eu mais goste de fazer. De escrever para causar sorrisos. AI, MDS, QUE DEPRESSIVO ISSO AQUI! HAHAHAHAH!
Não se preocupem, nunca irei abandoná-los, vira e mexe eu tô aqui no Nyah!, escrevendo e postando coisas, tenho uma lista enorme de fanfics para escrever, então só esperem para ver mais desses meus textos aqui no site, yay!
Bia está chorando agora? Está sim, minha gente. Ela está querendo se abraçar ao travesseiro? Está sim, com certeza. Ela está morta? Talvez... Quase... AOOJAJAJAJOAJOAOJAJAJ
É isso. Qualquer errinho, por favor, me avisem, não me deixem passar mico logo no epílogo, hein! HAHAHA! xD
Comentem bastanteeeeeeeeeeeeee! o////