Garota-Gelo escrita por Bia


Capítulo 71
Odeio Despedidas


Notas iniciais do capítulo

OLHEM SÓ QUEM APARECEU DEPOIS DE ALGUNS SÉCULOS AHSJADHAJSASAS ~Bia chega voando~
Olá, meus amores, como estão vocês? Sei que demorei bastante para postar o capítulo, mas, admito, foi muito difícil escrevê-lo. Sim, produção, esse é o último capítulo da fanfic. Eu ainda não comecei a chorar (pelo menos, não desesperadamente), POIS HAVERÁ EPÍLOGO, AEEHOO (só adiantando: ele está destruidor, hihihi). Mas chorarei muito depois do epílogo, tenho certeza (dramas de uma autora que se apegou demais aos personagens e os trata como filhos).
Ao mesmo tempo em que foi difícil escrever o maldito capítulo 71, foi extremamente bom. O capítulo, particularmente, está recheado de comédia e de duplos sentidos *fiquem espertos na parte Pedrina da fic, hihihihihi*, ri sozinha escrevendo-os.
AAAH, CALMA AÍ! Quero, de uma forma inexplicável, agradecer a TODAS as recomendações! 65, GENTE, E TODAS LINDAS/MARAVILHOSAS/DIVÔNICAS! *quando estou bloqueada de alguma forma, a primeira coisa que eu faço é ler as mensagens de incentivo a ler a fic que vocês postam, amo*
UHAHUAHUAHUAHUA O.K., CHEGA DE ENROLAR! Espero, mesmo, mesmo, mesmo, que vocês gostem desse capítulo,
Boa Leitura!



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– Jason, recite uma poesia para mim… - Pedi, me deitando de barriga para baixo na grama, apoiando meu queixo nos meus punhos.

O Sol lá em cima estava tampado por nuvens; o dia estava com um ventinho aconchegante e, ainda assim, quente. Jason e eu estávamos embaixo de um grande Cedro, suas costas estavam apoiadas no tronco da árvore, um sorriso bonito em seu rosto deformado.

– Eu não gosto de poesias, Katrina. - Ele me respondeu, pegando uma pedra lisa e afiando seu facão. - Na realidade, eu estou bravo com você. Me trocou pelo seu vizinho cozinheiro. Ele nem sabe atirar facas ou matar pessoas.

Revirei os olhos.

– Pare com isso. Amo vocês dois igualmente. - Expliquei, prática.

– Não, você tem que escolher: eu ou ele. - Pediu todo dramático.

Suspirei, me sentando na grama. Jason me encarava com seus olhos pidões, realmente chateado. Não dava para simplesmente escolher. Era impossível. Eu gostava do Jason porque eu podia me identificar com ele. E eu gostava do Pedro porque ele… É ele, sem mas.

– Tudo bem então, eu escolho ele. - Decidi, erguendo o queixo. - Pelo menos ele pode me recitar uma poesia!

Jason abaixou o olhar, uma despedida muda, mas evidente, apertando o facão com força nos dedos.

Acabei despertando por causa de um mau cheiro que eu estava sentindo, bem abaixo do meu nariz. Pressionei os olhos com força, virando a cabeça para um lado, tentando afastar aquilo de mim. Mas aquele cheiro de coisa podre ainda permaneceu. Resmunguei em desgosto, abrindo os olhos com certa dificuldade.

À primeira vista, vi Duque em cima da minha barriga, os olhos cintilando. Em sua boca, parcialmente mastigado e com sanguinho, estava um…

Dei um grito em desespero eterno, completamente aterrorizada, quando percebi que era um rato, o animal mais nojento da face da Terra, que podia me fazer implorar por piedade. Fiquei estática na cama, gritando como uma criança que perdeu a mãe no mercado.

E não adianta dizer que era tudo drama ou falta de uns tapas na bunda para virar mulher; medo é medo.

Não demorou nem três segundos para que Marcela se erguesse do colchão, mais perdida que cego em tiroteio, descabelada e a roupa amassada. Ela me encarou, atônita por conta dos gritos.

– O que foi?! - Perguntou, obviamente grogue.

– R-rato! - Gaguejei, sem forças para explicar mais do que aquilo. Duque ainda estava na cama, um pouco afastado, os olhos do roedor em sua boca oscilando como se estivessem prestes a cair.

Quando Marcela estava pronta para avançar no gato e pegar o roedor, a porta se escancarou num estrondo, com minha mãe e Jonas aparecendo, ambos descabelados e com os rostos amassados. Serena acendeu a luz, o rosto cheio de preocupação.

– Por que toda essa gritaria?! - Perguntou, realmente nervosa. Ser acordada de madrugada com gritos não era agradável, realmente.

– Duque trouxe um presentinho para a Katrina! - Marcela explicou, afoita, e então acabou por realmente avançar no felino e roubar-lhe o rato pré-mastigado pelo rabo, abrindo a veneziana e jogando-o pela janela. Ouvi um baque surdo no telhado da Lúcia, um sinal claro que ele havia pousado bem longe de mim.

– Ah, gatinho, seu danado! - Mamãe soltou, talvez grogue de sono, pegando Duque pela barriga e botando-o para fora do quarto. - Não sei como esses gatos gostam tanto de você, Katrina, mesmo sendo tão maltratados. Talvez felinos sejam masoquistas? - Ponderou enquanto Marcela saía do quarto, indo lavar as mãos.

– Ainda bem que era só um ratinho, já foi… - Jonas tentou me consolar, sentando-se na cama e acariciando minhas mãos. - Olha, você tá suada… Cê não gosta mesmo de roedores, né?

– Tenho pavor… - Falei, a garganta seca e um pouco dolorida. - Preciso de água…

– O.k., eu vou pegar, tá? - Me respondeu como se eu fosse uma criancinha manhosa.

Jonas saiu rebolando do quarto, mamãe relaxando os músculos e passando as mãos pelo rosto, cansada e com sono.

– Tudo bem, querida? - Perguntou, a voz suave.

– Agora tá, né. - Respondi, realmente abalada com aquilo tudo. Essa parada de fobia não é brincadeira, não, rapá. Katrina quase is dead.

Marcela e Jonas voltaram ao mesmo tempo, alguns segundos depois; a oxigenada se jogou no colchão, com sono, e Jonas me entregou o copo d’água. Bebi-o inteiro, sentindo que aquilo iria realmente me ajudar a superar aquele episódio. Todos me olhavam como se eu fosse algum tipo de boneca de porcelana.

– Olha, eu vou ser clara aqui. Parem de me encarar como se eu fosse uma espécie de arara azul que levou um tiro no bico e que é incapaz de comer. Ainda estou afiadíssima e posso matá-los com meu pente-faca. - Encerrei o assunto, fazendo todos ali rirem baixinho. Jonas pegou o copo e deixou-o em cima da escrivaninha, se despedindo de nós e descendo as escadas.

Mamãe sorriu, desejando uma boa noite e fechou a porta. Enterrei minha cabeça no travesseiro, encarando a parede desgastada. O quarto estava escuro, quente e terrivelmente desconfortável; eu não gostava de expor esses meus lados.

Na realidade, acho que ninguém gosta. Acabei adormecendo com esses pensamentos desconfortáveis; apaguei como uma rocha segundos depois. Dormi tão confortavelmente, que nem sonhei mais.

Acordei com a impressão de ter dormido pouco, com o dedo da oxigenada me cutucando no ombro. Gemi e pressionei os olhos, dando tapinhas às cegas.

– Katrina, acordaaaaa. - Marcela tentou me despertar, obviamente rindo por dentro. - Seu queixo está sujo de baba e você estava roncando como uma porca.

– Ah, me deixa… - Resmunguei, remexendo as pernas enquanto ela me cutucava. - Tá calor…

– Sim, está, mas você precisa levantar! Vamos, é sexta, amanhã iremos ao shopping, e hoje, se eu não me engano, você tem um encontro com o Pedro, não tem?

Bufei, abrindo os olhos finalmente. Encarei aquele rosto meio ramelado e feliz.

– Não é exatamente um encontro. Eu apenas vou na casa dele e assistiremos a um filme, ué.

Ela riu, dando de ombros.

– Tá bom então… Vou fingir que não irá acontecer nada enquanto vocês dois estiverem sozinhos, seus hormônios entrando em erupção… - Ela ergueu as sobrancelhas de maneira maliciosa, afastando-se em seguida para pegar seu uniforme.

– Você está falando sobre transarmos? - Indaguei, descrente, me sentando na cama e me esticando, acabando por estralar alguns ossos. - Porque, se for sobre isso, minha resposta é não. Quero dizer, por enquanto.

Me ergui da cama, abrindo a janela e sendo cegada por alguns instantes. Pisquei até minha visão se habituar com a claridade vinda de fora e comecei a me trocar. Marcela parecia inerte em pensamentos.

– Isso é… Pelo o que aconteceu com o Mar-

Shiiiiiiiiiiiiii! - Censurei-a, tapando sua boca com a mão. - Não cite o nome desse cara logo de manhã. Não quero que meu dia se estrague sem nem ter começado. - Ela murmurou um “desculpa” fraco, indo calçar seu tênis. - Mas, dentre algumas razões, é por isso sim. Eu ainda tenho, vez ou outra, pesadelos com isso. - Peguei minha camiseta levemente amassada do guarda-roupa e me sentei novamente na cama, catando do chão um sutiã qualquer, preto com alças laranjas (minha mãe é quem compra sutiãs para mim, sou inocente). - É algo que fica grudado na sua mente. Mesmo passado os anos, a memória ainda é fresca. Todos os toques brutos, todos os risos sarcásticos de quem tá se divertindo… - Suspirei, balançando negativamente a cabeça. - Isso é algo que eu não desejo nem para os meus piores inimigos - sorri. - E olha que eu tenho alguns.

– Alguns mil, né? - Ela completou, rindo. Concordei com a cabeça, rindo junto. - Mas, agora é sério. - Ela sentou-se do meu lado, pegando na minha mão de maneira suspeita. - Desculpa por tocar nesse assunto. Foi indelicadeza da minha parte, não fiz de propósito.

Não sei se alguém já descobriu ou notou isso, mas eu consigo lidar com o pior das pessoas com mais facilidade. Quando elas são “carinhosas” comigo, é como se eu tivesse uma espécie de Down.

Olhei para ela sem saber o que dizer.

– Tá, tanto faz. - Respondi um pouco grossa. - Não precisa ficar se desculpando por isso.

Marcela sorriu, como se estivesse satisfeita por ouvir aquilo. Então, do nada, ela apoiou sua testa no meu ombro.

– Te amo, Katrina. - Disse, me olhando depois.

Fiquei encarando-a, as sobrancelhas bem arqueadas.

– Olha, desculpa mesmo, mas eu sou pedrossexual, então não vai rolar, não quero te dar falsas esperanças. - Brinquei, vendo-a arregalar os olhos e começar a gargalhar, se jogando contra o meu colchão.

– P-pedrossexual?! - Perguntou em meio às risadas altas, pressionando a barriga. - Você é uma figura, Katrina! HAHAHAHA!

Ué.

Depois que a crise de risos da Marcela passou, descemos para o café-da-manhã. Jonas já havia levantado e, ainda por cima, tinha deixado o sofá todo desarrumado. Ergui uma sobrancelha quando vi Hércules dormindo aos pés do móvel, coberto por um lençol, a cabeça de Duque aparecendo entre as suas patas; ambos estavam ressonando baixinho, parecendo muito confortáveis dormindo juntos.

Fui para a cozinha, já sentindo um cheirinho de café. Chris estava sentado à mesa, vestindo apenas uma samba canção xadrez, o queixo apoiado no punho, praticamente dormindo sentado. Mamãe estava apoiada na pia, esperando o café coar, de roupão. Jonas e Isadora “conversavam” com Camila, tentando irritá-la.

– Bom-dia! - Marcela cumprimentou-os, alegre, jogando-se numa cadeira vaga.

Fui à geladeira, abrindo-a e tirando de lá o leite. Só tinha um pouco, no máximo meio copo, por isso bebi da embalagem, atraindo um olhar de reprovação de Isadora e de Marcela.

– Katrina e suas nojices… - A velha resmungou, amassando uma banana para dar ao bebê da casa.

Só não discuti com ela porque eu estava ocupada demais bebendo - quando eu falo dessa maneira, parece que eu sou uma espécie de alcoólatra que vive desmaiada pelos cantos da casa (pera, não é muito diferente da minha realidade).

Compartilhei uma cadeira com Jonas, que comia metade de um pão francês com café. Marcela passava manteiga numa torrada, enquanto eu mastigava um segundo pãozinho francês com manteiga e café.

– Como vocês conseguem acordar tão cedo? - Chris perguntou com dificuldade, os olhos fechados de sono.

– Sei lá, com o tempo acostuma. - Marcela deu de ombros.

Chris suspirou, apoiando seu queixo na outra mão. Ele abriu os olhos, o cabelo lambido de um lado.

– Acordar cedo não foi feito para alguém como eu… - Então bocejou, obviamente cansado. - Tô acostumado a acordar dez, onze horas…

– Ah, coitadinho… - Serena sorriu, colocando uma xícara de café na frente dele. Então os dois começaram a se paparicar; como eu não tinha muita paciência para ver coisas como essa logo de manhã, me levantei da cadeira e fui para o banheiro para escovar os dentes.

Penteei meu cabelo logo depois, recebendo de Jonas um “vou te fazer um penteado bonitinho”. Ele acabou por me fazer duas trancinhas laterais, fininhas e desfiadas, já que meus fios eram curtos, unindo-as em um ponto atrás da minha cabeça, à altura das minhas orelhas. Ficou realmente bonitinho, então decidi não contrariá-lo.

Saímos de casa faltando vinte minutos, por isso andamos devagar pela calçada. O meu problema com penteados novos é que: eu fico passando a mão neles. Não sei explicar, é como se eu estivesse ridícula demais e necessitasse sentir que tudo estava em seu devido lugar.

– Passa a mão nesta trança de novo e eu te dou um tapa! - Jonas ralhou, erguendo a palma da mão como se fosse sentar na calçada e espalmar minha bunda.

– Pode vir - desafiei-o, erguendo as sobrancelhas. - Tô meio gorda e enferrujada, mas posso te dar um mata-leão com perfeição. Vai ficar na UTI desmaiado por uma semana.

Jonas riu, me dando um “chega para lá” com o quadril que quase me fez cair no chão. O xinguei e fui para cima dele, Marcela entre nós dois, dando gritinhos de “parem, parem! Meu cabelo!”, mas isso só serviu para que avançássemos nela, bagunçando de verdade seu cabelo.

Apertei o botão de pedestres dando risadinhas com as mochiladas que Marcela dava no Jonas, indignada por conta do comentário infeliz que ele havia feito “parece cabelo pós-sexo com Derek”.

A manhã estava acalorada, com uma brisa suave refrescando o necessário. O céu estava azulzinho; aviões passavam calmamente. Era uma manhã completamente normal, como todas as outras. Suspirei, passando novamente a mão pela trança no automático, sentindo que eu estava meio ridícula.

Então, do nada, como se fosse a coisa mais normal do universo, senti que me envolveram pela cintura, me erguendo do chão rápido. Obviamente eu levei um puta susto, dando um berro em resposta, todos os meus músculos ficando tensos.

Ouvi uma risadinha nasalada de quem está se divertindo; me virei ainda assustada, encarando aqueles olhinhos negros e profundos de cachorro, que me encaravam como se pudessem sorrir.

– Bu! - Pedro murmurou, me botando no chão devagarinho, os lábios colados na minha bochecha. Mesmo que meus pés tivessem tocado no chão, Pedro não afrouxou o aperto em minha cintura.

– Quer morrer, filho da puta?! - Grunhi irritada. De jeito nenhum você aborda uma pessoa normal daquela maneira. Pedro riu, me desapertando um pouquinho e me encarando.

– Te assustei? - Perguntou o óbvio.

– Não, imagina, só tive um ataque do coração, na realidade deixa eu desmaiar aqui e já, já a gente conversa… - Retruquei semicerrando os olhos, vendo-o rir, divertido. - Quase que nós dois morremos! Uma porque você não me aguenta e outra porque me deu a porra de um susto! Pensei que era um pedófilo, um ladrão, um estuprador, até Pedobear, menos você!

Pedro ergueu a mão, me encarando com uma sobrancelha arqueada, me lançando uma espécie de “olhar 43”.

– Espera, você disse que eu não te aguento? - Indagou, e eu notei um fragmento de seu orgulho jogado no chão. - Katrina, sério que você acha que o seu namorado não te aguenta?

– Acho - disparei, olhando para os lados. Era curioso ele ficar mais “irritado” com isso, do que com o fato de que eu pensei que ele era um estuprador.

O italiano soltou uma risada descrente, dando de ombros.

– Tudo bem, eu posso te provar o contrário. - Falou decisivo, colocando sua mochila no chão. Encarei ele, depois a mochila. Acho que eu toquei numa ferida…

– Ah, não, não precisa, eu já v-

Pedro agachou-se e contornou minhas pernas com o braço, me jogando em cima do seu ombro ao se levantar. Fiquei sem reação por dois segundos. A única coisa que eu conseguia encarar eram suas costas e a expressão de “o que aconteceu aqui?” de Marcela e Jonas. O garoto apertou a parte de trás das minhas coxas, que agora estavam visíveis graças ao meu short: brancas e meio peludas, já que nunca raspo ali (quem raspa?).

Apoiei um cotovelo em seu ombro, tentando encará-lo.

– Não fode, Pedro! - Exclamei, os olhos arregalados. - Me larga, tipo, agora.

Quando o garoto ergueu os olhos e me encarou, pensei que ele iria me botar no chão como toda pessoa racional.

– Eu vou te levar até a escola assim. - Sentenciou como se eu estivesse plenamente de acordo.

Boquiabri a boca, cética. O garoto começou a atravessar a rua quando o sinal fechou; percebi que vários motoristas nos acompanhavam com o olhar, provavelmente se perguntando o que dois adolescentes idiotas estavam fazendo àquela hora da manhã.

– Há momentos em que eu quero pegá-lo, arrancar seus olhos e comer com gengibre… - Resmunguei quando ele pisou na calçada oposta. Ouvi o italiano rir, seus músculos do ombro endurecendo com o meu peso. - Por que está fazendo isso, sério? - Perguntei com raiva, procurando um ponto para poder torturá-lo.

– Você disse que eu não te aguentava. - Disse, me ajeitando sobre ele, dando uma espécie de sacudida. Levei um susto com isso, já que eu fui consideravelmente para frente. Me agarrei em ambos os seus ombros, vendo uma garota da minha sala virar a esquina, dando de cara justamente com aquela porra. – Mas você é meio leve, não vejo problemas em te carregar desse jeito.

– Mas eu vejo, e muitos. E um deles é que a minha dignidade está parada ali na calçada, me dando tchau. - Acenei para o vento, fazendo a garota e o italiano rirem. Merda. - O.k., chega da palhaçada, tem uma pessoa rindo de mim.

Pedro fez uma espécie de carinho na parte de trás das minhas coxas, o que me causou uma cócega indesejável.

– É porque você não tem a vista de frente. - Declarou como se fosse algo normal. Ouvi uma espécie de “tá bom aí, Pedroca?”, vindo obviamente de uma garota. - Opa! - Pedro respondeu, quase malévolo.

Então ele passou calmamente por um grupinho de pessoas, que ficaram rindo enquanto nos encaravam. Mostrei o dedo médio para eles, o que só ocasionou mais risos. De longe, eu via Marcela e Jonas, o garoto carregando minha mala a contragosto. A oxigenada ria como uma tonta, fazendo um coração com a mão para mim.

Revirei os olhos, me sentindo como um macaco abatido. Vários amigos do Pedro se encontravam com ele no caminho, cumprimentando-o e arriscando-se a me cumprimentar também. Eu apenas os ignorava, incapaz de pensar em outra coisa senão mais um plano diabólico para aplicar no meu querido namorado assim que pisar no chão outra vez.

– Então quer dizer que finalmente o Pedro conseguiu conquistar a megera? - Uma garota de cabelos compridos e louros tingidos perguntou, me encarando sorridente.

– Bom, eu espero que sim, porque eu não quero me tornar um eunuco. - Pedro avisou, fazendo o grupo todo rir.

Ri com escárnio, agora já tendo em mente o que fazer quando ele me soltar.

Não, eu não iria castrá-lo. Seria um crime universal caso o fizesse. Definitivamente não quero ir para a cadeia interstelar sob a guarda de jupiterianos porque castrei Pedro Marconni. Mas faria algo parecido com isso.

Assim que Pedro entrou na escola, foi direto a uma área com menos movimento e me soltou devagarinho, me fazendo deslizar de forma delicada até o chão. Encarei-o com as mãos ainda em seus ombros, percebendo que o esforço feito por ele era realmente mínimo.

– E aí, seu orgulho te matou no meio do caminho? - Ele perguntou de maneira sussurrada, bem perto de mim. Senti um puxão na boca do estômago, como se tê-lo ali perto fazia uns neurônios serem abduzidos. - Porque, pra mim, você parece bem viva… - Gracejou, acariciando meu rosto com as costas da mão. - Você tá linda desse jeito, Katrina.

– Eu sei… - Falei, forçando meu cérebro a se lembrar que eu estava odiando-o naquele instante. Odiando. O-di-an-do, de não gostar, Katrina, e não de “eu quero te encostar naquela árvore mais afastada ali…”.

Pedro sorriu de lado, se inclinando para, obviamente, me beijar. Por um segundo eu fraquejei, até pensando na possibilidade de beijá-lo também. Mas, quando o nariz dele roçou no meu, virei o rosto, inabalável, sentindo os lábios de Pedro na minha bochecha. Seu sorriso permaneceu, talvez até se alargou com a ação.

– Sem beijinhos depois de uma vergonha alheia? - Perguntou quase como se estivesse se sentindo culpado.

– Exatamente. Não acho que você mereça… - Expliquei, me afastando dele e olhando para baixo. Minha mão estava coçando.

– Ah, é? - Pedro parecia curioso. - E eu, no caso, mereço o que neste instante?

– Legal você perguntar… - Sorri malévola.

Estiquei minha mão e apertei com força os países baixos do Pedro. Eu sabia que ele era avantajado ali, já que havia visto-o de cueca antes, mas foi uma confirmação absoluta apertá-lo.

Pedro deu um grunhido de dor absoluta enquanto eu o largava, curvando-se enquanto cobria sua virilha com as mãos. Ele fechou os olhos, abaixando a cabeça logo em seguida enquanto parecia estar morrendo.

– Ah, m-megera… - Ele tentou dizer, a voz embargada de dor - isso foi cruel…

Pedrinho is dead.

– Desculpa. - Pedi no automático, sem me importar realmente; ele mereceu, ué. - Juro que da próxima vez em que minha mão for parar , será mais prazeroso. Nos vemos depois. - Me despedi com um tchauzinho, vendo-o se recompor devagar, me dando um olhar sofrido logo em seguida.

– Pelo amor de Deus, é bom que seja… - Disse, tentando ficar com a postura reta, mas logo se inclinando de novo por conta da fisgada de dor. - Cara… - Foi só o que disse, apontando para mim. - Eu te pego depois, Katrina Dias…

Abri um sorrisinho e andei rápido para dentro da escola, percebendo que estava um pouco adiantada, já que muitos alunos estavam batendo papo pelos corredores sem se importar realmente. Subi as escadas olhando fixamente para os degraus, passando os dedos novamente pelas trancinhas no meu cabelo.

Eu precisava urgentemente me acostumar com esses penteados.

Quando estava no último degrau, percebi que uma mão segurou meu cotovelo com força, me puxando para o lado. Ergui o olhar rapidamente, surpresa, encarando o rosto sério de Carmen. Ela estava na companhia de três meninas, todas de braços cruzados, me encarando como se estivessem prestes a me dar uma surra.

– Hm… - Comecei, olhando para a mão no meu cotovelo. Eu simplesmente não queria criar confusão com ela. Já tinha criado o suficiente. - Eu quero ir para a sala, então…

Carmen soltou um suspiro, balançando negativamente a cabeça. Percebi que algumas pessoas pararam para observar.

– Eu vim aqui para agradecê-la, Katrina Dias - soltou a bomba, me fazendo arquear as sobrancelhas. - Não me olhe como se eu fosse um alienígena… - Resmungou, cruzando os braços.

– Mas tem certeza que não foi abduzida por um? - Brinquei, vendo-a bufar.

– Você é insuportável e eu nunca que ficaria perto de você por muito tempo, mas… - Ela murchou, relaxando os ombros de repente. - Obrigada.

Uau, ela estava fazendo mesmo isso.

– Hm, tudo bem… - Falei, estranhando para caralho.

Carmen passou as mãos pelos seus braços, parecendo nervosa.

– Não, não está. Escuta, eu saí da minha outra escola porque eu tive um ataque no meio da sala. Todo mundo riu e filmou, foi parar na internet e a humilhação que senti não coube em lágrimas. - Ela suspirou, olhando em volta. - Ter outro ataque no ano seguinte e bolar um futuro repetido é… Novamente, humilhante.

– E… Por que você teve outro ataque? - Perguntei, a curiosidade falando mais alto. Poxa, ela estava mostrando o baralho, era bom aproveitar.

– Eu não… Tomei os remédios para controlar… - Falou e, logo em seguida, uma amiga sua colocou a mão sobre seu ombro, parecendo confortá-la.

– Hm… Por quê? - Indaguei novamente.

– Chega de perguntas, Katrina Dias! - Uma amiga ralhou, botando a mão na cintura.

– Tudo bem… - Carmen virou-se para ela, sorrindo de lado. Então ela se voltou novamente para mim, dessa vez um outro olhar no rosto. - Você, obviamente, não sabe como é tudo isso. Não sabe como é se olhar no espelho e perceber que tem uma doença incurável. Não sabe como é difícil aceitar. Sabe, às vezes, quando você melhora um pouco, cria esperanças desnecessárias de “eu vou sarar, não preciso dessas porcarias de remédios”. Então você para de tomá-los, mesmo tendo em mente que sua doença não tem cura… Não é somente uma questão de estética. É uma questão psicológica. - Ela mordeu os lábios, desconfortável. - É isso. De novo, obrigada… Você sabe, por evitar que eu fique humilhada publicamente…

É engraçado quando você nunca teve uma conversa decente com uma determinada pessoa e tira conclusões dela sem conhecê-la. E aí, quando ela fala um pouco da sua vida, você percebe que ela não é tão ruim assim. Só idiota mesmo.

Sorri de lado, mais desconfortável que etiqueta em calça de gordo.

– Aahn… Olha, vamos comparar uma coisa: quem você acha que se saiu pior na história? Você, que possui um transtorno neurológico, ou eu, a otária que levou vômito nas pernas? - Perguntei quase séria, provocando nelas risadinhas meio indesejáveis.

– Tchau, Katrina… - Carmen se despediu, um sorriso de quem parecia aliviado formigando em seu rosto.

Fiz um aceno breve com a mão, olhando em volta. O grupinho de pessoas continuava lá, encarando tudo com cara de tapados. Fiquei encarando-os de volta e, quando eles se tocaram, cochicharam qualquer coisa e foram embora rapidinho.

Isso ainda daria muito o que falar.

*

Felicidade de pobre se resume a poucas coisas, sendo as principais:

a) o teste de gravidez deu negativo;

b) encontrar dinheiro.

Nem precisei dizer o quão feliz fiquei quando encontrei dois reais no fundo da minha bolsa enquanto guardava meu material de matemática. Fiquei rindo o caminho todo até a cantina onde, pela primeira vez nesta escola, eu comprei um lanche.

Você é patética - Jonas comentou quando me sentei ao lado dele, mordendo o pão recheado com presunto, queijo, hambúrguer e alface.

– Não me lembro de ter te perguntado alguma coisa - rebati, a boca cheia.

– Parem com isso vocês dois! - Marcela resmungou, se enfiando entre nós, separando uma possível discussão típica. - Boas notícias! - Exclamou de repente, batendo palmas. - Derek vem aqui na escola, nos visitar!

– “Nos”, claro… - Impliquei, Jonas concordando. - Ele vem para te ver, Marcela. Ele está pouco se fodendo para nós.

– Não diga isso… - Ela mordeu as bochechas por dentro, envergonhada. - Ele é um amigo em comum.

Jonas deu uma gargalhada escandalosa, bem de bicha má, batendo na mesa de leve.

– Nossa, essa foi boa! Cadê a caneta, preciso anotar! - Riu-se, me cutucando na costela.

– Sai! - Grunhi, ocupada demais comendo. Cara, aquele lanche tava bom… Deve ser aquela coisa de “ah, primeira vez sempre é boa”.

Não, espera. Eu não tenho boas recordações com “primeiras vezes”.

Só com comida.

Eu bem que poderia continuar comendo meu lanchinho ali de boa. Mas sempre - sempre– tem um infeliz para atrapalhar a porcaria toda. Assim que eu fui dar mais uma mordida, um garoto brotou do inferno, sentando-se no banco vazio em nossa frente, sorrindo.

Ele era mestiço, a pele nem negra nem branca e nem bronzeada; o cabelo era preto, arrepiado, como se nunca tivesse sido penteado antes. Seu sorriso era branco, meio perverso, como se estivesse planejando alguma coisa.

– Oi - ele me cumprimentou, me olhando fixamente. - Você é a Katrina, certo?

Olhei para os lados. Por que diabos uma pessoa que eu nunca vi na vida estava falando comigo? Provavelmente era uma espécie de brincadeira.

Ignorei-o, voltando a comer meu pão.

Mas parecia que o garoto não estava acostumado em ser ignorado. Ele começou a estralar seus dedos na minha frente, querendo chamar minha atenção. Olhei sem paciência para ele.

– Que é? - Perguntei seca, rude.

– Olha, eu vi seu vídeo com a Carmen, foi demais… Tanto o da luta, tanto o do ataque… - Tentou explicar; como se eu me importasse. - E, nossa, eu tava pensando… Seu estilo é muito legal, você é atraente e dizem que é meio ácida, mas gosto disso nas pessoas. - Ele apontou para mim, abrindo um sorriso torto. - Tava pensando… Você tem namorado?

Às vezes eu me surpreendo com a ousadia crescente e irritante das pessoas.

– Tem sim! - Respondeu uma voz bem diferente da minha.

Ergui o olhar e vi Pedro sentando-se ao lado do garoto, um sorriso brincalhão - porém falso - nos lábios; ele passou um braço sobre os ombros dele, como se fossem íntimos.

– E, vejam só, que engraçado… O namorado dela sou eu, prazer, Pedro! - Se apresentou ainda todo risos, estendendo a mão a ele.

Vishe, Maria.

Engoli o pão com dificuldade, observando a cena com atenção. Jonas se engasgou, encarando-os como se sua vida dependesse disso.

O garoto olhou para o italiano, talvez sem ação.

– Hã… - Tentou, apertando a mão dele. - Oi… Vocês fazem… Um casal bonito.

– Eu sei - Pedro gracejou, olhando rapidamente para mim. - Enfim, por que você não volta para os seus amiguinhos e avisa para eles que dá próxima vez que tratarem a minha namorada como um desafio idiota a ser cumprido, eu não serei tão… Condescendente? - Não era eu quem estava ali na frente do italiano, mas mesmo assim senti um arrepio indesejável pela coluna. Pedro tinha um olhar duro no rosto, como se, em seu interior, quisesse dar um soco na cara do garoto.

– Acho que eu tive uma ereção… - Jonas sussurrou para mim, comendo os dois com os olhos.

Pedro continuou olhando fixamente para o intrometido quando ele foi embora com uma cara de bunda, sem dizer nada. Vi quando ele aproximou-se de um grupo de garotos, que comentaram algo, olhando fixamente para nossa mesa. O italiano então virou-se para nós com um sorrisinho que entregava sua satisfação.

– Condescendente? - Optei por cutucá-lo, esquecendo dessa história. - Desde quando você sabe o significado dessa palavra?

O garoto riu, não ofendido de verdade - isso era uma das coisas que eu mais gosto nele: nunca se ofende com as merdas que eu falo.

– Desde o dia em que eu me toquei que o ENEM é nesse ano. É a chamada ‘Síndrome vou-me-foder-no-ENEM-se-eu-não-estudar-por-uma-vida” - gracejou, nos fazendo gargalhar.

– Nem vai - falei enquanto mordia meu lanche. - Você é inteligente, vai se dar bem, tenho certeza.

Pedro ergueu uma sobrancelha, me olhando como se eu estivesse prestes a aplicar um plano do mal.

– Não pense que me fazendo elogios vai te livrar de alguma coisa sobre hoje cedo, Katrina… - Pedro me avisou, se esticando e roubando um pedaço glorioso do meu pão.

NÃÃÃÃÃO!– Fiz um escândalo, me atirando sobre a mesa, tentando impedir que aquele pedaço fosse ingerido por outro organismo senão o meu; mas, infelizmente, cheguei tarde. Assim que minha mão chegou à cara do italiano, ele já estava mastigando meu precioso pãozinho.

Mas não fiquei tão triste porque acabei por lhe dar uma espécie de tapa, soco ou qualquer coisa que tenha a ver com mãos e um rosto como alvo.

Dei uma risadinha quando ele me lançou um olhar que fingia braveza, dizendo um “era só um pedacinho, pô!” meio indignado.

*

Marcela saiu aos pulos da sala de aula quando o sinal da saída tocou. Meu braço doía de tanto ela pular enquanto se agarrava nele. Ela parecia uma cabrita com pulgas.

Nos encontramos com Pedro e descemos juntos, para encontrar, lá perto da entrada, Jonas de braços dados com Davi. Ele sorriu para nós, dando um beijinho na bochecha do jogador de basquete para se despedir dele.

– Vocês estão atrasados! - Brigou conosco, uma falsa carranca na cara.

– Não nos espere mais, ué - falei, prática, irritando-o. Dei um sorrisinho de lado. - Vamos log-

Fui interrompida por um grito histérico da oxigenada. Me virei, assustada, dando de cara com ela dando saltinhos em direção à saída. Derek estava lá, cara de tapado apaixonado no rosto, os braços bem abertos enquanto andava na direção da garota. Ele usava uma camiseta de manga comprida, azul, e uma espécie de bermuda.

Os dois se abraçaram ali na calçada, coraçãozinhos brotando em torno deles. Coloquei o indicador dentro da boca, sinalizando meu vômito. Jonas e Pedro riram, mas aposto que estavam achando tudo aquilo muito bonitinho. Ah, Deus, esse tipo de casal meloso me dá agonia; uma quase vontade de matar.

Quando eu estava prestes a ir para casa e deixá-los ali, Derek soltou Marcela, olhando para o italiano de maneira estranha. Então, do nada, ele começou a correr, indo na direção dele com os braços abertos.

PEDROOO!– Berrou, pulando no último instante em cima dele. Obviamente Pedro tomou um susto e até chegou a ir para trás, mas nada impediu que ele fosse atingindo pelo peso do amigo. Os dois acabaram esborrachados no chão, Derek fingindo um choro desnecessário de saudade.

O italiano estava ainda meio em choque, mas acabou por gargalhar da situação - provavelmente sabia de que tipo era Derek. Então ele decidiu entrar na brincadeira, envolvendo-o com as pernas e abrançando-o pela cabeça, forçando um soluço.

– Pô, cara, quanto tempo! - Fingiu choro, espremendo os olhos. Então os dois começaram a fazer sons estranhos, como se estivessem no enterro de um cachorro maltês chamado Frederico que morreu de overdose.

Olhei em volta, sentindo vergonha alheia.

– Quem é o passivo? - Perguntei, rindo da situação deles.

Os dois pararam e ergueram seus rostos, me encarando como se estivessem de fato pensando.

– É o Pedro, óbvio - Derek me respondeu, dando de ombros. Pedro arqueou as sobrancelhas, indignado.

– Não foi isso que você me disse ontem à noite - o italiano falou, ondulando as sobrancelhas.

Marcela apareceu do meu lado, revirando os olhos.

– Parem com isso vocês três! - Ela praticamente mandou, as sobrancelhas bem juntas. - Ou eu vou pensar que meu namorado gosta de garotos!

Dei risada junto com os meninos, que tentaram se levantar com certa dificuldade. Pedro me estendeu a mão, um sinal implícito para que eu o ajudasse a se erguer. Segurei em seus dedos e puxei-o para cima, vendo-o sorrir.

– Você me ajudando a me levantar fácil desse jeito faz parecer que eu sou leve. - Tirou suas conclusões, aproveitando para entrelaçar seus dedos nos meus.

– Não é você quem é leve… - Mostrei meu ponto de vista, um leve ar de superioridade incluso - eu que sou forte.

Mas meu ‘exibicionismo’ foi por água abaixo quando Pedro deu um sorrisinho presunçoso adicionado a uma levantada de sobrancelha fatal. Fazia um certo tempo que eu não via aquela expressão.

– Ui, desculpa, Mr. Músculo. - Ironizou, rindo comigo logo depois. Então ele se virou, vendo Jonas, Marcela e Derek atrás de nós, entretidos numa conversa, andando quase que automaticamente. Ele começou a andar também, me puxando. - Mas e aí, megera, o que vamos assistir hoje?

– Filmes de terror, claro. Nada de romance nem drama. Também aceito filmes onde só rola tiro, porrada e bomba.

– Assistam ‘Mama’, se é assim - Derek opinou atrás de nós. - Mas, sério, quando eu assisti, fiquei tão tenso que até rolou uns gritos bem másculos, sabe?

Comecei a rir; eu estou tão habituada a filmes de terror que nem os mais “assustadores” chegam a, de fato, me assustar. O máximo que eu levo é uma ou duas arrepiadas com aquelas maquiagens feias. Mas, mesmo assim, eu gosto.

– Nah, duvido que eu me assuste de fato. - Resmunguei.

Senti o italiano apertar minha mão com mais força. Olhei para ele, um pouco surpresa.

– Não digo o mesmo. Prepare-se para ouvir os também gritos muito másculos do seu namorado, Katrina. - Ele já me avisou, fazendo uma careta.

Ah, isso será divertido de se ver e ouvir.

*

Abri a porta de casa com um solavanco, vendo que ela estava um pouco emperrada no chão. Marcela e Derek conversavam do lado de fora, já Jonas me seguiu para dentro.

Suspirei, cansada, e joguei minha mochila no sofá com preguiça e… Espera aí.

Voltei meu olhar ao móvel que Jonas usava de cama. Quer dizer, não era o José. Era um sofá novo, marrom, bem maior que o antigo. Fiquei encarando-o por alguns segundos, sem ação.

– KATRINA! - Minha mãe berrou, descendo as escadas de forma eufórica, descalça. Seu cabelo estava todo embaraçado, como se ela tivesse corrido uma maratona.

– Mãe, quando você comprou esse sofá? - Perguntei quando ela desceu completamente, me agarrando pelos ombros, os olhos cheios de um brilho especial e jovial.

– Katrina, recebi meu pagamentooo! - Ela cantarolou a última parte, sorrindo alegre e abertamente, me agarrando com mais força antes de me puxar escada acima. - Tenho uma surpresa para você! - Exclamou, só faltando voar de tanta alegria.

Ela abriu a porta do meu quarto com quase sofreguidão, empurrando-me para dentro de forma bruta.

– Mulher, você está tentando me matar?! - Gritei, já estressada com toda aquela movimentação.

Mas todo o meu ‘estresse’ ou qualquer coisa que eu sentia foi para o espaço quando eu vi aquilo ali. Mamãe pressionou meus ombros, entusiasmada. Nem era meu aniversário, mas eu estava ganhando o segundo melhor presente da minha vida.

Além de, ali na minha frente, ter uma cama de solteiro com o estrado branco, novinho em folha, o colchão estava ‘embrulhado’ em um cobertor negro estampado com a foto do Jason.

Isso mesmo, o Voorhees. Tinha até uma motoserra ali.

Katrina is dead.

Fiquei, novamente, sem reação por um bom tempo, só encarando como uma babaca tudo aquilo. Serena apertou mais as mãos em meus ombros, se inclinando para frente para tentar ver minha reação. Acabou por rir.

– Sabia que você iria gostar… Ah, o colchão é novo também! - Falou, animada, jogando-se em cima da cama; ela quicou algumas vezes, rindo. - Fiz questão de comprar um de molas, já que, você sabe, você e o Pedro estão namorando e tal… - Então ela fez o desfavor de apoiar os pés no colchão, mexendo o quadril, simulando uma posição sexual. - Não dói as costas…

Revirei os olhos e bati na minha testa, todo o encanto do momento esvaindo-se. Mas, depois de um tempo, comecei a rir, imaginando que tipo de mãe faria uma coisas dessas.

Família Dias sempre sendo desfuncional.

Olhei para o rosto genuinamente feliz dela.

– Valeu, mãe. - Agradeci, me sentando na cama. - Caramba, balança mesmo… - Assustei-me quando fui para trás, o colchão vacilando. Serena riu, se sentindo à vontade ali. - Mas, sério, você não precisava gastar tanto dinheiro comigo.

Ela deu de ombros, se sentando como um sapo na cama e se inclinando, me dando um beijo na bochecha.

– Não foi ‘tanto dinheiro’. Aliás, o cobertor foi um presente da sua tia Rosa e do marido dela. Ela errou absurdamente a data do seu aniversário e se desculpou por ter “atrasado o presente”. - Sorriu, dando de ombros logo em seguida.

Eu ia dizer algo a respeito disso, mas, assim que abri a boca, mamãe se levantou numa velocidade surpreendente, indo de encontro à porta.

– Você vai na casa do Pedro, certo? Não quero te atrapalhar enquanto escolhe sua roupa… Nos falamos mais tarde! - Despediu-se, fechando a porta ao passar.

Suspirei, encarando o guarda-roupa logo em seguida. Eu poderia vestir muitas coisas, mas sabia que não faria muita diferença no final. Optei por colocar um short de malha preto e uma camiseta branca com uns pássaros desenhados - minha mãe comprando minhas roupas dá nisso. Desci as escadas, descalça, vendo Jonas e Marcela sentados no sofá novo, aproveitando cada centímetro do tecido.

– Vou na casa do Pedro - avisei, passando por eles e abrindo a porta.

– Tchau, Katrina, aproveite bem! - Marcela desejou, sem malícia.

– Ah, com certeza ela vai aproveitar, né, amiga? - Mas Jonas fez o favor de maliciar por ela, ondulando as sobrancelhas. - Aproveita e tira as teias de aranha que se formaram aí.

Bufei, irritada, lançando-o um olhar entrecortado.

– Se foder, Jonas - mandei-o, percebendo que ele ria, histérico.

Fechei a porta atrás de mim quando eu saí, sentindo o chão quente nos pés. Atravessei a rua, coçando a cabeça. Bati na porta algumas vezes, dando um suspiro. Ainda bem que Derek havia achado seu rumo, porque assistir a um filme com ele de vela seria desconfortável.

Quase - quase!– engasguei quando Pedro atendeu a porta, sem camiseta. Ele estava com uma colher na boca, e me encarou, surpreso.

– Ah, megera… - Ele tentou sorrir, abrindo mais ainda a porta para me deixar passar - pensei que você viria mais tarde.

Encarei-o por dois segundos, desconfiada.

– O que você está aprontando? - Perguntei enquanto entrava na casa dele, sentindo um cheiro agradável logo em seguida. Apurei meu olfato, erguendo um pouco a cabeça. - Você tá fazendo brigadeiro?

– Bingo - sorriu, encaminhando-se para a cozinha. Segui-o, sentindo o cheiro ficar mais forte. - Não poderíamos assistir a alguma coisa sem comer no processo, não é mesmo? Se o fizéssemos, quebraríamos a uma regra universal. - Falou, retirando a colher da boca e botando-a na pia.

Tinha uma panela grande no fogão, borbulhando cheia de chocolate. Ah, aquilo era um perigo para a sanidade de qualquer pessoa: Pedro Marconni seminu fazendo brigadeiro. Observei-o enquanto mexia a mistura, vez ou outra olhando para mim e abrindo um sorrisinho rápido.

Obrigada, Deus.

– Quer experimentar? - Ofereceu de repente, arqueando uma sobrancelha.

– Só como quando estiver pronto - recusei não recusando, dando meia volta e me sentando à mesa. Pedro deu de ombros, e eu pude ver toda a musculatura de suas costas trabalhando. Só havia uma coisa que me incomodava ali: aquela cicatriz perto do ombro. Aquela marquinha pequena me fez lembrar de coisas ruins. Mas decidi varrer aquelas coisas da mente; eu não estava ali para lembrar de maus episódios: estava ali para passar um tempo com ele. Pigarreei, cruzando as pernas como uma indígena em cima da cadeira. - Onde está sua mãe?

– Saiu com o Rodrigo hoje cedo… - Ele explicou, sem olhar para mim, mexendo na panela. - Foram às compras, eu acho…

– Por que não foi junto? - Perguntei de novo, mordendo minhas unhas. - É sua folga hoje, não é? Deveria aproveitar esse momento família.

– Prefiro aproveitar com você - me respondeu de prontidão, mas acabou por ficar em silêncio por dois segundos. - Uau, eu pareci um insensível agora - lamuriou-se, balançando negativamente a cabeça enquanto desligava o fogo. - Mas não é bem assim. Eu só não gosto de comprar coisas com a minha família. - Explicou, como se sentisse culpado.

O garoto colocou a panela em cima da mesa, despejando o chocolate em um prato branco. Dei de ombros, sem entender essa situação.

– Não posso falar nada, eu não saio às compras porque não tenho dinheiro para fazer isso. O máximo que eu compro são algumas coisas avulsas, mas nada com grande quantidade. - Falei, me levantando assim que Pedro pegou duas colheres da gaveta.

O italiano riu, indicando com a cabeça a sala. O segui devagar, sentindo o piso frio nos meus pés. Me joguei no sofá, vendo Pedro colocar o prato em cima da mesinha de centro. Peguei o chocolate com uma colher, já que ele estava praticamente me atraindo.

– Hm, caramba, isso tá bom… - Falei, afundando minha cabeça nas almofadas. Pedro sorriu de lado enquanto colocava o filme no DVD, agachado no chão. Suas costas delineadas estavam tensionadas para frente, sua coluna aparecendo de leve sob a pele bronzeada. Era como se ele estivesse me seduzindo. Sorri, estendendo meu pé gelado e pousando-o sobre seu quadril.

Pedro deu um grunhido e tentou fugir do contato gélido que se mesclava a sua pele quente. O garoto me olhou sobre o ombro, quase malévolo. A televisão piscou, mostrando o menu do filme. Num momento de descuido em que eu prestei mais atenção na TV, Pedro apareceu por cima de mim, me abraçando com força enquanto enterrava sua boca no meu pescoço.

Me contorci, não resistindo e dando risada por conta das cócegas que ele me fazia com a língua no pescoço, atrás da orelha, no ombro… O empurrei devagar, observando aquelas orbes negras dilatadas.

– Filme, Pedro, o filme… - Falei, me sentando no sofá e comendo mais brigadeiro.

– Ah, claro, filme, sim… - Disse, quase automaticamente.

*

Depois de meia hora de filme, Pedro estava com a cara enterrada numa almofada, a cabeça deitada nas minhas pernas. Toda hora ele tentava espiar, mas, quando aparecia a cara do bicho, dava um berro meio duvidoso e voltava a se cobrir.

Ver ele berrando de susto foi rejuvenescedor.

Era o melhor dia da minha vida.

– Como consegue? - Perguntou me entreolhando entre a almofada, sem coragem para encarar a TV. Dei de ombros, apoiando o queixo no punho, sem problemas em observar expressões assustadoras feitas em computador. - Olha a cara dessa porra! - Exclamou num momento de tensão, fazendo uma careta.

Comecei a rir, espremendo os olhos, levando uma mão à cabeça do italiano. O cabelo dele era arrepiado e embaraçado, mas era muito gostoso de acariciar. Em um momento ele ergueu o braço, pescando a camiseta jogada em cima do encosto do sofá, vestindo-a rapidamente e voltando à posição anterior, onde deixava seu cabelo à mercê.

– Tô acostumada. - Simplifiquei, pegando o controle e pausando o filme. O brigadeiro já havia acabado há algum tempo, já que Pedro silenciava seu medo comendo. Uma ótima tática.

O garoto parou de espremer o rosto na almofada e acabou por erguer o rosto, sustentando seu corpo nos antebraços.

– Katrina, por que você gosta tanto de filmes de terror? - Perguntou de repente, me pegando de surpresa.

Pensei por um instante, sem saber direito o que responder.

– Não sei. Acho que, depois de um tempo, eu percebi que os personagens pareciam comigo. É legal encontrar semelhanças em um ser fictício que tem os mesmos desejos que você: matar todo mundo. - Encerrei, quase séria.

Pedro fez um “pff” desaforado, esticando sua mão e cutucando minha testa.

– Você tem uns pensamentos muito estranhos, Katrina Dias. - Disse, sorrindo de lado - gosto disso em você também.

Mordi meus lábios, pronta para retrucar.

– A questão é: o que você não gosta de mim, Pedro? - Falei, quase ácida.

O garoto deu de ombros, o mesmo sorriso presunçoso de hoje de manhã nos lábios. Ele apoiou o antebraço no encosto do sofá, aproximando-se de mim.

– Não gosto quando você me aperta a ponto de eu pensar que virarei um eunuco.

– Então… - Me aproximei também, o antebraço sobre o encosto do sofá. - Quando eu te aperto, mas não com tanta força, você gosta? - Levantei ambas as sobrancelhas, sem pudor.

Pedro tentou esconder seu sorriso de satisfação, mas não conseguiu; ele se inclinou sobre mim, seus olhos fixos nos meus.

– Não sei, você nunca fez isso dessa forma… - Saiu em forma de sussurro.

– Sempre tem uma primeira vez. - Murmurei, quase inaudível. Dei um meio sorriso quando Pedro me puxou pelos calcanhares, de uma forma meio desconfortável, colocando minhas pernas em cima das dele. - O que está fazendo?

– Não sei - me respondeu vagamente, e, num puxão, me botou sentada sobre suas pernas, de maneira que minhas coxas circundassem seu quadril. Apoiei minhas mãos em seu peito, encarando-o, sem saber o que dizer. - Tudo bem? - Perguntou de repente.

Inclinei a cabeça para o lado, olhando-o de outro ângulo.

– Sim, por que não estaria? - Devolvi a pergunta, sentindo os dedos curiosos do italiano vagarem pelo meu corpo. Nunca que eu admitiria isso em voz alta, mas, quando ele me encarava daquela maneira séria enquanto me tocava, era como se cada centímetro da minha pele reagisse, como se pegasse fogo. - Ei, seu celular está apitando no bolso… - Avisei-o, sentindo aquilo embaixo de mim.

Quando Pedro soltou uma risada nasalada, inclinando-se para frente e me beijando; fui me sentindo empalidecer: aquilo não era o celular dele. Sua mão direita foi parar na minha nuca, acariciando os fios ralos dali. Ai meu Deus.

Não, espera. Pensar em Deus nessa hora não é bom.

De qualquer forma, tentei relaxar o máximo possível, e, inesperadamente, fui ficando mais tensa. Uma mão minha foi parar em seu ombro, apertando-o com intensidade, quase como se eu quisesse arrancar a carne dali. Suspirei ao sentir seus lábios no meu pescoço, beijando-me com força, obviamente com o intuito de deixar marcado.

Eu e Pedro nos mexemos um pouco, de uma maneira que nossos rostos estivessem nivelados. Já estávamos suados e meio pegajosos, já que, quando deslizei minha mão para dentro de sua camiseta, retirando-a, meus dedos estavam um pouco úmidos. Joguei sua camiseta no chão de qualquer jeito.

Pedro me apertou embaixo das coxas, sustentando-me, para logo me jogar com certa força no sofá. Minha cabeça bateu nas almofadas confortáveis; mas isso não queria dizer que eu estava confortável. Gostava mais da posição em que eu ficava por cima…

Meu orgulho não perdoa nem isso.

Pedro foi empurrando a barra da minha camiseta para cima enquanto beijava o meu abdome, uma trilha cálida, que me fazia certas cócegas. Todo o meu corpo estava arrepiado, se contraindo em áreas estratégicas - que, no caso, também praticamente gritavam um “VAMO QUE VAMO!”.

Estiquei minha mão em direção a sua cabeça, puxando os fios loiros com força, sentindo certo prazer em vê-lo grunhindo daquela forma.

– Você quer arrancar meu cabelo? - Perguntou num sussurro, sua voz quente me fazendo cócegas na altura do baço.

– Não - falei, acabando por soltar uma espécie de gemido meio sofrido quando ele mordeu com força aquela área, lambendo-a logo depois em uma velocidade de tartaruga. - Não faz isso, caramba… - Murmurei meio entrecortado, soltando um suspiro.

Pedro riu, beijando o local com certo sadismo. Talvez ele estivesse me pagando com a mesma moeda. O garoto deslizou suas mãos para baixo, de encontro com a minha coluna, acariciando os ossos que se sobrepunham na minha pele. Arqueei um pouco as costas, sentindo que ele iria abrir meu sutiã.

O.k., aquilo estava ficando sério. Mas, inesperadamente, não estava com medo ou tremendo, como da última vez. Dava para perceber que tudo é diferente demais. A forma como Pedro me tocava, me olhava e me beijava era bem diferente de como Marcos fazia… Tudo o que o italiano exercia era recheado de alguma coisa quente, intensa, incessante… Algo que aquele cara nunca teve e nunca irá ter.

Eu meio que gosto disso.

Relaxei todo o corpo, fechando levemente os olhos, encarando a tela da TV. Ela estava pausada bem numa cena onde o bicho aparecia, sua cara assustadoramente disposta. Sorri. Não teria momento melhor que este…

PEDRO! – A voz de Rodrigo explodiu por todos os cômodos, um berro cinco estrelas no quesito “assustar para caralho”. - ABRE A PORTA! - E, após isso, ouvi algumas batidinhas.

Pedro deu um pulo do sofá, caindo no chão num baque surdo, enquanto eu me levantava afoita, abaixando a camiseta e tentando regular a respiração, meio em pânico. O italiano fisgou sua camiseta do chão, botando-a de qualquer jeito enquanto dava uma volta, mais perdido que surdo em bingo, arrumando as almofadas no sofá.

– Já vou! - Ele avisou Rodrigo num berro, dando uma espécie de corridinha até a porta.

Me sentei no sofá, cruzando as pernas e dando continuedade ao filme, tapando levemente meu pescoço com a mão, onde provavelmente tinha uma marca de beijo. Pelo reflexo da TV, percebi que meus cabelos estavam uma zona, mas não deu tempo para arrumá-los, já que Pedro abriu a porta de supetão, uma mão estrategicamente à frente de sua virilha.

– Hm, oi, voltaram cedo… - Falou, mais decepcionado do que surpreso.

– Ah, sim, tava um trânsito do caramba, decidimos voltar mais cedo… - Dona Isabel passou por ele, caminhando apressadamente até onde eu estava. - Katrina, você por aqui! - Exclamou, mais habituada a minha presença. Seus bracinhos miúdos carregavam algumas sacolas de compras.

– É, sim, Pedro eu estamos assistindo a um filme… - Expliquei, minha voz ainda embargada na “adrenalina” anterior.

Ela sorriu, botando as coisas no chão.

– Tudo bem, vou para o banheiro tomar um banho, qualquer coisa me chamem… - Despediu-se com um sorrisinho, subindo as escadas devagar.

Pedro e Rodrigo vieram depois, ambos andando lentamente. O mais velho parou ao lado do sofá, ambas as mãos cobrindo seus países-agora-já-não-tão-baixos disfarçadamente, enquanto Rodrigo deixava as sacolas que carregava ao lado das já colocadas ali. Ele nos observou por um segundo, seu rosto cheio de algo que palpitei ser presunção.

Primeiro ele olhou para o meu cabelo todo bagunçado, depois olhou para a pose estranha do irmão. Nós dois estávamos encarando o nada, mais envergonhados que uma freira em balada gay.

– Eu vou para o meu quarto jogar… - Falou, um meio sorriso brotando em seus lábios; ele sabia. - Vocês deviam ir para o quarto jogar também…

Me senti empalidecer, soltando um pigarro de vergonha absoluta. Pedro avançou no irmão, um implícito “quer morrer, moleque?” em seu rosto, fazendo-o rir, faceiro, e correr em direção às escadas.

Pedro suspirou e sentou-se do meu lado no sofá. Nos entreolhamos, mudos.

– Sua camiseta tá ao contrário… - Quebrei o silêncio ao avisá-lo.

Pedro olhou para suas vestes, um sorriso brotando em seus lábios ao mesmo tempo que brotava nos meus. Ele tampou a cara, provavelmente sem acreditar.

– Nem fala nada, Katrina… - Disse em meio ao sorriso, encostando a cabeça no sofá.

*

O dia voou rápido e, quando eu pisquei, já era sábado. Marcela havia me acordado enquanto cantava Rita Lee. A janela aberta me irritava pois raios solares invadiam o quarto sem permissão, causando uma má impressão de cegueira.

– Fecha a porra da janela… - Mandei, cobrindo a cabeça com o travesseiro.

Foi quando meu pai me disse “hey, filha, você é a ovelha negra da família!” - cantarolou, me ignorando completamente, pegando um shorts jeans limpos de sua mala e jogando-o em cima da minha cama. - Agora é hora de você sumir… Uh, uh! E sumir!

– Você parece uma hiena com dor no pâncreas! - Gritei, querendo dormir, meu estresse matinal de sábado batendo à minha porta.

Marcela riu, jogando uma camiseta com brilho em cima do meu travesseiro, sem se importar.

Baby, baby, não adianta chamar, quando alguém está perdido, procurando se encontrar! Baby, baby, não vale a pena esperar, oh! Não! Tire isso da cabeçaaa! Ponha o resto no lugar, ah! Ah! Ah! Ah! Tchu! Tchu! Tchu! Tchu!

Suspirei, não aguentando mais. Me sentei na cama, encarando aquele ser saltitante enquanto se trocava, colocando o short jeans animadamente, cantando.

– Por que está se vestindo desse jeito? É sábado, dia de dormir até meio-dia, de usar pijama o dia todo e de lavar o cabelo. - Falei, coçando o ombro.

– Vamos sair hoje, ué - explicou como se fosse óbvio.

– Quem vai sair hoje? - Perguntei meio grogue, coçando os olhos dessa vez.

Marcela parou o que estava fazendo para olhar para mim.

– Hm, eu, você e o Jonas… - Disse como se eu soubesse daquilo.

– Nunca concordei em sair com vocês - retruquei, jogando meus pés para fora da cama. O contato gélido dos meus pés com o piso me fez ter um arrepio.

– Ah, Katrina, não mete o louco, você disse que iria conosco ontem! - Um bico enorme surgiu em sua cara, como se ela estivesse magoadíssima.

– Eu tava bêbada - menti, tentando burlá-la para não ir. Eu me lembro disso… Na realidade, só havia concordado porque ainda estava meio sonolenta.

– Ah, tá! - Ela contrariou, desaforada. - Você vem sim, e pronto! Nós vamos ao shopping, comeremos um lanche bem gostoso, compraremos coisas…

– Com que dinheiro? - Indaguei; eu tinha algum dinheiro guardado, mas não iria gastá-lo se não fosse uma emergência.

Jonas entrou no quarto de supetão, assustando a nós duas. Ele vestia uma calça jeans preta com uma camiseta regata verde-limão com um símbolo do paz e amor, uma correntinha e uns óculos escuros redondos.

– Que isso? - Perguntei, me levantando da cama e indo ao guarda-roupa. Jonas revirou os olhos.

– Estilo próprio, amor. - Declarou, super confiante.

– Ah, esqueci que eu e nem meus amigos temos senso de ridículo. - Resmunguei, tirando minha camiseta do Freddy do móvel.

– Não resmungue, sua velha… - Marcela me censurou, passando por mim e abrindo a porta. - Vou descer para tomar café, o.k.? Vamos logo antes que fique trânsito.

Eu e Jonas murmuramos um “tá” enquanto ele se jogava na minha cama e eu procurava outra peça de roupa para cobrir minhas partes íntimas. Optei por um short velho que eu tinha, meio desbotado, mas dava para o gasto.

Vesti as roupas rapidamente, calçando meu tênis em seguida.

– Você não tem vergonha de andar assim num shopping? - Jonas perguntou, se referindo a minha aparência de pobre.

– Não. Você tem? - Devolvi a pergunta, me referindo a aparência dele de hippie fajuto.

– Hahahaha, engraçadinha. - Murmurou sem graça. - Isadora fez pudim - me informou aleatoriamente.

– Ah, isso é bom. - Falei, me levantando e ajudando-o a se levantar também. Descemos juntos, vendo Camila correr pelada pela sala, gritando que não queria tomar banho. Mamãe corria atrás dela, sem fôlego.

Passei por elas, rindo da situação. Marcela comia seu pão enquanto falava ao celular, rindo vez ou outra. Me sentei ao lado dela, cortando um pedaço do pudim. Enfiei-o na boca de uma vez, já cortando outro pedaço.

Marcela desligou o celular, suspirando.

– O carro vai estar aqui dentro de alguns minutos… - Avisou-me, espreguiçando-se na cadeira e mastigando o último pedaço de seu pãozinho.

– Já? - Indaguei, surpresa pela rapidez. Nem havia terminado de mastigar o primeiro pedaço direito! - Não, não, não, tá muito rápido essa bosta aí. Para início de conversa, eu nem queria ir. E, se eu for apressada dessa forma, terei que vagar pelo shopping com um hálito pior que o de um bode velho. - Reclamei, ainda mastigando.

Outra parte do pudim pulou para dentro da minha boca enquanto eu despejava o suco de laranja industrializado no copo. Marcela sorriu, tirando minha franja da frente dos olhos e botando-a para trás.

– Não é tão cedo. São dez horas da manhã. Nós vamos nos divertir muito hoje, certo?

– Hm. - Grunhi, bebericando o copo.

Me levantei assim que terminei de mastigar, marchando para o banheiro. Escovei os dentes e penteei o cabelo de forma rápida.

O carro chegou depois de alguns minutos. Logo eu me vi sentada no banco almofadado ao lado de Jonas e Marcela. Ambos conversavam animadamente sobre alguma coisa relacionada a cinema, livros e outras coisas. Eu ainda estava um pouco sonolenta e perdida, já que tudo aconteceu muito rápido.

– Mas, e aí, Katrina… - Marcela me chamou de repente. - Livro ou filme?

– Depende… No livro há cenas que no filme não mostram, mas nas telas os personagens são mais gatos… - Falei vagamente, como uma filósofa.

– Agora você disse uma verdade - Jonas concordou, assentindo. - E aqueles abdomens sexys?! Ai, gente, eu tenho meu homem, não posso ficar falando desses caras! - Abanou-se, quase como se sentisse culpado.

– E daí? - Perguntei, não achando lógica naquilo. - Uma vez eu disse que o Richard Gere era um coroa gato para cacete na frente do Pedro, e ele concordou. - Dei de ombros. - Não acho um problema elogiarmos pessoas “públicas”. Da mesma forma que, caso ele disser que a Scarlett Johansson é bonita, eu irei concordar.

– Uma vez, Derek ligou no futebol, e aí eu disse que o James Rodriguez era tão lindo que eu poderia comprar uma camiseta dele escrito “#TeamJames”. - Ela fez um bico. - Derek não gostou nada e disse que ele era milhões de vezes mais bonito que ele.

Fiz uma careta de ceticismo.

– Só se for na dimensão em que eu sou virgem - retruquei, fazendo Marcela escancarar a boca, perplexa. Ela apontou para o motorista que ria controladamente. Dei de ombros, sem ligar. - E, aliás, Derek é doente. Não liga para ele. O que ele fala, não se anota; entra por um ouvido, sai pelo outro. O Derek é tipo eu, só que versão masculina e ainda virgem. - Fiz novamente a piadinha que a deixava desconcertada de propósito.

Jonas soltou um “ADORO” alto, gargalhando logo em seguida. O motorista não conseguia mais esconder seu ataque de risos.

– Essa bicha é destruidora mesmo, viu?! - Jonas exclamou, estendendo a mão e me dando um tapinha nas costas.

Eu, hein.

*

O shopping estava lotado, assim como deve ser um shopping de sábado. Jonas e Marcela me seguravam pela mão, arrastando-me pelo piso límpido do local. Eu ainda tinha uma terrível aversão a esse tipo de região, já que vira e mexe uma mulher com cara de nojenta aparecia desfilando com uma bolsa de pele de jacaré.

– Num universo paralelo - comecei do nada - são os jacarés que usam bolsas feitas de pele humana.

Jonas revirou os olhos, parando de andar um pouco para observar uma vitrine. Tinha um vestido lá. Era de seda, lilás, com um cinto branco levemente disposto na cintura. Ele até que era bonito, mas o preço fazia minhas glândulas salivares produzirem saliva ácida sabor “você é pobre”.

– Gatinho à vista - Marcela avisou do nada, de forma sussurrada.

Jonas virou a cabeça imediatamente, como a garotinha do exorcista, encarando despudoradamente o pobre rapaz que passava por nós. Revirei os olhos; o rapaz nem era tudo aquilo… Duvido ele falar “eu te amo” em italiano para alguém, humpf.

– Aqui tem umas roupas legais… - Marcela comentou após o garoto ir embora. - Vamos dar uma olhada?

– Vamos! - Jonas alegrou-se, pegando mais fortemente na minha mão e me puxando para dentro da loja.

Assim que entramos, percebi que eu não acharia nada que me agradasse ali, por isso apenas me sentei em um banquinho ao lado de um homem que lia uma revista e fiquei encarando aqueles dois.

Eu estava sentada bem em frente aos provadores, por isso, vira e mexe, uma moça saía de um, rodopiando em vestidos diferentes, perguntando ao seu marido o que ele achava.

Ele só dizia “lindo, amor, lindo… Você pode levar todos” com cara de tédio, voltando a ler sua revista em seguida.

Esses ricos são extremamente estranhos.

Marcela apareceu na minha frente em determinado momento, talvez após alguns vinte minutos, segurando dois vestidos: um era vermelho, regata, cheio de rendinhas na borda; o outro era preto, sua parte de baixo recheada de camadas de pano.

– Qual dois dois? - Indagou numa seriedade surpreendente; era como se aquela questão valesse o um milhão de dólares.

– Experimente antes - sugeri, apontando para o provador.

Ela assentiu, animada, saltitando para dentro. Jonas apareceu em seguida. O garoto, por sua vez, segurava uma camiseta salmão e outra azul-marinho.

– Qual? - Perguntou, mais descontraído.

– Experimente antes - repeti, com preguiça de utilizar novas palavras. Ele assentiu e entrou num provador vago, fechando a porta. Após algum tempinho, Marcela abriu o seu provador. Ela usava o vestido preto. - Ficou bonito - elogiei, vendo seu corpo esguio sendo moldado pelas camadas do tecido. Ela sorriu, envergonhada. - Agora, o outro. - Falei, abanando o nada.

Ela assentiu e entrou novamente no provador. Depois de alguns segundos, Jonas abriu o seu, vestindo a camiseta salmão. A cor não caíra muito bem nele, já que seu cabelo preto o dava uma má impressão. Talvez ficasse melhor em alguém com cabelos claros.

– Hm, essa ficou estranha… - Opinei, coçando o queixo. - A azul provavelmente vai ficar melhor.

Ele olhou para baixo, parecendo levemente decepcionado.

– Ah, mas eu gostei tanto dessa… - Falou meio cabisbaixo.

– Se você tinha gostado dessa desde o início, por que pediu opinião? - Exaltei-me, revirando os olhos. Ele encolheu os ombros, como se ficasse um pouco ofendido. Então ele pegou um enfeite que estava numa estante perto dos provadores e o atacou na minha cabeça com força brutal.

– Sua ursa! - “Xingou-me”, entrando correndo no provador quando me levantei para pegá-lo.

– Ai… - Reclamei, voltando a me sentar enquanto acariciava meu couro cabeludo. Me inclinei para baixo, alcançando o bichinho de enfeite, que no caso era um coelho. Observei-o por dois segundos antes que Marcela abrisse seu provador novamente.

O vestido vermelho era um pouco adulto para ela - e, não, isso não é uma ofensa. Talvez, em mim, ficasse melhor por causa dos meus peitos, que preencheriam a lacuna que havia ficado quando ela vestiu - e, de novo, isso não é uma ofensa: há pessoas mais desenvolvidas que as outras e, só porque você é menos ou mais desenvolvido, não quer dizer, necessariamente, que seja algo bom.

– Talvez, se você colocar umas bolas de tênis , ficaria melhor - cutuquei-a do mesmo jeito, apontando para o seu tórax.

Marcela entreabriu a boca, meio chocada. Então ela olhou para a estante dos enfeites malditos, pegando um alien e atirando em mim. Mas daquela vez eu estava esperta, por isso ergui meus braços para me defender. O protótipo de alien bateu no meu antebraço e caiu no chão.

Comecei a rir das reações deles. Eles estavam mais estressadinhos que o normal e, vejam só, quem tem fama de estressada aqui sou eu.

Saímos da loja depois de uns quinze minutos, as sacolinhas de Jonas e Marcela batendo irritantemente em seus joelhos. Eles, novamente, me seguraram pela mão, como se eu fosse uma criança birrenta e eles pais novos demais.

– E agora, para aonde nós vamos? - Jonas perguntou meio avoado.

– Para casa - sugeri, arqueando as sobrancelhas.

– Você não comprou nada, Katrina… - Marcela disse, parando um pouco de andar e apertando minha mão. Eu estava, inconscientemente, apertando a mão deles também.

– E nem quero. Todas as minhas roupas foram compradas em brechó, ou na “25 de Março”. - Confessei, dando de ombros.

Jonas riu, me dando uma ombrada.

– Ah, vamos, você não pode sair sem, ao menos, comprar uma calcinha. - Disse, piscando. - Ou será que devemos insistir para que você compre uma lingerie para usar pro Pedro?

Olhei-o com certo ceticismo, talvez uma cara engraçada se formando no meu rosto.

– Não é como se eu gostasse de discutir minha vida sexual com vocês dois - ri nasalado, revirando os olhos e apontando com a cabeça para um lugar específico. - Que tal esquecermos essa história e irmos comer alguma coisa?

Marcela sorriu, concordando.

– Mas, Katrina, você tem dinheiro aí? - Jonas perguntou, arqueando as sobrancelhas.

Me soltei dos dois e enfiei uma mão dentro da camiseta, cutucando a borda do sutiã; às vezes eu botava algum trocado nas minhas peças íntimas, vai que preciso.

Tirei de lá cinco reais. Mostrei o dinheiro, contente, para os dois.

– É, acho que vai dar para comprar uma balinha - Marcela opinou, me dando um sorriso de quem achava a situação muito engraçada.

Revirei os olhos, começando a andar na direção da praça de alimentação do shopping.

*

No final, Jonas e Marcela pagaram minha comida. Nos sentamos numa mesa de quatro lugares no meio da praça, ao lado de uma mesa que tinha uma família de japoneses com um bebê de colo. O bebê não parava de chorar, sendo balançado bruscamente nos braços da mulher, que tentava “acalmá-lo”.

Já imaginava a hora em que ele vomitaria em cima da japa.

– Para de encarar - Marcela brigou comigo, me dando um tapinha na mão para que eu tirasse minha atenção da família.

– Eles falam de forma engraçada… - Falei, rindo de lado enquanto abria o saquinho onde estava o hambúrguer.

Eu havia pego um lanche que tinha uma porrada de coisas; se duvidar tinha Nárnia ali dentro, entre a alface e o molho. Também pedi um refrigerante que provinha de uma fruta nacional com olhinhos. Jonas tomava milk-shake de chocolate. Marcela pegou um prato de comida cheio de coisas saudáveis com um suco natural de laranja.

Nem sei o porquê dela estar no nosso âmbito social.

– A pessoa vai no shopping e compra salada, como lidar? - Jonas soltou, balançando negativamente a cabeça.

– Ué, não era você o saudável? - Marcela gracejou, arqueando as sobrancelhas.

– Orra, se fosse eu não deixava - brinquei, rindo, mordendo o hambúrguer.

– Querida, quem vive de passado é museu. E você, Katrininha - apontou para mim de uma maneira desleixada. - Não pode falar nada, já que não tem dinheiro nem para pagar um lanche!

– Não preciso de dinheiro, tenho vocês para pagar as coisas por mim. - Usei um tom de voz propositalmente irritante, fazendo-o me mostrar uma expressão de indignação.

Turn down for what! – Marcela brincou, botando a mão na boca como se eu tivesse dado o maior cavalo da minha vida.

Jonas botou o copo da bebida em cima da mesa, me encarando com as mãos jogadas na cintura.

– Por quanto tempo você pensa que nós iremos pagar suas gordices? - Indagou, meio irritado.

Dei de ombros, tomando meu refrigerante.

– Sei lá, para sempre? - Sugeri, as sobrancelhas arqueadas.

Tomei um susto quando Marcela soltou um “ooowwwn”, apoiando sua cabeça em ambas as mãos espalmadas em suas bochechas.

– Que bonitinho, você está insinuando que nós seremos amigos para sempre? - Como uma pessoa consegue levar absolutamente tudo para um lado meio doce da coisa?

Jonas me entreolhou, talvez surpreso, pois não tinha reparado nisso. Eles me olharam com um pouco de expectativa.

– Depende… - Falei, dando de ombros. - Vocês vão pagar minhas gordices por uma eternidade?

– Aaaaaaaaah! - Exclamaram, rindo como idiotas enquanto jogavam guardanapos em mim, provavelmente acostumados com a minha folga.

De certa forma, eu sentia como se, depois de algum tempo, tudo estivesse bem.


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Notas finais do capítulo

Chorei? Chorei /agarrando almofada e buscando coragem para continuar/ UHEUHEUEUHEHUEHUHE Falando em "agarrar", que agarrada foi essa, hein, senhorita Dias? ( ͡° ͜ʖ ͡°) HAHAHAHAHA!
Eu não vou escrever muitas coisas aqui, irei deixar todos os agradecimentos finais no epílogo, assim pouparei alguns neurônios AUHUAUHAUHAUHAHUAHUAA Espero que tenham gostado. De tudo, na realidade. Porque eu adorei. Tudo. Principalmente ter esse momento gostoso entre conversar com vocês, leitores. Vocês são especiais para mim. De verdade. Amo vocês.
Comentem bastante o///