Toma Mel, Maria Isabel! escrita por Alícia Guimarães
Oi amiga, sobe. – respondi aos risos.
Corri para trocar o pijama, afinal não queria que minha melhor amiga me visse dormindo com uma roupa de ursinhos furada logo no fundo! É minha melhor amiga, mas cá pra nós, isso iria ser um pouco estranho.
Mabel, pelo amor de Deus! Você leu a última edição do Jornal CEP? – ela perguntou, sem cumprimentar e já sentando no sofá.
Li sim. – revirei os olhos e gargalhei em seguida.
Não parece! Você leu que vai ter um concurso de música? – ela me olhava sério.
Hmm... Ah sim! Lembrei. – eu disse alguns segundos depois. – O que tem? – perguntei intrigada.
Amiga! Relou?! Que mundo você vive? Aterriza, Mabel! Quem tá no ar é seu pai, não você! – ela falou pulando do sofá e andando de um lado pra outro.
Espera aí, Anita. Eu não estou entendendo. Um concurso de música, certo... Mas o que eu tenho a ver? – perguntei na maior cara de dúvida possível.
Meu Deus! O Lucas! O seu namorado, sua anta! Ele é cantor e o maior sonho dele é ser famoso. Está aí a oportunidade! – ela gritou.
Ahhhhhh! Isso não é novidade, ele até já se inscreveu. – eu voltei a gargalhar, mas dessa vez de braços cruzados.
Sério?! Puff... Pensei que seria a primeira a dar a notícia. – ela falou sentando no sofá novamente, dessa vez, decepcionada.
O jornal foi publicado na Segunda. Primeiro dia da última semana de aula, certo? Então... Ele se inscreveu na Segunda mesmo. – suspirei.
Entendi, eu não acredito que vim correndo da esquina pra cá pra te dizer isso de pantufa. – ela dizia ainda decepcionada, apontando para os pés. – Todo mundo rindo de mim na rua, olha meu estado! Ela tirava as pantufas e jogava pro algo. – Mereço! – Anita resmungava.
Magina, Rita. Você estava sendo só... Você. – pausei um pouco e caímos na gargalhada. – Não leva a mal, Anita. Mas Ana Rita sem pagar mico, opa! Não é a Ana Rita. – eu a abracei.
Verdade! – dessa vez ela riu junto. – Mas e aí? Eu estou super disposta a ajudar, se precisarem. – ela piscou.
O que seria de mim sem essa minha amiga Jornalista por perto? – nos abraçamos.
Mas, você está lembrada que o concurso é hoje, não está? – ela avisou enquanto me abraçava.
Soltei-a na hora e coloquei as mãos na cabeça. Fiz uma tremenda cara de desespero! Eu não lembrava! O concurso começa de uma hora e já faltavam 15 para o meio-dia.
Eu não acredito, caramba! – eu disse quase gritando e correndo para o banheiro. – É na Barra Funda! OMG!
Eu estou falando sério, eu vim só te avisar e vou voltar pra me arrumar, quero fazer uma super matéria sobre isso. A melhor matéria que o CEP já viu. – ela disse saindo do apartamento.
Eu quase não dei ouvidos. Saí em desespero para o mega-banho-super-rápido. Vesti o primeiro vestidinho que eu vi na minha frente, coloquei um sapato baixo e peguei a bolsa, sem maquiagem mesmo, saí em desespero para a casa da Anita. Todas nós morávamos perto uma da outra. Eu e a Anita morávamos na mesma rua no bairro do Ibirapuera e a Belle, em Moema. A gente sempre marcava de se encontrar no Parque ou no Shopping Ibirapuera. Mas, sempre íamos uma na casa das outras.
Tentei ligar para a Amabelle, mas lembrei que ela tinha viajado para Porto Alegre na noite anterior. Cheguei à casa da Anita correndo, passei a mão no cabelo e me encostei à porta do apartamento dela. Suspirei fundo e bati.
Vamos logo, Anita! Olha a hora. – disse meio desesperada.
Você atrasa e a culpa é minha? – ela disse no sarcasmo quando abriu a porta.
Por que você não me ligou ontem ou mais cedo?! Ai! Droga! Eu pensava que era Sábado que vem. Meu Deus! Estou ferrada. Imagina o que o Lucas vai pensar. Ah! Não me importo! Droga, me importo sim! – eu falei de uma vez só, sendo empurrada pra garagem do prédio da Anita.
Calma, Mabel! “Toma mel, Maria Isabel!” – ela repetiu o bordão e suspirou um pouco. – Além de mel, vê se toma maracujá, também. – concluiu aos risos.
Ah, Ana Rita! Você me irrita! – eu disse o bordão que havíamos inventado para ele no fundamental enquanto entrávamos no carro.
Vamos, mãe! – Anita gritou, ignorando o que eu disse, porém ainda rindo.
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