Foi um momento simplesmente mágico: olhei pro lado e vi aqueles olhos maravilhosos me encarando. Deu vontade de fingir que ainda estava inconsciente só pra ele fazer respiração boca-a-boca. Ficamos nos encarando durante algum tempo, até que ele decidiu se pronunciar.

- Poxa, você me assustou sabia? - perguntou sorrindo e me deixando abestalhada.

- Ah, foi sem querer... Eu não tinha visto a bola e quando eu dei por mim já tava rolando que nem uma louca na grama. - falei meio sem graça.

- Tudo bem. Mas sabe... Se você tivesse se afogado de verdade eu teria que fazer respiração boca-a-boca em você, o que não seria muito legal. - falou com aquele sorriso lindo no rosto.

"Como assim, 'não seria muito legal'? Quem ele pensa que ele é? Ai, a minha vontade é falar umas verdades pra ele agorinha mesmo!" Fiquei desolada com o comentário que ele fez, e acho que o mesmo percebeu isso.

- Olha, deixa eu me explicar direito... - começou meio sem jeito - O que eu quis dizer é que seu namorado não gostaria de saber que eu beijei você, né? - falou cabisbaixo.

- Namorado? - perguntei confusa, afinal eu não tinha namorado algum.

- É! Você tem namorado, não tem? - perguntou arqueando uma das sobrancelhas.

- Ah, não... - respondi fazendo uma careta bem tosca, porque ele começou a rir da minha cara.

- Olha, não precisa mentir pra mim. É óbvio que uma menina linda como você tem um namorado, jamais ficaria dando sopa. - falou com as bochechas visivelmente rosas.

"Ai meu Deus! Ele acha uma gata! E ele não disse aquilo no mal sentido! E eu não quero mais dizer as tais verdades pra ele, porque ele é simplesmente perfeito!" O sol voltou a iluminar o meu dia depois de tais palavras. Como ele podia ser tão lindo e tão fofo ao mesmo tempo? Nos filmes os caras gatos sempre são antipáticos, mas ele... Ai, ele é simplesmente perfeito, um perfeito cavalheiro. E eu preciso parar com essa cara de besta porque ele tá me olhando com cara de riso.

- Bom, acredite ou não, eu não tenho namorado. E você? - perguntei me fazendo de desinteressada.

- Não, eu gosto de mulher mesmo. - respondeu rindo - Brincadeira, eu também não tenho namorada. Não achei ninguém que gostasse de mim de verdade, sabe? - perguntou olhando nos meus olhos como se estivesse procurando algo.

- Perfeitamente. - respondi cabisbaixa. De repente me lembrei de várias vezes em que pensei amar alguém (e olha que não foram poucas) e no final não só estava enganando o cara, como também a mim mesma - Acho que eu nunca amei ninguém de verdade.

- Eu tenho certeza de eu não. - respondeu sorrindo pra quebrar o clima pesado que tinha se estabelecido ali.

Passamos a tarde toda conversando e descobrindo que temos o mesmo gosto pra tudo, bom, quase tudo. Ele não curtia muito Tokio Hotel, mas tudo bem. Logo estava escuro e nós estávamos sozinhos na beira da piscina, conversando sobre nossos relacionamentos anteriores. Ele tava me contando sobre todas as meninas que ele já namorou e quais os verdadeiros motivos da separação (claro, ele jamais diria-os na frente das mesmas). Eu também contei pra ele sobre os meus e ´ficamos nesse assunto até que a Fátima (que eu descobri que é tia dele) apareceu nos chamando pra jantar.

Chegando na casa, vi meus pais se despedindo dos outros convidados. Logo percebi que já iriamos embora, mas ainda era muito cedo, eu ainda queria conversar mais com o Henry, ele era tão legal. Eu queria ficar mais, mas pela cara de morta viva da minha mãe, vi que era melhor não insistir. Me despedi de todos, mas senti falta de duas pessoas, a primeira era Henry, ele havia ido no banheiro e não tinha voltado ainda e a outra era David. Entrei na casa e vi ele sentado no sofá tentando assistir TV, já que ele não falava português. Fui até ele para me despedir.

- Hum... Bye bye, David. - falei meio sem jeito, afinal eu estava atrapalhando a concentração dele.

- Oh, you're already leavin'... But it's early. - respondeu confuso.

- Yeah, I know, but I gotta go home.

- Ok, so hum... See you at the next barbecue?

- Sure! - respondi sorrindo.

Me despedi de David e assim que olhei na direção da cozinha vi Henry vindo em minha direção. Ele estava sorrindo e com maior cara de sono que eu já tinha visto depois da do meu irmão quando dorme no sofá da sala assistindo desenho e a gente tenta acordá-lo. Ah, esqueci de mencionar que ele é sonâmbulo né. Pois é. Uma vez eu fui tentar chamá-lo, mas a minha reposta foi vê-lo levantando, olhando bem pra minha cara e deitando no sofá de novo. Ai como ele me irrita.

Assim que entramos no carro, a tortura começou: vi que a bateria do meu iPod estava fraca e a minha mãe pra ajudar colocou sertanejo (nada contra, mas não faz o meu estilo). Acabou que eu peguei no sono, o que é muito difícil, pois eu gosto de observar a paisagem da estrada.