Quem É Aquele? escrita por Vindalf
Notas iniciais do capítulo
O tempo passa
Quem é aquele 2
Da segunda vez que a menina viu o estranho, ele não era mais um estranho — e ela não era mais uma menina. Sua mãe morrera há mais de três invernos, e ela ajudava o pai a tocar a fazenda. Não tinha se casado porque não queria deixar o pai sozinho naquele lugar a leste das Montanhas Azuis.
Não eram muitos humanos que moravam tão a oeste. Por outro lado, se ela e o pai deixassem a fazenda para trás, o que fariam? Iriam para onde? Ela conhecia hobbits o suficiente para concordar com o ditado: “Nunca se aventure para o leste”. As Montanhas Sombrias deveriam ter aquele nome por algum motivo, não? Ela ouvia falar de ataques de trolls, goblins e orcs — como se eles já não tivessem problemas suficientes de raposas e lobos rondando a criação.
Na segunda vez que o anão esteve na fazenda, fazia tanto frio que ela teve pena do estranho e deixou-o colocar seu saco de dormir na frente da lareira, dentro da casa. Depois ela se corrigiu: não era um estranho — era Mestre Thorin.
Fez uma bebida quente para ele.
— Eu não me lembro de você — disse o anão, aceitando a caneca fumegante.
— Bom, eu me lembro — disse ela. — Eu era uma menina. Meu pai era jovem. Agora ele é um velho e você não mudou, Mestre Thorin.
Ele a encarou. — Anões envelhecem diferente de humanos. — Ergueu a xícara. — Esse leite... O que pôs nele? Especiarias? É diferente.
— Não, Mestre Thorin, é leite puro de cabra. Enche a barriga e aquece bem no inverno.
O anão assentiu, voltando ao assunto:
— Disse que me conhecia quando era menina.
— Você consertou a porteira. Antes disso, fez essa pulseira para minha mãe.
— Você a usa — observou ele.
— Minha mãe morreu — disse ela.
— Lamento. Todos perdemos alguém.
— Vou perder mais alguém em breve — disse a mulher. — Meu pai pode não aguentar o inverno.
— Ficará sozinha — observou o anão. — Não pensa em ir para uma cidade de homens?
Ela deu de ombros:
— Com os consertos que fizer, posso aguentar mais uns cinco invernos aqui. Depois terei que vender as vacas, as cabras, e aí não terei mais do que viver. Posso mesmo ser obrigada a morar numa cidade.
— Poderá se casar — observou Thorin. — Ter família.
— Não sou mais uma garotinha, Mestre Thorin. Homens querem mulheres jovens, que lhe deem filhos. Não arranjarei marido. Não terei família. Para não morrer de fome, serei obrigada a me sujeitar a muitas coisas. — Ela estremeceu. — Terei que me acostumar a elas.
Mestre Thorin tinha tirado seu cachimbo e fumava, de olho no fogo na lareira, como se seu pensamento estivesse distante. Depois de muito tempo, observou, sempre a olhar o fogo:
— A gente faz o que precisa fazer. Mas nunca se acostuma.
— É — fez ela. — Melhor não pensar naquilo que não se pode mudar. Bem, boa noite, Mestre Thorin.
O anão não respondeu e a mulher foi para junto de seu velho pai.
Mestre Thorin ficou duas luas com eles, consertando coisas, construindo outras. A mulher se maravilhou por ter um homem com quem repartir o trabalho pesado da fazenda, especialmente a criação. Embora ela não fosse menina, sua juventude passava rapidamente.
Ao fim de sua estada, ao ser pago, Mestre Thorin fez uma oferta à mulher. Ela não achou que ele falasse sério, mas prestou atenção aos detalhes. Mestre Thorin disse que ela podia pensar, e poderia procurá-lo, se aceitasse.
Ela não disse nem que sim nem que não. Mas ela tinha tempo. Ninguém sabia o que o futuro reservava.
Talvez, quem sabe, ela até terminasse aceitando a oferta.
continua...
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