Meu Doce (In)Desejado escrita por Buzaid


Capítulo 6
Capítulo 5




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    Carolina abriu os olhos assim que o primeiro raio de sol atravessou o fino linho de suas cortinas. Quetortura, pensou ao se revirar na cama. Puxou o lençol sobre o rosto e encolheu o corpo. Mesmo assim a luminosidade continuava a lhe incomodar. Nem mesmo a pilha de travesseiros que apoiou sobre os olhos ajudou, naquele momento nada poderia ajudar...

    Para a princesa ter de acordar era doloroso demais. Uma vez que aquilo significava que ela estava de volta à realidade. De volta à sua vida, agora, vazia....

    A imagem de Edward deixando seu quarto era mais do que dolorosa, já que ele estava deixando também de fazer parte de sua vida, mesmo que fosse por aquele momento. 

    Embora relutante a jovem resolveu que seria menos torturante ela se levantar do que continuar deita ali, no último lugar em que estivera com Edward antes deles romperem. Eram muitas memórias em um só lugar...

    Carolina ainda vestia o robe de seda púrpura, a cor dos Imperadores no antigo Egito. Lentamente ela caminhou até o banheiro, por um instante observou sua imagem refletida no espelho: seus cabelos arruivados estavam desalinhados caindo como uma cascata ao redor do seu rosto fino e oval, sua pele estava mais alva do que o comum enquanto ao redor de seus olhos azuis uma leve olheira podia ser notada. A princesa respirou fundo e abriu a torneira de sua banheira, depois voltou a se olhar no espelho ao som da água que caía. 

    Seus pensamentos, novamente, voavam longe. Melhor dizendo, voavam de volta para a noite anterior. Cada fala, cada olhar e cada gesto passavam como um filme dentro da cabeça da jovem. Ela tentava analisar e entender o comportamento de Edward e só o conseguia descrevê-lo com uma palavra: nobre. Não havia outra maneira de descrevê-lo senão aquela. Edward havia sido nobre ao sacrificar o seu coração por Carolina. Afinal, ele poderia muito bem ter aceitado a proposta da jovem de continuarem juntos mas ele preferiu pensar no bem da princesa e, infelizmente, acabou tomando a única atitude correta a ser tomada naquele momento: terminar seu relacionamento com ela.

    Carolina continuou de frente ao espelho com seu pensamento borbulhando em análises e pequenos filminhos da noite anterior. Um barulho, porém, a trouxe subitamente de volta à realidade.

    - Filha? - A voz aflita de Luzia ecoou vindo do quarto.

    - O que foi? - Carolina correu de encontro a mãe, temendo que algo tivesse acontecido.

    - Você já viu que horas são? - A figura da rainha estava desconfigurada pelo seu cabelo bagunçado e o rosto sem maquiagem. 

    - Nove horas. - A jovem respondeu ainda sem entender tamanho desespero de Luzia.

    - Exato, você está atrasada. - Luzia afirmou então ao levar suas mãos à cabeça. Carolina franziu o cenho por um momento tentando entender o que a mãe estava querendo dizer com "ela estar atrasada". Depois de alguns segundos a princesa arregalou os olhos lembrando-se do único filminho da noite anterior que ainda não havia lhe passado pela cabeça:

    "- Carolina, as aparências são tudo dentro de um relacionamento arranjado! - Albert exclamou como se aquilo fosse algum super comum. - Já está combinado com Victória que amanhã, logo cedo, você e Henry serão flagrados... - O rei ergueu os dedos fazendo o sinal de aspas ao pronunciar a palavra "flagrados". - ... tomando café da manhã juntos no Boulangerie. 

- Não consigo acreditar nisso! - Carolina sentia sua respiração ficar mais abafada. Luzia encarava a filha com uma certa desconfiança no olhar, sentia que ela estava lhe escondendo algo. - Eu não quero fingir que gosto desse homem, ele é terrível! - Confessou."

    - O café no Boulangerie! - Exclamou então.

    - Sim! - Luzia parecia desesperada. - Você tem exatamente 40 minutos para estar lá. 

    - 40 minutos! - Carolina repetiu em um cochicho. Como se falasse consigo mesma. Para a jovem estar atrasada não era de todo mal. Na verdade era até bom, talvez assim o café da manhã com Henry pudesse ser cancelado e remarcado para algum dia bem, bem distante.

    - Vamos! Se apresse! - Luzia bradou ao empurrar a filha para dentro do box. - Hoje nada de banheira, querida! - Completou ao fechar a torneira da banheira, que por quase não estava transbordada.

    Enquanto Carolina fingia apressar-se no chuveiro Luzia fora diretamente para o closet da filha. Procurou por alguma roupa casualmente elegante e despojada para um café da manhã no Boulangerie. Um vestido florido em tons pastéis de rosa e amarelo foi o escolhido pela rainha. Em seguida sapatilhas bege Tory Burch e jóias delicadas da Tiffany & Co. também foram separadas por Luzia.

    - Vamos Carolina! - Apressou a filha novamente. 

    A princesa saiu do chuveiro alguns minutos depois, sem alguma pressa. Começou o mesmo ritual de cremes e maquiagem que faria se tivesse 2 horas adiantada. Eram inúmeros produtos com finalidades diferentes que a jovem aplicava no rosto à passo de tartaruga. Chegava a ser ridícula a velocidade em que ela usava os cremes. 

Luzia, como qualquer mãe comum que conhece sua filha, notou o que Carolina estava tentando fazer. 

    - Filha! - Exclamou ao se aproximar de Carolina, que estava debruçada sobre a pia do banheiro aplicando um creme secante sobre uma espinha totalmente imperceptível.

    - Sim! - Carolina respondeu sem dar muita atenção à mãe.

    - Pode parar com esse teatro! - Luzia ordenou fazendo com que Carolina a encarasse pelo reflexo do espelho. - Eu já entendi o que você está tentando fazer, querida, e honestamente, nós duas sabemos que não dará certo!

    - Do que está falando? - Carolina franziu o cenho fingindo-se de desentendida.

    - Carol, pelo amor de Deus, você está enrolando de propósito para que seu encontro com Henry seja cancelado! - Luzia afirmou rapidamente. - Mas, entenda, que é inevitável que vocês saiam hoje. Se não for para o café, será para o almoço. E se não for para o almoço será então, para o jantar. Talvez até para um doce no meio da tarde... - Argumentou para um desanimo ainda maior de Carolina. 

    - Eu sei. - A jovem confessou. - E mamãe, eu achei que você era a única do meu lado nessa história toda, mas vejo que me enganei. - Luzia estava com os olhos arregalados em uma expressão surpresa.

    - Eu estou do seu lado, filha! - Contestou-a.

    - Não, não está. - Carolina descordou ainda com um tom casual. - Eu entendo que casamentos arranjados são comuns na realeza, mesmo em 2012. Concordo, também, que para o novo reino de Llyoal seja essencial um soberano do Sul e outro do Norte. - Explicava. Carolina agora estava com o corpo virado para a mãe ao invés de encará-la pelo reflexo do espelho. - Mas o que não entendo é essa farsa que estamos criando para o povo. Eles não são tolos. É óbvio que saberão que é um casamento arranjado, duvido que irão acreditar que Henry e eu estamos apaixonados. Entendo também que Victória e que o papai acham normal todo esse teatro mas... - Carolina fixou seu olhar dentro dos olhos da mãe. - ... eu nunca pensei que você fosse concordar com tudo isso. - Luzia sorriu e em seguida se aproximou alguns passos da filha.

    - Eu sei que um casamento arranjado, principalmente hoje em dia, é loucura. - Luzia disse tentando ser o mais clara possível. - E acredite que é doloroso ver uma filha sendo colocada em uma situação dessas, principalmente porque um casamento é importante dentro da vida de uma mulher. Mas filha, nós da realeza vivemos em função do povo e de seu bem. Estamos vulneráveis à sacrifícios como esse para que o povo fique feliz e em harmonia, coisa que era rara aqui em Llyoal do Sul. E você, mais do que ninguém, sabe disso. - Carolina concordou com a cabeça. - Agora que estamos vivendo, diariamente, uma melhora na vida de todos temos que zelar por isso. E, querida, como uma princesa chegou sua vez de contribuir com esse bem maior. Você não acha? - Carolina ficou parada por um instante absorvendo e digerindo o enorme discurso que sua mãe havia lhe dado. E por mais irritante que fosse, ela sabia e entendia as razões que Luzia tinha para apoiar aquela farsa de casamento com Henry Caldwell. Infelizmente, também, a farsa do casal apaixonado estava começando a lhe fazer sentido: um casamento arranjado era apenas um acordo político entre o Norte e o Sul e isso, talvez, fosse deixar o povo ainda mais em alerta. Contudo se o rei e a rainha estiverem apaixonados o perigo do Norte e do Sul romperem e Llyoal voltar a ficar dividida novamente era menor e quase nulo.

    - Eu acho. - Carolina disse então, sem alguma animação. - Bom, chega de papo porque estou muito atrasa. - Sorriu divertida, mostrando para a mãe que não estava mais magoada. 

    - Ótimo! - Luzia sorriu também.

    - Acho melhor até eu correr aqui no meu ritual dos cremes e da maquiagem. - Completou brincalhona.

    - Melhor ainda. - Luzia piscou para a filha.

    Carolina, por um milagre, conseguiu ficar impecavelmente pronta à tempo. E há exatos 15 minutos de seu falso encontro ela estava entrando na Mercedes preta que a levaria para o Boulangerie.

    - Boa sorte! - Luzia desejou à filha antes de vê-la partir.

    Carolina procurou não colocar muitas expectativas em seu encontro com Henry. Mesmo porque tinha a plena consciência que ele provavelmente acabaria em uma discussão. A jovem princesa procurou, também, manter seus pensamentos longe de Edward pois sabia que isso apenas atrapalharia seu dia...

Aos poucos a paisagem totalmente rural ia se urbanizando através da janela e logo Carolina estava no centro de Hallowstown, a única cidade llyonense que antes tinha uma parte pertencente à Llyoal do Sul e parte à Llyoal do Norte.

    O Boulangerie ficava em uma das ruas mais movimentadas da cidade, a Lords Champbell Road. Além de ser um dos melhores e mais elegantes lugares para se tomar café da manhã, o Boulangerie também era especialmente caro, não que isso fosse problema para os Lamont ou os Caldwell.

    A fachada do luxuoso restaurante era completamente dourada em um estilo provençal. Havia uma enorme vitrine de vidro, parte ocupada pelos pães e doces e parte mostrando o interior do local. Henry estava sentado próximo à essa vitrine, dando uma visão privilegiada para os paparazzi, que já faziam plantão do lado de fora. Carolina o avistou quando ainda estava dentro do carro... Ela respirou fundo procurando manter a calma.

    Assim que o carro estacionou na frente do Boulangerie os paparazzi começaram com sua chuva de flashes.

    - Que comece o show! - A princesa exclamou antes de descer da elegante Mercedes, trajando um vestido florido no corpo e um sorriso completamente falso no rosto...


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Notas finais do capítulo

E ai o que estão achando da história?



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