Apenas Um Sonho escrita por Vitor Marques


Capítulo 5
Minha melhor amiga


Notas iniciais do capítulo

Ia postar amanhã, mas ficou pronto hoje mesmo, então tá aí.



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Silêncio. A tristeza pairava sobre aquele ambiente e eu me sentia cada vez mais angustiada. Sthefanni me olhava tristemente e meus olhos estremeceram. Senti as lágrimas virem, mas tentei ser mais forte. Tentativa que foi em vão.

Aproximei-me dela e segurei a sua mão que estava trêmula. Eu não reconheci a minha amiga tão viva, tão alegre, tão cheia de si. Suspirei. Sentei-me na cama e a mãe dela disse com a voz chorosa:

– Ela... Ela está com câncer. – Suspiro. – Foi diagnosticado há três semanas. – Havia uma lágrima de sofrimento descendo pela sua face. Eu fiquei fitando-a e senti pena. O rosto da mãe da Sthefanni estava tão magro e pálido quanto o da filha, como se elas estivessem definhando juntas.

Minha cabeça ainda tentava conectar aquelas ideias, mas era impossível. O ambiente começou a pesar. Fiquei sem palavras, diante de toda aquela situação, perguntei:

– Qual é o tipo de câncer? – Eu não sabia muito bem sobre todos os tipos de câncer, mas alguns tinham uma grande chance de recuperação.

– A Sthefanni está com câncer na medula. – Quem me respondeu foi o pai, a mãe dela não havia aguentado o pranto e eu também estava prestes a chorar. – Não sabemos muito sobre o estado, apenas os novos exames poderão indicar...

Não aguentei mais a pressão daquele ambiente. Sem deixar o pai de Sthefanni concluir completamente a frase eu disparei:

– Preciso respirar. Vou embora e lá em casa eu penso melhor... Isso é, se eu conseguir pensar em alguma coisa... Eu... Eu não esperava...

Ele me olhou com os olhos lacrimosos e disse:

– Ninguém esperava isso, minha filha. Mas... Acontece. Se você quiser ir à sua casa, sinta-se a vontade... Acho que o que você podia fazer por ela, vindo até aqui, você já fez.

Virei-me então, indo em direção à porta, foi aí que a Sthefanni gritou:

–Espera! - Eu me virei surpresa e ela estava quase que sorrindo, mas o desgaste era maior e eu não sabia o tamanho esforço que ela estava fazendo para poder me falar aquelas palavras, - eu vou ficar bem, não se preocupe. Nossa relação não irá mudar. Nós seremos sempre melhores amigas, eu juro que eu vou lutar... – Suspiro, sua respiração estava ofegante demais e eu queria fazê-la parar, mas simplesmente deixei. – Eu irei viver com essa preocupação, mas eu vou me recuperar, eu juro.

Dei um sorriso para a minha amiga. Queria poder encorajá-la, queria poder dizer que correríamos juntas no parque, no entanto, tudo estava tão incerto. Ainda havia a suspeita se ela gostava ou não de Finn, isso realmente fazia meu coração ficar aflito.

Acenei para ela e continuei a andar, saí da casa dela e deixei que as lágrimas lavassem o meu rosto. Seria justo, agora que eu finalmente encontrei uma amiga, que ela se fosse? Pensei que não.

Enquanto eu corria, o vento batia no meu rosto levando as lágrimas para trás, o tom crepuscular do céu era triste. Triste e lindo. Sem saber o que pensar, sem saber muito bem o que fazer, eu parei na frente da minha casa e limpei as minhas lágrimas. Eu iria ajudar a Sthefanni.

Abri o portão da minha casa, limpei o meu rosto e entrei lentamente. Ao abrir a porta da sala, como sempre, vi meu irmão deitado no sofá. Minha mãe estava picando alguns tomates frescos e nem me percebeu. Ainda assim, disse um “oi” para algum ser daquela casa, ser esse que não fez questão nenhuma de me responder.

Subi até o meu quarto e decidi escrever. Quando as coisas vinham rápidas demais, quando eu não conseguia segurar meus pensamentos, bastava um lápis e um papel na minha mão, era assim que meus sentimentos fluíam. Escrevi tudo o que sentia naquele momento, meus desenhos nunca haviam sido tão nítidos.

Continuei a escrever, minhas angustias, meus medos, minhas alegras, por fim eu me dei conta. Tudo que eu estava sentindo eu descrevi da forma mais pura do mundo.*

As férias de inverno foram como as férias de verão. O tempo estava cinzento, muito cinzento. No entanto, diferente do verão, ora chovia, ora nevava. O que eu mais fazia naqueles dias de férias? Comia, Subia ao meu quarto e ficava olhando para o dia pela janela empoeirada do meu quarto. Não, não que eu fosse porca, como eu morava na zona rural, o acumulo de poeira da estrada fica incrustrado na janela. E o que aconteceu no dia seguinte? Comi, subi até o meu quarto e fiquei olhando pela janela. E no dia seguinte? A mesma coisa.

Nesses dias foi chegando umas das maiores festividades do ano: O Natal. Vieram nos visitar apenas três primos da cidade. Uma tem mais ou menos a minha idade, porém parece muito melhor do que eu em tudo. Ela é popular, legal, divertida, bonita e enfim, coisas que poderia listar por uma eternidade. Já a outra, sua “mami” como é chamada pela filha, é uma das melhores amigas da minha mãe. Tem lindos olhos castanhos assim como os cabelos. Sempre estava vestida com roupas claras e animadoras. Já o outro, é pai da família. Costumava ser amigo de meu pai, mas nunca me falou mais que isso. Estava vestido sempre em moletons escuros e sem vida, diferente da esposa.

Os três sentaram-se a mesa onde minha mãe deixou preparado um peru e frutas frescas. Em meio à conversa decidi dar uma volta pela casa. A decoração não mudou muito: apenas colocamos lantejoulas na fachada e na nossa pequena e singela árvore de natal que ficava ao lado do sofá, onde me sentei. Fiquei olhando despercebida para a parede, foi quando rolei os olhos para a mesinha e vi um celular jogado sobre ela. Fui pegar para devolver ao meu primo quando olhei uns dos ícones: e-mail.

Peguei o celular e entrei no meu quarto. Abri a tal pasta de e-mail e estava aberto na ala enviados. E o primeiro nome: Jéssica Parks. Já estava a ponto de ver o e-mail quando ouvi meu primo subindo e falando:

–Alguém viu meu celular? –os passos estavam chegando mais pertos a cada instante – achei que tinha largado em cima da mesa.

Ouvi o barulho da porta do meu quarto sendo aberta e sua imagem foi se revelando aos poucos:

–Luna, você viu meu celular? –perguntou-me olhando todos os cantos do meu quarto. Atitude estranha, porque ele entrou no meu quarto somente uma vez, quando chegou.

–Não vi não, primo. Você não se lembra de onde o deixou não? – Enquanto falava isso o celular já estava atrás de mim há tempos.

–Então ta, me ajude a achá-lo, por favor- disse-me virando-se e procurando novamente o celular.

–Tá bom! – respondi saindo do meu quarto e descendo as escadas – vou procurar lá em baixo.

Já estava na sala quando gritei:

–Achei! Ele estava no chão da sala, venha pegar.

Ele desceu então as escadas, e veio me agradecer:

–Obrigado priminha, mas onde ele estava? – perguntou-me curioso.

–Ali, no chão. – respondi apontando para o chão.

–Ah sim, não vou perder mais, obrigado de novo.

Ele saiu da sala e foi novamente para a cozinha, onde minha mãe estava dando altas gargalhadas com a sua melhor amiga e decidi voltar também, para não parecer uma antissocial até com a família.

A noite foi passando e eu fui entrando na conversa, aos poucos. Tudo o que acontecia eram piadas, agradecimentos, bebês, músicas, bebês, comida, músicas e bebês. De resto, o papo era bom e agradável. Não sabia que minha família era tão divertida assim, e perdemo-nos na hora, pois quando fomos ver já eram umas vinte e três horas e vinte e cinco minutos. Quem normalmente nos avisava sobre o horário era o Rowley, mas ele estava passando o natal com a namorada Joana.

Não demorou muito para virarmos a noite e trocarmos os presentes. Ganhei uma meia da minha mãe e fiquei feliz por ela ter lembrado de mim. Em contrapartida os gêmeos ganharam tudo que tinham direito. Coisas que não citarei aqui por motivos que bem... Você já deve imaginar.

Já era madrugada quando fomos dormir, ou melhor, quando minha mãe, minha prima “mami” e meu primo, porque eu e a minha prima “filha” ficamos conversando até amanhecer. Contei a ela sobre Finn, e ela contou-me sobre suas paixonites adolescentes. Fizemos as unhas, o cabelo, uma noite de pijama particular e quando eu acordei, ela já estava de pé “há anos”.

Passei o dia vinte e cinco de dezembro como no restante da noite passada. Conheci melhor minha prima e ela me conheceu melhor e ficamos amigas. Pena que tudo acabou muito rápido, quando ela foi embora às seis horas. Já na noite, nada de mais, fui dormir cedo para recuperar as forças.

*’*

Acordei e decidi então que eu iria visitar a Sthefanni. Da última vez eu havia ficado muito mal, tinha chorado e me preocupado muito. Esperava que agora eu estivesse melhor, muito melhor para lidar com ela naquela situação.

Cheguei e fui recebida da mesma forma que no outro dia. A diferença é que os pais dela estavam querendo reconstruir todo o chão “perdido”. Fui até o quarto dela, já estava decidida na minha escolha. Antes de começar a falar, reparei que ela estava um pouco melhor. Não muito, mas estava melhor.


– Sthefanni, eu gostaria de dizer que... – Ia continuar a falar, foi aí que ela me surpreendeu e começou falar tudo o que ela também estava sentindo.



– Não precisa dizer nada Luna. Eu quero que a nossa relação seja a mesma desde que te conheci. Quero que nossas conversas sejam as mesmas, desde que conversamos pela primeira vez. Quero que você seja você mesma comigo, assim como eu iria ser eu mesma com você. – Ela fez uma breve pausa, mas eu já podia sentir as lágrimas se formando nos meus olhos.- Essa doença não afetará na nossa amizade. Câncer é, sim, uma doença. E juntas vamos vencê-la. Quero contar com você Luna, eu preciso tanto da sua ajuda... – As lágrimas dela rolavam soltas pela sua face, eu também não pude mais segurar as minhas. - Venceremos porque somos guerreiras, porque somos amigas. – Arrepiei-me, nunca ninguém havia me dito aquilo, nunca daquela forma. - Porque nos divertimos, porque nos falamos, porque nos vemos, porque nos conhecemos. Mas principalmente, porque somos especiais. Assim como você é a pra mim e eu sei que sou pra você. – Pausa. Choro. Emoção. – Porque eu te amo Luna. Porque você é a minha melhor amiga.



Ela conseguiu expressar tudo o que um ser humano não consegue. Ela me apresentou o amor verdadeiro e eu também sentia isso por ela. Naquele momento não importava o passado, não importava o futuro. O que importava era estar ali, junto dela.



Quantas pessoas tem câncer hoje em dia? Não sei, nunca me perguntei. É tão engraçado que nunca notamos as pequenas grandes coisas da vida até elas ocorrerem com agente. Nunca vemos o pior lado, costumamos achar que vivemos pessimamente, sendo que no mundo há situações muito piores que a nossa.


Direcionei-me até ela e decidi fazer o que era certo.

Sentei-me ao lado dela e nos abraçamos até as nossas lágrimas secarem. Redobramos a nossa amizade. Ali, junto dela, eu não tinha medo, eu não tinha angústia, eu era feliz. As dúvidas haviam sumido. Mais tarde eu a questionaria, entretanto, naquele momento nada mais importava. Nunca deveria ter me afastado dela. Nunca deveria ter abandonado ela naquele momento, jamais deveria ter virado as costas pra ela e me arrependi. Abracei-a com mais força ainda e eu estava feliz. Éramos novamente melhores amigas.

Eu fiquei aquele dia inteiro com ela, conversando, ajudando, opinando e participando de suas decisões. Chegamos até a fazer uma pequena festa do pijama. Chamamos mais duas conhecidas de Sthefanni e a festinha começou.

Foi muito divertido para mim, pois nunca havia participado de uma festa do pijama e nunca havia tinha tido muitos contatos além de Sthefanni. Aquelas amigas sabiam realmente como animar, como festejar e eu me esforcei o máximo para ser a melhor amiga da Sthefanni.

Logo as outras duas foram embora e ficaram somente eu e Sthefanni, pois ela havia me convidado a dormir por lá mesmo, porque o último ônibus que passa por ali já se foi. Deitei no colchão ao lado de sua cama e quando eu já estava prestes a dormir, minha melhor amiga fez um pedido:

–Venha no ano novo, vou ficar esperando por você.

Rolei os olhos para ela e respondi.

–Claro que venho, pode ficar esperando.

Ela esboçou um lindo sorriso, idêntico ao que ela deu na primeira vez que nos vimos, e alguns segundos depois já estávamos dormindo, pois o dia foi muito cansativo.

No dia seguinte, voltei para casa extremamente feliz e aliviada com o acontecido. Era como se um peso houvesse sido liberado das minhas costas. Nunca havia tido uma amiga como ela e decidi enviar uma mensagem para ela.


28 de Dezembro de 2010


Para: Sthefanni

De: Luna


Olá Sthefanni, aqui é a Luna. Gostaria de dizer que as minhas férias estão desanimadas sem você. Você é e sempre será minha melhor amiga! Gostaria muito de estar com você agora. Assim que possível, eu irei até a sua casa para a gente fazer mais uma festa do pijama. Quando chegar aí, espero que esteja me esperando com o seu cão. Dê o nome que quiser para ele. Esse é o meu presente pra você, por ser minha companheira todo esse tempo. No ano novo estarei aí, não pense que eu me esqueci.


P.s.: Te amo.


Sim, eu havia dado um cãozinho para ela. Ela sempre quis um cão como seu animal de estimação e eu achei que sua família não fosse recusar. Por falar nisso, ela estava muito melhor. Desci correndo as escadas e fui colocar a carta no correio, minha mãe havia meio que me obrigado a passar o dia em casa, então aquela carta seria o nosso meio de comunicação. Aproveitei para colocar também a carteira de vacinação do Bob – nome provisório do cachorro – e um desenho que eu havia feito de nós duas.


*’*

À noite, quando eu entrei no computador vi que o Finn havia me adicionado em todas as redes sociais. Pensei que talvez eu tivesse alguma chance com ele. Apenas pensei, acho que eu estava, na verdade, sonhando com uma possibilidade impossível. E na verdade, estava mesmo. Era dia trinta de dezembro e sonhei que Finn havia me pedido em amizade em todas as redes sociais existentes.

Levantei-me da cama ainda pensando nisso, e vi um papel que coloquei na parede, onde estava escrito: “Lembre-se de passar o ano novo na casa da Sthefanni”.

Tomei um banho, vesti uma blusa branca, um casaco, uma calça jeans e all stars. Almocei, peguei minhas coisas e passei maquiagem.

Ao abrir o portão amarelo da minha casa, vi Finn passando no ônibus, e para não perder a chance, acenei para o motorista, que parou e eu subi.

Fiz cara de despercebida e rolei os olhos por todo ônibus. Vi lá atrás uma mão se estender, fazendo movimento de “venha”. Entrei no grande corredor e olhei para os lados. Cheguei até onde a mão se estendia e vi Finn esboçando um grande sorriso.

Sentei-me ao seu lado e agradeci:

–Obrigado por guardar lugar pra mim, foi muita gentileza sua. – retribui também com meu sorriso.

–Por nada... Masaonde você vai? – perguntou-me.

–Vou passar o réveillon na casa de Sthefanni, e você? – retrucou, ainda com o sorriso persistente.

–Nossa, que coincidência. Eu estou indo lá na casa dela, para desejar-lhe Feliz natal atrasado e feliz ano novo. Fiquei sabendo seu estado.

–Sim, muito triste. Mas estou torcendo pelas melhoras.

Não demorou mais dois minutos e chegamos até lá. Parece que o ônibus voou.

Chegando lá vi Finn tirar um presente do bolso.

–É um brinco. Eu sei que ela gosta. – informou-me dando um sorrisinho cafajeste.

Apenas sorri e ela veio nos atender:

–Que surpresa! Os dois juntos!

–Sim – respondi um pouco irônica. – vou subir pra dar um oi pra sua mãe Sthefanni, fique a vontade. – Na verdade, eu só não queria participar daquela cena, porque certamente não iria gostar.

–Ok, vá lá amiga. – disse piscando um olho para mim, discretamente.

Fui até a cozinha, e tentei não ouvir nada do papo.

P.O.V Sthefanni

Droga! Será que Luna já sabe que conheço o Finn já faz um tempo? Devia ter contado tudo pra ela. E será que ela vai ficar com ciúmes? Finn falava várias coisas como Feliz natal, feliz ano novo, me abraçava, me beijava e entregou-me um presente. Abri submersa e ele perguntou-me:

–E então, gostou? – Foi só nessa hora que vi os lindos brincos que ganhei.

–Sim, são lindos.

Ele puxou vários assuntos, mas não continuei. Ficou lá por mais ou menos trinta minutos, até que se despediu me abraçando e me beijando:

–Fale com Luna que eu já estou indo. Ela sumiu.

–Ok, pode deixar que eu falo com ela.

Ele saiu e eu chamei Luna novamente para sala. Ela chegou rapidamente perguntando-me sobre ele:

–E então? Ele falou alguma coisa de mim?

–Não, mas também não perguntei. Ele puxou os assuntos, mas eu não quis continuar, porque sei que você ia ficar muito chateada comigo, e enfim, eu não quero isso.

Ela fez uma cara ruim, mas se conformou. Já ia explicar sobre as coisas que eu sei do Finn, mas ela foi mais rápida:

–Não se preocupe amiga. Vamos deixar essa conversa para outro dia, sei que você tem seus motivos de não ter me falado.

–Ainda bem que você me entende. Só você mesmo para isso. Te amo.

Ela deu um sorriso e curtimos a tarde toda, vendo filmes e fazendo coisas de adolescentes. Num certo momento, eu apareci com as mãos cheias de esmaltes e maquiagem e ela ficou surpresa. Resumindo, foi a melhor tarde que eu já passei com ela. A noite foi chegando de mansinho e nós duas nos preparamos para uma grande celebração. A mesa champanhe, vinho, uvas e tudo de direito. Rapidamente, a virada foi chegando. Ficamos na varanda e vimos os fogos abraçadas. Um grande mosaico de cores fortes e vibrantes como amarelo, verde, azul e vermelho decoraram os céus, indicando o novo ano que chega. Dois mil e onze, um ano que espero muitas coisas para minha vida. Foram quinze minutos de linda paisagem, linda beleza. Ao acabar a apresentação, fogos dourados indicaram fartura e brilho para todos no ano que começou. Neste momento, olhamos uma para outra e sorrimos agradavelmente dizendo coisas como "Feliz Ano Novo" "Que tudo de bom aconteça na sua vida este ano" "Que você seja feliz", dando boas intenções. Foi um dia especial, e agora posso ter certeza do quão forte é a nossa amizade, e o quão forte ela se manterá por tempos.

Meus parentes ficaram se divertindo a noite toda. Ou melhor, quase se divertindo, porque não esqueceram nenhum segundo do meu câncer. Já em contrapartida, eu e Luna curtimos o dia como se nada tivesse acontecido, e como se estivesse tudo bem. Porém, esse é o pensamento que quero considerar enquanto estiver assim: que estou bem e viva, e isso me faz continuar de pé.

Acordamos no outro dia lá pela tarde, quando ela foi embora, para passar o primeiro dia do ano com sua família.


P.O.V Luna


O dia com Sthefanni foi ótimo, um dos melhores. Deixei a história do Finn de lado, porque era um dia de festa, comemoração.

Já estava subindo as escadas da minha casa quando fui surpreendida por uma visita dos amigos do Rowley. Todos me olharam com fome, como se eu fosse um pedaço de carne. Apenas subi para meu quarto e esqueci que eles existiam.

*’*

Meu aniversário seria dali a três semanas. Esperei que a minha mãe fizesse uma surpresa para mim, ou que pelo menos ela e o Rowley se lembrassem. Eu era diferente da maioria das pessoas. Como nunca tive a atenção de minha mãe, ela nunca se lembrava de organizar as minhas festas. Cada vez mais eu ficava apreensiva.

Levantei-me e fui até a cozinha tomar uma água. Quando voltei, escutei o meu irmão Rowley falando algumas coisas no telefone. Felizmente, seus amigos já tinham ido embora. Não consegui muito bem escutar o que ele estava falando, mas assim que ele me viu ele desligou o telefone e eu fiquei alerta. Estava esperando uma nova chance para escutar o que ele tanto falava no telefone.

Decidi então que não voltaria para o meu quarto e fiquei no sofá, esperando uma nova oportunidade de escutar algo. Acho que ele percebeu e foi passar dois dias na casa da mãe de seu filho. Havia algo escondido que eu precisava saber. Algo muito ruim sobre ele, ou sobre a garota. Arriscava, até mesmo, sobre o bebê que estava por vir.

Fiz as contas e cheguei a conclusão de que a gestação completaria quatro meses na semana seguinte. Até hoje, a garota estava disfarçando a barriga com batas e vestidos feitos especialmente para isso. Havia um grande mistério em volta disso que eu ansiava descobrir. Talvez fosse apenas uma ideia, sem nenhum fundamento da minha parte, mas preferia saber mais sobre isso.

Fiquei imaginando algum plano que poderia me deixar sozinha com ele, em algum momento do dia a minha mãe com certeza não estaria em casa. O engraçado é que justamente naquela semana ela não arredava os pés de casa, por isso decidi arrumar um pretexto para que minha mãe os meus outros irmãos saíssem de casa. Meus pensamentos estavam borbulhando na mente, foi aí que a ideia chegou.

Depois de assistir um comercial e ficar com a cabeça doendo de tanto pensar, cheguei ao que na minha mente, poderia ser uma possibilidade de distrai-la.

– Mãe, andei pesquisando em alguns folhetos de supermercado e vi que as fraldas e itens de bebês estão com um grande desconto. – O comercial anunciava que a promoção era de 25%, apesar de não ser um desconto tão grande, para minha mãe já valia muito a pena.

– Onde, filha? – Perguntou-me ela já juntando as suas bolsas e chamando os gêmeos com um grande grito. Mania absurda, já que eles não entendiam praticamente nada sobre isso.

–No supermercado que você costuma ir, aquele que fica no outro lado da cidade... – Eu não era muito boa em geografia e coordenada geográfica.

– Aquele que eu faço compras mensalmente? – Eu nem sabia em qual supermercado ela fazia as compras mensalmente, mas decidi mentir dizendo que era aquele mesmo.

– Sim, - assim que ela bateu a porta de casa, caminhando até o ponto de ônibus e completei vagamente... – eu acho.


Como sempre, ela nem me agradeceu. Em poucos minutos estaria lá, compraria presentes para os gêmeos e traria algumas coisas como bolacha de água e sal para mim e o Rowley. Por falar nele, eu finalmente havia conseguido o que eu queria. Estava sozinha com ela e ele nem havia percebido que mamãe havia saído.


Subi as escadas com cautela, até chegar ao seu quarto e ouvi a sua voz dizendo:

– Espere um pouco, vou ver se tem alguém me espionando. – Ele abriu a porta do quarto e colocou a sua cabeça para fora.

Como eu não sabia o que fazer, escondi-me atrás da porta do meu quarto rapidamente e ele nem percebeu a movimentação. Passou então a caminhar pela casa e como não achou ninguém fechou a porta do seu quarto e pelo barulho de molas, jurei que ele havia se deitado no seu colchão desgastado.

Após se deitar ele pegou o telefone e falou:

– Não tem ninguém. Eu vou colocar no vivo-a-voz para poder entender melhor. – Disse e apertou a tecla.

Era a minha chance. Cheguei mais perto da porta para ver se conseguia escutar alguma coisa e escutei. Escutei-o andando de um lado para o outro e com a respiração ofegante. Não consegui identificar o que ele falava, mas por fim eu escutei a resposta de uma mulher cuja voz eu desconhecia.

–Cuidado, isso pode dar cadeia, seja cuidadoso na hora de falar isso pra ela.

Não consegui escutar o resto direito, minha posição estava confortável, mas a audição está péssima. Comecei então a procurar uma posição que me permitisse escutar direito.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo enfim, tá emocionante. Quando eu escrevi ele eu me arrepiei todo, e espero q vcs tbm se arrepiem. Esse é capítulo que merece mais reviews. Bjão