Apenas Um Sonho escrita por Vitor Marques


Capítulo 16
O despertar de uma flor


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas ♥ Primeiramente gostaria de pedir desculpas a todos, pois demorei 3 semanas pra postar. Saibam que não é atoa, é porque o Nyah estava em manutenção e só voltou essa sexta, e achei melhor postar hoje, no domingo. Bom, gostaria de dizer que esse capítulo digamos que é um dos auges, ok? Boa leitura e nos vemos nas notas finais.



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Que droga! Enquanto minha amiga morria a minha sobrinha nascia.

— Já estou indo aí! — Respondi, lancei um último olhar à Sthefanni e vi seus olhos já cheios de lágrimas.

Desliguei o telefone e fui apanhar as minhas coisas, estava terminando de arrumar a minha bolsa quando a mãe de Sthefanni me chamou, vi as lágrimas nos seus olhos e o meu coração começou a bater aceleradamente.

— Luna... — sua voz estava fraca, quase um sussurro. — A Sthefanni... – Percebi que era doloroso para ela falar o nome da filha. As lágrimas escorriam vagarosamente pelo rosto da mãe da minha amiga. — Ela fechou os olhos e não está mais respirando. Eu... Eu não consigo mais sentir o coração dela. — Sua voz começou a ficar trêmula e rápida. O desespero dela era visível. — A minha filha morreu! Morreu! Morreu! — Berrou tresloucada.

Eu tinha medo. Muito medo. As cortinas cinza não deixavam a luz entrar, o ambiente era escuro e triste. Eu não conseguia me manter em pé e tive que me apoiar em uma cadeira. A mãe de Sthefanni berrou, berrou e eu não conseguia me mover.

“Uma nova estrela brilhante, viva e pura, agora brilha no céu”, foi o que eu consegui pensar.

— Como assim ela morreu? — Perguntei sem nenhuma curiosidade, o abalo fora maior que tudo.

— Ela já não respira mais. — Disse calmamente, — suas pálpebras fecharam e o coração não está mais batendo. — Seu timbre foi aumentando e o ritmo do meu coração também. — Ela morreu! — Disse enquanto pegava o telefone, provavelmente ligaria para o hospital.

Não sei exatamente em que momento eu comecei a despertar. Só sei que tudo começou a ganhar uma cara que, no fundo, eu já conhecia, mas havia esquecido como era. Comecei a despertar do sono estéril que, com suas mãos feitas de medo e neblina, fez minha alma calar. E foi então que comecei a ouvir o canto de força e ternura que a vida tem.

Não sei exatamente em que momento eu comecei a despertar. Só sei que ninguém começa a despertar antes do instante em que algo em nós consegue deixar à mostra o truque que o medo faz. Só então a gente começa, devagarzinho, para não assustar o medo, a refazer o caminho que nos leva a parir estrelas por dentro e a querer presentear o mundo com o brilho do riso que elas cantam. Só então a gente começa a entender o que é esse sol que mora no coração de todas as coisas. Não importa com que roupa elas se vistam: ele está lá.

Não sei exatamente em que momento eu comecei a despertar. Só sei que comecei a lembrar de onde é o céu e a perceber que o inferno é onde a gente mora quando tudo é sono. Comecei a sair dos meus desertos. E a olhar, ainda que timidamente, para todas as miragens, sem tanto desprezo, entendendo que havia um motivo para que elas estivessem exatamente onde as coloquei. Nenhum livro, nenhum sábio, nada poderia me ensinar o que cada uma me trouxe e o que, com o passar do tempo, continuo aprendendo com elas. Dizem que só é possível entendermos alguns pedaços da vida olhando para eles em retrospectiva. Acho que é verdade.

Não sei exatamente em que momento eu comecei a despertar. Só sei que comecei a compreender o respeito e a reverência que a experiência humana merece. A me dar conta de delícias que passaram despercebidas durante um sono inteiro. E a lembrar do que estou fazendo aqui. Ainda que eu não faça. Ainda que os vícios que o sono deixou costumem me atrapalhar. Ainda que, de vez em quando, finja continuar dormindo. Mas não tenho mais tanta pressa. Comecei a aprender a ser mais gentil com o meu passo. Afinal, não há lugar algum para chegar além de mim. Eu sou a viajante e a viagem.

Não sei exatamente em que momento eu comecei a despertar. Só sei que comecei a querer brincar, com uma percepção mais nítida do que é o brinquedo, mas também com um olhar mais puro para o que é o prazer. A ouvir o chamado da minha alma e a querer desenhar uma vida que passe por ele. A assumir a intenção de acordar a cada manhã sabendo para o quê estou levantando e comprometida com isso, seja lá o que isso for, porque, definitivamente, cansei de perambular pelos dias sem um compromisso genuíno. E comecei a gritar por liberdade de uma forma que me surpreendeu. Antes eu também gritava, mas o medo sufocava o grito para que eu não me desse conta do quanto estava presa.

Não sei exatamente em que momento eu comecei a despertar. Só sei que comecei a desejar menos entender de onde vim e a desejar mais aprender a estar aqui a cada agora. Só sei que descobri que a solidão é estar longe da própria alma. Que ninguém pode nos ferir sem a nossa cumplicidade. Que, sem que a gente perceba, estamos o tempo todo criando o que vivemos. Que o nosso menor gesto toca toda a vida porque nada está separado. Que a fé é uma palavra curta que arrumamos para denominar essa amplidão que é o nosso próprio poder.

Não sei exatamente em que momento eu comecei a despertar. Só sei que não importam todos os rabiscos que já fizemos nem todos os papéis amassados na lixeira, porque todo texto bom de ser lido antes foi rascunho. E, por mais belo que seja, é natural que, ao relê-lo, percebamos uma palavra para ser acrescentada, trocada, excluída. A ausência de uma vírgula. A necessidade de um ponto. Uma interrogação que surge de repente. Viver é refazer o próprio texto muitas, incontáveis, vezes. (Ana Jácomo)

Foi algo inimaginável, esse sentimento, ela fala, era tudo tão estranho, tão complexo, tão simples. Essa narrativa me dominava por completa. Senti-me num caleidoscópio. Não sei o que isso significa pra mim, só sei que várias imagens passaram pela minha cabeça:

Eu estava sentada numa cadeira numa sala totalmente branca. Minhas roupas eram escuras e Finn entrou pela porta, com roupas normais. Ele então veio até mim e me deu um abraço.

— Luna, que bom que você está aqui! Não sabe o quanto eu esperei por esse abraço. — falou e eu sorri, levantando da cadeira, me sentindo muito cansada.

— Finn, você queria me ver? Que honra! — respondi. Apesar de meu corpo estar pedindo por um descanso, eu queria incansavelmente aqueles lábios grudados nos meus. Acho que por isso eu meio que me joguei nos seus braços.

— Tudo bem, Lu? — eu não sabia que eu tinha um apelido que ele fez pra mim. — Você quer alguma coisa?

— Não, Finn, estou bem, pode deixar. — respondi, mas não consegui me manter forte por mais tempo.

Ele me segurou e aproximou seu rosto ao meu. Foi bom sentir o seu calor, chocando com o meu. Seu corpo chocando com o meu, e seus lábios chocando com os meus. Nossas línguas dançaram em sincronia. Seus braços me seguraram com uma força que me dava segurança. Foi um dos melhores momentos da minha vida.... olhar nos seus olhos e passar meus braços pelo seu pescoço.

Senti os meus olhos serem fechados contra a minha vontade. Quando consegui abri-los eu estava numa praia ao lado da minha mãe. Nossas roupas eram diferentes, eram brancas e de algodão.

— Segure filha, são todos seus. — Disse-me entregando uma linha que amarrava vários balões das mais variadas cores.

— Mãe. O que significa isso? — Disse olhando para o mar. — Onde estamos e o que significa tudo isso? — Indaguei e ela pareceu me ignorar.

Começou a caminhar e eu a segui. A praia estava repleta de passos estranhos, o sol estava alto e uma brisa refrescava o local. Eu nunca vira o céu tão azul quanto vi naquele momento e procurei guardar a imagem na minha memória.

— Olhe ao redor, filha. — Disse minha mãe extremamente calma. — Estamos no infinito. — Falou respondendo a minha segunda pergunta. Minhas mãos começaram a formigar, depois meus braços e o formigamento foi tomando conta do meu corpo todo. Foi nesse momento que eu parei de controlar minhas ações e meus movimentos. Foi como se eu estivesse em “terceira pessoa” e apenas assistisse a minha atuação.

— Espera aí, mãe. O nome da praia é Infinito? — Perguntei. Ela não me respondeu, apenas lançou um sorriso. Perguntei novamente... — O que estamos fazendo aqui?

— Estamos despertando. — Respondeu.

— Como assim despertando? — Aquilo começava a dar um nó na minha cabeça. Um balão se soltou da minha mãe e ficou parado na minha frente, nada parecido com a vida real. E olha que eu não uso drogas.

— Observe este balão. – Disse.

O balão mostrava algumas imagens minhas, quando pequena. Todas as minhas peraltices, minhas caretas, minhas poses. Olhei para minha mãe que estava com um lindo sorriso estampado no rosto.

— Essa era você ainda pequena. No tempo em que ainda era inocente de tudo o que fazia, de todos os seus atos. — Vi um brilho nos seus olhos.

Eu sorri também e vi que mais um balão havia se escapado da minha mão.

Esse mostrava imagens de mim quando estava com aproximadamente quatro anos. Eu era esperta e adorava brincar com as roupas da minha mãe. Era estranho se sentir observando aquilo que estava se observando, mas preferi não falar.

— Viu como você se dava bem com as minhas roupas? — Disse minha mãe relembrando aqueles momentos e colocando a mão no meu ombro. Apenas concordei com a cabeça.

Outro balão se soltou da minha mão e me mostrou com aproximadamente 7, 10 e 13 anos. Em todos eles, mostrou uma menina solitária, sem amigos. Minha mãe se conteve em não dizer nada, já que também não foi uma boa mãe nesse período.

Em seguida, outro balão de desprendeu e me mostrou com amigos, como estou atualmente. Mostrou tudo o que eu já contei... Quando descobri o câncer de Sthefanni... Meus sentimentos pelo Finn... Minha amizade com Gerald... Minha inimizade com Mary.

Todos os balões então se fundiram em um só e mostrou apenas uma imagem minha.

— Viu filha... Isso é tudo o que você já viveu na vida. Sei que em algumas partes não fui uma boa mãe, e estou aqui agora para me desculpar e prometer que tudo vai mudar. — minha mãe afirmou.

— Claro, mãe, eu acredito.

Ela me deu um forte um abraço.

Dentre as várias coisas que senti, a mais presente foi o verdadeiro amor. Minha mãe e eu numa praia deserta, andando sem perceber, enquanto vários balões contavam minha história.

O dia estava lindo. Os pássaros cantavam em perfeita sintonia, o pôr-do-sol estava lindo e as águas estavam banhando meus pés. A brisa marinha balançava o meu cabelo e vestido branco balançava harmoniosamente com os meus passos.

No céu estava o dizer: “O despertar de uma flor” em dourado, e observando esse lindo horizonte, eu tropecei numa garrafa com um papel em seu interior.

Peguei os papéis e comecei a ler. Estava escrito o seguinte:

“Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.

Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo..."

"Se as coisas são inatingíveis... Ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A mágica presença das estrelas!"

"Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro à rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...

Mario Quintana"

— Mãe, olha o que eu achei. — falei correndo até onde minha mãe estava.

— Sim, filha. Foi Deus que escreveu isso para você. Agora só falta você interpretar.

— Como assim interpretar? — perguntei.

— Simples... Faça o que você sempre quis: acorde. Acorda desse sonho que te prende a uma realidade que você certamente não gosta. A realidade do desespero, da falta do amor. Viva uma nova face, um novo sonho, um sonho verdadeiro. — deu uma pausa. — Sabe filha, eu estou aqui para um propósito. Na verdade, desde quando nascemos, temos um propósito a cumprir. O meu é te encaminhar sempre para o melhor e estou cumprindo isso agora, agora é a sua vez de brilhar como fogos de artifícios. É a sua vez de aceitar, pois você nasceu assim, é tudo predestinado, é preciso aceitar. — falou.

— Mas mãe, eu já aceitei ser quem eu sou. — afirmei e ela deu um leve sorriso.

— Não filha, você não aceitou. Você somente acha que já aceitou, mas está enganada. Você não é assim Luna, você é diferente. É feliz. É viva. Deixe a luz entrar, viva incondicionalmente seus sonhos para ser feliz. Somente isso é necessário.

A imagem da linda praia com o céu decorado com letras douradas rapidamente se transformou em um quarto de hospital, repleto de pessoas. Todos me olhavam com desprezo, com pena. As cortinas eram cinza, impediam a claridade do lugar. Os aparelhos todos ligados.

Dei um leve suspiro e os rostos se transformaram instantaneamente.

—Luna, você acordou.

Eu acordei, e vou brilhar como fogos de artifício.


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Notas finais do capítulo

Então, o capítulo é o menos até hoje, mas depois que vocês leram já descobriram o porquê, não é? O capítulo ainda não foi betado por isso desculpe os errinhos. Não se esqueça de comentar também, ok? Estou esperando novos leitores e novos comentários com esse capítulo. Gostaria de agradecer também pelas 3 recomendações, 6 favorites, 19 pessoas acompanhando e os 106 comentários. Sem vocês eu não seria nada. E mais uma coisinha, quero que vocês deem sugestões nos comentários também, pois são super bem-vindas, ok? Beijo e até o próximo capítulo.