O Choro Das Ninfas escrita por Pessoana33


Capítulo 18
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Novo capítulo, ohye.
Boa Leitura :))



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Juliette

Observo o dia frio pela janela, mas eu sou mais fria que este dia. Meu coração é um bloco de gelo, meus olhos são nuvens e minhas lágrimas são chuva, e dentro de mim há um vendável que devora tudo de bom que eu possuo. Não me resta nada além da ilusão de que um dia serei livre. Mas como eu ouso pensar na liberdade, enquanto estou fechada neste quarto que cheira a passado?

Warner enclausurou-me dentro destas quatro paredes desgastadas pelo tempo. Talvez eu faça parte deste quarto. Talvez eu seja uma peça feia que decora esta linda prisão.

E serei sempre um pássaro de asas quebradas, e nunca serei o pássaro desenhado do quadro, porque estou presa em meu destino.

Serei um brinquedo, não de trapo ou de plástico mas de carne e osso.

Warner o que ele fará comigo? Posso imaginar tantos terrores em minha cabeça. Vejo suas mãos em mim, elas passeiam selvaticamente pelo meu corpo como da última vez. Sinto dor por onde elas passam. Meu grito é bafado por sua boca. Seu corpo esmaga o meu sem piedade. E esse pensamento me deixa agoniada. Cheia de medo. Medo pelo meu corpo que pode ser invadido e explorado.

Quando vivia no mil noites, ouvira histórias de meninas que foram invadidas, estragadas, quebradas, por homens sem nome. Eu vi-as elas a chorar pelos cantos, como se as lágrimas pudessem apagar sua vergonha. Elas não sentiam dor pelos seus corpos machucados, mas por aquilo que elas perderam, sua inocência. Deixaram de ser meninas antes do tempo. Seus rostos mudaram, tornaram-se rostos mortos, e seus corpos caminhavam sem alma. Elas eram marionetas sem cordas. E pela calada da noite eu ouvira inúmeros gritos que queimavam em meus ouvidos. Eu não podia fazer nada por elas, então cobria os meus ouvidos e desejava que aquilo termina-se rápido.

Sentia-me sortuda porque nenhum homem podia-me tocar, eu sei que era errado sentir-me desse jeito quando tinha tantas outras meninas que sofriam por minha vez. Agora sou castigada, e agora é a minha vez de sofrer.

Preferia ter morrido, mas Warner não me deixou. Até isso ele me negou. Ele não me salvou porque era coisa certa a fazer, há um motivo por ele ter feito tal coisa, e único motivo que me passa pela cabeça é dele me possuir.

Eu quero fugir ou morrer. Mas fugir parece impossível, visto que eu estou trancada aqui dentro, e eu não sei há quantos dias. Warner nunca mais apareceu, e eu sinto um profundo alívio por isso. O único que entra aqui dentro é um menino de cabelos loiro e de olhos escuros. Ele disse que se chamava James. Todos os dias de amanhã á noite ele entra dentro do quarto com uma bandeja cheia deliciosas iguarias, mas eu mal toco nelas, porque sempre que uma colherada enche minha boca, eu vejo rosto Warner e penso no que ele pode fazer comigo, e meu estômago revira.

Há noite, eu não consigo fechar os olhos e dormir, porque eu não sei quando é que ele vai entrar pela aquela porta, e o medo vence o sono.

Olho para janela, e eu penso na fuga, mas é uma fuga falhada. Mesmo que eu consiga sair dos domínios de Warner, eu não tenho por onde ir, e também não sei que horrores espreitam lá fora, porque eu sempre estive encarcerada, e vivi dos horrores de dentro e não os de fora.

Ouço um barulho e meus olhos correm até a fonte do som, e eu vejo o pequeno menino que parece-me familiar ao mesmo tempo não, sentado na cama. Como é que ele entrou aqui dentro se a porta está trancada.

Ele sorri e parece que o sorriso nunca deixa o seu rosto.

– Como é que conseguiste entrar aqui dentro? – E quebro silêncio de há muitos dias.

O menino não fala. Será que ele não consegue falar? Ele levanta-se, vai até a prateleira abarrotada de livros. Retira um livro pesado de capa marrom, e dentro do livro surge uma chave dourada. Ele dá-me a chave, e só tenho vontade chorar de alegria. Pego na chave, enfio na fechadura, e porta abre.

O menino é o primeiro a sair e eu o sigo, e tento silenciar os meus passos.

Entramos dentro de um corredor cheio de quadros antigos. O corredor é longo e velho, com uma tapeçaria vermelha estendida no chão, os móveis são bem antigos, e as estátuas que eles sustentam são estranhas, são várias cabeças de mulheres de pedra, e num canto há uma jarra de flores murchas. Parece que o tempo parou por aqui.

O menino sorridente pega na minha mão, e sua mão é gelada como se ele tivesse brincado na neve sem luvas.

Continuamos a caminhar pelo corredor que não tem fim. Até que surge um lance de escadas de madeira. Descemos as escadas silenciosamente. E não há nenhum soldado em nosso caminho, começo achar que nesta casa não há ninguém, e é nesse momento que chega a voz Warner até nós. Fico congelada, e o aperto do menino torna-se mais firme. Descongelo e tento arrastar o menino comigo, mas ele permanece quieto como se ele não quisesse fugir deste lugar.

– Temos sair daqui.- Sussurro.

O menino move cabeça. Ele não quer fugir daqui, e também não quer soltar a minha mão. Paramos em frente a uma porta ante aberta. Pela fresta consigo ver Warner sentado num confortável sofá de veludo, há um soldado em pé ao seu lado, e um homem vestido de preto que não se parece nada com um soldado parece em meu ângulo de visão, ele enche o copo de Warner. O menino faz um som estranho como se ele quisesse falar, mas nenhuma palavra forma-se em sua boca. Ele aponta para o copo na mão de Warner. Há algo dentro da bebida dele. Ele leva o copo á boca, e eu corro até ele sem se quer pensar. Pego no copo da sua mão e atiro-o para o chão, e o copo estilhaça-se em milhares de cacos.

– Como é conseguiste sair do teu quarto? – Ele berra, e eu sinto-me pequena. – Responde quando estou a falar contigo. – Ele está furioso comigo.

Aquele não é o meu quarto, é de alguém mais, mas não meu.

– Juliette, eu estou a perder a paciência contigo.- Sua voz é profunda e afiada. Ele agarra no meu braço, e eu sinto cada um dos seus dedos pousados em minha pele.

– Senhor Warner, a bebida tem um aroma estranho.- Diz o soldado enquanto estuda os mil pedacinhos de vidro.- Acho que a bebida estava envenenada.

O homem vestido de preto tenta fugir, mas o soldado é mais rápido do que ele.

– Eu nem se quer posso confiar no meu pessoal mais antigo. Leva-o para o interrogatório, soldado Nakamura. – Ele fala com desprezo.

O soldado segue as ordens do seu líder, mas antes de sair ele olha para mim, e há algo mais em seu olhar. Reconhecimento. Estranho eu também o reconheço, mas de onde?

– Como sabias que a bebia estava envenenada?- O olhar de Warner fica preso no meu.

Olho para o menino, mas ele sumiu.

– Eu achei estranho o jeito como ele encheu o copo… suas mãos tremiam.- Minto.

– E porquê, que em vez de fugires, salvastes o homem que tentaste matar há uns dias atrás?

– Não sei.- Na verdade eu não entendo o porquê. Se ele morresse eu poderia fugir, mas uma parte de mim apavorou-se quando percebeu que ele estava em perigo. O que há de errado comigo?

Ele solta o meu braço, e sorri.

– Eu divirto-me contigo, Juliette.- Ele sussurra as palavras bem perto da minha boca, e uma chama inflama dentro de mim.

Corro até a porta, mas como sempre a porta está trancada. Ele aproxima-se por trás de mim, e eu sinto o calor do seu corpo, e sua respiração abrasadora em meus cabelos. Ele coloca sua mão por cima da minha mão que segura a maçaneta, e destranca. Afasta cuidadosamente o meu cabelo perto do meu pescoço, e eu sinto o toque dos seus lábios.

Ele abre a porta e murmura por baixo da minha orelha: - Podes fugir de mim.

Fujo do calor do seu corpo e afundo na chuva fria.

O meu coração derrete, e canta uma melodia violenta que eu não entendo. No meu estômago há milhares de monstros grandes e gordos que fazem um frenesim. Sinto-me quente, quente não, febril. Eu estou doente, e eu não sei que doença é esta.

Por entre a cortina de chuva vejo Warner parado perto da porta de braços cruzados e um sorriso presunçoso nos lábios. Ele sabia que eu não podia fugir dele. E vez de caminhar para o lado oposto, caminho até ele.

***

Warner acompanha-me até o meu suposto quarto, e eu deixo rasto de água por onde eu passo.

Estremeço de frio, porque meu corpo está encharcado.

– Foi tolice teres indo lá para fora num dia como este. – Ele fala com severidade.

– Só desejava ir embora.- Sussurro para ele não ouvir, mas ele ouviu.

– E irias para onde? Pra o mil noite, duvido que eles te aceitassem de volta. – Ele tem razão, eles nunca me aceitariam.

– Porquê você me salvou? Porquê que você me trouxe para este lugar? Porquê?

– Eu tenho os meus motivos.- Ele não diz mais nada.

– E eu sei quais são os seus motivos.- E eu tento não imaginar o que ele pode fazer comigo.

– Então diz-me em voz alta quais são os meus motivos.- Ele pára, e espera por uma resposta.

– Você sabe muito bem quais são e não vou dizer em voz alta.- Acelero o passo, mas para eu não fugir dele, ele agarra no meu pulso. E só o seu simples tocar provoca-me tantas e tantas coisas que eu não sei explicar.

– Os meus motivos nem se quer passam pela tua cabecinha. – Ele toca com um dedo na minha cabeça, quando diz “cabecinha”.

Seu olhar cai em meu corpo, e eu percebo que o vestido azul está colado em mim, e ele pode ver nitidamente a forma dos meus seios. Escondo – me por trás dos meus braços, e ele gargalha com vontade.

– Adivinha quem é que limpou as tuas feridas?

E eu sinto o meu rosto a ferver só de imaginar ele limpar todas minhas feridas, em cada pedacinho da minha pele, e cada pedacinho do meu corpo.

Warner deixa-me em frente do quarto, pega na chave que o menino me deu, e guarda no bolso. Ele aproxima-se de mim, eu fecho os olhos e ele beija a minha testa.

– Boa noite, Juliette.

Sozinha num quarto que não é o meu, deitada numa cama que não é a minha, tento dormir, mas não consigo, porque não consigo deixar de pensar em Warner. Algo está tão errado. Eu não deveria de pensar nele, e ele não deveria de ser tão gentil comigo. Ele não deveria saber sorrir daquele jeito. E eu não deveria de sentir o que sinto. Porém o cansaço vence, deixo de lado o que está errado e adormeço.

Acordo ao som de uma voz exasperada, com berros de fúria, e com portas a bater com precisão.

Alguém entra no quarto.

– Tens de te esconder.- James fala tão baixo que quase não o ouço.

– Porquê?

James não responde, porque talvez ele não queira responder.

Ele pega num livro e a estante move-se. Escondemos dentro da passagem secreta. Alguém entra dentro do quarto e eu ouço uma voz de uma mulher, e depois ouço a voz de Warner. Olho entre os livros e vejo uma linda mulher de cabelos claros. Ela revira o quarto, mas não encontra o que ela procura.

– Onde está a vadia?- Ela grita, e destrói um quadro. Warner agarra nos braços dela e beija-a, suas bocas movem-se freneticamente.

Doí só olhar para eles.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do Warner mais dócil?
E o que acharam do comportamento de Juliette? Acham que temos uma Juliette apaixonada? x'DD