When You're Strange escrita por Jamie Hermeling


Capítulo 26
Quando você é estranho, as ruas são irregulares


Notas iniciais do capítulo

Olá! Então, último capítulo de WYS :~
Tenho muita coisa pra falar, nem sei por onde começar. Ah, mais importante. Algumas pessoas podem achar difícil entender os personagens e os motivos pelos quais eles fizeram uma coisa X. Isso é proposital. Eu acho que quando uma obra fica toda explicadinha, toda explícita, ela fica bruta, sem encanto algum. Eu gosto que as pessoas que leem pensem e tirem suas próprias conclusões. Que se identifiquem, que sintam empatia. É isso.

Bom, o título dessa fanfic e dos dois últimos capítulos foram inspirados na música "People Are Strange" do The Doors. Quem não conhecer, eu recomendo.
Eu queria agradecer a todos que leram e comentaram WYS, sério, cada capítulo tinha um comentário lindo, e o que eu mais queria, vocês realmente se colocavam no lugar dos personagens e se envolviam. Sou muito grata por tudo.
Espero que gostem ♥



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Pra você, Hinata,

Hey, olá, como vai? Eu nunca soube bem como começar uma conversa, e acho que isso era bem perceptível, não? Já escrevi essa carta pra você umas três vezes e acabei jogando no lixo. Talvez essa tenha o mesmo destino. Toda vez que eu tento pensar numa razão lógica pra te escrever, eu não encontro. Eu não te devo satisfações, desculpas são patéticas e eu nem devia lembrar de você. Mas eu continuo tendo essa necessidade, e quando percebo, estou rabiscando algumas desculpas esfarrapadas. Todas essas cartas são isso, desculpas esfarrapadas para você, Sasuke, Naruto, Gaara... Para mim mesma. Eu nunca tirei fotos com vocês, lembra? Eu não gosto de tirar fotos, eu sei que nunca vai durar, eu sabia que não ia durar — que eu não deixaria. Meio egoísta da minha parte não contar esse detalhe, não é? Bem, se o assunto é egoísmo, eu tenho muito pra falar.

Desde aqueles tempos, eu tinha poderosos lapsos de memória. Começaram sem motivo aparente e se estabeleceram com suficiente frequência para que a ideia de estar louca se fixasse em minha cabeça. Não demorou para que eu me acostumasse a essa ideia e não tratasse do meu problema, como acontecia com todos os outros que eu tinha, e, me envergonho de dizer, não são poucos. Eu mais pareço uma velha que passou a vida inteira se drogando.

Bem, a segunda parte disso não é tão mentira, afinal.

Não é como um esquecimento normal. Eu nunca fui uma pessoa organizada e sabia muito bem como era viver esquecendo de pequenos e grandes detalhes. Não é algo do qual você acaba se lembrando depois. Não é algo que você precisa fazer e de repente se surpreende ao constatar que já fez. Nem mesmo é algo para o qual você pode encontrar um bom motivo para tê-lo feito ou uma linha cronológica cabível. É simplesmente sem explicação. Como se tivessem lhe feito uma lavagem cerebral. Como se tivessem pegado aqueles minutos da sua vida e colocado uma grande fita branca no lugar.

Eu realmente não me incomodo com isso. Eu só queria que, com Sasuke, tivesse sido feita a mesma coisa.

Eu não consigo encontrar um bom motivo para ter começado ou mantido nossa relação, e ainda sim, ela está lá. Gostaria que Sasuke e todas as lembranças que eu tenho dele fossem substituídas por uma grande fita branca – não como um curativo para uma ferida, mas como um disfarce para um projeto frustrado – que começou sem inspiração e jamais será concluído.

Eu sabia desde o início que Sasuke e eu seríamos um desses casais desesperados cheios de planos mórbidos e promessas suicidas. Não me empolguei muito com isso. Na verdade, nós fomos praticamente empurrados um para o outro por sermos igualmente indesejáveis. Nós éramos como dois gatos abandonados, e apesar de parecermos fortes e inabaláveis para todo mundo, éramos na verdade belos cagões que continuavam a culpar as pessoas dos nossos passados pela decepção em que havíamos nos tornado. Nós não conseguíamos esquecer, nunca, e nos afundávamos confortavelmente no egoísmo e no entorpecimento.

Sasuke sentiu que comigo, ele poderia viver por completo e se mostrar como realmente era, mas eu estava cansada de ver a mesma imagem disforme todos os dias. Eu não precisava passar por aquilo duas vezes. Eu forçava Sasuke a continuar vivendo pela metade, mesmo comigo. A fingir ser o mesmo homem cínico e amargo de sempre, com a mesma armadura admirável de sempre. E eu sabia que ele começava a me odiar por isso. Sasuke estava no limite da minha vida, e eu estava empurrando-o.

Acho que a diferença entre nós, no final, é que eu sou ainda mais covarde.

“Quando não houver nada mais pra salvar, você vai ter medo do quê?” ele me perguntou, minutos antes de eu tomar o trem.

Sobretudo, eu gostaria que os últimos minutos que passei com ele fossem roubados, ou ao menos, que parassem de vir à minha cabeça. Talvez eu não me importasse mais com aquele cara se não fosse por isso.

Eu me livrei das mãos frias de Sasuke com um grito. Continuei meu caminho com os mesmos passos ponderados, sem mais nenhuma palavra. Eu estava morrendo de raiva, mas as causas não me importavam. Eu gostava de conservar aquele sentimento quente, e às vezes, pateticamente, me acalentar com ele. Senti uma fria vontade de chorar, chorar de vergonha. Mas ela congelou na minha garganta.

Hoje, eu poderia muito bem responder à pergunta de Sasuke. Eu não tenho mais nada, nos sentidos mais brutos e literais da sentença. Mas ainda sinto medo. Tanto medo, que não consigo dar sequer um passo, temendo que se torne um segundo passo, e um terceiro, e que me leve de volta para Sasuke, para minha cidade e para minhas amizades quebradas. Eu não tenho nada pra salvar, mas ainda sinto medo – medo de voltar a ter.

Enviarei essa carta para o seu antigo endereço. Provavelmente você não mora mais lá, mas espero que sua tia more e te entregue a carta. Como você verá, não há endereço de remetente. Não tente me achar. Eu ainda não sei quem eu sou ou o que eu devo fazer. Minha personalidade e meus desejos estão tão desajustados quantos os paralelepípedos das ruas dos subúrbios. Eu me lembro da minha mãe que estava perdida em sua própria doença pra me dar atenção. Eu lembro do meu pai que estava ocupado demais ganhado dinheiro por horas de trabalho pra me dedicar um das vinte e quatro. Eu me lembro de quando me tornei uma pessoa ruim, alguém a qual a psicologia se refere como pessoa tóxica. Eu lembro do rosto de Gaara e do rosto de Sasuke. Da decepção de Neji. Do corpo morto de Sai quando eu finalmente tomei coragem para vê-lo. Realmente, desculpas são muito idiotas.

Talvez eu precise de ajuda, é, isso é o que qualquer pessoa diria, eu creio. Mas bem, veja, eu não posso pedir por ajuda porque eu iria corrompê-la. Por enquanto, tudo o que eu sei é que devo ficar sozinha.

Espero que quando você ler isso, apenas dê de ombros e jogue na lixeira,

Sakura.


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Notas finais do capítulo

Por enquanto, não vou postar mais nenhuma fic, estou sem tempo : Porém, minhas férias começam em março e aí eu volto a escrever. Já que o site não deixa avisar por mensagem, quem se interessar, é só dar uma olhadinha nesse período haha até logo!



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