A Dama das Camélias foi um fracasso. Não tanto pelas inconvenientes falas improvisadas da bela Ino Yamanaka ou pelas entradas erradas de alguns coadjuvantes. O pior mesmo foi a total falta de sincronização da trilha sonora e o ruído insuportável das caixas de som nos últimos quinze minutos.

Anko cuidou logo de reunir toda a equipe de alunos após a degradante apresentação para despejar sua frustração em críticas altas e agudas. Mas a principal responsável por aquilo não estava mais lá. Sasuke olhou ao redor e suspirirou, sabendo que, agora, a culpa recairia inteiramente sobre ele e ficaria por vários minutos aguentando o falatório de Anko. Por isso, após dois minutos, resolveu ir embora e deixá-la falar sozinha.

Olhou para o pátio vazio da escola sem se decidir se procuraria Sakura ou simplesmente ia embora.

– Fumar aqui é proibido - Naruto disse, assim que encontrou a moça de cabelos rosados deitada no chão em um lugar remoto do jardim, cercado por arbustos.

Ela deu de ombros, ainda olhando para o céu. Tivera de arranjar um novo esconderijo, já que, no teto da escola, Sasuke sempre a achava.

– A peça foi realmente memorável - ele continuou, rindo, sentando-se ao lado dela.

– Alguém tinha que por uma graça naquele drama chato. E sinceramente, até Karin foi melhor no teste do que aquela outra. Acho que só colocaram porque todo mundo ama uma loira de olhos azuis.

– Você parece bem chateada.

Sakura soltou a fumaça densa, franzindo a testa.

– Eu estou perdendo meu tempo aqui. Nessa escola, nessa cidade. Tudo tão detestável e inútil! Eu devia largar essa escola e começar a trabalhar nem que fosse na Ellus.

Ela olhou para Naruto pela primeira vez no dia e sorriu cinicamente. O loiro deixou uma risada escapar.

– Veja pelo lado bom. Só falta pouco mais de um ano.

– Você acha isso pouco? - arqueou uma sobrancelha, fingindo incredulidade.

– Olha, eu acho que o Sasuke está procurando você.

Sakura revirou os olhos, jogando o cigarro na grama. Sentou-se junto a Naruto, encostando-se na parede.

– Sasuke Uchiha não procura ninguém. Todo mundo vai até ele, ainda não percebeu?

– Vocês brigaram?

– Eu nunca deixei o time de odiadores do Sasuke, sabe. A gente não precisa brigar para que eu o odeie. Ainda estou com você nessa, Uzumaki.

– É bom saber, haha. Eu ainda não entendo como vocês ficaram juntos.

– Acho que você deve isso à sua querida priminha.

– Karin? Ah é, acho que você saiu muito em companhia do Sasuke por causa dela.

– Ela conhecia lugares legais e pessoas legais, eu não pude resistir. Tinha os amigos pedantes do Sasuke, claro, mas eu os ignorava. Acho que a gente teve a primeira conversa de verdade numa noite dessas. Eu sempre ficava no meu canto, sabe, e nesse dia Sasuke estava muito puto com algo que Itachi tinha feito. Claro que ele não falou o que era. Ele estava tão puto que ignorou todo mundo, só queria beber. Ficamos sozinhos na mesa, ignorando nossas existências, claro, até que ele bebeu o suficiente para criticar todo mundo em voz alta. E você sabe que eu adoro criticar. Achamos um hobby em comum. E descobrimos que concordamos em um monte de merda. A partir daí, quando matávamos aula e quando saíamos, conversávamos sempre.

– Vocês dois conversando deve ser estranho.

Sakura riu.

– É diferente de conversar com você ou com a Hinata. Vocês são muito melhores do que eu. Com o Sasuke eu não preciso me dar ao respeito.

– Eu não vou nem responder - Naruto balançou a cabeça. - Sakura, me desculpe perguntar isso, mas, na festa de despedida, você já tinha algo com o Sasuke?

– Embora ninguém acredite, não. Aquela foi a primeira vez que a gente ficou. Óbvio que eu tinha que fazer isso na frente de todo mundo, numa festa onde meu namorado estava.

– Eu tenho certeza que em breve o Gaara vai ficar de boas com você.

– Com certeza - ela riu. - Pela forma como ele me olha, isso é bastante provável. Bem, eu vou pra casa, preciso dormir. Diga a Hinata que me ligue mais tarde.

O fato de porta não estar trancada era prova de que Sasuke estava na casa dela - Sakura havia lhe dado uma cópia. Assim que entrou no apartamento, pode vê-lo jogado no sofá, vendo televisão. Desligou o aparelho na mesma hora em que ela pôs as chaves no lugar.

– O seu pai veio aqui.

– Agora?

–Sim. Não faz cinco minutos que foi embora.

Sakura rosnou. Jogou seu casaco perto da televisão e sentou-se ao lado do Uchiha.

– O que ele queria?

– Saber como você está, já que não liga mais pra ele.

– Hah! - a rosada jogou sua cabeça para trás. - Até parece. Com certeza era outra coisa e ele inventou isso pra você. De qualquer forma, não faz diferença. A única coisa que eu quero do meu pai é dinheiro.

Sasuke levantou-se, balançando negativamente a cabeça. Desde que chegou, Sakura percebeu que seu humor estava pior do que o de costume.

– Pra onde você vai?

Como era de seu feitio, o rapaz não respondeu. Foi até o quarto de Sakura e não se demorou lá por mais de dez segundos. Parou no meio da sala, exibindo um pequeno saco plástico com um pó branco dentro.

– Que porra é essa?

Sakura bufou. - Você sabe muito bem o que é, anjo.

Sasuke continuou imóvel, visivelmente irritado.

– Não me enrola.

Haruno bufou, dando dois socos no sofá.

– É heroína, porra. Pronto, satisfeito? Eu precisava de alguma coisa diferente. E nunca te dei permissão pra revirar minhas coisas, caralho, Sasuke, o que deu em você?

– Não dá pra conversar com você. Cansei.

– Ah, então vá pra puta que te pariu. Não estou entendo porque você está me enchendo o saco com isso. Você também faz merda.

– Eu estou parando. Não quero ficar como você.

– Obrigada, nossa, você é tão melhor do que eu, Sasuke. Não, sério, nós estamos realmente em níveis muito diferentes na escala dos fodidos.

– Por que você não pode parar de se destruir? Você está afastando todo mundo.

– Você também afasta todo mundo, mas eu não critico.

– Eu sou assim, você não. Você faz isso intencionalmente. Eu só não entendo por que. Realmente, eu não entendo o que você está fazendo com a sua vida.

– E eu não entendo porque você se importa!

– Eu dormi na sua casa no último mês, parei de falar com um dos meus melhores amigos por você e estou perdendo o meu tempo te ouvindo falar merda. Você realmente espera que eu não me importe?

– Ah, para de conversa - Sakura mostrou um sorriso sem graça e se deixou cair no sofá. - Eu sei que você não liga, você só me quer pra te ajudar a ferrar o Itachi. E eu preciso estar sóbria pra isso. Certo, Sasuke?

O Uchiha a encarou, estarrecido. Pegou sua jaqueta de volta, suspirando pesadamente.

– Você nunca consegue acreditar que as pessoas te amam e faz questão de destruir qualquer possibilidade de isso ser real. Esse é seu problema.

– Onde você está indo? - Sakura gritou desafinada, uma que pergunta soava uma crítica.

– Eu tenho uma casa - ele respondeu cinicamente, batendo a porta.