When You're Strange escrita por Jamie Hermeling


Capítulo 1
Adeus para o que importa


Notas iniciais do capítulo

Então, mais uma fanfic! Eu comecei a escrevê-la como original, mas aí veio uma vontade de escrever sobre Naruto de novo e cá estou.
Bem, aviso logo que é bem occ, e os pares vão variar bastante. Não espere nada certo dessa fanfic.
Funcionará assim: um capítulo em primeira pessoa, narrado pela Hinata, e outro em terceira pessoa, focado na Sakura, alternadamente. Espero que gostem.
ps: desculpem pela capa, prometo que colocarei uma melhor depois ahaha.



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Você pode dizer que mudanças são boas e que a vida não anda sem elas. Você pode balançar a cabeça e dizer que são fracas as pessoas que as temem.

Mas pra falar a verdade, eu duvido que exista alguém que não odeie o frio na barriga, a falta de noção sobre como se comportar, agir ou ser.

Eu fechei meus olhos e jurei que, dessa vez, eu seria quem eles quisessem que eu fosse. Estava cansada de tentar me encaixar.

A casa estava vazia de novo. Sorri, tentando imaginar que boate Myuu estaria explorando agora. Minha tia tinha um espírito mais jovem que o meu, e eu estava tentando me acostumar a não ter alguém para perguntar, de cinco em cinco minutos, se eu estava bem ou se queria comer alguma coisa.

Joguei-me na cama, abraçada com meu pacote de donnuts, do qual eu não comeria nem um quarto. A fome fora suficiente pra fazer com que eu encontrasse uma padaria e me dispusesse a falar com alguém, mesmo que fosse um funcionário que nem iria olhar pra minha cara.

Desejei dormir logo e não precisar acordar, mesmo sentindo o medo chegando pra me deixar acordada de novo. Desejei poder voltar no tempo, mesmo sabendo que não queria reviver nada. Eu sabia que meu mal estar seria muito exagerado se o problema fosse meu primeiro dia de aula numa escola nova de uma cidade nova. Mas preferia me ater a esse do que remoer os outros que já haviam sido incansavelmente lamentados.

Ouvi um barulho violento na porta quando já estava cochilando. Veronica berrava e ria do outro lado, provavelmente não estava conseguindo nem encaixar a chave na fechadura. Me admirei por ela ter chegado tão cedo e mais ainda por ter chegado viva.

Caiu no chão assim que eu abri a porta, e se levantou engatinhando. Uma de suas meias-calças estava no braço, feito uma luva. Suspirei. Às vezes me perguntava quem era responsável por quem.

Ajudei-a a se levantar, a tomar banho e deixei-a vestir a roupa de dormir. Ela sorriu para mim, terna e agradecida. Myuu era linda. Queria eu chegar aos trinta e oito anos daquele jeito. A maquiagem estava toda borrada e ela tinha um semblante cansado, mas mesmo assim, seus cabelos negros e seus olhos pérola brilhavam. Ela era imensamente diferente da minha mãe.

– Aqui - ela disse baixinho, com sua voz agradável, batendo na cama. - Sente-se.

Eu meneei a cabeça, já era tarde e ela ainda devia estar fedendo a álcool. Mas obedeci.

– Eu não sei cuidar de você como a sua avó cuidava, mas espero que goste de morar aqui. E não me deteste por chegar tarde. Acho que New Jersey vai te fazer bem, e ouvi muito bons comentários sobre a sua escola. Você vai encontrar seu lugar. Não fique tão nervosa, ok? Boa sorte.

Eu sorri, mesmo não conseguindo interiorizar o que ela me dissera. Acabei dormindo por lá, ela me contando coisas aleatórias sobre a noite e eu tentando me manter longe do frio.


...

O cheiro de waffles queimado foi a primeira coisa que eu senti pela manhã, e me fez espirrar. Myuu parecia um zumbi na cozinha e era engraçado vê-la nas roupas formais do trabalho. Acabei fazendo o café para ela e corri em seguida, dizendo estar atrasada. Ofereceu-me carona, mas eu não queria mais esperar. Além do mais, pelo que eu vira, não eram nem vinte minutos de caminhada até a escola.

O dia, contrariando uma semana inteira de chuvas fortes, estava claro. As pessoas andavam apressadas com roupas diferentes, cabelos diferentes, expressões diferentes, humores diferentes. Eu amava a cidade. Eu amava até o que todo mundo achava detestável numa cidade - a fumaça, arquitetura verticalizada, a pressa, a falta de diálogo e sossego.

A Loyal Trenton High School quebrava um pouco o dinamismo que eu observava. Era um prédio de decoração antiga, horizontalmente ampla e, pela contagem deficiente que o sol me permitia, sete andares. Tinha um espaço gramado enorme da frente, que já era brutalmente pisado pelo frenesi de estudantes que dali se apossaram. Encarei a construção marrom de portas brancas a só poucos metros de mim. Balancei minhas mãos, tentando lidar com o fato de que teria de atravessar aquele turbilhão humano e sozinha. Céus, aquilo era pior que praça de alimentação de shopping.

Respirei fundo e me concentrei em ficar com a cabeça baixa o bastante pra não ver ninguém. Havia um quadro grande na parede, perto da entrada, uma orientação prévia para os alunos. Estava mais ou menos deserto, parecia que ninguém estava se importando muito com aquele tipo de coisa. Não faltando longos quinze minutos para o começo das aulas.

O quadro me indicava o terceiro andar, sala sete, e eu subi rápido. Pelas escadas. Os corredores estavam praticamente vazios, se eu desconsiderasse funcionários entregando folhetos e alguns estudantes solitários - grupo do qual eu fazia parte.

A sala tinha poucas cadeiras e só havia quatro pessoas ali: um garoto baixinho tentando conversar com uma menina interessada demais em seus fones de ouvido, um rapaz debruçado no parapeito da janela e uma moça fixando papeis no mural. Aparentemente, era com ela que eu tinha mais chances de falar e ser respondida. Ponderei o que diria, isto é, com a qualidade que o tempo de cinco passos permitiam.

No final, o que saiu foi um "oi" falho.

A loira baixou seu rosto para me enxergar, e logo esboçou um sorriso simpático que me deixou aliviada.

– Olá. Acho que você é nova aqui. Meu nome é Ino, seja bem-vinda.

Ela estendeu sua mão, de uma maciez invejável. E eu balancei mais do que o apropriado.

– Ah, eu... Obrigada, Ino, é isso mesmo. Eu, anh, parece que tem algum problema com a minha inscrição, você saberia me dizer onde eu posso consertar?

– Claro. Você pode falar com o líder de classes. É só ir lá no Grêmio, na última porta aqui do corredor à esquerda e perguntar pelo Naruto.

– Naruto, certo. Muito obrigada, de novo.

Sorri nervosa e bati no meu caderno. Ino ainda me ofereceu um tour pela escola antes, mas eu queria estar de volta à sala um pouco antes do sinal, e não daria tempo. Concordamos em deixar para depois.

Atravessei o corredor, agora mais cheio, e achei meu destino sem problemas. Afinal, havia uma placa enorme na porta com a inscrição "Grêmio escolar". E a sala por dentro era grande, maior que a nossa. Um armário gigante de ferro ficava fixado na parede esquerda, uma prateleira menor de madeira no fundo do canto direito, e o resto do espaço era preenchido por uma mesa esticada na vertical, com uns vinte lugares. Na parede do fundo, duas janelas amplas se encontravam totalmente abertas, para seis pessoas que liam, faziam anotações e discutiam ali. Tentei enxergar entre os meninos algum que tivesse cara de Naruto, mas logo desisti desse método um tanto quanto não-científico e me aproximei do primeiro que notou minha presença estranha. Expliquei-lhe minha situação, e ele prontamente apontou para um rapaz loiro sentado ao fim da mesa, quase encoberto por uma gaveta de metal e bastante ocupado em arrumar seus óculos.

Ele não levantou o olhar, mesmo quando parei a centímetros dele. Parecia tão densamente concentrado que não se desviaria mesmo que bolas de canhão quebrassem a vidraça.

Pigarrei e esbocei um "Naruto?" vacilante. Sua expressão - as sobrancelhas arqueadas, o brilho no rosto e a curvatura prestativa de seus lábios - tomou o lugar da outra tão rapidamente que ele pareceu um daqueles atores de propagandas sensacionalistas.

– Sim, pois não? - ele disse, completando o retrato que eu fizera.

– Hm, me disseram que tem algo de errado na minha matrícula e a Ino recomendou que eu falasse com você.

– Ah, sim, é isso mesmo. Aliás, eram as matrículas dos alunos que eu estava conferindo agora há pouco. Deixe-me ver a sua.

Passei-lhe a pasta. Não pude deixar de reparar três coisas: Uma, Naruto era bonito. Mais bonito que qualquer líder de sala que eu já vira. Segunda, ele não olhava para a pessoa com a qual conversava. Nem para os olhos, nem para a boca, nem para o corpo, nada. Não mais que dois segundos. Terceira, havia noventa por cento de chances de ele ser comprometido. Ou celibatário.

– Hm... Ahn...

– Hinata.

– Bem, Hinata, é bem simples, você só precisa de duas fotos 3x4 e assinatura dos seus responsáveis.

– OK então, eu cuidarei disso - respondi rápido.

– Você poderia por favor trazê-los amanhã? Facilitaria muito meu trabalho.

Eu não sabia se conseguiria isso. Digo, não sabia se minha condição com Myuu já estava devidamente legalizada, nem sequer se a veria hoje.

– Tudo bem, amanhã sem falta - confirmei. Apesar das incertezas, não estava afim de sair por aí explicando-as.

Naruto devolveu minha pasta num envelope pardo. Eu estava juntando uma voz decentemente firme para agradecê-lo cordialmente ou qualquer coisa assim, mas fui interrompida por um estrondo consideravelmente alto, inesperado e assustador. Meu coração pulou desconfortável, e não sei se foi meu sangue correndo rápido demais ou se o chão realmente tremeu.

Todos, até mesmo eu, correram automaticamente para as janelas - Naruto foi o primeiro. De lá, pude ver - porém não compreender - uma cena peculiar: um carro cinza havia simplesmente invadido o gramado da frente da escola. A porta do motorista estava escancarada e um garoto que distingui como tendo cabelos incrivelmente pretos estava caído no chão, beijando o solo. Um círculo enorme de gente se formava em volta.

Minha concentração no acontecimento foi brutalmente cortada pelo murro que Naruto deu no parapeito da janela - e não só a minha. Todos assistiram pasmos enquanto o garoto ficava vermelho e saía da sala batendo a porta com força, esbravejando um sonoro "Mas que filho da puta irresponsável!"






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