Desejos escrita por KiorieJune


Capítulo 16
Capítulo XVI - Aceitações




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Quando o sol nasceu naquele dia de primavera vi a claridade se instalar pelos cômodos até reluzir na face serena adormecida em meu peito. Acariciei-lhe os cabelos mecanicamente, sentindo aquele cheiro de lavanda me embriagar... E assim que meus olhos fixaram um ponto qualquer no teto, minha mente mergulhou em lembranças amargas e distantes.

-

- Como ela está?

- Agora está bem, chorou muito quando soube... Depois dormiu, e a enfermeira mandou que eu saísse – sentei-me ao lado dele, visivelmente exausto – E onde foram os outros Uruha?

- Kiori e Aoi foram acompanhar a Sra. Osaki em casa para pegar coisas para a Sayuri-san, Ruki foi levar May e Minako em casa e dormir, coisa que você deveria fazer também – completou depois de se espreguiçar.

- Só saio daqui quando ela não precisar mais de mim, foi culpa minha, eu deveria ter ido com ela – resmunguei arrependido.

- Não foi culpa sua e você sabe disso. Baka! O que você poderia fazer para evitar que os freios falhassem? Nada. Não fale como fosse o super-homem.

Eu estava cansado demais para ser teimoso naquele momento e por mais que não quisesse admitir, ele estava certo. Fiquei em silencio, somente, depois da fala dele, só disse algo muito tempo depois, quando meus neurônios já estavam mandando os impulsos nervosos para os lugares certos.

- Kai ou o Osaki-san já chegaram? Ou deram alguma noticia do que aconteceu na delegacia? – perguntei ainda curvado com o rosto sendo segurado por minhas mãos.

- Eles já chegaram, estão na lanchonete nos esperando, parece que a coisa foi grave.

- O que estamos esperando então? Vamos logo! – levantei alterado. Uruha me olhou com aquela expressão de tédio que só ele sabia fazer, provavelmente iria resmungar algo como “Você precisa relaxar”.

- Você precisa relaxar, sabia? – foi a minha vez de olhá-lo com tédio, era sempre assim. Eu odiava esse jeito lento dele, ao mesmo tempo em que sentia inveja, às vezes.

Quando chegamos à lanchonete do hospital não foi muito difícil achar os dois, já que ela estava quase vazia. Nem sentei direito e fui logo perguntando o que havia acontecido. Osaki-sama parecia estar estressado demais para falar algo e pediu para que Kai nos contasse.

Ele me estudou por alguns segundos, como um adulto estuda uma criança antes de dar uma má noticia, aquilo só me deixou ainda mais inquieto e irritado, quase me alterei novamente até que ele começou.

- Reita, o acidente da Sayuri-san... Não foi na verdade um acidente – ele parou um instante, provavelmente analisando a minha expressão, tentando achar um caminho para falar a verdade sem que eu tivesse um ataque de nervos - Quando chegamos à delegacia achamos que era para ver os assuntos da perícia, mas... Na verdade eles queriam nos mostrar que estava por trás de tudo aquilo.

“Um estrangeiro estava na sala de interrogatório quando chegamos e ele disse que se chamava Frederico, tinha vindo da Itália junto com uma amiga daqui e que essa amiga o contratou para assassinar Sayuri-san e ficar com você, Reita. Calma. Ainda não acabou, de principio os policiais não acreditaram nele, foi ai que ele veio com as provas. Gravações, Depósitos bancários, Ligações. Reita, esta moça trabalhava na PSC, e... ela foi que deu aquela idéia de não ter relacionamento entre funcionários. Essa regra foi feita justamente para você...”.

- Espera, Kai! Você está me dizendo que tem uma doida no meu lugar de trabalho que além de tentar me impedir de ficar com quem amo, ela tentou mata-la?? Mas... Quem diabos, ou melhor, o quê é essa pessoa?? – não podia deixar de me alterar, estava cansado demais, estressado demais e com raiva demais pra me controlar.

- Reita, calma...

Soltei um palavrão, outras pessoas começaram a olhar curiosas para a nossa mesa, quando percebi... Estava de pé com as mãos ardendo sobre a mesa de mármore, pedi desculpas e sentei-me novamente, envergonhado. Foi a vez de Osaki-sama falar.

- Akira-kun, você conhece uma moça chamada Kazuya Yui?

- Kazuya...Yui?- aquele nome rodou varias e varias vezes na minha cabeça. Por que sempre que eu tinha problemas com a Sayu ela sempre estava envolvida?

-

- Akira? – chamou-me de forma sonolenta – O que foi?

- Nada...Eu só...

- Ainda está pensando naquilo não é? – não respondi, ela sabia o que se passava em minha alma... Sempre soube – Amor, já se passou um mês e aquela mulher já foi presa, ninguém mais vai nos fazer mal... – ela sorriu para mim e eu não pude deixar de retribuir.

- Não era bem nisso que eu estava pensando... – passei lentamente os meus dedos pelos seus cabelos, agora curtos – Não consigo parar de achar que isso tudo foi culpa minha...

- Bobo... – beliscou-me o braço conseguindo em troca uma careta de desaprovação – Pessoas como ela não tem escrúpulos, ela faria qualquer coisas para me separar de você... mesmo que não tivesse acontecido nada entre vocês no passado.

- Tem razão... – respirei fundo, a abraçando com mais força e a trazendo para mais perto de mim – Eu te amo, Sayu...

- Eu também... - disse antes de beijar meus lábios – Vamos voltar a dormir... Ainda está cedo...

- Aham...

-

Itoshii hito...não chore, me mostre um sorriso
Se eu quisesse ver suas lágrimas, eu não teria dito “eu gosto de você”, teria?

Naquele mesmo dia, agora num horário de trabalho, entrei na PSC e fui direto para a sala de reuniões da banda, já que Sayuri estava de licença não tinha por que ir a sala dos figurinos antes.

Quando ia virando para o único corredor de acesso a sala, encontrei uma cena que me fez soltar uma exclamação. Mais a frente Ruki segurava o pulso de May com um ar de desespero, não entendi muita coisa, mas deu para ver que ela esteve chorando.

- Você não pode fazer isso!

- Me dê um bom motivo! – ela gritou de volta se desvencilhando das mãos dele

- Porque eu gosto de você, droga! Ainda não deu pra perceber isso?

Ao o ouvi falar isso, ela deu um passo para trás, como se não estivesse acreditando no que estava ouvindo. Eu também me afastei só que para esconder-me atrás da parede e ver como aquilo iria se desenrolar.

Ruki tentou segurar as mãos dela novamente, só que de um jeito mais delicado, mas ela se afastou mais um pouco segurando lágrimas que apesar de todo o seu esforço para conte-las... Rolaram pelo seu rosto assim que ele disse mais alguma coisa, na qual eu não ouvi.

- Acha que eles ficam juntos? – ouvi sussurrarem atrás de mim e quase tomei um susto, não só por não estar preparado, mas também pelo fato que todo o resto da banda estava ali, na mesma situação que eu, esperando aquilo se desenrolar para começarem a trabalhar.

- Ei, calem a boca vocês ai! – sussurrei para os outros três antes de voltar novamente a minha atenção para os dois mais a frente que nem faziam idéia da nossa existência.

- May... – chamou-a com uma aflição visível – Eu não sou muito bom com as palavras quando a questão são os meus sentimentos verdadeiros, geralmente eu falo aquilo que eu penso e é só, mas... Quando se trata de mim, e agora de você, não saía direito, ou do jeito que eu queria – ele fez uma pausa, respirando fundo e tentando não desviar o olhar do dela enquanto procurava as palavras certas – Várias vezes eu tentei te mostrar o que eu sinto, mas nunca consegui o resultado que desejava.

“Eu sei que você acha que eu faço as coisas sem pensar e que não ligo para o que os outros sentem, mas isso não é verdade. Esse é o meu jeito de me expressar... foi o modo que achei. E... ah droga! Não posso deixar que você aceite o pedido do Miyavi! Eu te amo, May. Mais do que você imagina e mais do que você acha que ele te ama.”

Eles permaneceram em silêncio durante um bom tempo depois que Ruki parou de falar. May parecia estar enfrentando um conflito interno bem complicado, porque mordia os lábios e desviava os olhos dele com um nervosismo visível.

Eu vi a amizade entre May e Ruki crescer de forma explosiva neste último tour e sinceramente não achava que estivesse acontecendo tudo isso entre eles, acho que Kai e Uruha já sabiam ou suspeitavam de algo, pois eles não pareciam surpresos com aquela conversa, até já haviam se afastado dali junto com Aoi, cada um vendo algo mais interessante para fazer no corredor do que ver no que aquilo iria se desenrolar. Acho que eu realmente sou o único que a curiosidade fala mais alto em certos momentos.

- E-Eu... Preciso voltar ao trabalho – finalmente ela falou. Não era o que eu esperava, mas tudo bem. Acabei levantando para ver o que Kai e Aoi estavam ouvindo já que Uruha estava ao telefone e meu sexto sentido buzinou dizendo que aquilo não ia dar em nada.

- Ta... Podemos conversar depois do expediente?

Não a vi passar pelo corredor onde estávamos então supus que seguiu pelo outro corredor oposto ao nosso. Contudo, Ruki tomou a nossa direção e olhei a sua face quando passou por nós, parecia aliviado, mas ao mesmo tempo preocupado. Kai, Aoi e eu nos entreolhamos quase no mesmo instante e demos os ombros. Paciência né?

Entramos os quatro para a sala de ensaios onde tratamos logo de arrumar os instrumentos e mostrar para Uruha a nova melodia que Aoi havia feito. Não demorou muito para que começássemos a divergir em certos pontos (como, por exemplo, a sincronização das guitarras) e esquecêssemos que o nosso vocalista não estava ali. Só nos demos conta quando ele entrou segurando um copo branco entre os dedos e o largou em uma mesa.

- Desculpem a demora – falou num tom baixo, antes de pegar o microfone – Vamos começar?

- Estávamos discutindo sobre uma nova música, Ruki.

- Ah... E como está? – caminhou até nós e olhou as folhas de notas espalhadas sob a mesa – É aquela que você me mostrou ontem Aoi?

- Sim! Uruha acha que este arranjo não ficou bem aqui.

- Sei, e vocês já têm alguma idéia de como vão ajeitá-lo? – balancei a cabeça negativamente para ele junto com Aoi e ele continuou – Então por que não ensaiamos logo a Regret que já está pronta e vemos essa depois?

- É uma boa idéia, todo mundo de acordo? – Kai perguntou. Instantaneamente ele recebeu uma resposta positiva e nos dirigimos novamente para os instrumentos.

Eu sabia por que ele insistia tanto em ensaiarmos logo. Ele precisava cantar. Era como uma droga boa, Ruki precisava daquela excitação que a música trazia para esquecer tudo que o afligia, ele precisava ouvir o som das guitarras vibrando tão harmoniosamente, indo se juntar com o resto da percussão depois e assim que todas aquelas vibrações preenchessem a sua alma... A sua voz saia como um clarão liberando todos aqueles sentimentos misturados em palavras que talvez nem tivessem a ver com o que ele pensava naquela hora, mas servia como protesto, como libertação... Como refúgio. E eu o entendia. Todos nós o entendíamos... É por isso que somos o the GazettE.

Me dei conta do fio que estava prestes a se soltar
Seria bom se ele ficasse amarrado para sempre
Aquilo que transbordou e se foi com a correnteza
Me pareceu ser igual a você naquele dia

Juntei as lágrimas que você derramou
E inúmeras vezes, como eu me prendesse a isso, a solidão e a angústia me perturbaram

Na estrada aqueles dois estavam em decadência
Debaixo de um brinco muito parecido com o seu
Colocando um anel muito parecido com o seu
Me pintei com uma maquiagem muito igual a sua
Arrumando o cabelo igual ao seu
Consegui ver lágrimas muito parecida com as suas
E gritei pelo nome igual ao seu


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