The End Is Coming escrita por Aya Ishikawa


Capítulo 7
Quebra Cabeças


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora, eu tive que pensar e repensar muitas vezes esse capítulo :3 espero que gostem o/



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Logo após abrir meus olhos notei que já era de manhã, uma bela manhã ensolarada. Senti como se eu não tivesse conseguido descansar durante a noite toda, quis permanecer na cama, mas pouco depois que acordei minha mãe entrou no quarto perguntando se eu pretendia passar o dia todo ali, já eram onze horas da manhã.

Tentei não dar muita importância para aquele sonho durante o dia, mesmo assim, cada cena dele, se repetia em minha mente incontáveis vezes. Aquilo tudo não fazia o menor sentido para mim, eu devia estar ficando louca de vez... Para piorar tudo eu havia discutido com o Sam, nem mesmo poderia recorrer a ele, embora eu achasse que ele não fosse ter resposta nenhuma para mim, o simples fato de poder falar para alguém esse tipo de coisa já me tranquilizava.

Passei quase toda a tarde olhando as fotos e mapas dos pais de Sam, copiei para um caderno as coordenadas circuladas em vermelho, um total de oito, pois eu queria me livrar daqueles mapas antes que meus pais encontrassem e começassem a fazer perguntas.

Coordenada 1: -36.456636,-53.01178

Coordenada 2: -32.324276,-50.023499

Coordenada 3: -29.458731,-47.562561

Coordenada 4: -24.046464,-43.343811

Coordenada 5: -19.394068,-38.239288

Coordenada 6: -5.834616,-33.976593

Coordenada 7: -14.43468,-37.103577

Coordenada 8: -22.899383,-43.141944

Imaginei que pudessem ser os locais prováveis onde o dragão deveria estar escondido. Depois de passar uma tarde inteira fazendo anotações resolvi ir tomar um sorvete. Era quase noite e estava aquele sol fraquinho com ventinho gelado, típico do inverno, para mim era o clima ideal para um pote de sorvete.

Chegando à sorveteria vi um garoto lá que não me era estranho, ele estava sentado lendo um livro que eu não conseguia identificar qual era por ser uma daquelas encadernações antigas, de couro, em que o titulo fica na lombada. Era o mesmo cara que eu havia visto no colégio um tempo antes. Talvez por querer conversar com alguém, ou pela sensação que tinha quando olhava pra ele, resolvi dar um jeito de puxar um assunto qualquer.

-Olá, você parece bem interessado nessa leitura... Que livro é esse?

Ele levantou os olhos, parecia ainda estar perdido entre a leitura e o mundo real, olhou para mim com cara de quem estava prestes a reclamar por horas por eu tê-lo interrompido e disse:

-Bem... É Júlio Verne sabe? Mas hã... Eu já te vi em algum lugar?

Ele parecia ligeiramente nervoso ao falar, ou talvez ansioso... Provavelmente deveria ser alguém meio sem jeito para conversas como eu, prossegui:

-Hum... Eu já ouvi falar, não é aquele cara da volta ao mundo?

Ele me olhou como se eu fosse a pessoa mais estúpida do mundo e disse:

-É... A Volta ao Mundo em 80 Dias é dele sim...

Bom eu não poderia simplesmente dizer: “Então, eu vi você aqui e resolvi puxar assunto porque você parece ter alguma importância relacionada ao fim do mundo... Que tal tomarmos um sorvete enquanto discutimos isso?” Imagino que no mínimo ele sairia correndo.

-Qual o nome desse aí que você está lendo?

-Viagem ao Centro da Terra...

-Parece interessante... Hã, a sorveteria está vazia hoje não é?

Ele deu uma olhada por sobre os óculos e disse sem entusiasmo:

-Deve ser por causa do frio.

Encarei aquilo como minha deixa para encerrar o assunto e tentar novamente num outro dia.

-É... Deve ser... Bom, a gente se vê por aí, até!

-Até... Espera, você não respondeu, eu te conheço de algum lugar?

-Ah, eu te vi outro dia na escola... Você estava lendo algo também, eu me chamo Lorenna.

Ele deu um sorriso estranho, eu não saberia dizer se ele estava nervoso, assustado ou mesmo curioso. Ele apenas disse:

-Isso explica algumas coisas... Pode me chamar de Jimmy. Melhor você comprar seu sorvete logo, a sorveteria já está quase fechando.

-É verdade... Nos vemos na escola então.

Enchi meu potinho de sorvete com flocos e muitas cerejas, além de uma boa camada de chantilly e tomei o caminho de volta para a casa. Inconscientemente, ou não, fiz o caminho que passava pela rua em que morava o Sam, acho que talvez eu quisesse vê-lo, acho que eu queria arriscar um encontro “ao acaso”, isso não aconteceu, continuei todo o caminho até minha casa sem esbarrar com nenhum conhecido. Chegando ao meu quarto deitei com metade do corpo na cama e a outra metade pendendo para o chão me fazendo ficar de cabeça pra baixo, essa era uma posição que eu realmente gostava, pois me fazia pensar melhor.

De repente nada parecia fazer sentido na minha vida. Dragões, Christinne, Hades, Sam, Jimmy, tudo isso girava na minha cabeça me dando a sensação de estar em um daqueles brinquedos de parque com xícaras que te fazem girar em todas as direções possíveis ao som de uma música eletrônica alta suficiente para te dar a impressão de que seu cérebro irá explodir a qualquer momento. Eu mal sabia que aquilo era somente a ponta do Iceberg. Fechei os olhos por um momento e lá estava ela:

-Você não deveria se preocupar tanto com essas coisas, pelo menos com a parte daquele que se diz o “senhor dos mortos” até parece que ele é tão poderoso assim. Aposto que deve ser um grande idiota.

Eu podia sentir o tom incrivelmente ácido das palavras de Chris. Eu sabia que ela não acreditava em qualquer deus ou ser superior que fosse, entretanto me incomodava o modo como ela falava sobre isso.

-Pensei que você não fosse mais aparecer pra me encher a paciência... Cansou de andar por aí em Paris é?

-Também senti saudades! Como eu ia dizendo, você ainda é muito jovem, em vez de se preocupar com o mundo deveria preocupar-se consigo mesma. Veja só, acho que deveríamos sair, nós duas, para comprarmos umas roupas novas, fazer o cabelo... Acho que isso colocaria um sorrisinho no seu rosto, o que é melhor que essas rugas feias de preocupação que você está mostrando agora.

Pensei comigo mesma: “Ótimo! Meu cérebro a ponto de derreter e ela quer ir fazer compras... Talvez seja divertido, acho que não tenho muito que perder.”

-Tudo bem, vamos, mas amanhã... Por hoje eu já me cansei demais, além disso, já está tarde.

Ela fez uma cara de emburrada, mas acabou concordando, no fundo ela sabia que aquilo seria o melhor que ela iria conseguir.

Algumas horas depois eu estava deitada em minha cama, eu sabia que Chris estava ali, eu podia vê-la no quarto, sentada na minha cama e me olhando deitada, eu até que via algo de maternal no olhar dela, mas isso era tão estranho que eu evitava aqueles olhos brilhantemente azuis.

-Chris... Você acha que eu deveria procurar o Sam?

Ela ficou pensativa por alguns segundos.

-Vocês vão se falar no momento certo. Procure não se importar com isso por hora.

-Eu tenho medo que ele me odeie...

Ela sorriu.

-Eu sei que você o acha especial e deve se preparar para muitas coisas que estão por vir, mas por hora, tudo o que você tem a fazer é descansar e deixar o tempo resolver certas coisas ao modo dele. E também, amanhã vamos ter um longo dia, só nosso, prometo que será divertido.

Senti a mão dela acariciando meu cabelo, aquilo costumava me incomodar um pouco... Hoje eu daria tudo para sentir isso novamente. Ela começou a cantarolar uma música de ninar qualquer, quando me dei conta adormeci. Aquela foi uma das noites em que dormi mais confortavelmente durante muito tempo. Nada de sonhos estranhos, nada de preocupações, apenas eu, dormindo tranquila com meus próprios sonhos em que eu podia chegar até a lua ou ter meu próprio castelo.

Naquela época Christinne era um grande mistério, hora parecia ser a mulher mais confiante e poderosa de todo o universo, em outras horas parecia a mais carinhosa das mães que poderia existir.

Obrigada Chris, por ter cuidado de mim em momentos que eu não podia contar com mais ninguém. Sinto muito por tudo.


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Notas finais do capítulo

Coordenadas retiradas do Google Maps :3