Capítulo XI

Bad Dream?

Frio.Sentia tanto frio que eu mal conseguia parar de tremer,tentava manter-me quieta enquanto me escondia atrás do robusto carvalho.Eu podia senti-la perto,muito perto,não apenas senti-la eu podia ouvir sua voz, fria, enregelante, tão afiada quanto o próprio gelo.

Ouvi passos atrás de mim e me virei de repente.Ela havia me visto,estava bem ali na minha frente,não havia muito o que fazer.Ela se aproximou mais e me encarou com um sorriso de escárnio,seus olhos gélidos pareciam penetrar em mim, e então soltei um grito agudo enquanto sentia a lâmina afundar em meu peito.Então,enquanto eu sentia minha vida esvair-se de mim e via o meu sangue escorrer lentamente pela meu vestido vermelho, ela disse enquanto retirava rapidamente de mim a espada banhada de sangue.Do meu sangue.

–Você não conseguiu salvá-lo.Outra vez.-Ela sorriu e se abaixou colocando seu rosto muito perto do meu ouvido.– Ele está morto.

–NÃO!

Acordei me debatendo entre os lençóis onde eu havia ficado enroscada,assim que me soltei da prisão de tecido sentei-me abruptamente tentando me acalmar.

–Que sonho mais bizarro.-Murmurei passando a mão pelo rosto.

Olhei para o meu braço,eu estava arrepiada.O sonho havia acabado,mas a sensação de frio ainda estava presente.De repente o assobio do vento me chamou a atenção.Ah,é claro que estava frio!Eu havia esquecido a porta para a sacada aberta.

Levantei-me com cuidado, pois ainda estava um pouco tonta de sono, e caminhei até a sacada para fechar a grande porta de vidro mas acabei me distraindo.Me apoiei no batente da porta e coloquei-me a observar o céu.Ainda estava escuro,supus que a madrugada já estava na metade.As estrelas estavam encobertas por algumas nuvens esparsas que haviam aparecido pouco depois do sol se por.Suspirei pesadamente e recuei três passos para dentro do quarto,tateei com a mão até achar o meu robe preto, que estava no encosto da cadeira da penteadeira, e o vesti rapidamente por cima do pijama.Andei com passos tranquilos até a sacada e me apoiei na grade que garantia que eu não caísse lá embaixo.

Eu não sabia qual era essa minha coisa com as estrelas só sabia que eu adorava ficar as observando,me trazia calma e clareava minha mente.As constelações eram diferentes em Nárnia,não eram nem um pouco parecidas com as do meu mundo.Lá eu mal consigo ver as estrelas,as luzes artificiais acabam ofuscando seu brilho.Mas aqui,em Nárnia,não havia nenhuma luz artificial que pudesse atrapalhar as estrelas.Elas brilhavam fortemente espalhadas por todo o céu.Vez ou outra uma parecia cair como uma estrela cadente mas não era nada disso,Liliandil havia me dito que eram as estrelas que vinham visitar a Terra,assim como ela fazia outrora.

Era bom me distrair um pouco.Ultimamente minha mente estava a mil por hora,não conseguia relaxar por um momento sequer.As coisas andavam muito confusas,era para eu estar em Londres naquele momento se eu não tivesse sido trazida de repente do aeroporto para cá.Quem imaginaria!Eu sabia que um dia eu voltaria,mas foi tão repentino!E agora toda a responsabilidade do reino havia sido posta em meus ombros outra vez.Eu já havia esquecido do quão cansativo era às vezes ser Rainha,ainda mais numa situação como essa.Meu povo sendo morto sem nenhum motivo aparente,por alguma coisa que até agora nínguem havia visto de verdade.E então,os Antigos Reis de Nárnia apareceram do passado e agora,essa coisa com o Edmundo!

Claro,alguma coisa entre nós estava acontecendo.Dois dias depois de ter encontrado com Edmundo no pomar,as coisas pareciam ficar cada vez mais confusas e nós parecíamos ficar cada vez mais próximos.Isso me preocupava.Não que eu achasse ruim,Edmundo era um cara legal,embora meio antiquado.Mas é que eu andava tão perdida e...Talvez,disse uma vozinha no fundo da minha mente,seja por isso que Edmundo e você estejam tão próximos.Você está perdida.Quem sabe ele não é a pessoa que vai te achar?

Esse pensamento ficou pairando na minha mente enquanto eu encarava fixamente o nada.De repente um vulto claro atravessou rapidamente o jardim,logo desaparecendo depois de entrar na orla do bosque.Foi tudo tão rápido que se eu tivesse piscado,certamente teria perdido tudo.

Não sei ao certo porque tomei aquela atitude,mas quando dei por mim,eu estava correndo para dentro do quarto, calçando minhas botas e passando a aljava com flechas pelo meu ombro.Prendi meu cabelo emaranhado num coque firme e depois de pegar meu arco,que estava num baú debaixo da cama,caminhei até a sacada e passei uma das minhas pernas por cima da grade.Havia uma árvore logo abaixo da minha janela,um de seus galhos longos e grossos se estendia um pouco para cima,eu teria de saltar apenas três metros até o galho.Respirei fundo,fixei meus olhos no galho logo abaixo de mim.Passei a outra perna pela grade e fiquei de pé com os braços estendidos para manter o equilíbrio,sem esperar muito mais,pulei.Pousei com os dois pés firmes em cima do galho,nem acreditava que havia conseguido.Engatinhei no galho até chegar bem perto do tronco do árvore e depois de uma breve analise,comecei a descer vagarosamente usando os outros vários galhos como apoio.Quando estava à dois metros do chão eu saltei da árvore para a grama macia,caí agachada.Me ajeitei rapidamente e me coloquei a andar.Algo me dizia que eu precisava descobrir o que era aquele vulto.

...

O bosque estava frio e logo desejei ter posto uma roupa melhor do que o meu robe por cima do pijama.Com uma flecha posicionada e pronta no arco eu andava furtivamente por entre as árvores.Tudo estava quieto e muito tenso,como se uma nuvem de pressão pairasse acima de mim,as árvores estavam quietas,e qualquer mínimo ruído parecia ser dez vezes mais alto e mais próximo do que realmente era.

Um movimento súbito um pouco a frente do lugar onde eu estava fez com que eu virasse a cabeça rapidamente e trocasse de direção,ao ver o mesmo vulto de antes caminhando,agora, devagar quase despreocupadamente.Tendo avançado mais alguns metros pude distinguir o que era o meu alvo de perseguição.Era uma mulher.Não,não,era apenas uma garota!Olhando assim não parecia ter muito mais do que minha idade.Ela era extremamente pálida,sua pele parecia transluzir.Usava um longo vestido branco que ,com a suavidade de seus passos, parecia acariciar o chão.No comprimento do vestido haviam alguns pontos cintilantes que pareciam diamantes.Seu cabelo,loiro platinado,caia em cachos perfeitos até a altura de sua cintura.Não pude ver seu rosto,e ela não virou nem para os lados e nem para trás em qualquer momento,apenas continuou andando parecendo saber exatamente aonde ir,e sem se preocupar com algum possível seguidor.De repente a garota sumiu entre uma abertura entre duas árvores que ficavam a uns poucos 8 metros à frente.

Olhei ao meu redor,ninguém à vista. Algo me movia agora,um sentimento estranho que me dizia que eu acharia respostas importantes se eu a seguisse.Convicta,segura e determinada respirei profundamente e apertei os passos para alcançar aquela abertura. Não estava ligando muito para o perigo desde que eu conseguisse descobrir o que estava acontecendo

Quando a alcancei,afastei alguns galhos da minha frente,fechei os olhos e sem pensar duas vezes atravessei a passagem.Era como estar passando por uma cortina de água fria mas sem se molhar,não era uma sensação muito legal.Abri os olhos e segurei a respiração numa tentativa de conter um arquejo de surpresa.

Eu me encontrava nas ruínas de um castelo,mas não um castelo qualquer.

Era o Castelo De Gelo.