Burajiru - a Epopéia de Aoyama-senpai no Ocidente escrita por Europeu


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Bom, eis o quinto capítulo da minha fic... Tive que refazê-lo pois não estava ficando bom. Mas, espero que gostem, pois o Roberto voltará na história neste capítulo.



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CAPÍTULO 5 

Dez horas da manhã do dia seguinte. Roberto estava sentado no sofá da sua casa, com um copo de café na mão direita e o controle remoto da televisão na mão esquerda. Estava vendo o que passava de interessante nos canais por assinatura e nos canais abertos naquele horário.

 

- Incrível... Mais de 150 canais e nada para assistir – reclamava Roberto em voz alta, reclamando do tédio em que se encontrava.

- Está falando com quem, Roberto? – Bianca entrou na sala de estar, vindo do quarto.

- Não, mãe... Estava pensando... – Roberto tinha um defeito: pensava em voz alta – Para onde você vai, toda arrumada?

- Ah, Roberto. Vou para Sorocaba fazer umas compras com uma amiga minha. Vou comprar umas roupas novas para a gente; não acha que você está precisando de sapatos novos, filho?

- Eh, mãe... Até que estou precisando de um par novo de sapatos... Os meus já estão pedindo aposentadoria e quase não tenho tempo para comprar um novo...

- Certo, filho. Me dê o dinheiro e trarei um par de sapatos novos e o que você pedir, tudo bem?

 

Roberto aceitou a proposta e tirou da sua carteira quatro notas de 50 reais, dando-as para a sua mãe.

 

- Roberto, vou ficar o dia inteiro fora. Vê se compra alguma coisa para almoçar, tudo bem?

- Pode ficar tranqüila, mãe. Acho que vou comer naquela loja que você disse ontem...

- Tá legal, filho. Mas vá cedo, pois aquilo lá lota no horário de almoço, hein?

 

Bianca deu um beijo no rosto de Roberto e seguiu para a garagem, onde ligou o seu Alfa-Romeo e saiu com o veículo pela rua de casa, rumo à Sorocaba. Após ver a sua mãe indo embora, Roberto tomou um banho, trocou de roupa, e saiu de casa para dar uma longa caminhada pela cidade.

Roberto olhou para o céu: nenhuma nuvem e o sol brilhando forte, mostrando toda a sua força; voltou o seu olhar para o horizonte e viu os alto-fornos e os galpões da Sidernibra refletindo a luz do sol. Nas ruas, quase nenhum movimento: apenas um ou outro veículo transitando, algumas crianças se divertindo na calçada, um vendedor de panelas atendendo uma freguesa no portão da sua casa, vizinhas conversando sobre assuntos variados nos jardins das suas casas... Enfim, era mais um dia em uma típica cidade do interior.

Após andar um pouco, Roberto adentrou o portão do Burajiru Gyoen, que estava com pouco movimento naquela hora. Caminhou mais um pouco até chegar ao lago localizado no centro do parque. Ao chegar ao lago, Roberto imediatamente se lembrou de tudo que ocorrera ontem naquele mesmo lugar: a garota samurai treinando a sua espada na beira do lago, a sua tentativa de ataque frustrada, o desmaio da garota... Enfim, Roberto se lembrou da Motoko, a garota samurai que havia conhecido no dia anterior de uma forma um pouco inusitada. A imagem da garota não saía da sua cabeça; por mais que tentasse pensar em outra coisa, Roberto não conseguia tirar a jovem samurai da sua cabeça. Depois de ficar alguns minutos parado em frente ao lago, Roberto voltou a caminhar e atravessou o Portão Oeste do parque, onde atravessou a avenida principal e pegou um ônibus para o centro da cidade, distante três quilômetros do Burajiru Gyoen.

Roberto desembarcou no terminal urbano da cidade, ao lado da rodoviária, e atravessou a praça matriz a passos largos, enquanto observava a arquitetura contemporânea da Igreja Matriz de São João, padroeiro de Vale Verde. Atravessou a avenida e logo avistou um enorme prédio ao estilo nipônico a uma quadra de distância; aquele prédio abrigava a loja Nishi Gyoen, a mais badalada da região. Roberto não pensou duas vezes e caminhou até a loja.

Ao chegar em frente a loja, Roberto se impressionou com a arquitetura da fachada. Rapidamente, ele se lembrou daquela foto que a Kitsune mostrou no ônibus, na qual aparecia a Hinatasou e suas inquilinas na frente.

 

- Nossa... Parece a Hinatasou... – disse Roberto, enquanto contemplava a bela arquitetura da loja.

 

Depois de alguns segundos, Roberto entrou na loja e se impressionou pela segunda vez. O interior da loja era simplesmente fantástico, dividido em três setores. O primeiro setor abrigava um tipo de supermercado somente de produtos japoneses de todos os estilos, desde produtos tradicionais até os mais modernos eletroeletrônicos; o segundo setor abrigava um belíssimo restaurante japonês, que não tinha nada que lembrasse o Ocidente, e o terceiro setor estava isolado por alguns tapumes, nos quais estava estampado o seguinte aviso: Em breve, academia de kendô do estilo Shinmei Ryu.

Roberto caminhou um pouco e entrou no restaurante oriental. Ao pisar no tatame do estabelecimento, foi abordado por uma funcionária, com traços orientais no rosto e olhos extremamente puxados, cabelos castanhos curtos, vestindo um uniforme semelhante ao de uma comissária de bordo de uma companhia aérea e portando um computador de mão.

 

- Bom dia! O senhor deseja algo? – disse a atendente, num português sofrível.

- Ah, bom dia... – Roberto se virou para a garota. Ao reconhecê-la, passou a falar em japonês – Ah, é você, Kitsune?

- Oh! Oi ,Rob! – Kitsune reconheceu o rapaz. Era seu companheiro na viagem que a trouxe a Vale Verde – Tudo bem com você?

- Tudo bem, Kitsune. Estava andando pela cidade e passei para conhecer a loja. Acabou de abrir, não?

- Ah, sim... Mas a Tsuruko disse que daqui a pouco isto daqui enche...

- Tsuruko? Quem é ela?

- Ah, desculpe, Rob... – Kitsune se curvou, em um pedido de desculpas – Tsuruko Aoyama é a dona da loja. Ela e mais uma amiga de Shizuoka mantém esta loja ativa...

- Hum, Aoyama? – Roberto rapidamente pensou na Motoko – Engraçado, conheci uma garota num parque daqui cujo sobrenome também era Aoyama... Mas, vamos mudar de assunto, Kitsune... Está gostando do trabalho?

- Rob, estou gostando sim... Só de sair daquela melancolia que se transformou aquela pensão, já me sinto melhor...

- Que bom, Kitsune. Estou vendo que está gostando do Brasil... – Roberto reconheceu uma garota de dogi branco e hakama vermelha que acabara de entrar na loja, juntamente com uma mulher mais alta e vestida do mesmo jeito. A garota viu Roberto e imediatamente se dirigiu a ele.

 

- Roberto! Que surpresa! – disse, enquanto se curvava na sua frente.

- Motoko! Eu que digo! – Roberto retribuiu o cumprimento de Motoko com um sorriso – O que faz aqui?

- Ah, esta loja é da minha irmã, sabia? Esta é minha irmã, Tsuruko Aoyama – Motoko se virou para a irmã – Irmã, este é Roberto, um amigo que conheci ontem.

 

Roberto estendeu a mão direita para cumprimentá-la, mas Tsuruko preferiu se curvar diante dele.

 

- Prazer te conhecer, senhor Roberto – disse Tsuruko, falando um português de médio para ruim – Vejo que você e Motoko terão uma grande amizade...

- Espero que sim, senhora Tsuruko. Ah, uma coisa: não precisa se esforçar em falar português. Sei falar japonês muito bem.

- Ah, menos mal... – Tsuruko respirou aliviada – Sua língua é bem difícil de falar e aprender... Estou sofrendo para aprendê-la, e a Motoko ainda não sabe nenhuma palavra em português...

- É que a língua portuguesa é uma das mais complexas do mundo – disse Roberto – Esta língua é uma das mais difíceis do Ocidente. Se comparado ao japonês, a língua de vocês é mais fácil...

- Motoko, você já conhecia o Roberto? – Kitsune entrou na conversa.

- Sim... O conheci ontem num parque que tem aqui na cidade. Por quê?

- É que ele veio comigo ontem no ônibus desde São Paulo... Foi a primeira pessoa que conheci em terras brasileiras.

- Kitsune, esta não é a menina da foto que você me mostrou no ônibus ontem? – perguntou Roberto, surpreso.

- É ela mesmo, Rob... Esta é a garota-samurai que te contei na viagem ontem... Sinceramente, estou surpresa em saber que vocês já se conheciam...

 

O coração do Roberto logo entrou em disparada. Estava com a cabeça meio confusa, pois descobrira que a garota da foto, que balançou o seu coração e o seu pensamento, era a sua amiga Motoko.

 

- Senhor Roberto, vai almoçar aqui hoje? – perguntou Tsuruko, acordando o jovem dos seus pensamentos.

- Ah, sim... Vou almoçar aqui hoje. O que você me sugere hoje, senhora?

- Calma, senhor Roberto... Primeiro, sente-se em uma das mesas; a senhorita Mitsune logo trará o cardápio para o senhor.

- Obrigado, senhora... Irei escolher a minha mesa – Roberto virou-se para Motoko – Aceita almoçar comigo aqui, Motoko? Sabe, para a gente se conhecer melhor... Eu pago tudo o que você consumir.

- Senhor Roberto, o almoço fica como cortesia da casa – Tsuruko abriu um sorriso para ele.

- Cortesia? – Roberto novamente ficou surpreso – Mas, por quê? O que eu fiz?

- Motoko me disse que você a ajudou quando ela desmaiou ontem no parque e ainda pagou um lanche, pois estava com fome. Sabe, o senhor me parece ser um rapaz muito gentil.

- Ah, obrigado, senhora Tsuruko. Eu que agradeço pela senhora ser tão gentil comigo...    

- Irmã... Eu vou almoçar com o Roberto. Será que posso? – perguntou Motoko, meio envergonhada.

- Ah, claro, Motoko. E o seu almoço fica por conta da loja também – Tsuruko virou-se para Kitsune – Senhorita Mitsune, acompanhe Motoko e Roberto até a mesa deles, por favor.

 

Ao ouvir a ordem de Tsuruko, Kitsune guiou Motoko e Roberto até uma das mesas do restaurante. Roberto escolheu uma mesa de frente para uma janela, de onde podia se avistar o movimento da avenida. Motoko se ajoelhou sobre a almofada (as mesas do restaurante não tinham cadeiras, mas sim almofadas, bem ao estilo nipônico, onde o cliente se ajoelhava para se servir), dobrando os joelhos e apoiando o seu corpo sobre as pernas dobradas; Roberto achou incômoda esta posição e decidiu se sentar diretamente na almofada, dobrando as suas pernas debaixo da mesa.

 

- E então, o que você vai pedir? – perguntou Motoko – Conhece a culinária japonesa?

- Muito pouco, Motoko – respondeu Roberto – É melhor você pedir...

- Certo... Kitsune, traga-nos missoshiru (sopa de soja fermentada), hakumai (arroz japonês branco), takoyaki (bolinho de polvo), sushi e dois copos de chá verde, por favor.

 

Kitsune anotou os pedidos no seu computador de mão e logo se dirigiu ao balcão. Enquanto isso, Roberto começou a conversar com Motoko.

 

- Motoko, a Kitsune me disse que você é de uma tradicional família de samurais de Kyoto... Me conte um pouco sobre isso.

- Bem, Roberto... Realmente, nosso clã é considerado uma das mais lendárias de todo o Japão. Não sabemos quando a nossa família surgiu, mas documentos preservados mostram que o primeiro registro da nossa família e do nosso estilo de espada foi em 1195, no calendário de vocês. Este documento atestava a existência de clãs de guerreiros em Kyoto, a antiga capital do Japão, que vivia na época tempos turbulentos com disputas e guerras. Nosso clã sempre foi extremamente respeitado em Kyoto, Roberto, ao ponto de nossos antepassados conhecer o Imperador, na época considerado um deus vivo para nós, japoneses – Motoko respirou fundo – Conta uma história que um antepassado da nossa família lutou durante a invasão mongol ao nosso país em 1275; ele até hoje é considerado uma lenda, pois com a sua força sobre-humana ele conseguiu matar mais de 150 guerreiros mongóis em pouco mais de dez minutos e ainda conseguiu sair do campo de batalha sem nenhum arranhão. Ao voltar para Kyoto, foi recebido pelo Imperador, e recebeu várias homenagens por parte da Corte Imperial, tanto que ele passou a servir como guarda da Corte. Desde então, Roberto, a nosso clã, os Aoyamas, são considerados uma lenda viva em Kyoto. Meu pai, por exemplo, pode ser considerado um dos guerreiros mais fortes que o Japão já viu.

- Nossa, Motoko! – Roberto arregalou os olhos ao ouvir a história – Sua família é bem tradicional mesmo, hein?

- Realmente, Roberto. Agora, me conte um pouco da sua família...

- Motoko, não tenho muito o que falar. Só sei que a família do meu pai veio de Portugal e que meus avôs chegaram aqui em 1950; eles foram morar no Rio de Janeiro, onde meu pai nasceu. Daí, meu avô veio para esta cidade trabalhar na siderúrgica. Já sobre a família da minha mãe, sei que ela é de Nápoles, Itália, e veio para o Brasil em 1915, fugindo da guerra na Europa e se instalando em Sorocaba. Mas, foi aqui que meus pais se conheceram... De resto, não sei mais nada...

- Ah, entendi...Então a sua família é européia, não é?

- Assim como boa parte dos brasileiros, sim.

 

Roberto interrompeu a conversa quando viu a Kitsune trazendo os pratos que Motoko pediu. Os dois amigos devoraram o almoço, enquanto conversavam sobre coisas do Japão e do Brasil, num clima alegre e descontraído. Depois de quase quarenta minutos, terminaram o almoço, se levantaram e caminharam para o balcão, onde estava Tsuruko.

 

- E então, o que achou do almoço, senhor Roberto? – perguntou Tsuruko.

- Ah, estava muito bom... Falavam um monte sobre a comida japonesa, mas eu particularmente adorei os pratos. A senhora tem uma equipe bem competente.

- Obrigado, senhor Roberto. Por causa desta equipe, vemos todo dia este movimento – Tsuruko apontou para o restaurante lotado – Motoko, você vai treinar agora?

- Vou sim, irmã... Como samurai, é minha obrigação treinar a espada todos os dias – Motoko virou-se para Roberto – Você quer me acompanhar, Roberto? Assim, ensinarei o que é kendo e mostrarei os golpes do nosso estilo.

- Claro que te acompanho, Motoko – Roberto sorriu – Estou curioso em saber um pouco mais sobre samurais e kendo. E também não tenho nada para fazer hoje à tarde.

- Certo... Só tem um pequeno problema – Motoko olhou para o estacionamento através da janela, onde estava parada a sua scooter – Só tenho um capacete, que é o meu. Não vai dar para te levar na minha scooter...

- Motoko, por que não faz o seguinte? – Tsuruko sugeriu – O terminal de ônibus é aqui perto. Por que não pega o ônibus com o senhor Roberto até o parque? Quando terminar o seu treino, peço para a Kitsune te buscar... O que acha?

Motoko pensou um pouco.

 

- Está bem! Ligarei para a loja para que a Kitsune venha me buscar. Posso deixar a minha scooter aqui, irmã?

- Sem problemas. Pode deixar aqui. Ah, só tome cuidado, tudo bem?

- Tudo bem, irmã – Motoko virou-se para Roberto – Vamos?

- Vamos, Motoko.

 

Assim, Motoko e Roberto se despediram de Tsuruko e seguiram para a porta principal da loja. Antes de seguir para o terminal, Motoko pegou a sua espada que estava no carro da sua irmã, e guardou o seu capacete que estava no guidão da sua scooter no compartimento debaixo do assento do veículo. Logo depois, os dois amigos subiram a avenida, rumo ao terminal de ônibus. Tsuruko acompanhou a saída dos dois à distância.

 

- É, estou vendo que a Motoko arranjou um grande amigo – disse Kitsune, que estava ao lado de Tsuruko – E ele dá de dez a zero no Keitaro...

- Sei não, senhorita Mitsune... – completou Tsuruko -  Mas acho que isto vai dar muito mais do que uma simples amizade... Muito mais...


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Notas finais do capítulo

Como vêem, este capítulo foi um pouquinho mais longo. Tive que refazer mais da metade do capítulo, pois descobri que não estava ficando bom... Bolei um pequeno histórico da família Aoyama; ficou bem meia boca, mas espero que gostem. Para ter inspiração, escutei Eric Clapton enquanto digitava este capítulo... Em breve trarei o sexto capítulo. Espero os Reviews, pois quero saber se a história está agradando. Até mais! 



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