Antes de conseguir pegar no sono, Annabeth chorou. E muito. Mas por fim o cansaço venceu. Ela sonhou com Percy, eles estavam na praia se divertindo. O sonho foi tão bom que ela soube imediatamente o que fazer quando acordou. Colocou sua menor túnica (uma branca e na altura dos joelhos), prendeu o cabelo com pressa e foi em direção ao quarto de Quíron, mas teve o azar de esbarrar em Thalia pelo meio do caminho. A menina parecia uma uva passa, os olhos azuis fortes pareciam cinza, como se tivessem perdido a cor, o cabelo negro estava desarrumado, o rosto murcho e usava uma túnica preta. Pela expressão de Thalia, parecia que ela estava indo para um funeral.

    - Sinto muito por ontem Thalia, eu juro pelo Estige que não sabia que minha mãe pretendia fazer isso. – disse Annabeth com o coração na boca.

Thalia lançou um olhar mortal para Annabeth, parecia que raios estavam passando por seus olhos.

    - Eu sou a princesa Thalia da Grécia. Não me trate como igual, sobrinha. Sou sua superiora e é assim que devo ser tratada. – disse Thalia fria.

Annabeth franziu o cenho e abriu a boca para falar alguma coisa, mas não conseguiu. Thalia passou por ela, batendo seu ombro com o de Annabeth, dando um choque na loira pelo contato. A princesa olhou para dentro do quarto da tia, onde Bianca roncava abraçada com um travesseiro. Annabeth bufou e seguiu seu caminho até o quarto de Quíron, tendo que desviar dos primos (irritantes ou não) ao longo do caminho. Quando chegou ao quarto do centauro, seu coração estava a mil, ela tentava se conter, mas a ideia de ver Percy novamente a deixava muito feliz. Então, após uma longa respiração para se acalmar, ela bateu na porta. Ninguém abriu. Ela bateu novamente e a porta abriu-se por não ter sido fechada apropriadamente.

    - Quíron? – chamou Annabeth adentrando.

Ela viu um colchão no chão, com o cobertor bagunçado e uma mancha de baba no travesseiro. Annabeth saiu dali às pressas, se Quíron tivesse feito alguma coisa de ruim para Percy... ela o mataria. Correu pelo castelo até ficar sem fôlego e quase desmaiou ao prender a respiração quando chegou a “sala de estar”. Apolo dava tapinhas no ombro de Percy, rindo. Ares fuzilava o tritão com ódio, enquanto Afrodite parecia que ia beija-lo. Héstia e Deméter o achavam fofo, enquanto Ártemis limitava-se a não olhar para o rapaz, enquanto Dionísio o chamava de Perry e Hermes fazia Apolo e Percy rirem com alguma piada. Annabeth ficou pálida. Atena estava conversando com Quíron longe dos demais e a rainha parecia extremamente enfurecida.

    - Bom dia vossa alteza. – disse Quíron desviando de uma bronca de Atena e dando atenção a Annabeth.

Todos olharam para ela, com exceção de Hefesto que dormia e tinha cara de ressaca. Atena lançou lhe um olhar mortífero pior que o de Thalia, mas Annabeth não ligou. Tios e tias vieram com “bom dia” “dormiu bem?” “sonhou com Luke?” e coisas do gênero. Percy estava tão vermelho de vergonha que parecia que ia explodir a qualquer minuto, usava uma túnica branca com detalhes em laranja, provavelmente Quíron havia arrumado a roupa nova. Atena inclinou com a cabeça para fora do castelo e Annabeth a seguiu. Se ela viesse com algum discursinho sobre noivado ou coisa parecida, a princesa estava pronta para dar um fora na mãe.

    - Gostaria que fizesse companhia ao nosso convidado. – disse Atena quase fechando os olhos por causa da luz do sol em seu rosto.

    - Qual convidado? – bufou Annabeth.

    - Perseu. Quíron me contou que ele estava nadando e salvou sua vida. O pobre rapaz é mudo e se perdeu da família, não lembra nem o nome da cidade onde morava. E bem, já que ele salvou a vida da princesa, o mínimo que posso fazer é dar lhe abrigo em minha casa. – disse Atena com um cansaço excessivo em sua voz.

Annabeth estava tão espantada com o que a mãe disse que apenas assentiu com a cabeça. Atena sugeriu algumas atividades e entrou no palácio, indo se juntar aos irmãos. Annabeth franziu o cenho, desconfiada, e entrou no palácio. Quíron não estava à vista assim como seus primos (para a sorte dela). Annabeth conseguiu puxar Percy para longe de seus tios e o levou para a cozinha; Ella estava picando as mãos de Connor e Travis, enquanto os trigêmeos Will, Michael e Lee recitavam poesias grotescas para irritar Miranda e Katie; Malcom, Nico, Castor, Pólux, Leo e Piper corriam endiabrados pela cozinha, sendo repreendidos por Zoë, Bianca e Silena; enquanto Drew se olhava no espelho de Charlie construía alguma coisa com os talheres. O melhor lugar de fuga do palácio estava arruinado pelos primos. O melhor porque além de nenhum de seus tios irem para lá e ainda tem comida.

Ninguém pareceu notar Percy e Annabeth, e ela o deixou esperando no lado de fora enquanto se esquivava dos primos para montar uma cesta de piquenique. Nem Thalia nem Luke estavam no local, o que de certa forma foi bom. Após a cesta ficar pronta, Annabeth guiou Percy até o celeiro do palácio e eles foram cavalgando até a praia, Percy estava extremamente feliz por estar cavalgando, Annabeth pode notar isso no rosto dele. Mesmo sendo um tritão e tendo passado a vida montando em hipocampos, ele dominava os cavalos muito bem obrigada. A praia em si era um porto, mas mais afastado da cidade, perto do local onde Luke e encontrara depois do naufrágio, era um bom lugar para tomar banho. Havia um monte espremendo a areia branca até o mar. Percy correu para brincar com as ondas como se fosse uma criança, não estava nem preocupado com suas roupas ou o fato de que estava morrendo de sono e com fome, estar perto do mar novamente fez com que ele se sentisse revigorado.

    - Percy quer comer? – chamou Annabeth.

Ele se virou e a viu forrando um pano na areia, abrindo a cesta e saindo um cheiro tão bom que saliva em abundância se formou na boca dele. Percy sorriu e sentou ao lado de Annabeth. A manhã foi bem divertida, com um piquenique debaixo de um sol extremamente quente e sensação térmica de trinta graus célsius, comida fresca e deliciosa e a melhor parte de todas: o sorriso de Annabeth. Ela sorria apenas de olhar para ele e Percy notou que fazia o mesmo, ela fazia perguntas interessantes sobre Atlântida e ele respondia escrevendo na areia. Por sim, Percy a puxou para o mar e mostrou que conseguia controlar a água já que era um tritão, Annabeth sorria feito uma criança com qualquer truque que Percy fazia. E Rachel, Sally e Grover dizendo que os humanos eram maus... Lá pelas 15h, Annabeth deitou na toalha exausta e ficou tomando banho de sol, Percy estava disposto a fazê-la rir, então nadou até achar algumas águas e colocou na cabeça, saiu andando do mar causando uma crise de riso em Annabeth que o apelidou de “Cabeça de Alga”.

    - Você é demais Cabeça de Alga. – ela disse com os olhos brilhando de alegria quando estavam arrumando as coisas para voltarem ao castelo.

Ele então a empresou no pé do monte, Annabeth tinha um sorriso travesso e ele levou seu rosto de encontro ao dela. Os dois fecharam os olhos e estavam quase se beijando quando ouviram um barulho de explosão. Eles se entreolharam, montaram no cavalo e partiram disparados para Atenas. No castelo, Atena brigava com os sobrinhos. Leo e Nico haviam conseguido explodir uma catapulta (sabe-se lá como) e quase fizeram Ella ter um enfarte. Depois do banho, Annabeth foi ao único lugar onde tinha certeza de que ninguém da sua família iria não importa o que acontecesse: a biblioteca do castelo. Terminou encontrando Quíron conversando com Percy.

    - Vossa alteza. – disse Quíron. – Por favor, junte-se a nossa conversa.

Annabeth estranhou, mas terminou sentando ao lado de Percy, segurando a mão dele por debaixo da mesa. Quíron então contou sobre Gaia e o acordo que o Cabeça de Alga fez com ela, o que deixou Annabeth tão pálida quanto um fantasma, a garota sabia a lenda de Anaklusmos e o que a espada era capaz de fazer. Enquanto Percy abaixava a cabeça de vergonha, Annabeth soltou a mão dele. Por dentro, estava se amaldiçoando por estar apaixonada por Percy.

    - Você é um monstro. – disse Annabeth a ele com raiva, levantou-se bruscamente e saiu do local.

Uma lágrima escorreu do olho dele, que bateu a cabeça com força na mesa, Quíron colocou a mãe no ombro do rapaz. Percy pegou o pergaminho, a pena e escreveu:

“Você estava certo. Conte-me sobre a espada. Por favor, não posso perdê-la.”

    - Há coisas que eu não posso contar sobre essa espada garoto. Mas você precisa saber o mesmo que Annabeth. – o centauro disse como se aquilo o incomodasse há muitos anos.

Os olhos extremamente preocupados de Quíron fizeram Percy se perguntar quantos anos aquele senhor tinha, porque com toda certeza ele era muito mais velho do que o quarentão que aparentava ser.

    - Há muitos anos, quando os irmãos Zeus, Hades e Hera ainda eram vivos, uma poderosa feiticeira tentou derrota-los e tomar a Grécia para si, essa feiticeira chamava-se Gaia e era mãe de Cronos, ou seja, avó dos irmãos Zeus, Hades, Héstia, Deméter e Hera. Os seis irmãos se juntaram e criaram uma espada, da qual deram o nome de Anaklusmos. Com ela, afugentaram Gaia para longe da Grécia e a paz reinou. Bem, reinou até Hera matar Zeus achando que ia ficar com sua parte do reino, sendo então morta por Deméter e Héstia. – explicou Quíron idêntico a um professor de história.

“Seis? Mas você só citou cinco.” Escreveu Percy.

O rosto de Quíron ficou pálido, ele não esperou que o menino fosse notar.

    - Eram seis os filhos de Cronos e Reia. O quinto mais velho fugiu da Grécia alguns meses depois de se livrarem de Gaia, ele era meio ruim da cabeça. Nunca mais se teve notícia daquele pobre coitado. Se bem me lembro, ele era avoado demais, ouvia vozes e era zombado pelos irmãos. – disse Quíron com compaixão.

“Então Gaia quer a espada para poder atacar de novo, já que não há mais os seis filhos de Cronos para criar uma nova e derrota-la.”

    - Isso mesmo criança.

“Mas eu não posso voltar a ser tritão. Não sabe o que me espera em casa! Eu tenho que casar com alguém que odeio! E tem mais, Gaia ficará com minha voz se eu não levar a espada de volta”

    - Não Percy, Gaia irá lhe matar. Ela está aproveitando dos seus sentimentos por Annabeth para ter o que quer. Você não pode entregar-lhe a espada. Sei que seu prazo acaba em 24 horas... tempo o suficiente para pensarmos em algo. – disse Quíron.

Percy não escreveu nada, apenas abaixou a cabeça com vergonha. Como ele iria olhar para ela agora? Então Malcom entrou na biblioteca e foi até ele, o garoto parecia normal, com aquele rosto sério, mesmo tendo uns nove anos e sendo uma peste.

    - Ah, Percy... minha mãe quer falar com você, lá no quarto dela. – disse Malcom e então saiu do local.

Percy e Quíron se entreolharam e o coração do príncipe tritão foi à boca e voltou. Annabeth deve ter dito a mãe o plano de Percy. Ele se levantou quase cambaleando, olhou para Quíron pela última vez, engoliu em seco e foi em direção ao quarto da rainha, esperando uma morte lenta e dolorosa.